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Leia atentamente o poema: Soneto Carregado de mim ando no mundo, E o grande peso embarga-me as passadas, Que como ando por vias desusadas, Faço o peso crescer, e vou-me ao fundo. O remédio será seguir o imundo Caminho, onde dos mais vejo as pisadas, Que as bestas andam juntas mais ousadas, Do que anda o engenho mais profundo. Não é fácil viver entre os insanos, Erra, quem presumir que sabe tudo, Se o atalho não soube dos seus danos. O prudente varão há de ser mudo, Que é melhor neste mundo, mar de enganos, Ser louco c’os demais, que só, sisudo. A poesia satírica de Gregório de Matos emprega modelos e procedimentos variados. José Miguel Wisnik indica que ela pode ser entendida como “uma luta cômica entre duas sociedades, uma normal e outra absurda”. (WISNIK, J. M. “Prefácio”. Poemas escolhidos de Gregório de Matos. São Paulo: Companhia das Letras, 2012, p.23). Com base nisso, é correto dizer que este soneto:

Leia atentamente o poema:

Soneto

Carregado de mim ando no mundo,

E o grande peso embarga-me as passadas,

Que como ando por vias desusadas,

Faço o peso crescer, e vou-me ao fundo.

O remédio será seguir o imundo

Caminho, onde dos mais vejo as pisadas,

Que as bestas andam juntas mais ousadas,

Do que anda o engenho mais profundo.

Não é fácil viver entre os insanos,

Erra, quem presumir que sabe tudo,

Se o atalho não soube dos seus danos.

O prudente varão há de ser mudo,

Que é melhor neste mundo, mar de enganos,

Ser louco c’os demais, que só, sisudo.

A poesia satírica de Gregório de Matos emprega modelos e procedimentos variados. José Miguel Wisnik indica que ela
pode ser entendida como “uma luta cômica entre duas sociedades, uma normal e outra absurda”.
(WISNIK, J. M. “Prefácio”.
Poemas escolhidos de Gregório de Matos. São Paulo: Companhia das Letras, 2012, p.23). Com base nisso, é correto dizer que
este soneto:

Resposta:

A alternativa correta é A)

O soneto de Gregório de Matos, analisado à luz da perspectiva satírica proposta por José Miguel Wisnik, revela uma crítica mordaz à sociedade de seu tempo, configurando-se como um exemplo da poesia que retrata um "mundo às avessas". A alternativa A é a correta, pois o poema evidencia a contradição entre a normalidade esperada e o absurdo aceito como regra. O sujeito lírico carrega o peso de sua própria lucidez em um ambiente onde a insanidade é a norma, e a sobrevivência social exige a adesão à irracionalidade coletiva.

O poema constrói uma imagem de sociedade em que seguir o "caminho imundo" — ou seja, conformar-se com os vícios e a estupidez generalizada — parece ser a única saída para não sucumbir. A metáfora do "mar de enganos" reforça a ideia de um mundo dominado pela ilusão, onde a sabedoria individual é sufocada pela loucura coletiva. A sátira de Gregório de Matos, portanto, não propõe uma sociedade utópica (alternativa B), nem se concentra em conflitos entre corpo e espírito (alternativa C).

Apesar de o sujeito poético se apresentar como "sisudo e só", isso não elimina o tom cômico da sátira (alternativa D), já que o humor surge justamente do contraste entre sua postura crítica e a absurdidade do mundo ao redor. Também não há, no poema, uma defesa da crítica racional como solução (alternativa E), mas sim uma resignação irônica diante da impossibilidade de mudança. Assim, o soneto satiriza a inversão de valores em que a maioria aceita o absurdo como norma, confirmando a interpretação de Wisnik sobre a poesia de Gregório de Matos como um confronto entre o normal e o ridículo.

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