Questões Sobre Modernismo - Literatura - concurso
Questão 11
Leia o parágrafo inicial do conto As margens da alegria, de
Guimarães Rosa, para responder à questão.
Esta é a estória. Ia um menino, com os Tios, passar dias
no lugar onde se construía a grande cidade. Era uma viagem
inventada no feliz; para ele, produzia-se em caso de sonho.
Saíam ainda com o escuro, o ar fino de cheiros desconhecidos.
A Mãe e o Pai vinham trazê-lo ao aeroporto. A Tia e o Tio
tomavam conta dele, justinhamente. Sorria-se, saudava-se,
todos se ouviam e falavam. O avião era da Companhia, especial,
de quatro lugares. Respondiam-lhe a todas as perguntas,
até o piloto conversou com ele. O voo ia ser pouco mais
de duas horas. O menino fremia no acorçoo, alegre de se rir
para si, confortavelzinho, com um jeito de folha a cair. A vida
podia às vezes raiar numa verdade extraordinária. Mesmo
o afivelarem-lhe o cinto de segurança virava forte afago, de
proteção, e logo novo senso de esperança: ao não-sabido, ao
mais. Assim um crescer e desconter-se — certo como o ato
de respirar — o de fugir para o espaço em branco. O Menino.
(Guimarães Rosa, Primeiras estórias.)
Condizente com o estilo de Guimarães Rosa, percebe-se
no trecho
- A)o desrespeito às regras de regência, como em – ... vinham trazê-lo ao aeroporto.
- B)o uso excessivo de conectivos lógicos, como às vezes e logo.
- C)a preferência por períodos longos, com muitas subordinações.
- D)o emprego de neologismos, como justinhamente e desconter-se.
- E)a linguagem marcadamente formal e a ausência de vocábulos regionais.
A alternativa correta é D)
O trecho inicial do conto As margens da alegria, de Guimarães Rosa, apresenta características marcantes do estilo do autor, como a criação de neologismos e a linguagem poética e inventiva. A alternativa que melhor condiz com esse estilo é a D), que aponta o emprego de palavras inventadas pelo autor, como "justinhamente" e "desconter-se".
Guimarães Rosa é conhecido por sua capacidade de inovar a língua portuguesa, rompendo com convenções gramaticais e lexicais para criar efeitos expressivos únicos. No trecho em questão, termos como "justinhamente" (derivado de "justo" com um sufixo incomum) e "desconter-se" (um verbo que sugere desprendimento ou expansão) exemplificam essa liberdade linguística, típica de sua obra.
As demais alternativas não se aplicam adequadamente ao texto. Não há desrespeito às regras de regência (A), nem uso excessivo de conectivos lógicos (B). Os períodos, embora elaborados, não são excessivamente longos ou complexos (C), e a linguagem, apesar de rica, não é formal nem isenta de regionalismos (E). Portanto, a resposta correta é de fato D).
Questão 12
bem uma geração de poetas, da qual também fizeram parte
Vinícius de Moraes e Murilo Mendes, que se caracterizou, principalmente,
por ter
- A)aberto o caminho para que a Semana de Arte Moderna pudesse ter ocorrido.
- B)rompido, na década de 1920, com os modelos da poesia parnasiana e simbolista.
- C)optado por uma linguagem regional, capaz de traduzir assuntos locais, em detrimento dos temas universais.
- D)mantido, a partir de 1930, as conquistas da década anterior, porém, de forma menos demolidora.
- E)rompido, a partir de 1950, com as teses defendidas pelos primeiros modernistas.
A alternativa correta é D)
O poema Mãos dadas, de Carlos Drummond de Andrade, pertence ao livro Sentimento do mundo e representa uma fase significativa da poesia moderna brasileira. O texto reflete uma postura engajada com o presente, afastando-se tanto da nostalgia pelo passado quanto de utopias futuristas. Drummond enfatiza a importância da solidariedade humana e da conexão com a realidade imediata, marcando um tom mais maduro e menos iconoclasta em relação ao Modernismo da década de 1920.
A geração de poetas da qual Drummond fez parte, incluindo nomes como Vinícius de Moraes e Murilo Mendes, consolidou as conquistas estéticas do Modernismo sem repetir o caráter radical dos primeiros manifestos. Enquanto os modernistas dos anos 1920 romperam com o Parnasianismo e o Simbolismo de forma contundente, os poetas dos anos 1930 mantiveram essa liberdade formal, porém com maior profundidade temática e reflexiva. A opção por uma linguagem universal, sem regionalismos excessivos, e o foco no humano e no contemporâneo caracterizam essa fase.
A alternativa correta, D), destaca justamente essa continuidade das conquistas modernistas, porém com um enfoque menos agressivo e mais consolidado. Drummond e seus contemporâneos não renegaram as inovações anteriores, mas as reelaboraram de maneira mais equilibrada, incorporando preocupações sociais e existenciais sem abandonar a experimentação poética. Assim, Mãos dadas simboliza essa maturidade artística, em que a poesia se volta para o coletivo sem perder sua força individual.
Questão 13
Sobre Carlos Drummond de Andrade, é correto
afirmar:
- A)É autor de versos cujos temas, retirados do quotidiano, expressam a dolorosa situação do homem, que, mesmo entre tantos outros, continua sozinho no mundo.
- B)Pertence a uma geração de representativos poetas brasileiros como Manoel Bandeira, Mário de Andrade e Raimundo Corrêa.
- C)É considerado um poeta simbolista porque tematiza as relações entre o mundo real e a fantasia do homem contemporâneo.
- D)Publicou também as obras Vou me embora pra Pasárgada e A verdadeira arte de viajar.
- E)Foi autor de uma poética extensa e escreveu um único romance, intitulado Mar morto.
A alternativa correta é A)
Sobre Carlos Drummond de Andrade, é correto afirmar:
- A) É autor de versos cujos temas, retirados do quotidiano, expressam a dolorosa situação do homem, que, mesmo entre tantos outros, continua sozinho no mundo.
Esta afirmação está correta, pois Drummond é conhecido por sua poesia que aborda o cotidiano e a solidão humana de forma profunda e reflexiva. Sua obra retrata a condição existencial do indivíduo, muitas vezes destacando o isolamento mesmo em meio à coletividade.
As demais alternativas contêm incorreções:
- B) Pertence a uma geração diferente da de Raimundo Corrêa (este é parnasiano, enquanto Drummond é modernista).
- C) Não é simbolista, mas sim um dos maiores expoentes do Modernismo brasileiro.
- D) As obras citadas são de Manoel Bandeira, não de Drummond.
- E) Embora tenha uma poética extensa, o romance Mar morto é de Jorge Amado, não de Drummond.
Questão 14
INSTRUÇÃO: Para responder à questão, leia
o fragmento do poema de Carlos Drummond de
Andrade, intitulado “O homem: as viagens”.
Restam outros sistemas fora
do solar a col-
onizar.
Ao acabarem todos
só resta ao homem
(estará equipado?)
a dificílima dangerosíssima viagem
de si a si mesmo:
pôr o pé no chão
do seu coração
experimentar
colonizar
civilizar
humanizar
o homem
descobrindo em suas próprias inexploradas entranhas
a perene, insuspeitada alegria
de con-viver.
De acordo com a estrofe apresentada, pode-se
afirmar:
( ) O tema da viagem, explorado no texto, refere-se
menos a uma viagem física, realizada por
espaços desconhecidos e inexplorados, e mais a
uma viagem íntima, aquela que o homem realiza
ao interior de sua própria subjetividade.
( ) O poema apresenta certo traço narrativo,
valendo-se de recursos da oralidade e da
desconstrução de palavras para reforçar a ideia
da viagem interior.
( ) O poema aborda a difícil viagem interior para
destacar uma outra mais difícil: aquela em que
o homem precisa aprender uma nova maneira
de se relacionar com os outros homens.
( ) Os versos livres com que Carlos Drummond
de Andrade compõe seu poema encontram-se
também em outras obras do mesmo autor, como
Cadeira de balanço e Libertinagem.
A sequência correta de preenchimento dos parênteses,
de cima para baixo, é
- A)F – V – F – F
- B)F – F – V – F
- C)F – F – F – V
- D)V – V – V – F
- E)V – F – F – V
A alternativa correta é D)
O poema "O homem: as viagens", de Carlos Drummond de Andrade, explora profundamente a metáfora da jornada, não como um deslocamento físico, mas como uma busca interior. A primeira afirmação é verdadeira, pois o texto enfatiza a "dificílima dangerosíssima viagem de si a si mesmo", destacando a exploração da subjetividade humana como o verdadeiro desafio. A segunda afirmação também é verdadeira, já que o poema utiliza recursos como a quebra de palavras ("col-/onizar") e um tom coloquial para reforçar sua mensagem sobre a viagem introspectiva.
A terceira afirmação igualmente se sustenta, pois o poema não apenas aborda a viagem interior, mas também aponta para a necessidade de humanização e convivência, como visto nos versos "humanizar o homem" e "a perene, insuspeitada alegria de con-viver". Já a quarta afirmação é falsa, pois Cadeira de balanço e Libertinagem são obras de Manuel Bandeira, não de Drummond, demonstrando um equívoco na referência.
Portanto, a sequência correta é D) V – V – V – F, confirmando que o poema de Drummond trata essencialmente da jornada do autoconhecimento e da relação humana, utilizando uma linguagem inovadora para expressar essa reflexão profunda.
Questão 15
A única alternativa que apresenta outras duas obras
de Mário de Andrade é
- A)Infância e Serafim Ponte Grande
- B)Memórias do Cárcere e Cinza das horas
- C)Sombras na correnteza e Pauliceia desvairada
- D)Cobra Norato e Memórias sentimentais de João Miramar
- E)Macunaíma e Amar verbo intransitivo
A alternativa correta é E)
A única alternativa que apresenta outras duas obras de Mário de Andrade é:
- A) Infância e Serafim Ponte Grande
- B) Memórias do Cárcere e Cinza das horas
- C) Sombras na correnteza e Pauliceia desvairada
- D) Cobra Norato e Memórias sentimentais de João Miramar
- E) Macunaíma e Amar, verbo intransitivo
O gabarito correto é E.
Questão 16
INSTRUÇÃO: Para responder à questão, leia o
trecho do diário de viagem de Mário de Andrade,
retirado de O turista aprendiz.
“Durante esta viagem pela Amazônia, muito resolvido
a… escrever um livro modernista, provavelmente mais
resolvido a escrever que a viajar, tomei muitas notas
como vai se ver. Notas rápidas, telegráficas muitas vezes.
Algumas porém se alongaram mais pacientemente,
sugeridas pelos descansos forçados do vaticano de
fundo chato, vencendo difícil a torrente do rio. Mas quase
tudo anotado sem nenhuma intenção da obra-de-arte,
reservada pra elaborações futuras, nem com a menor
intenção de dar a conhecer aos outros a terra viajada.
E a elaboração definitiva nunca realizei. Fiz algumas
tentativas, fiz. Mas parava logo no princípio, nem sabia
bem porque, desagradado. Decerto já devia me desgostar
naquele tempo o personalismo do que anotava. Se
gostei e gozei muito pelo Amazonas, a verdade é que vivi
metido comigo por todo esse caminho largo de água.”
Com base no excerto e em seu contexto, preencha
os parênteses com V para verdadeiro ou F para falso.
( ) O diário de viagem é uma modalidade de narrativa
que relata não só os acontecimentos
transcorridos durante o percurso, mas também
os sentimentos do sujeito viajante.
( ) As anotações do diário acompanhavam a rotina
do barco: às vezes eram breves, outras mais
longas em função das paradas e do movimento
da embarcação nas águas do rio.
( ) O narrador se assume como um tipo especial de
viajante porque não se integra à paisagem e ao
ambiente da Amazônia, uma vez que a viagem
que empreende é de ordem subjetiva.
( ) Mário de Andrade se identifica como um turista
aprendiz porque fez muitas anotações, escreveu
um livro sobre a viagem, corrigiu os originais e
experimentou um personalismo exacerbado.
A sequência correta de preenchimento dos parênteses,
de cima para baixo, é:
- A)V – V – V – F
- B)V – F – V – F
- C)V – F – F – F
- D)F – V – F – V
- E)F – F – V – V
A alternativa correta é A)
O trecho do diário de viagem de Mário de Andrade em O turista aprendiz revela aspectos importantes sobre sua experiência na Amazônia e seu processo criativo. Analisando cada afirmação, podemos identificar a sequência correta de verdadeiro (V) ou falso (F).
A primeira afirmação é verdadeira (V), pois o diário de viagem não apenas registra os acontecimentos objetivos da jornada, mas também os sentimentos e reflexões do viajante, como evidenciado no trecho em que Mário de Andrade menciona viver "metido comigo" durante a viagem.
A segunda afirmação também é verdadeira (V), já que o autor descreve como suas anotações variavam entre rápidas e telegráficas ou mais longas e pacientes, dependendo das condições da viagem, como os descansos forçados no barco.
A terceira afirmação é igualmente verdadeira (V), pois o narrador deixa claro que sua viagem foi marcada por uma experiência subjetiva e introspectiva, vivendo mais consigo mesmo do que integrado à paisagem amazônica.
Por fim, a quarta afirmação é falsa (F), uma vez que Mário de Andrade não concluiu o livro sobre a viagem, como ele mesmo afirma: "a elaboração definitiva nunca realizei". Além disso, ele expressa certo desgosto com o "personalismo" de suas anotações, contradizendo a ideia de um personalismo exacerbado.
Portanto, a sequência correta é V – V – V – F, correspondente à alternativa A).
Questão 17
INSTRUÇÃO: Para responder à questão, leia o trecho
extraído de “Maria-Fumaça”, de autoria de Mario
Quintana, e analise as afirmativas que seguem.
“As lentas, poeirentas, deliciosas viagens nos trens
antigos. As famílias (viajavam famílias inteiras) levavam
galinhas com farofa em cestas de vime, que ofereciam,
pois não, aos viajantes solitários.
E os viajantes solitários (e os meninos) ainda desciam
nas estaçõezinhas pobres… Para os pastéis, os sonhos,
as laranjas…
(…)
O mal dos aviões é que não se pode descer a toda hora
para comprar laranjas.
Nesses aviões, vamos todos imóveis e empacotados
como encomendas. Às vezes encomendas para a
Eternidade…
Cruzes, poeta! Deixa-te de ideias funéreas e pensa nas
aeromoças, arejadas e amáveis como anjos.
E “anjos”, aplicado a elas, não é exagero nenhum.
(…)
Entre a monotonia irreparável das nuvens, nada vemos
da viagem. Isto é, não viajamos: chegamos.
Pobres turistas de aeroportos, damos a volta ao mundo
sem nada ver do mundo.
I. Nesse texto, Mario Quintana retira a matéria para
sua criação literária do tema da viagem, comparando
diferentes modalidades de transporte e hábitos
dos viajantes.
II. Valendo-se de uma linguagem simples, com frases
irônicas e com humor, Mario Quintana reflete sobre
a função da viagem e o seu significado para o viajante.
III. Para o poeta, viajar de avião não concretiza o verdadeiro
prazer da viagem, que estaria mais no ato
de ver, experimentar, conhecer, do que no percurso
partida-chegada.
A(s) afirmativa(s) correta(s) é/são:
- A)I, apenas.
- B)II, apenas.
- C)I e III, apenas.
- D)II e III, apenas.
- E)I, II e III.
A alternativa correta é E)
O trecho de "Maria-Fumaça", de Mario Quintana, oferece uma reflexão poética sobre as diferentes experiências de viagem, contrastando a nostalgia das viagens de trem com a impessoalidade dos voos modernos. O poeta utiliza uma linguagem simples, mas carregada de ironia e humor, para explorar o significado da jornada e como os meios de transporte afetam nossa percepção dela.
A afirmativa I está correta, pois Quintana de fato se inspira no tema da viagem, comparando os trens antigos – com sua atmosfera familiar e interações humanas – com a frieza dos aviões, onde os passageiros são tratados como "encomendas". Essa comparação serve como matéria-prima para sua criação literária.
A afirmativa II também é válida, já que o autor emprega um tom leve e irônico, como na passagem em que interrompe seu próprio devaneio funéreo para falar das aeromoças "arejadas e amáveis como anjos". Essa linguagem acessível não diminui a profundidade de sua reflexão sobre o verdadeiro sentido de viajar.
Por fim, a afirmativa III capta com precisão a crítica central do texto: para Quintana, a viagem de avião anula a essência do ato de viajar, reduzindo-o a um mero deslocamento entre pontos. O poeta valoriza a experiência sensorial e humana das viagens de trem, onde era possível "descer para comprar laranjas" e interagir com as paisagens e pessoas ao longo do caminho.
Portanto, todas as afirmativas estão corretas, pois cada uma aborda aspectos complementares da análise que Mario Quintana faz sobre as diferentes formas de viajar e seus significados. O texto vai além de uma simples descrição, transformando-se em uma meditação sobre como a modernidade alterou nossa relação com o espaço e com os outros durante as viagens.
Questão 18
Sentimento do Mundo, obra de Carlos Drummond de Andrade, marcada pela função poética, constrói-se com
figuras de linguagem que imprimem ao texto uma fina dimensão estética. Indique, abaixo, a alternativa que contém,
no mesmo texto, uma anáfora e uma gradação.
- A)Havemos de amanhecer. O mundo se tinge com as tintas da antemanhã e o sangue que escorre é doce, de tão necessário para colorir tuas pálidas faces, aurora. (A Noite dissolve os homens)
- B)E vejo a mão que levanta a colher, enquanto a outra sustenta a cabeça e vejo o fio oleoso que escorre pelo queixo do menino, escorre pela rua, escorre pela cidade (um fio apenas.) E não há ninguém mais no mundo a não ser esse menino chorando. (Menino chorando na noite)
- C)A vontade de amar, que me paralisa o trabalho, vem de Itabira, de suas noites brancas, sem mulheres e sem horizontes. E o hábito de sofrer, que tanto me diverte, é doce herança itabirana. (Confidência do Itabirano)
- D)É preciso salvar o país, é preciso crer em Deus, é preciso pagar as dívidas, é preciso comprar um rádio, é preciso esquecer fulana. (Poema da necessidade)
A alternativa correta é B)
O poema "Sentimento do Mundo", de Carlos Drummond de Andrade, é uma obra que se destaca pela riqueza de recursos estilísticos, como figuras de linguagem que conferem profundidade e beleza ao texto. Entre essas figuras, a anáfora e a gradação são elementos que aparecem de forma marcante em alguns de seus versos.
Na alternativa B), do poema "Menino chorando na noite", identificamos claramente esses dois recursos. A anáfora se manifesta na repetição da expressão "e vejo", que inicia dois versos consecutivos, reforçando a observação atenta do poeta em relação à cena descrita. Já a gradação aparece na sequência "escorre pelo queixo do menino, escorre pela rua, escorre pela cidade", onde há uma progressão espacial que amplia o alcance da imagem, do particular para o geral, intensificando o impacto emocional do poema.
Esses recursos contribuem para a construção de um texto poético carregado de significado e sensibilidade, características marcantes da obra drummondiana. Portanto, a alternativa B) é a correta, pois apresenta de forma exemplar tanto a anáfora quanto a gradação no mesmo trecho.
Questão 19
Bolero de Ravel
A alma cativa e obcecada
enrola-se infinitamente numa espiral de desejo
e melancolia.
Infinita, infinitamente…
As mãos não tocam jamais o aéreo objeto,
esquiva ondulação evanescente.
Os olhos, magnetizados, escutam
e no círculo ardente nossa vida para sempre está presa,
está presa…
Os tambores abafam a morte do Imperador.
O poema acima integra a obra Sentimento do Mundo, de
Carlos Drummond de Andrade. Da leitura dele NÃO se pode
depreender que
- A)se constrói pela utilização da materialidade do corpo e da espiritualidade da alma, com ênfase para as ações concretizadoras das mãos.
- B)revela uma relação semântica traduzida na ideia de aprisionamento que envolve a alma, o corpo e a vida.
- C)sugere um movimento contínuo que a tudo engolfa e impede a libertação do ser, manifesta na ideia de duração e circularidade.
- D)reproduz verbalmente a construção musical do bolero de Ravel, representada, no poema, pela ideia de moto-contínuo, de repetição e de infinitude.
A alternativa correta é A)
O poema Bolero de Ravel, de Carlos Drummond de Andrade, presente na obra Sentimento do Mundo, apresenta uma tessitura lírica marcada pela dualidade entre o concreto e o etéreo, o aprisionamento e o movimento infinito. No entanto, conforme indicado pelo gabarito, a alternativa A) não pode ser depreendida da leitura do texto, uma vez que o poema não enfatiza ações concretizadoras das mãos, mas sim sua incapacidade de alcançar o objeto desejado.
O poema constrói-se a partir de uma atmosfera de obsessão e melancolia, onde a alma se enrola em uma "espiral de desejo", sugerindo um ciclo interminável de busca e frustração. A repetição de termos como "infinitamente" e "está presa" reforça a ideia de aprisionamento (alternativa B)), enquanto a menção ao "círculo ardente" e à "esquiva ondulação evanescente" evoca um movimento contínuo e circular (alternativa C)).
Além disso, o título e a estrutura do poema remetem diretamente ao bolero de Ravel, composição musical conhecida por sua repetição hipnótica e progressão crescente. A referência aos "tambores abafam a morte do Imperador" também sugere uma reprodução verbal da construção musical (alternativa D)), com seu moto-contínuo e sensação de infinitude.
Portanto, a alternativa incorreta é A), pois o poema não prioriza a materialidade das mãos como agentes concretizadores, mas sim sua falha em tocar o "aéreo objeto", reforçando o tema central da impossibilidade e do aprisionamento espiritual.
Questão 20
Ela era como uma pessoa da família: brincavam juntos
os três, para bem dizer não se diferençavam, rebolavam
na areia do rio e no estrume fofo que ia subindo,
ameaçava cobrir o chiqueiro de cabras.
O trecho acima é da obra Vidas Secas, de Graciliano
Ramos. Refere ações da cachorrinha Baleia. Indique,
nas alternativas abaixo, a que NÃO corresponde à
caracterização dela na narrativa.
- A)Apresenta-se mais humanizada que os membros da família de Fabiano, apesar de ser um personagem não-humano.
- B)Marca-se por espontaneidade e vivacidade e é capaz de vencer as barreiras da incomunicabilidade ao relacionar-se com outros personagens da história.
- C)É acometida por uma doença incurável e acaba morrendo de forma natural, sob o olhar das crianças e de Fabiano, fantasiando em seus momentos de delírio as caçadas que fazia aos preás.
- D)Acumula importantes funções na narrativa quais sejam as de ser guia, a de ser a responsável pela sobrevivência do grupo e a de acompanhar as crianças nas folganças e os adultos no trabalho.
A alternativa correta é C)
O trecho de Vidas Secas, de Graciliano Ramos, apresenta a cachorrinha Baleia como uma figura central na narrativa, quase indistinguível dos membros humanos da família de Fabiano. Sua caracterização é rica e multifacetada, contribuindo para a crítica social e a representação da vida árida do sertão. Entre as alternativas apresentadas, a que NÃO corresponde à sua descrição no romance é a opção C).
A alternativa C) afirma que Baleia morre de forma natural, acometida por uma doença incurável, enquanto fantasiava suas caçadas. No entanto, essa descrição não condiz com o desfecho do animal na obra. Na realidade, Baleia é sacrificada por Fabiano, que vê na morte da cachorra uma solução pragmática diante da impossibilidade de cuidar dela em meio à miséria e à seca. Seu fim é abrupto e violento, sem espaço para delírios ou despedidas poéticas.
As demais alternativas, por outro lado, refletem com precisão o papel de Baleia na narrativa. A alternativa A) destaca sua humanização, que contrasta com a animalização da família de Fabiano, submetida à desumanização da pobreza. A alternativa B) ressalta sua vivacidade e capacidade de comunicação, um traço marcante em meio à incomunicabilidade que permeia a história. Já a alternativa D) sintetiza suas funções práticas e simbólicas, como guia, protetora e companheira nas atividades cotidianas.
Portanto, a resposta correta é C), pois a morte de Baleia não ocorre de forma natural, mas sim como um ato de violência que reforça a brutalidade da vida no sertão.