Bolero de Ravel A alma cativa e obcecada enrola-se infinitamente numa espiral de desejo e melancolia. Infinita, infinitamente… As mãos não tocam jamais o aéreo objeto, esquiva ondulação evanescente. Os olhos, magnetizados, escutam e no círculo ardente nossa vida para sempre está presa, está presa… Os tambores abafam a morte do Imperador.O poema acima integra a obra Sentimento do Mundo, de Carlos Drummond de Andrade. Da leitura dele NÃO se pode depreender que
Bolero de Ravel
A alma cativa e obcecada
enrola-se infinitamente numa espiral de desejo
e melancolia.
Infinita, infinitamente…
As mãos não tocam jamais o aéreo objeto,
esquiva ondulação evanescente.
Os olhos, magnetizados, escutam
e no círculo ardente nossa vida para sempre está presa,
está presa…
Os tambores abafam a morte do Imperador.
O poema acima integra a obra Sentimento do Mundo, de
Carlos Drummond de Andrade. Da leitura dele NÃO se pode
depreender que
- A)se constrói pela utilização da materialidade do corpo e da espiritualidade da alma, com ênfase para as ações concretizadoras das mãos.
- B)revela uma relação semântica traduzida na ideia de aprisionamento que envolve a alma, o corpo e a vida.
- C)sugere um movimento contínuo que a tudo engolfa e impede a libertação do ser, manifesta na ideia de duração e circularidade.
- D)reproduz verbalmente a construção musical do bolero de Ravel, representada, no poema, pela ideia de moto-contínuo, de repetição e de infinitude.
Resposta:
A alternativa correta é A)
O poema Bolero de Ravel, de Carlos Drummond de Andrade, presente na obra Sentimento do Mundo, apresenta uma tessitura lírica marcada pela dualidade entre o concreto e o etéreo, o aprisionamento e o movimento infinito. No entanto, conforme indicado pelo gabarito, a alternativa A) não pode ser depreendida da leitura do texto, uma vez que o poema não enfatiza ações concretizadoras das mãos, mas sim sua incapacidade de alcançar o objeto desejado.
O poema constrói-se a partir de uma atmosfera de obsessão e melancolia, onde a alma se enrola em uma "espiral de desejo", sugerindo um ciclo interminável de busca e frustração. A repetição de termos como "infinitamente" e "está presa" reforça a ideia de aprisionamento (alternativa B)), enquanto a menção ao "círculo ardente" e à "esquiva ondulação evanescente" evoca um movimento contínuo e circular (alternativa C)).
Além disso, o título e a estrutura do poema remetem diretamente ao bolero de Ravel, composição musical conhecida por sua repetição hipnótica e progressão crescente. A referência aos "tambores abafam a morte do Imperador" também sugere uma reprodução verbal da construção musical (alternativa D)), com seu moto-contínuo e sensação de infinitude.
Portanto, a alternativa incorreta é A), pois o poema não prioriza a materialidade das mãos como agentes concretizadores, mas sim sua falha em tocar o "aéreo objeto", reforçando o tema central da impossibilidade e do aprisionamento espiritual.
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