Texto 10A2AAA Na obra satírica de Gregório de Matos, não há o ânimo documentário ou a transfiguração hiperbólica, mas o flagrante expressivo até a caricatura, o ataque se elevando a denúncia, a ironia alegre ombreando com a revolta amarga, em contraste com a transfiguração eufórica de outros autores do tempo, em relação aos quais a sua poesia satírica aparece como contracorrente desmistificadora. Ele desdenha as aparências do mundo e desvenda a sua iniquidade, com um pessimismo realista que não hesita em entrar pela obscenidade e a crueza da vida do sexo. Poucos foram tão fundo nos aspectos considerados baixos, que ele trata com uma espécie de ímpeto justiceiro, que forra de inesperado moralismo as suas diatribes. Através da sua obra de rebelde apaixonado, transparece a irregularidade do mundo brasileiro de então, com uma sociedade em que o branco brutalizava o índio e o negro, as autoridades prevaricavam, os clérigos pecavam a valer e a virtude parecia às vezes uma farsa difícil de representar. Antonio Candido. Iniciação à literatura brasileira: resumo para principiantes. São Paulo: Humanitas/FFLCH/USP, 1999, p. 24-5 (com adaptações)A poesia satírica de Gregório de Matos, conforme se pode deduzir do texto 10A2AAA, se constituiu de elementos barrocos, como a antítese, presente no modo com que o poeta apreendia a realidade — com “ironia alegre” e “revolta amarga”. Considerando-se que esse ponto de vista antitético foi a grande contribuição da literatura barroca para a sociedade da época, é correto afirmar que, ao desvendar a irregularidade do mundo por meio dos violentos contrastes da linguagem, a sátira de Gregório de Matos
Texto 10A2AAA
Na obra satírica de Gregório de Matos, não há o ânimo
documentário ou a transfiguração hiperbólica, mas o flagrante
expressivo até a caricatura, o ataque se elevando a denúncia, a
ironia alegre ombreando com a revolta amarga, em contraste com
a transfiguração eufórica de outros autores do tempo, em relação
aos quais a sua poesia satírica aparece como contracorrente
desmistificadora. Ele desdenha as aparências do mundo e desvenda
a sua iniquidade, com um pessimismo realista que não hesita em
entrar pela obscenidade e a crueza da vida do sexo. Poucos foram
tão fundo nos aspectos considerados baixos, que ele trata com uma
espécie de ímpeto justiceiro, que forra de inesperado moralismo as
suas diatribes. Através da sua obra de rebelde apaixonado,
transparece a irregularidade do mundo brasileiro de então, com uma
sociedade em que o branco brutalizava o índio e o negro, as
autoridades prevaricavam, os clérigos pecavam a valer e a virtude
parecia às vezes uma farsa difícil de representar.
Antonio Candido. Iniciação à literatura brasileira: resumo para principiantes.
São Paulo: Humanitas/FFLCH/USP, 1999, p. 24-5 (com adaptações)
do texto 10A2AAA, se constituiu de elementos barrocos, como a
antítese, presente no modo com que o poeta apreendia a realidade
— com “ironia alegre” e “revolta amarga”. Considerando-se que
esse ponto de vista antitético foi a grande contribuição da literatura
barroca para a sociedade da época, é correto afirmar que, ao
desvendar a irregularidade do mundo por meio dos violentos
contrastes da linguagem, a sátira de Gregório de Matos
- A)ultrapassava o moralismo que regia as ações de autoridades, clérigos e poetas nacionais.
- B)provocava a real superação das iniquidades sociais.
- C)evidenciava as fortes contradições da vida social brasileira.
- D)propunha a revolta dos colonizados contra a brutalidade dos colonizadores.
- E)destruía o jogo de aparências reinante nas relações sociais do Brasil colonial.
Resposta:
A alternativa correta é C)
A poesia satírica de Gregório de Matos, conforme analisado no texto 10A2AAA, destaca-se por seu caráter desmistificador e crítico em relação à sociedade brasileira do período colonial. Sua obra, marcada por um tom justiceiro e moralista, utiliza a linguagem barroca para expor as contradições e iniquidades do mundo que o rodeava. A antítese, figura de linguagem típica do Barroco, é empregada com maestria pelo poeta, que alterna entre a "ironia alegre" e a "revolta amarga" para retratar a realidade social.
O texto de Antonio Candido ressalta que Gregório de Matos não se limitou a documentar ou transfigurar a realidade de forma hiperbólica, mas sim a flagrá-la em sua crueza, muitas vezes chegando à obscenidade. Essa abordagem direta e sem rodeios permitiu ao poeta desvendar as irregularidades de uma sociedade marcada pela brutalidade, pela prevaricação das autoridades e pela hipocrisia dos clérigos. Dessa forma, sua sátira não apenas denunciava, mas também evidenciava as profundas contradições da vida social brasileira.
Entre as alternativas apresentadas, a que melhor sintetiza o papel da sátira de Gregório de Matos é a letra C: "evidenciava as fortes contradições da vida social brasileira". Isso porque sua poesia não buscava necessariamente superar as iniquidades (B) ou propor revoluções (D), mas sim expor, de forma contundente, os contrastes e hipocrisias de seu tempo. Ainda que sua linguagem fosse moralista, ela não ultrapassava o moralismo vigente (A), e tampouco destruía o jogo de aparências (E), mas sim o revelava em toda a sua complexidade.
Portanto, a sátira de Gregório de Matos, ao utilizar os recursos barrocos para explorar os violentos contrastes da linguagem, cumpriu um papel fundamental ao desnudar as contradições da sociedade colonial brasileira, tornando-se um espelho crítico de sua época.
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