Leia o trecho de O Guarani, de José de Alencar, para responder à questão. As cortinas da janela cerraram-se; Cecília tinha-se deitado. Junto da inocente menina, adormecida na isenção de sua alma pura de virgem, velavam três sentimentos profundos, palpitavam três corações bem diferentes. Em Loredano, o aventureiro de baixa extração, esse sentimento era desejo ardente, uma sede de gozo, uma febre que lhe requeimava o sangue: o instinto brutal desta natureza vigorosa era ainda aumentado pela impossibilidade moral que sua condição criava, pela barreira que se elevava entre ele, pobre colono, e a filha de D. Antônio de Mariz, rico fidalgo de solar e brasão. (…) Em Álvaro, cavalheiro delicado e cortês, o sentimento era uma afeição nobre e pura, cheia de graciosa timidez que perfuma as primeiras flores do coração, e do entusiasmo cavalheiresco que tanta poesia dava aos amores daquele tempo de crença e de lealdade. (…) Em Peri, o sentimento era um culto, espécie de idolatria fanática, na qual não entrava um só pensamento de egoísmo; amava Cecília não para sentir um prazer ou ter uma satisfação, mas para dedicar-se inteiramente a ela, para cumprir o menor de seus desejos, para evitar que a moça tivesse um pensamento que não fosse imediatamente uma realidade. (…) Assim o amor se transformava tão completamente nessas organizações que apresentava três sentimentos bem distintos: um era uma loucura, o outro uma paixão, o último uma religião.Observando-se a descrição da personagem Cecília, no primeiro parágrafo, vê-se que ela corresponde ao modelo
Leia o trecho de O Guarani, de José de Alencar, para responder
à questão.
As cortinas da janela cerraram-se; Cecília tinha-se deitado.
Junto da inocente menina, adormecida na isenção de sua alma
pura de virgem, velavam três sentimentos profundos, palpitavam
três corações bem diferentes.
Em Loredano, o aventureiro de baixa extração, esse sentimento
era desejo ardente, uma sede de gozo, uma febre que lhe
requeimava o sangue: o instinto brutal desta natureza vigorosa era
ainda aumentado pela impossibilidade moral que sua condição
criava, pela barreira que se elevava entre ele, pobre colono, e a
filha de D. Antônio de Mariz, rico fidalgo de solar e brasão.
(…)
Em Álvaro, cavalheiro delicado e cortês, o sentimento era
uma afeição nobre e pura, cheia de graciosa timidez que perfuma
as primeiras flores do coração, e do entusiasmo cavalheiresco
que tanta poesia dava aos amores daquele tempo de crença e de
lealdade.
(…)
Em Peri, o sentimento era um culto, espécie de idolatria
fanática, na qual não entrava um só pensamento de egoísmo;
amava Cecília não para sentir um prazer ou ter uma satisfação,
mas para dedicar-se inteiramente a ela, para cumprir o menor de
seus desejos, para evitar que a moça tivesse um pensamento que
não fosse imediatamente uma realidade.
(…)
Assim o amor se transformava tão completamente nessas
organizações que apresentava três sentimentos bem distintos:
um era uma loucura, o outro uma paixão, o último uma religião.
Observando-se a descrição da personagem Cecília, no primeiro
parágrafo, vê-se que ela corresponde ao modelo
- A)barroco, em que a mulher vive dividida.
- B)árcade, em que a mulher é inacessível.
- C)romântico, em que a mulher é idealizada.
- D)realista, em que a mulher explora seus instintos.
- E)parnasiano, em que a mulher reprime os sentimentos.
Resposta:
A alternativa correta é C)
O trecho de O Guarani, de José de Alencar, apresenta Cecília como uma figura central que desperta diferentes formas de amor nos personagens que a cercam. A descrição da personagem no primeiro parágrafo revela características marcantes do Romantismo, movimento literário ao qual a obra pertence. Cecília é retratada como uma "inocente menina, adormecida na isenção de sua alma pura de virgem", o que evidencia uma idealização típica do período romântico.
No Romantismo, a mulher é frequentemente elevada a um plano quase divino, sendo representada como um ser puro, angelical e inatingível. Essa idealização está presente na maneira como os três personagens — Loredano, Álvaro e Peri — veem Cecília. Cada um deles projeta sobre ela um sentimento distinto, mas todos partem de uma visão que a coloca em um pedestal, seja como objeto de desejo, de devoção cavalheiresca ou de culto quase religioso.
As outras alternativas não se adequam à descrição de Cecília. O Barroco (A) apresenta a mulher como uma figura conflituosa, dividida entre o pecado e a virtude, o que não corresponde à pureza linear da personagem. O Arcadismo (B) traz a imagem da mulher inacessível, mas vinculada a uma natureza pastoral e bucólica, ausente no texto. O Realismo (D) enfatizaria os aspectos mais mundanos e instintivos da personagem, enquanto o Parnasianismo (E) priorizaria a forma e a contenção emocional, ambos distantes da idealização romântica.
Portanto, a alternativa correta é a C), pois Cecília encarna perfeitamente o modelo romântico da mulher idealizada, pura e elevada a um plano quase sagrado, servindo como objeto de diferentes formas de amor e devoção.
Deixe um comentário