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Questões Sobre Barroco - Literatura - concurso

Questão 61

No Brasil houve ecos do Barroco europeu durante os séculos XVII e XVIII: Gregório de Matos, Botelho de Oliveira, Frei
Itaparica e as primeiras academias repetiram motivos e formas do barroquismo ibérico e italiano.

Na segunda metade do século XVIII, porém, o ciclo do ouro já daria um substrato material à arquitetura, à escultura, à
literatura e à vida musical, de sorte que parece lícito falar de um “Barroco brasileiro” e, até mesmo, “mineiro”, cujos exemplos
mais significativos foram alguns trabalhos do Aleijadinho, de Manuel da Costa Ataíde e composições sacras de Lobo de
Mesquita, Marcos Coelho e outros ainda mal identificados. Sem entrar no mérito destas obras, pois só a análise interna poderia
informar sobre o seu grau de originalidade, importa lembrar que a poesia coetânea delas já não é, senão residualmente, barroca,
mas rococó, arcádica e neoclássica, havendo, portanto uma discronia entre as formas expressivas, fenômeno que pode ser
variavelmente explicado
.

(BOSI, Alfredo. História concisa da Literatura Brasileira. São Paulo: Cultrix, 2000, pp.34-35)

Do texto, infere-se sobre o “Barroco mineiro” que a partir da

  • A)segunda metade do século XVII, é marcado um estilo colonial-barroco nas artes plásticas e na música, que só se tornou uma realidade quando a exploração cultural das minas permitiu o florescimento de núcleos como Vila Rica.
  • B)segunda metade do século XVIII, transfigura-se a literatura brasileira, substituindo a simplicidade documentária de muitos cronistas por uma linguagem hipertrofiada, que embelezou e deu valor simbólico à flora e à fauna.
  • C)metade do século XVII, ocorre uma significativa ampliação de âmbito da literatura, com a descoberta das minas de ouro e de diamantes em regiões do Sul, e a necessidade de definir as fronteiras meridionais.
  • D)segunda metade do século XVIII, vê surgir na Capitania das Minas Gerais manifestações importantes na arquitetura, na escultura, na música e na literatura, marcando um momento de densidade cultural.
  • E)segunda metade do século XVII, o movimento das Academias estabeleceu os primeiros laços visíveis entre intelectuais dos diversos pontos da Colônia, ajudando a formar-se o sentimento de uma atividade literária comum.
FAZER COMENTÁRIO

A alternativa correta é D)

Do texto de Alfredo Bosi, extrai-se que o chamado "Barroco mineiro" consolidou-se na segunda metade do século XVIII, durante o ciclo do ouro, quando a riqueza mineral proporcionou um florescimento cultural singular em Minas Gerais. Esse período foi marcado por manifestações artísticas distintas nas áreas da arquitetura, escultura, música sacra e literatura, configurando um momento de densidade criativa na colônia.

O texto destaca que, embora houvesse uma influência inicial do Barroco ibérico e italiano no Brasil, a exploração do ouro permitiu o desenvolvimento de uma expressão artística própria, especialmente em Vila Rica (atual Ouro Preto). Artistas como Aleijadinho, Manuel da Costa Ataíde e compositores como Lobo de Mesquita e Marcos Coelho produziram obras que caracterizam esse "Barroco brasileiro" com traços regionais.

É importante notar que o texto aponta uma dessincronia entre as artes plásticas/musicais (ainda barrocas) e a literatura (já em transição para o Rococó e Arcadismo). Essa assincronia reforça a ideia de que o Barroco mineiro não foi um simples reflexo do movimento europeu, mas sim uma adaptação local com temporalidade própria.

Portanto, a alternativa correta é a D), que corretamente identifica o período (segunda metade do século XVIII), o espaço geográfico (Capitania das Minas Gerais) e a diversidade de manifestações culturais (arquitetura, escultura, música e literatura) que caracterizaram esse momento singular da cultura brasileira colonial.

Questão 62

                Aos principais da Bahia chamados os Caramurus

                             Há coisa como ver um Paiaiá1

                             Mui prezado de ser Caramuru,

                             Descendente do sangue tatu,

                             Cujo torpe idioma é Cobepá2?



                             A linha feminina é Carimá3

                             Muqueca, pititinga4, caruru,

                             Mingau de puba, vinho de caju

                             Pisado num pilão de Pirajá.


                             A masculina é um Aricobé5,

                            Cuja filha Cobé6, c’um branco Pai

                            Dormiu no promontório de Passé.


                            O branco é um Marau que veio aqui:

                            Ela é uma índia de Maré;

                            Cobepá, Aricobé, Cobé, Pai.

(MATOS, Gregório. Poemas escolhidos. Seleção, introdução e notas de José Miguel Wisnik.
São Paulo: Cultrix, 1976, p. 100) 


Vocabulário:

1 Paiaiá − Pajé.

2 Cobepá − dialeto da tribo cobé, que habitava as cercanias da cidade.

3 Carimá − bolo feito de mandioca-puba, posta de molho, utilizada para mingau.

4 Pititinga − espécie de peixes pequeninos.

5 Aricobé − cobé (nome de uma tribo de índios progenitores do Paiaiá, a que se refere o poeta).

6 Cobé − palavra que Gregório empregava para designar os descendentes dos indígenas, pois no seu tempo o termo tupi não estava
generalizado.

(Referência do vocabulário: SANTOS, Luzia Aparecida Oliva dos. O percurso da indianidade
na literatura brasileira
: matizes da figuração. São Paulo: Cultura Acadêmica, 2009, p. 303) 

Considere o soneto para analisar as afirmativas abaixo.

I. O soneto possui características marcantes no uso dos termos da língua indígena: de um lado, a inserção do léxico tupi
metaforiza uma linha constitutiva da cultura brasileira resgatando a presença do índio; de outro, o eixo alto versus baixo,
que desmascara a figura do caramuru, mestiço.

II. O soneto obedece ao molde europeu no tocante à forma, mas amplia sua configuração ao inserir o universo linguístico
pertencente ao nativo. Com esse recurso, o efeito do poema tira as amarras da seriedade para estabelecer o vinco
principal da satírica gregoriana no que lhe compete a agressão às instituições e seus representantes pelo viés lúdico,
trocando a convenção pela contestação.

III. As expressões “Descendente do sangue tatu (v.3)” e “Cujo torpe idioma é cobepá? (v.4)” assumem a duplicidade de
função em seu significado por estarem indissoluvelmente ligadas aos elementos caracterizadores de ambas as culturas: o
fidalgo possui “sangue de tatu” e seu idioma é “torpe”, “cobepá”.

IV. O último verso revela que a verdadeira origem dos principais da Bahia está na nobreza de sangue azul dos europeus.
Como se pode notar, o nome Paiaiá, representante nato do sangue indígena, não é colocado entre os que nomeiam
simbolicamente os descendentes.

Está correto o que se afirma APENAS em

  • A)I e II.
  • B)III e IV.
  • C)II, III e IV.
  • D)I, II e III.
  • E)I e IV.
FAZER COMENTÁRIO

A alternativa correta é D)

O soneto de Gregório de Matos, intitulado "Aos principais da Bahia chamados os Caramurus", apresenta uma rica mistura de elementos linguísticos e culturais, explorando tanto a forma clássica europeia quanto o léxico indígena. A análise das afirmativas revela que apenas as proposições I, II e III estão corretas, conforme o gabarito D.

A afirmativa I destaca a presença marcante do léxico tupi no poema, que metaforiza a formação cultural brasileira ao mesmo tempo que critica a figura do caramuru, mestiço que ascende socialmente. Essa dualidade entre o "alto" e o "baixo" é uma característica da sátira gregoriana, que desmascara as pretensões de nobreza dos principais da Bahia.

A afirmativa II ressalta a estrutura formal do soneto, que segue o modelo europeu, mas subverte suas convenções ao incorporar termos indígenas e um tom satírico. Gregório de Matos utiliza o lúdico e a ironia para contestar as instituições e seus representantes, criando um efeito poético que mistura crítica social e humor.

A afirmativa III aponta para a duplicidade de significados em expressões como "sangue tatu" e "idioma cobepá", que vinculam a figura do fidalgo tanto à cultura europeia quanto à indígena. Essa ambiguidade reforça a crítica à mestiçagem e às pretensões de nobreza dos caramurus.

Já a afirmativa IV está incorreta, pois o último verso não afirma a origem europeia dos principais da Bahia, mas sim evidencia a mistura de culturas, representada pelos nomes indígenas (Cobepá, Aricobé, Cobé) e pelo termo "Pai", que pode remeter ao colonizador. Além disso, o nome Paiaiá, embora não apareça no último verso, está presente no poema como referência ao pajé, figura central da cultura indígena.

Portanto, a análise correta do soneto está expressa nas afirmativas I, II e III, que capturam a essência da crítica social e da fusão cultural presente na obra de Gregório de Matos.

Questão 63

Leia atentamente o poema:

Soneto

Carregado de mim ando no mundo,

E o grande peso embarga-me as passadas,

Que como ando por vias desusadas,

Faço o peso crescer, e vou-me ao fundo.

O remédio será seguir o imundo

Caminho, onde dos mais vejo as pisadas,

Que as bestas andam juntas mais ousadas,

Do que anda o engenho mais profundo.

Não é fácil viver entre os insanos,

Erra, quem presumir que sabe tudo,

Se o atalho não soube dos seus danos.

O prudente varão há de ser mudo,

Que é melhor neste mundo, mar de enganos,

Ser louco c’os demais, que só, sisudo.

A poesia satírica de Gregório de Matos emprega modelos e procedimentos variados. José Miguel Wisnik indica que ela
pode ser entendida como “uma luta cômica entre duas sociedades, uma normal e outra absurda”.
(WISNIK, J. M. “Prefácio”.
Poemas escolhidos de Gregório de Matos. São Paulo: Companhia das Letras, 2012, p.23). Com base nisso, é correto dizer que
este soneto:

  • A)apresenta a imagem de um “mundo às avessas”, em que a maioria aceita a sociedade absurda como se fosse a ideal.
  • B)desenha a sociedade ideal e utópica, que deverá ser alcançada no futuro.
  • C)explora a dualidade conflituosa entre corpo e espírito e associa a vertente satírica à sacro-religiosa
  • D)apresenta um sujeito poético “sisudo e só”, o que retira do soneto o tom cômico que caracteriza a sátira
  • E)apresenta a crítica aberta e racional como solução para o estado insano do mundo.
FAZER COMENTÁRIO

A alternativa correta é A)

O soneto de Gregório de Matos, analisado à luz da perspectiva satírica proposta por José Miguel Wisnik, revela uma crítica mordaz à sociedade de seu tempo, configurando-se como um exemplo da poesia que retrata um "mundo às avessas". A alternativa A é a correta, pois o poema evidencia a contradição entre a normalidade esperada e o absurdo aceito como regra. O sujeito lírico carrega o peso de sua própria lucidez em um ambiente onde a insanidade é a norma, e a sobrevivência social exige a adesão à irracionalidade coletiva.

O poema constrói uma imagem de sociedade em que seguir o "caminho imundo" — ou seja, conformar-se com os vícios e a estupidez generalizada — parece ser a única saída para não sucumbir. A metáfora do "mar de enganos" reforça a ideia de um mundo dominado pela ilusão, onde a sabedoria individual é sufocada pela loucura coletiva. A sátira de Gregório de Matos, portanto, não propõe uma sociedade utópica (alternativa B), nem se concentra em conflitos entre corpo e espírito (alternativa C).

Apesar de o sujeito poético se apresentar como "sisudo e só", isso não elimina o tom cômico da sátira (alternativa D), já que o humor surge justamente do contraste entre sua postura crítica e a absurdidade do mundo ao redor. Também não há, no poema, uma defesa da crítica racional como solução (alternativa E), mas sim uma resignação irônica diante da impossibilidade de mudança. Assim, o soneto satiriza a inversão de valores em que a maioria aceita o absurdo como norma, confirmando a interpretação de Wisnik sobre a poesia de Gregório de Matos como um confronto entre o normal e o ridículo.

Questão 64

O soneto “No fluxo e refluxo da maré encontra o poeta incentivo pra recordar seus males”, de Gregório de Matos,
apresenta características marcantes do poeta e do período em que ele o escreveu: 

                         Seis horas enche e outras tantas vaza

                         A maré pelas margens do Oceano,

                         E não larga a tarefa um ponto no ano,

                         Depois que o mar rodeia, o sol abrasa.

                         Desde a esfera primeira opaca, ou rasa

                         A Lua com impulso soberano

                         Engole o mar por um secreto cano,

                         E quando o mar vomita, o mundo arrasa.

                         Muda-se o tempo, e suas temperanças.

                         Até o céu se muda, a terra, os mares,

                         E tudo está sujeito a mil mudanças.

                         Só eu, que todo o fim de meus pesares

                         Eram de algum minguante as esperanças,

                         Nunca o minguante vi de meus azares. 

De acordo com o poema, é correto afirmar: 

  • A)A temática barroca do desconcerto do mundo está representada no poema, uma vez que as coisas do mundo estão em desarmonia entre si.
  • B)A transitoriedade das coisas terrenas está em oposição ao caráter imutável do sujeito, submetido a uma concepção fatalista do destino humano.
  • C)A concepção de um mundo às avessas está figurada no soneto através da clara oposição entre o mar que tudo move e a lua imutável.
  • D)A clareza empregada para exposição do tema reforça o ideal de simplicidade e bucolismo da poesia barroca, cujo lema fundamental era a aurea mediocritas.
  • E)A sintonia entre a natureza e o eu-poético embasa as personificações de objetos inanimados aliadas às hipérboles que descrevem o sujeito.
FAZER COMENTÁRIO

A alternativa correta é B)

O soneto de Gregório de Matos, "No fluxo e refluxo da maré encontra o poeta incentivo pra recordar seus males", é uma obra emblemática do Barroco brasileiro, refletindo as tensões e contradições características desse período. O poema explora a instabilidade do mundo natural, contrastando-a com a imutabilidade do sofrimento humano, o que evidencia uma visão fatalista da existência.

A alternativa B) é a correta, pois destaca justamente essa oposição entre a transitoriedade das coisas terrenas e a permanência do sofrimento do eu lírico. Enquanto o poema descreve as constantes mudanças na natureza — como o movimento das marés e a influência da Lua —, o sujeito poético se vê preso a uma condição imutável: seus "azares" nunca diminuem, mesmo quando espera um alívio ("as esperanças" do "minguante"). Essa perspectiva reforça uma visão pessimista e determinista, típica do Barroco, em que o homem está à mercê de forças maiores, sem escapatória.

As demais alternativas não se sustentam diante da análise do texto. A alternativa A) menciona a "desarmonia do mundo", mas o poema foca mais na mudança cíclica da natureza do que no caos. A opção C) incorre ao sugerir que a Lua é imutável, quando na verdade o poema a descreve como agente ativo ("com impulso soberano"). Já a alternativa D) é anacrônica, pois atribui ao Barroco um ideal de simplicidade que pertence ao Classicismo. Por fim, a alternativa E) falha ao afirmar que há sintonia entre o eu-poético e a natureza, quando o poema justamente sublinha o descompasso entre eles.

Assim, o soneto de Gregório de Matos encapsula a dualidade barroca entre a efemeridade do mundo e a permanência do sofrimento humano, consolidando-se como uma reflexão profundamente pessimista sobre a condição humana.

Questão 65

(…)

O Amor é finalmente

um embaraço de pernas,

uma união de barrigas,

um breve tremor de artérias.

Uma confusão de bocas,

uma batalha de veias,

um reboliço de ancas,

quem diz outra coisa é besta.

(Fragmento do poema “Definição do Amor”, de Gregório de Matos)

Fonte: MATOS, Gregório de. Poemas escolhidos. Sel., introdução e notas de José Miguel Wisnik.
São Paulo: Editora Cultrix, 1981, p. 25. 

Sobre o poeta citado em fragmento, verifique as proposições abaixo e, em
seguida, assinale a alternativa que apresenta a sequência correta

I. O poema pertence à poesia erótica ou érotico-irônica de Gregório de
Matos.

II. Há, no poema, desprezo pela concepção amorosa cristã e idealizada do
amor, ao optar por uma definição do amor ligada ao corpo e à sua
experiência direta.

III. O poema possui um teor lírico e amoroso, quase religioso, na
exaltação que faz à mulher.

IV. Pertence à poesia religiosa de Gregório de Matos, sendo um dos
poemas mais significativos por sua definição do Amor, com letra
maiúscula.

  • A)Somente I e III estão corretas.
  • B)Somente II e III estão corretas.
  • C)Somente I e II estão corretas.
  • D)Somente II e IV estão corretas.
  • E)Somente III e IV estão corretas.
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A alternativa correta é C)

O fragmento do poema "Definição do Amor", de Gregório de Matos, revela uma visão carnal e direta do amor, distanciando-se das idealizações românticas ou religiosas. O poeta barroco, conhecido por sua linguagem irreverente e satírica, aborda o tema com um tom erótico e irônico, como se observa na descrição física e sensual do ato amoroso. As proposições apresentadas sobre o poema permitem uma análise mais aprofundada de sua natureza e intenção.

A primeira afirmação (I) está correta, pois o poema de fato pertence à vertente erótica ou érotico-irônica da obra de Gregório de Matos. Seus versos exploram o amor como um fenômeno corporal, repleto de movimento e sensualidade, sem qualquer traço de idealização espiritual.

A segunda afirmação (II) também está correta, já que o poema rejeita claramente a concepção cristã e platônica do amor, optando por uma abordagem terrena e física. O eu lírico descreve o amor como um "embaraço de pernas" e uma "união de barrigas", reduzindo-o a uma experiência puramente carnal.

A terceira afirmação (III) está incorreta, pois o poema não possui um teor lírico ou religioso. Pelo contrário, sua linguagem é direta e até mesmo provocativa, sem qualquer exaltação sentimental ou devocional à figura feminina.

A quarta afirmação (IV) também está incorreta, uma vez que o poema não faz parte da produção religiosa de Gregório de Matos. A presença da palavra "Amor" com letra maiúscula não indica um sentido sagrado, mas sim uma ênfase irônica na definição proposta pelo poeta.

Portanto, a alternativa correta é C) Somente I e II estão corretas, pois apenas essas duas proposições refletem adequadamente o conteúdo e o estilo do poema em questão.

Questão 66

Leia o trecho de O Guarani, de José de Alencar, para responder
à questão. 

      As cortinas da janela cerraram-se; Cecília tinha-se deitado.
Junto da inocente menina, adormecida na isenção de sua alma
pura de virgem, velavam três sentimentos profundos, palpitavam
três corações bem diferentes.

      Em Loredano, o aventureiro de baixa extração, esse sentimento
era desejo ardente, uma sede de gozo, uma febre que lhe
requeimava o sangue: o instinto brutal desta natureza vigorosa era
ainda aumentado pela impossibilidade moral que sua condição
criava, pela barreira que se elevava entre ele, pobre colono, e a
filha de D. Antônio de Mariz, rico fidalgo de solar e brasão.

      (…)

      Em Álvaro, cavalheiro delicado e cortês, o sentimento era
uma afeição nobre e pura, cheia de graciosa timidez que perfuma
as primeiras flores do coração, e do entusiasmo cavalheiresco
que tanta poesia dava aos amores daquele tempo de crença e de
lealdade.

      (…)

      Em Peri, o sentimento era um culto, espécie de idolatria
fanática, na qual não entrava um só pensamento de egoísmo;
amava Cecília não para sentir um prazer ou ter uma satisfação,
mas para dedicar-se inteiramente a ela, para cumprir o menor de
seus desejos, para evitar que a moça tivesse um pensamento que
não fosse imediatamente uma realidade.  
      (…)

      Assim o amor se transformava tão completamente nessas
organizações que apresentava três sentimentos bem distintos:
um era uma loucura, o outro uma paixão, o último uma religião.

Observando-se a descrição da personagem Cecília, no primeiro
parágrafo, vê-se que ela corresponde ao modelo

  • A)barroco, em que a mulher vive dividida.
  • B)árcade, em que a mulher é inacessível.
  • C)romântico, em que a mulher é idealizada.
  • D)realista, em que a mulher explora seus instintos.
  • E)parnasiano, em que a mulher reprime os sentimentos.
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A alternativa correta é C)

O trecho de O Guarani, de José de Alencar, apresenta Cecília como uma figura central que desperta diferentes formas de amor nos personagens que a cercam. A descrição da personagem no primeiro parágrafo revela características marcantes do Romantismo, movimento literário ao qual a obra pertence. Cecília é retratada como uma "inocente menina, adormecida na isenção de sua alma pura de virgem", o que evidencia uma idealização típica do período romântico.

No Romantismo, a mulher é frequentemente elevada a um plano quase divino, sendo representada como um ser puro, angelical e inatingível. Essa idealização está presente na maneira como os três personagens — Loredano, Álvaro e Peri — veem Cecília. Cada um deles projeta sobre ela um sentimento distinto, mas todos partem de uma visão que a coloca em um pedestal, seja como objeto de desejo, de devoção cavalheiresca ou de culto quase religioso.

As outras alternativas não se adequam à descrição de Cecília. O Barroco (A) apresenta a mulher como uma figura conflituosa, dividida entre o pecado e a virtude, o que não corresponde à pureza linear da personagem. O Arcadismo (B) traz a imagem da mulher inacessível, mas vinculada a uma natureza pastoral e bucólica, ausente no texto. O Realismo (D) enfatizaria os aspectos mais mundanos e instintivos da personagem, enquanto o Parnasianismo (E) priorizaria a forma e a contenção emocional, ambos distantes da idealização romântica.

Portanto, a alternativa correta é a C), pois Cecília encarna perfeitamente o modelo romântico da mulher idealizada, pura e elevada a um plano quase sagrado, servindo como objeto de diferentes formas de amor e devoção.

Questão 67

Caracterizam o estilo barroco, EXCETO:

  • A)A tentativa de unir Fé e Razão (Fusionismo).
  • B)A leveza da linguagem, os exemplos da vida de santos, as fábulas moralistas.
  • C)O gosto por aspectos repugnantes da vida humana, o culto ao feio (Feísmo)
  • D)A presença dos conflitos espirituais, a fugacidade do tempo e da vida.
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A alternativa correta é B)

Caracterizam o estilo barroco, EXCETO:

  • A) A tentativa de unir Fé e Razão (Fusionismo).
  • B) A leveza da linguagem, os exemplos da vida de santos, as fábulas moralistas.
  • C) O gosto por aspectos repugnantes da vida humana, o culto ao feio (Feísmo).
  • D) A presença dos conflitos espirituais, a fugacidade do tempo e da vida.

O gabarito correto é B).

Questão 68

A relação contexto histórico/estilo de época NÃO está correta em:

  • A)Guerras Napoleônicas Independência do Brasil Vinda da corte portuguesa para o Brasil (Naturalismo)
  • B)Revolução francesa Conjuração mineira Apogeu do ciclo de mineração no Brasil (Arcadismo)
  • C)Reforma católica ou Contrarreforma Educação controlada pela Companhia de Jesus Fortalecimento do tribunal do Santo Ofício da Inquisição (Barroco)
  • D)Segunda Guerra Mundial Deposição de Getúlio Vargas Governo ditatorial e centralizador (Segundo tempo modernista)
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A alternativa correta é A)

A relação entre contexto histórico e estilo de época é fundamental para compreender como as manifestações artísticas e literárias se desenvolvem em sintonia com os acontecimentos de seu tempo. No entanto, nem todas as associações apresentadas estão corretas.

Analisando as alternativas:

  • A) As Guerras Napoleônicas, a Independência do Brasil e a vinda da corte portuguesa são eventos do início do século XIX, marcados por transformações políticas e sociais. O Naturalismo, porém, é um movimento literário que surge posteriormente, na segunda metade do século XIX, influenciado pelo determinismo e pelo cientificismo. Portanto, essa associação está incorreta.
  • B) A Revolução Francesa, a Conjuração Mineira e o apogeu do ciclo da mineração estão ligados ao Arcadismo, movimento do século XVIII que valorizava a simplicidade e a razão, refletindo o espírito iluminista da época. Essa relação está correta.
  • C) A Contrarreforma, o controle educacional pela Companhia de Jesus e o fortalecimento da Inquisição são características do período Barroco, que expressava a tensão entre fé e razão no século XVII. Essa associação também está correta.
  • D) A Segunda Guerra Mundial, a deposição de Getúlio Vargas e o governo ditatorial coincidem com o Segundo Tempo Modernista, marcado por uma literatura mais engajada e crítica. Essa relação está correta.

Portanto, a alternativa A é a que apresenta uma relação incorreta entre contexto histórico e estilo de época, sendo a resposta correta.

Questão 69

A cada canto um grande conselheiro,

Que nos quer governar cabana, e vinha,


Não sabem governar sua cozinha,

E podem governar o mundo inteiro.


(…)

Estupendas usuras nos mercados,

Todos, os que não furtam, muito pobres,

E eis aqui a Cidade da Bahia.

(Gregório de Matos. “Descreve o que era realmente naquelle tempo

a cidade da Bahia de mais enredada por menos confusa”,

in Obra poética (org. James Amado), 1990.)

O poema, escrito por Gregório de Matos no século XVII,

  • A)representa, de maneira satírica, os governantes e a desonestidade na Bahia colonial.
  • B)critica a colonização portuguesa e defende, de forma nativista, a independência brasileira.
  • C)tem inspiração neoclássica e denuncia os problemas de moradia na capital baiana.
  • D)revela a identidade brasileira, preocupação constante do modernismo literário.
  • E)valoriza os aspectos formais da construção poética parnasiana e aproveita para criticar o governo.
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A alternativa correta é A)

O poema de Gregório de Matos, escrito no século XVII, é uma crítica mordaz à sociedade baiana da época, especialmente aos governantes e à corrupção que permeava a administração colonial. Através de uma linguagem satírica e irônica, o poeta expõe a hipocrisia daqueles que, incapazes de gerir suas próprias vidas, pretendem governar os outros. A referência à "Cidade da Bahia" como um lugar de injustiças e desigualdades sociais reforça a denúncia de um sistema corrupto e explorador.

A alternativa correta, A), destaca justamente essa representação satírica dos governantes e da desonestidade na Bahia colonial. Gregório de Matos não está defendendo a independência brasileira (opção B), nem se inspirando no neoclassicismo (opção C), muito menos antecipando preocupações modernistas (opção D) ou parnasianas (opção E). Sua poesia é, acima de tudo, um retrato ácido de seu tempo, marcado pela crítica social e política.

Assim, o poema transcende seu contexto histórico e permanece atual, pois a corrupção e a incompetência no poder são temas que, infelizmente, ainda ressoam na sociedade contemporânea. Gregório de Matos, com seu estilo irreverente e crítico, continua a nos lembrar dos perigos de um governo que não serve ao povo, mas a seus próprios interesses.

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Questão 70

Instrução: Leia o texto para responder à questão.

Cada um é suas ações, e não é outra coisa. Oh que grande
doutrina esta para o lugar em que estamos! Quando vos perguntarem
quem sois, não vades revolver o nobiliário* de vossos avós,
ide ver a matrícula** de vossas ações. O que fazeis, isso sois,
nada mais. Quando ao Batista lhe perguntaram quem era não
disse que se chamava João, nem que era filho de Zacarias; não
se definiu pelos pais, nem pelo apelido. Só de suas ações formou
a sua definição:
Ego vox clamantis (Eu sou a voz que clama).

(Padre Antônio Vieira. Sermão da Terceira Dominga do Advento, 1655.)

* Nobiliário: livro ou registro das famílias nobres.

** Matrícula: rol.

O texto de Vieira exemplifica a prosa

  • A)renascentista, notadamente marcada pela ligação com a religiosidade, como o comprova a referência a João Batista.
  • B)barroca, na sua vertente conceptista, marcada pelo jogo de ideias na construção da argumentação, ilustrada pela passagem bíblica.
  • C)neoclássica, marcada pelo uso de linguagem simples, em enunciados claros, enaltecendo-se os aspectos ligados à religião.
  • D)romântica, marcada pelo nacionalismo e a idealização do ser humano, tendo a religião como fundamento das relações humanas.
  • E)realista, marcada por uma visão objetiva e racional, definindo-se a necessidade de os homens explicarem a religião por meio da ciência.
FAZER COMENTÁRIO

A alternativa correta é B)

O texto do Padre Antônio Vieira, extraído do Sermão da Terceira Dominga do Advento (1655), é um exemplo marcante da prosa barroca, em sua vertente conceptista. Essa característica se evidencia pelo jogo de ideias e pela construção argumentativa elaborada, que utiliza uma passagem bíblica para reforçar sua tese central: a identidade do ser humano é definida por suas ações, e não por sua origem ou nome.

Vieira recorre à figura de João Batista, que, ao ser questionado sobre sua identidade, responde com uma metáfora de sua missão: "Eu sou a voz que clama". Essa estratégia retórica demonstra o estilo conceptista, que valoriza o raciocínio agudo e a articulação de conceitos de forma engenhosa, típica do Barroco. A linguagem não é simples, como no Neoclassicismo, nem idealizada, como no Romantismo, mas sim densa e persuasiva, buscando convencer o ouvinte ou leitor por meio da força lógica e da referência erudita.

Além disso, o texto reflete o contexto histórico-religioso do século XVII, em que a Igreja Católica buscava reafirmar seus valores diante da Reforma Protestante. A ênfase nas ações como definidoras do ser humano alinha-se à moral cristã, mas a forma como Vieira desenvolve o argumento — com sutileza e profundidade — é distintiva do Barroco conceptista. Portanto, a alternativa correta é B), pois sintetiza a essência da prosa de Vieira: uma argumentação intricada, sustentada por ideias concisas e referências bíblicas, características fundamentais do estilo barroco conceptista.

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