Canção do Suicida NÃO ME MATAREI, meus amigos. Não o farei, possivelmente. Mas que tenho vontade, tenho. Tenho, e, muito curiosamente, Com um tiro. Um tiro no ouvido, Vingança contra a condição Humana, ai de nós! sobre-humana De ser dotado de razão. (BANDEIRA, Manuel. Poesia completa e prosa. Rio de Janeiro: Editora Nova Aguilar: 1993, p. 336) A análise adequada para o poema de Bandeira é:
Canção do Suicida
NÃO ME MATAREI, meus amigos.
Não o farei, possivelmente.
Mas que tenho vontade, tenho.
Tenho, e, muito curiosamente,
Com um tiro. Um tiro no ouvido,
Vingança contra a condição
Humana, ai de nós! sobre-humana
De ser dotado de razão.
(BANDEIRA, Manuel. Poesia completa e
prosa. Rio de Janeiro:
Editora Nova
Aguilar: 1993, p. 336)
A análise adequada para o poema de Bandeira é:
- A)Mescla-se o prosaico ao sublime, o banal ao poético. Trata-se de uma atitude de apego ao lirismo e ao amor romântico. É, pois, na criação de uma poesia do cotidiano que o poeta ironiza a idealização romântica, traçando a modernidade.
- B)As rupturas sintáticas passariam a ser os meios correntes na poesia moderna para exprimir, no poema, o novo ambiente, em que vive o homem da grande cidade, que anda de carro, vê cinema, fala ao telefone, e está cada vez mais sujeito ao bombardeio da propaganda.
- C)O poema já mostra, além da melancolia pela infância do eu-lírico, ideais modernistas, pela quebra de paradigmas como a forma fixa e a métrica (versos livres) e o jogo semântico das palavras em contexto.
- D)O poema, através de simples vocabulário, atinge temas profundos e saudosistas, de forma criativa utiliza-se de fatos do cotidiano das pessoas. Nesse caso, o acidente biográfico é reconhecível na referência à falta de saúde, decorrente da tuberculose que manteve o poeta recluso num sanatório durante anos.
- E)O poema apresenta uma das grandes conquistas dos modernos: o humorismo, sob forma de ironia ou de paradoxo, utilizando-o como instrumento de análise moral, aprofundamento das emoções e senso de complexidade do homem e do mundo.
Resposta:
A alternativa correta é E)
O poema "Canção do Suicida", de Manuel Bandeira, exemplifica uma das marcas mais significativas da poesia moderna: o uso do humor como ferramenta crítica e reflexiva. A opção correta, E), destaca justamente essa característica, ao apontar o humorismo como um recurso empregado pelos modernistas para explorar a condição humana de maneira irônica e paradoxal.
No poema, Bandeira aborda um tema denso — o desejo de morte — com um tom aparentemente despretensioso, quase prosaico. A afirmação "NÃO ME MATAREI, meus amigos" carrega uma ironia sutil, pois, ao mesmo tempo que nega a ação, o eu lírico expõe seu desejo latente. Essa ambiguidade entre o sério e o cômico revela a complexidade das emoções humanas, sem recorrer ao melodrama ou ao lirismo excessivo.
Além disso, a referência ao "tiro no ouvido" como uma vingança contra a razão humana reforça o paradoxo. O poeta critica a racionalidade, que tanto nos eleva quanto nos aprisiona, utilizando um humor ácido para questionar nossa própria natureza. Essa abordagem, típica do Modernismo, rompe com a idealização romântica e mergulha nas contradições do cotidiano, sem perder profundidade.
Portanto, a análise mais adequada é a que reconhece no poema o humor como instrumento de reflexão moral e emocional, confirmando a alternativa E) como a correta. Bandeira, com sua linguagem simples e direta, transforma o trivial em poético, revelando a genialidade de sua obra dentro do movimento modernista.
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