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Questões Sobre Barroco - Literatura - concurso

Questão 51

Considere os excertos:

(I)

[…] no Brasil, contribuiu de maneira importante pelo fato de ter dado posição privilegiada ao
meio e à raça como forças determinantes. Ora, meio e raça eram conceitos que correspondiam
a problemas reais e a obsessões profundas, pesando nas concepções dos intelectuais e
constituindo uma força impositiva em virtude das teorias científicas do momento […].

Fonte: CANDIDO, A. O discurso e a cidade. São Paulo: Duas Cidades, 1993. p. 152.

(II)

[…] o homem ocidental não mais se conformava em abrir mão das virtualidades da vida terrena
que o humanismo […] e o alargamento espacial da Terra lhe revelaram. Por isso, o conflito
entre o ideal de fuga e renúncia do mundo e as atrações e solicitações terrenas. Diante do
dilema, em vez da impossível destruição, tentou a conciliação, a incorporação, a absorção.

Fonte: COUTINHO, A. Introdução à literatura no Brasil. Rio de Janeiro: Editora Bertrand Brasil,
1990. p. 99.

(III)

[…] A interação familiar, a educação da infância, as relações homem-mulher e homem-paisagem,
a vida em sociedade, as instituições políticas e religiosas, tudo vai mudando de
imagem e de significado no nível da consciência. Estilhaça-se o espelho em que esta reflete
e prolonga a cultura recebida. E os cacos, ainda não rejuntados por uma nova ideologia
explícita, vão-se dispondo em mosaico quando os apanha o andamento de uma prosa solta,
rápida, impressionista.

Fonte: BOSI, A. Céu, inferno. São Paulo: Duas Cidades, 2010. p. 212-213.

(IV)

A fluência ardorosa do tempo, o gosto pelo nebuloso e antigo, a busca de consolidação da
identidade nacional, o rosto pátrio, a afirmação de seus primeiros habitantes, […], o uso da
canção de verso breve, o folhetim, a comédia, certa tendência declamatória e a exploração
fremente do sentimento sobre a razão.

Fonte: NEJAR, C. História da literatura brasileira: da carta de Caminha aos contemporâneos.
São Paulo: Leya, 2011. p. 93.

Tendo em vista os estilos de época da literatura brasileira, os excertos destacados abordam,
respectivamente,

  • A)(I) o Realismo-Naturalismo, (II) o Barroco, (III) o Modernismo e (IV) o Romantismo.
  • B)(I) o Realismo-Naturalismo, (II) o Neoclassicismo, (III) o Romantismo e (IV) o Modernismo.
  • C)(I) o Pré-Modernismo, (II) o Barroco, (III) o Romantismo e (IV) o Modernismo.
  • D)(I) o Pré-Modernismo, (II) o Neoclassicismo, (III) o Modernismo e (IV) o Romantismo.
FAZER COMENTÁRIO

A alternativa correta é A)

Os excertos apresentados ilustram características marcantes de diferentes estilos de época da literatura brasileira. A análise comparativa permite identificar a correspondência entre cada trecho e seu respectivo movimento literário, conforme a alternativa A.

O excerto (I), de Antônio Cândido, aborda claramente as premissas do Realismo-Naturalismo, ao destacar a influência determinista do meio e da raça - conceitos fundamentais para essa escola literária que buscava uma representação objetiva da realidade, influenciada pelas teorias científicas do século XIX.

O fragmento (II), de Afrânio Coutinho, retrata o dualismo característico do Barroco, com seu conflito entre o espiritual e o terreno, a renúncia e os prazeres mundanos. Essa tensão metafísica é típica do período barroco, marcado pela contradição e pelo dilema humano entre o celestial e o terreno.

A passagem (III), de Alfredo Bosi, descreve a fragmentação e a reconstrução da realidade que são marcas do Modernismo, especialmente em sua primeira fase. A referência à "prosa solta, rápida, impressionista" e ao "mosaico" de ideias reflete a estética modernista de ruptura com tradições e a busca por novas formas de expressão.

Por fim, o trecho (IV), de Carlos Nejar, sintetiza elementos centrais do Romantismo: o nacionalismo, o sentimentalismo, a exaltação da natureza e do passado histórico, além da preferência por formas literárias como a poesia lírica e o folhetim, características fundamentais desse movimento no Brasil.

Portanto, a correspondência correta é de fato a alternativa A, que associa cada excerto ao seu respectivo movimento literário de maneira precisa e fundamentada.

Questão 52

Se gostas de afetação e pompa de palavras e do estilo que chamam culto, não me leias.
Quando esse estilo florescia, nasceram as primeiras verduras do meu; mas valeu-me tanto sempre
a clareza, que só porque me entendiam comecei a ser ouvido. (…) Esse desventurado estilo
que hoje se usa, os que querem honrar chamam-lhe culto, os que o condenam chamam-lhe escuro,
mas ainda lhe fazem muita honra. O estilo culto não é escuro, é negro (…) e muito cerrado. É
possível que somos portugueses e havemos de ouvir um pregador em português e não havemos
de entender o que diz?!


Padre Antônio Vieira, nesse trecho, faz uma crítica ao estilo barroco conhecido como

  • A)conceptismo, por ser marcado pelo jogo de ideias, de conceitos, seguindo um raciocínio lógico.
  • B)quevedismo, por utilizar-se de uma retórica aprimorada, a exemplo de seu principal cultor: Quevedo.
  • C)antropocentrismo, caracterizado por mostrar o homem, culto e inteligente, como centro do universo.
  • D)gongorismo, ao caracterizar-se por uma linguagem rebuscada, culta e extravagante.
  • E)teocentrismo, caracterizado por padres escritores que dominaram a literatura seiscentista.
FAZER COMENTÁRIO

A alternativa correta é D)

O trecho citado do Padre Antônio Vieira revela uma crítica contundente ao estilo barroco conhecido como gongorismo, marcado por uma linguagem excessivamente rebuscada, repleta de artifícios retóricos e afetação linguística. Vieira, defensor da clareza e da comunicação direta, condena essa tendência que, em sua época, era frequentemente chamada de "estilo culto". Ele argumenta que a complexidade desnecessária da linguagem não apenas obscurece o sentido, mas também afasta o público, impedindo que a mensagem seja compreendida.

Ao descrever o estilo como "negro" e "cerrado", Vieira reforça sua posição contra o gongorismo, movimento inspirado no poeta espanhol Luís de Góngora, cuja obra era caracterizada por um vocabulário erudito, metáforas intrincadas e sintaxe elaborada. Essa crítica se alinha com a distinção entre os dois principais estilos do Barroco ibérico: o conceptismo, que priorizava o jogo de ideias e a argumentação lógica (representado por autores como Quevedo), e o cultismo (ou gongorismo), que valorizava a forma sobre o conteúdo.

Portanto, a alternativa correta é a D), pois o texto de Vieira claramente aponta as características do gongorismo — linguagem extravagante, artificialidade e obscuridade — como alvo de sua reprovação. Sua defesa da simplicidade e da clareza reflete não apenas uma preferência estilística, mas também uma preocupação com a eficácia da comunicação, especialmente em contextos como a pregação religiosa, onde a compreensão do público era essencial.

Questão 53

Texto 10A2AAA

       Na obra satírica de Gregório de Matos, não há o ânimo
documentário ou a transfiguração hiperbólica, mas o flagrante
expressivo até a caricatura, o ataque se elevando a denúncia, a
ironia alegre ombreando com a revolta amarga, em contraste com
a transfiguração eufórica de outros autores do tempo, em relação
aos quais a sua poesia satírica aparece como contracorrente
desmistificadora. Ele desdenha as aparências do mundo e desvenda
a sua iniquidade, com um pessimismo realista que não hesita em
entrar pela obscenidade e a crueza da vida do sexo. Poucos foram
tão fundo nos aspectos considerados baixos, que ele trata com uma
espécie de ímpeto justiceiro, que forra de inesperado moralismo as
suas diatribes. Através da sua obra de rebelde apaixonado,
transparece a irregularidade do mundo brasileiro de então, com uma
sociedade em que o branco brutalizava o índio e o negro, as
autoridades prevaricavam, os clérigos pecavam a valer e a virtude
parecia às vezes uma farsa difícil de representar.

Antonio Candido. Iniciação à literatura brasileira: resumo para principiantes.

São Paulo: Humanitas/FFLCH/USP, 1999, p. 24-5 (com adaptações)

A poesia satírica de Gregório de Matos, conforme se pode deduzir
do texto 10A2AAA, se constituiu de elementos barrocos, como a
antítese, presente no modo com que o poeta apreendia a realidade
— com “ironia alegre” e “revolta amarga”. Considerando-se que
esse ponto de vista antitético foi a grande contribuição da literatura
barroca para a sociedade da época, é correto afirmar que, ao
desvendar a irregularidade do mundo por meio dos violentos
contrastes da linguagem, a sátira de Gregório de Matos

  • A)ultrapassava o moralismo que regia as ações de autoridades, clérigos e poetas nacionais.
  • B)provocava a real superação das iniquidades sociais.
  • C)evidenciava as fortes contradições da vida social brasileira.
  • D)propunha a revolta dos colonizados contra a brutalidade dos colonizadores.
  • E)destruía o jogo de aparências reinante nas relações sociais do Brasil colonial.
FAZER COMENTÁRIO

A alternativa correta é C)

A poesia satírica de Gregório de Matos, conforme analisado no texto 10A2AAA, destaca-se por seu caráter desmistificador e crítico em relação à sociedade brasileira do período colonial. Sua obra, marcada por um tom justiceiro e moralista, utiliza a linguagem barroca para expor as contradições e iniquidades do mundo que o rodeava. A antítese, figura de linguagem típica do Barroco, é empregada com maestria pelo poeta, que alterna entre a "ironia alegre" e a "revolta amarga" para retratar a realidade social.

O texto de Antonio Candido ressalta que Gregório de Matos não se limitou a documentar ou transfigurar a realidade de forma hiperbólica, mas sim a flagrá-la em sua crueza, muitas vezes chegando à obscenidade. Essa abordagem direta e sem rodeios permitiu ao poeta desvendar as irregularidades de uma sociedade marcada pela brutalidade, pela prevaricação das autoridades e pela hipocrisia dos clérigos. Dessa forma, sua sátira não apenas denunciava, mas também evidenciava as profundas contradições da vida social brasileira.

Entre as alternativas apresentadas, a que melhor sintetiza o papel da sátira de Gregório de Matos é a letra C: "evidenciava as fortes contradições da vida social brasileira". Isso porque sua poesia não buscava necessariamente superar as iniquidades (B) ou propor revoluções (D), mas sim expor, de forma contundente, os contrastes e hipocrisias de seu tempo. Ainda que sua linguagem fosse moralista, ela não ultrapassava o moralismo vigente (A), e tampouco destruía o jogo de aparências (E), mas sim o revelava em toda a sua complexidade.

Portanto, a sátira de Gregório de Matos, ao utilizar os recursos barrocos para explorar os violentos contrastes da linguagem, cumpriu um papel fundamental ao desnudar as contradições da sociedade colonial brasileira, tornando-se um espelho crítico de sua época.

Questão 54

A Nosso Senhor Jesus Christo com actos de

arrependimento e suspiros de amor

Ofendi-vos, Meu Deus, bem é verdade,

É verdade, meu Deus, que hei delinquido,

Delinquido vos tenho, e ofendido,

Ofendido vos tem minha maldade.

Maldade, que encaminha à vaidade,

Vaidade, que todo me há vencido;

Vencido quero ver-me, e arrependido,

Arrependido a tanta enormidade.

Arrependido estou de coração,

De coração vos busco, dai-me os braços,

Abraços, que me rendem vossa luz.

Luz, que claro me mostra a salvação,

A salvação pretendo em tais abraços,

Misericórdia, Amor, Jesus, Jesus.

Disponível em: <http://pt.wikisource.org/wiki/Ofendi-vos,_Meu_Deus,_bem_%C3%A9_verdade> .
Acesso em: 16 jun. 2014.

Da leitura do poema acima, de autoria de Gregório de Matos,
é possível afirmar:

  • A)A elaboração formal do texto, um soneto, com a maioria dos finais de versos sendo retomados no começo do verso seguinte, num jogo que se aproxima do trabalho conceptista, além da relação conflituosa entre pecado e salvação, são alguns dos elementos que apontam para o Barroco.
  • B)Apresenta elementos argumentativos, a partir do reconhecimento, por parte do sujeito lírico, de suas culpas e da clara intenção de se redimir, como fica evidente no penúltimo verso. Tais características, a argumentação e a religiosidade cristã, são típicas do Arcadismo.
  • C)Embora composto em forma de soneto, o poema apresenta linguagem de simples compreensão, principalmente em decorrência das constantes repetições de palavras. Tal simplicidade e repetição são características do movimento modernista, ao qual o poema pertence.
  • D)É um típico poema romântico, uma vez que no Romantismo há um retorno à religiosidade cristã, que fora obscurecida pelo Arcadismo, período literário anterior. Assim, quando o poeta diz que ofendeu a Deus e cita Jesus, é um modo de falar do arrependimento de, no Arcadismo, ter cultuado deuses pagãos.
  • E)Uma vez que o sujeito lírico se assume como pecador e implora o perdão de Deus, mesmo sabendo que depois de perdoado pode voltar a pecar, o texto se enquadra como pertencente ao Barroco, em sua vertente satírica.
FAZER COMENTÁRIO

A alternativa correta é A)

O poema "Ofendi-vos, Meu Deus, bem é verdade", de Gregório de Matos, é uma obra que exemplifica as características do Barroco brasileiro. A elaboração formal do texto, estruturado em um soneto, apresenta um jogo de palavras em que os finais dos versos são retomados no início dos seguintes, criando uma cadeia de significados que reforça a temática do arrependimento e da busca pela salvação. Essa técnica, conhecida como "conceptismo", é típica do Barroco e demonstra a preocupação do autor com a forma e o conteúdo.

Além disso, o poema explora a relação conflituosa entre pecado e redenção, um dos temas centrais do Barroco. O sujeito lírico reconhece suas falhas e clama pela misericórdia divina, evidenciando a dualidade entre a culpa humana e a graça de Deus. Essa oscilação entre opostos—pecado e perdão, trevas e luz—é uma marca do estilo barroco, que busca representar a complexidade da experiência humana diante da fé.

A alternativa correta, portanto, é a letra A, pois o poema apresenta tanto os elementos formais (como a estrutura do soneto e o jogo de palavras) quanto os temáticos (a tensão entre culpa e salvação) que são característicos do Barroco. As outras alternativas incorretamente associam a obra a movimentos como Arcadismo, Modernismo ou Romantismo, que não correspondem às características do texto ou ao contexto histórico-literário de Gregório de Matos.

Questão 55

Atenção: Para responder à questão,
considere o texto abaixo.

Personagem frequente dos carros alegóricos, d. Pedro
surgia, nos anos 1880, ora como Pedro Banana ou como Pedro
Caju, numa alusão à sua falta de participação nos últimos anos
do Império. Mas é só com a queda da monarquia que se passa
a eleger um rei do Carnaval. Com efeito, o rei Momo é uma invenção
recente, datada de 1933. No século XIX ele não era rei,
mas um deus grego: zombeteiro, pândego e amante da galhofa.
Nos anos 30 vira Rei Momo e logo depois cidadão. Novos tempos,
novos termos.

(SCHWARCZ, Lilian Mortiz. As barbas do Imperador: Dom
Pedro II , um monarca nos trópicos
. São Paulo: Companhia
das Letras, 1998, p. 281) 

A crítica galhofeira a autoridades e a pessoas de prestígio
foi uma arma contundente de que se valeu

  • A)o poeta barroco Gregório de Matos, em sua poesia satírica.
  • B)Claúdio Manuel da Costa, nas cartas que escreveu ao mandatário de Minas Gerais.
  • C)o poeta Carlos Drummond de Andrade, nos ácidos versos de Claro enigma.
  • D)Clarice Lispector, na prosa provocadora de A hora da estrela.
  • E)a geração de 45, reagindo contra os chamados “papas” do modernismo.
FAZER COMENTÁRIO

A alternativa correta é A)

O texto apresentado aborda a tradição carnavalesca de satirizar figuras de autoridade, exemplificada pela representação caricata de Dom Pedro II nos carros alegóricos do século XIX. Essa prática de crítica humorística e irreverente a personalidades influentes remonta a uma longa tradição na cultura brasileira, encontrando seu expoente inicial na obra do poeta barroco Gregório de Matos.

Gregório de Matos, conhecido como "Boca do Inferno", utilizou a sátira como ferramenta afiada para criticar autoridades, religiosos e a sociedade baiana do período colonial. Sua poesia mordaz, repleta de trocadilhos e ironia, estabeleceu um precedente importante para a crítica social através do humor no Brasil. Assim como os carnavalescos transformaram Dom Pedro em "Pedro Banana", Gregório de Matos reduzia figuras pomposas a caricaturas ridículas em seus versos.

As outras alternativas apresentam autores importantes da literatura brasileira, mas não se encaixam no contexto específico da tradição satírica popular descrita no texto. Claudio Manuel da Costa pertence ao Arcadismo e não cultivou a sátira política; Drummond, apesar de ter poemas irônicos, não focou em crítica a autoridades; Clarice Lispector trabalhou com prosa psicológica; e a Geração de 45 não tinha como característica principal a sátira política.

Portanto, a alternativa A) é a correta, pois Gregório de Matos representa de forma paradigmática essa linhagem de crítica jocosa ao poder que depois se manifestaria no carnaval e em outras expressões da cultura popular brasileira.

Questão 56

O que primeiro chama a atenção na ficção de Machado de
Assis é a despreocupação com as modas dominantes e o aparente
arcaísmo da técnica. No momento em que Flaubert sistematizava a
teoria do “romance que narra a si próprio”, apagando o narrador
atrás da objetividade da narrativa, ou no momento em que Zola
preconizava o inventário maciço da realidade, observada nos
menores detalhes, Machado cultivava livremente o elíptico, o
incompleto, o fragmentário, intervindo na narrativa com
bisbilhotice saborosa, lembrando que atrás dela estava a voz
convencional. Era uma forma de manter, na segunda metade do
século XIX, o tom caprichoso de Stern (1713 – 1738), que ele
prezava; de efetuar os seus saltos temporais e brincar com o leitor.
Era também um eco do conte philosophique, à maneira de
Voltaire (1694 – 1778), e era, sobretudo, o seu modo próprio
de deixar as coisas meio no ar, inclusive criando certas
perplexidades não resolvidas.

Antonio Candido. Esquema de Machado de Assis. In: Vários
Escritos
. 3.ª ed. São Paulo: Duas Cidades, 1995 (com adaptações)

Considerando as ideias do texto precedente e a relação desse texto com a historiografia literária brasileira, julgue o seguinte item.

O modo não realista da produção de Machado de Assis
aproxima sua obra à estética barroca.

  • C) CERTO
  • E) ERRADO
FAZER COMENTÁRIO

A alternativa correta é E)

A análise do texto de Antonio Candido sobre Machado de Assis revela que o autor brasileiro adotava uma técnica narrativa singular, distanciando-se tanto do realismo flaubertiano quanto do naturalismo zoliano. Sua escrita caracterizava-se pelo uso do fragmentário, da elipse e da intervenção direta do narrador, elementos que remetem mais à tradição do conte philosophique de Voltaire e à prosa caprichosa de Laurence Sterne do que à estética barroca.

Embora o barroco também apresentasse certa complexidade narrativa e jogo com o leitor, a obra machadiana não se enquadra nessa estética. O barroco, marcado pelo excesso, pelo contraste e pela dramaticidade, difere da ironia refinada e da economia de recursos presentes em Machado. Além disso, o texto de Candido destaca justamente a originalidade do escritor brasileiro, que criou um estilo próprio ao mesclar influências diversas sem se filiar a nenhuma escola específica.

Portanto, afirmar que o modo não realista de Machado de Assis aproxima sua obra da estética barroca é incorreto. A singularidade de sua técnica reside justamente na capacidade de transcender classificações rígidas, criando uma narrativa que dialoga com múltiplas tradições sem se confundir com nenhuma delas. O gabarito E) ERRADO está correto, pois a comparação com o barroco não se sustenta a partir da análise apresentada no texto.

Questão 57

“Em toda sua poesia o achincalhe e a denúncia encorpam-se e movem-se à força de jogos
sonoros, de rimas burlescas, de uma sintaxe apertada e ardida, de um léxico incisivo, quando não
retalhante”. O excerto de Bosi (2013) aborda sobre:

  • A)Frei José de Santa Rita Durão.
  • B)Padre Antônio Vieira.
  • C)José Basílio da Gama.
  • D)Gregório de Matos Guerra.
  • E)Padre José de Anchieta.
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A alternativa correta é D)

O excerto de Alfredo Bosi, citado em 2013, descreve características marcantes da poesia satírica e crítica de Gregório de Matos Guerra, conhecido como o "Boca do Inferno" por sua linguagem mordaz e irreverente. A análise aponta para elementos como o uso de jogos sonoros, rimas burlescas e um léxico cortante, traços típicos da obra do poeta barroco baiano. Gregório de Matos se destacou por sua poesia combativa, que expunha as mazelas da sociedade colonial, misturando escárnio, erotismo e crítica social com maestria verbal. Sua escrita "ardida" e "retalhante" contrasta com o estilo de outros autores listados, como o religioso Anchieta, o épico Santa Rita Durão ou o sermão moralista de Vieira, reforçando a alternativa D como correta.

Questão 58

Segundo Bosi (2013), “na esteira do Camões épico e das epopeias menores dos fins do século
XVI, o poemeto em oitavas heroicas publicado em 1601 pode ser considerado um primeiro e
canhestro exemplo de maneirismo nas letras da colônia”. Considerando a literatura barroca no
Brasil, tal excerto se refere a:

  • A)Prosopopeia, de Bento Teixeira.
  • B)“Triste Bahia”, de Gregório de Matos.
  • C)Sermão da Sexagésima, de Antônio Vieira.
  • D)Música do Parnaso, de Botelho de Oliveira.
  • E)Sermão XIV do Rosário, de Antônio Vieira.
FAZER COMENTÁRIO

A alternativa correta é A)

O excerto citado, que faz referência a um "poemeto em oitavas heroicas publicado em 1601" como um exemplo inicial do maneirismo na colônia, aponta claramente para a obra "Prosopopeia", de Bento Teixeira. Publicada no início do século XVII, essa obra é considerada um marco inaugural da literatura barroca no Brasil, ainda que de forma incipiente e imitativa em relação aos modelos portugueses, como Camões. A menção às oitavas heroicas e ao contexto colonial reforça essa identificação, já que as outras opções listadas — como os sermões de Vieira ou a poesia de Gregório de Matos — pertencem a momentos posteriores ou a gêneros distintos. Portanto, a alternativa correta é A) "Prosopopeia", de Bento Teixeira, reconhecida como a primeira manifestação épica da literatura brasileira, embora com traços canhestros, conforme destacado por Bosi.

Questão 59

A Carta de Caminha a D. Manuel, tida para a nossa história como uma autêntica certidão
de nascimento, insere-se no gênero literatura de viagens. NÃO é um trecho da Carta o que se
apresenta em:

  • A)“A feição deles é serem pardos maneiras d’avermelhados de bons rostos e bons narizes bem feitos”
  • B)“Águas são muitas e infindas. E em tal maneira é graciosa que querendo-a aproveitar, dar-se á nela tudo por bem das águas que tem [...]”
  • C)“As Armas e os barões assinalados / Que, da Ocidental praia Lusitana, / Por mares nunca de antes navegados, / Passaram ainda além da Taprobana [...]”.
  • D)“O capitão quando eles vieram estava assentado em uma cadeira e uma alcatifa aos pés por estado e bem vestido com um colar d’ouro mui grande ao pescoço”.
  • E)“Nela até agora não pudemos saber que haja ouro nem prata... porém a terra em si é de muito bons ares assim frios e temperados como os de Entre-Doiro-e-Minho”.
FAZER COMENTÁRIO

A alternativa correta é C)

A Carta de Caminha a D. Manuel é um documento histórico fundamental, considerado o registro inaugural do Brasil. Escrita por Pero Vaz de Caminha em 1500, ela descreve as primeiras impressões sobre a terra recém-descoberta, inserindo-se no gênero da literatura de viagens. O texto apresenta características do encontro entre os portugueses e os indígenas, detalhando aspectos físicos, culturais e geográficos.

Entre as alternativas apresentadas, a opção C destaca-se por não pertencer à Carta, mas sim ao poema épico Os Lusíadas, de Luís de Camões. Os versos citados fazem referência às navegações portuguesas, celebrando os feitos heroicos dos exploradores, enquanto a Carta de Caminha possui um tom descritivo e informativo, voltado para o relato objetivo da nova terra.

As demais alternativas apresentam trechos autênticos da Carta, que descrevem desde a aparência dos nativos até as características naturais do território. Esses excertos reforçam o valor do documento como testemunho histórico e literário, marcando o início da construção da identidade brasileira.

Portanto, a resposta correta é C, pois o trecho em questão pertence a uma obra distinta, tanto em gênero quanto em propósito, evidenciando a importância de reconhecer as particularidades de cada texto no contexto da literatura portuguesa e da historiografia brasileira.

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Questão 60

Instrução: Leia o texto para responder à questão.

Cada um é suas ações, e não é outra coisa. Oh que grande
doutrina esta para o lugar em que estamos! Quando vos perguntarem
quem sois, não vades revolver o nobiliário* de vossos avós,
ide ver a matrícula** de vossas ações. O que fazeis, isso sois,
nada mais. Quando ao Batista lhe perguntaram quem era não
disse que se chamava João, nem que era filho de Zacarias; não
se definiu pelos pais, nem pelo apelido. Só de suas ações formou
a sua definição: Ego vox clamantis (Eu sou a voz que clama).

(Padre Antônio Vieira. Sermão da Terceira Dominga do Advento, 1655.)

* Nobiliário: livro ou registro das famílias nobres.

** Matrícula: rol.

O texto de Vieira exemplifica a prosa

  • A)renascentista, notadamente marcada pela ligação com a religiosidade, como o comprova a referência a João Batista.
  • B)barroca, na sua vertente conceptista, marcada pelo jogo de ideias na construção da argumentação, ilustrada pela passagem bíblica.
  • C)neoclássica, marcada pelo uso de linguagem simples, em enunciados claros, enaltecendo-se os aspectos ligados à religião.
  • D)romântica, marcada pelo nacionalismo e a idealização do ser humano, tendo a religião como fundamento das relações humanas.
  • E)realista, marcada por uma visão objetiva e racional, definindo-se a necessidade de os homens explicarem a religião por meio da ciência.
FAZER COMENTÁRIO

A alternativa correta é B)

O texto do Padre Antônio Vieira, extraído do Sermão da Terceira Dominga do Advento (1655), é um exemplo claro da prosa barroca, mais especificamente da vertente conceptista. Essa característica se evidencia pelo jogo de ideias e pela construção argumentativa refinada, que utiliza uma passagem bíblica para reforçar seu ponto central: a identidade do indivíduo é definida por suas ações, e não por sua origem ou nome.

O trecho em questão aborda a figura de João Batista, que, ao ser questionado sobre sua identidade, responde com uma definição baseada em sua função — "Eu sou a voz que clama" —, e não em sua linhagem ou título. Essa abordagem reflete o estilo conceptista, que valoriza o raciocínio lógico e a elaboração intelectual, contrastando com o cultismo, outra vertente do Barroco, que prioriza o rebuscamento da linguagem.

Além disso, o sermão de Vieira se alinha com os princípios da Contra-Reforma, período em que a Igreja Católica buscava reafirmar seus valores por meio da eloquência e da persuasão. A referência bíblica não serve apenas como ilustração, mas como elemento central da argumentação, reforçando a ideia de que a essência humana reside em seus atos, e não em títulos ou nobreza.

Portanto, a alternativa correta é a B), pois o texto exemplifica a prosa barroca conceptista, marcada pela articulação de ideias e pelo uso estratégico de referências religiosas para sustentar seu discurso.

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