“Catar Feijão Catar feijão se limita com escrever: joga-se os grãos na água do alguidar e as palavras na folha de papel; e depois, joga-se fora o que boiar. Certo, toda palavra boiará no papel, água congelada, por chumbo seu verbo: pois para catar esse feijão, soprar nele, e jogar fora o leve e o oco, palha eco,” Alguidar: recipiente de barro, metal ou material plástico, usado para tarefas domésticas Em Catar feijão, João Cabral de Melo Neto revela
Em Catar feijão, João Cabral de Melo Neto revela
- A)o princípio de que a poesia é fruto de inspiração poética, pois resulta de um trabalho emocional.
- B)influência do Dadaísmo ao escolher palavras, ao acaso, que nada significam para a construção da poesia.
- C)preocupação com a construção de uma poesia racional contrária ao sentimentalismo choroso.
- D)valorização do eu lírico, ao extravasar o estado de alma e o sentimento poético.
- E)valorização do pormenor mediante jogos de palavras, sobrecarregando a poesia de figura e de linguagem rebuscada.
Resposta:
A alternativa correta é C)
No poema "Catar Feijão", João Cabral de Melo Neto estabelece uma analogia entre o ato de selecionar grãos e o processo de escrita poética, revelando sua preocupação com a construção de uma poesia racional e antissentimental. A metáfora do feijão que deve ser catado — separando o que é sólido e essencial do que é leve e oco — reflete a busca por uma linguagem precisa, despojada de excessos emocionais ou ornamentos vazios.
Cabral rejeita a ideia de que a poesia seja fruto de inspiração momentânea ou transbordamento sentimental (alternativa A), assim como não compactua com o acaso dadaísta (B). Seu método é consciente e laborioso: assim como o feijão ruim boia na água, as palavras superficiais devem ser descartadas. A opção pela objetividade e pelo rigor formal (C) contrasta com a valorização do eu lírico romântico (D) e com os jogos linguísticos rebuscados (E).
Ao comparar a palavra a "água congelada", o poeta reforça sua estética contida, onde cada verbo deve ter peso ("chumbo"). A palha e o eco representam o que é dispensável — a linguagem que não sustenta significado. Essa economia expressiva, típica de Cabral, evidencia sua recusa ao lirismo convencional, priorizando uma poesia construída com disciplina, quase artesanal, em que a emoção surge da exatidão, não do derramamento.
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