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Questões Sobre Modernismo - Literatura - concurso

Questão 21

O crítico Álvaro Lins sobre a obra Vidas Secas, de
Graciliano Ramos, afirma que um de seus defeitos é “o
excesso de introspecção em personagens tão precários
e rústicos, estando constituída quase toda a novela de
monólogos interiores”. Assim, indique em que
alternativa ocorre o monólogo interior, também
chamado de discurso indireto livre.

  • A)Mas irou-se com a comparação, deu murradas na parede. Era bruto, sim senhor, nunca havia aprendido, não sabia explicar-se. Estava preso por isso? Como era? Então mete-se um homem na cadeia porque ele não sabe falar direito? Que mal fazia a brutalidade dele?
  • B)Sinha Vitória, distraída, aludiu vagamente a certo lugar ruim demais, e como o filho exigisse uma descrição, encolheu os ombros.
  • C)Nesse ponto um soldado amarelo aproximou-se e bateu familiarmente no ombro de Fabiano: – Como é, camarada? Vamos jogar um trinta-e-um lá dentro?
  • D)Fabiano dizia que na serra havia tocas de suçuaranas. E nos bancos de macambira, rendilhados de espinhos, surgiam cabeças chatas de jararacas.
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A alternativa correta é A)

O crítico Álvaro Lins, ao analisar a obra Vidas Secas de Graciliano Ramos, aponta como um de seus supostos defeitos o "excesso de introspecção em personagens tão precários e rústicos", destacando que a narrativa é composta quase inteiramente por monólogos interiores. Essa técnica, conhecida também como discurso indireto livre, permite que o fluxo de pensamento do personagem seja apresentado sem a mediação explícita de um narrador, misturando-se à narrativa de forma orgânica.

Entre as alternativas apresentadas, a que melhor exemplifica o monólogo interior é a A), pois reproduz os pensamentos confusos e angustiados do personagem de maneira direta, sem marcas de diálogo ou intervenção narrativa clara. O trecho: "Mas irou-se com a comparação, deu murradas na parede. Era bruto, sim senhor, nunca havia aprendido, não sabia explicar-se. Estava preso por isso? Como era? Então mete-se um homem na cadeia porque ele não sabe falar direito? Que mal fazia a brutalidade dele?" revela a interioridade do personagem, seu questionamento íntimo e sua frustração, característicos do discurso indireto livre.

As demais alternativas não se enquadram nessa técnica: a B) descreve uma ação e um diálogo breve, a C) apresenta um diálogo direto entre personagens, e a D) consiste em uma narração descritiva feita pelo narrador. Portanto, o gabarito correto é, de fato, A).

Questão 22

                                               (…) Eis aí meu canto.

                       Ele é tão baixo que sequer o escuta

                       ouvido rente ao chão. Mas é tão alto

                       que as pedras o absorvem. Está na mesa

                       aberta em livros, cartas e remédios.

                      Na parede infiltrou-se. O bonde, a rua,

                      o uniforme de colégio se transformam,

                      são ondas de carinho te envolvendo.

                     

                      Como fugir ao mínimo objeto

                      ou recusar-se ao grande? Os temas passam,

                      eu sei que passarão, mas tu resistes,

                      e cresces como fogo, como casa,

                      como orvalho entre dedos,

                      na grama, que repousam.

                     

                     Já agora te sigo a toda parte,

                     e te desejo e te perco, estou completo,

                     me destino, me faço tão sublime,

                     tão natural e cheio de segredos,

                     tão firme, tão fiel… Tal uma lâmina,

                     o povo, meu poema, te atravessa.

                               Carlos Drummond de Andrade. A rosa do povo.

Considere as seguintes afirmações:

As concepções relativas à poesia que se podem
corretamente deduzir do excerto do poema de
Drummond comportam os seguintes traços ou
características:

I O poema é tanto mais forte quanto mais se abre para
as várias dimensões da vida coletiva.

II A integração do poema na realidade objetiva não
anula a subjetividade do eu lírico; ao contrário, ela lhe
confere vigor renovado.

III O caráter participante ou empenhado da literatura se
coaduna perfeitamente com sua integridade estética.

Está correto o que se afirma em

  • A)II e III, apenas.
  • B)I, apenas.
  • C)I, II e III.
  • D)I e III, apenas.
  • E)I e II, apenas.
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A alternativa correta é C)

O excerto do poema A rosa do povo, de Carlos Drummond de Andrade, revela uma poesia profundamente engajada com a realidade, sem perder sua força lírica e subjetiva. O texto apresenta uma linguagem que oscila entre o íntimo e o coletivo, demonstrando como a poesia pode ser ao mesmo tempo pessoal e universal. Analisando as afirmações propostas, é possível identificar que todas estão corretas, pois refletem as concepções poéticas presentes no trecho.

A primeira afirmação (I) destaca que o poema ganha força ao se abrir para as múltiplas dimensões da vida coletiva. Isso se evidencia nos versos que mencionam objetos cotidianos, como "livros, cartas e remédios", e espaços comuns, como "o bonde, a rua", transformados em "ondas de carinho". Drummond mostra que a poesia se alimenta do mundo ao redor, tornando-se mais potente quando dialoga com a experiência compartilhada.

A segunda afirmação (II) ressalta que a integração do poema na realidade objetiva não anula a subjetividade do eu lírico, mas a revitaliza. O verso "eu sei que passarão, mas tu resistes" reforça a permanência do sentimento lírico, que se fortalece mesmo diante da transitoriedade dos temas. A voz poética mantém sua individualidade, ainda que mergulhada no coletivo.

Por fim, a terceira afirmação (III) aponta que o caráter participante da literatura não compromete sua integridade estética. Drummond prova isso ao unir engajamento e beleza poética, como em "o povo, meu poema, te atravessa", onde a linguagem mantém sua densidade simbólica mesmo ao tratar de um tema social. Assim, as três afirmações estão corretas, revelando a complexidade e a riqueza da poesia drummondiana.

Questão 23

      (…) Um dia, passado muito tempo, Pedro Bala ia com o
Sem-Pernas pelas ruas. Entraram numa igreja da Piedade,
gostavam de ver as coisas de ouro, mesmo era fácil bater uma
bolsa de uma senhora que rezasse. Mas não havia nenhuma
senhora na igreja àquela hora. Somente um grupo de meninos
pobres e um capuchinho que lhes ensinava catecismo.

      — É Pirulito… — disse Sem-Pernas.

      Pedro Bala ficou olhando. Encolheu os ombros:

      — Que adianta?

      Sem-Pernas olhou:

      — Não dá de comer…

      — Um dia vai ser padre também. Tem que ser é tudo junto.

      Sem-Pernas disse:

      — A bondade não basta.

      Completou:

      — Só o ódio…

      Pirulito não os via. Com uma paciência e uma bondade
extremas ensinava às crianças buliçosas as lições de catecismo.
Os dois Capitães da Areia saíram balançando a cabeça. Pedro
Bala botou a mão no ombro do Sem-Pernas.

      — Nem o ódio, nem a bondade. Só a luta.
A voz bondosa de Pirulito atravessa a igreja.

      A voz de ódio
do Sem-Pernas estava junto de Pedro Bala. Mas ele não ouvia
nenhuma. Ouvia era a voz de João de Adão, o doqueiro, a voz
de seu pai morrendo na luta
.

                                                       Jorge Amado, Capitães da Areia.

Comparando-se as características de Capitães da Areia
(1937), bastante visíveis no excerto, às características
mais notórias de Macunaíma (1928), pode-se identificar
corretamente uma transformação ocorrida na transição
do primeiro Modernismo, da década de 1920, ao qual
pertence Macunaíma, para a segunda fase modernista,
posterior a 1930, período em que surge Capitães da
Areia
. Nessa transição, deu-se a passagem de uma

  • A)tendência à abstração e à generalidade, para uma atenção a realidades bem determinadas.
  • B)predominância da influência portuguesa, para o domínio da influência francesa.
  • C)visão ufanista e patriótica, para uma visão pessimista do Brasil.
  • D)predileção pelos temas rurais, para a observação prioritária do mundo urbano.
  • E)concepção da literatura como jogo e divertimento, para uma concepção da literatura como arte.
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A alternativa correta é A)

O excerto de Capitães da Areia, de Jorge Amado, revela uma narrativa profundamente enraizada na realidade social, retratando a vida marginalizada de meninos abandonados em Salvador. A cena na igreja, onde Pedro Bala e Sem-Pernas observam Pirulito ensinar catecismo a crianças pobres, ilustra a tensão entre bondade, ódio e luta como formas de enfrentamento das desigualdades. Essa abordagem direta e concreta contrasta com o caráter mais simbólico e universalizante de Macunaíma, de Mário de Andrade, obra que, embora critique aspectos da cultura brasileira, o faz por meio de uma linguagem alegórica e um protagonista que encarna traços nacionais de forma generalizada.

Essa diferença evidencia a transformação ocorrida na transição do primeiro Modernismo (década de 1920) para a segunda fase (pós-1930). Enquanto Macunaíma se caracteriza pela abstração e pela busca de uma identidade nacional ampla, Capitães da Areia se volta para realidades específicas, como a pobreza urbana e a infância abandonada, marcando uma mudança de foco do universal para o particular. Assim, a alternativa correta é a A), que aponta a passagem de uma "tendência à abstração e à generalidade, para uma atenção a realidades bem determinadas".

As demais alternativas não correspondem à transformação observada. A influência literária (B) e a temática rural/urbana (D) não são centrais nessa comparação. A visão ufanista (C) já era questionada no primeiro Modernismo, e a concepção da literatura (E) como "jogo" ou "arte engajada" não define o contraste entre as obras.

Questão 24

“Cinquenta anos! Quantas horas inúteis! Consumir-se uma pessoa a vida inteira
sem saber para quê! Comer e dormir como um porco! Levantar-se cedo todas as
manhãs e sair correndo, procurando comida! E depois guardar comida para os
filhos, para os netos, para muitas gerações. Que estupidez! Que porcaria! Não é
bom vir o diabo e levar tudo?” 

(RAMOS, Graciliano. In: São Bernardo. 36ª ed. Rio de Janeiro, Record Ed. 1980, cap36, p.181)

O romance pertence à geração de 30, onde a prosa de ficção se caracteriza
pela

  • A)singeleza dos gestos do personagem.
  • B)aceitação das imposições da vida rural.
  • C)negação da rotina do trabalhador.
  • D)sensatez, ao entender sua rotina.
  • E)rudeza e captação direta dos fatos.
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A alternativa correta é E)

O trecho de São Bernardo, de Graciliano Ramos, reflete a angústia e o desespero existencial do protagonista Paulo Honório, marcado por uma visão crua e pessimista da vida. A passagem expõe sua frustração diante da rotina mecânica e sem sentido, questionando o propósito de uma existência reduzida à mera sobrevivência e acumulação material. A linguagem direta, sem rodeios, e a expressão de sentimentos brutos—como raiva e desilusão—caracterizam o estilo do autor e da prosa da Geração de 30.

Essa geração literária, da qual Graciliano Ramos é um dos principais expoentes, destacou-se pela abordagem realista e crítica das condições sociais, especialmente no contexto nordestino. A opção E) "rudeza e captação direta dos fatos" é a correta porque sintetiza a essência da narrativa de Ramos: uma escrita cortante, que dispensa floreios para retratar a realidade de forma crua e objetiva. Seus personagens são frequentemente rudes, mergulhados em conflitos interiores e exteriores, e a prosa capta os fatos sem idealizações, revelando as contradições humanas e sociais de maneira incisiva.

As demais alternativas não se adequam ao estilo da obra ou ao contexto da Geração de 30. A singeleza (A) e a sensatez (D) não correspondem à aspereza do texto; a aceitação da vida rural (B) contradiz a revolta expressa no trecho; e a negação da rotina (C), embora presente, não define o movimento literário em si, mas sim um aspecto pontual da narrativa. Portanto, a rudeza e a objetividade (E) são marcas essenciais da prosa de Graciliano Ramos e de sua geração.

Questão 25

A fase Pré-Modernista passa a ser tomada como marginal ou subsidiária à estética passadista ou ao próprio Modernismo.
Consequentemente, as obras que lhe remetiam pertencimento cronológico, dentre elas Canaã, eram tomadas pelo sincretismo
das escolas Realismo, Naturalismo, Simbolismo, mas também pela aproximação temática ao Modernismo.

(Adaptado de: ARAÚJO, Bárbara Del Rio. O registro de estilo em Canaã: uma reflexão sobre a historiografia e o rótulo Pré-
modernista
. In: Entretextos, Londrina, v.14, n.1, p. 240-257, jan./jun.2014)

O contraditório de classificação de Canaã, de Graça Aranha, é reiterado em:

  • A)Grande parte das análises feitas da obra prefere caracterizá-la pela relevância temática, pelo debruçar sobre os problemas sociais e morais do país, o qual é apresentado sob uma perspectiva de antecipação ao movimento Modernista na medida em que se observa o interesse pela realidade.
  • B)Aproveitando criaturas e fatos reais, pondo em cena colonos e caboclos, não fez, contudo um livro realista e ainda menos regionalista. Não interessava ao autor o pitoresco nem se sentia inclinado a submeter-se passivamente a observação, um e outro entram na obra, mas no seu lugar como elementos de construção e nunca como fim.
  • C)Na historiografia Literária brasileira o nome de Graça Aranha costuma abrir com todo o direito o capítulo do movimento de 1922, pela adesão entusiasta, determinante que essa grande personalidade, antes mesmo de grandes escritores, iria dar aos jovens de São Paulo na revolta contra as instituições.
  • D)Canaã reflete sobre situações novas como a imigração alemã no Espírito Santo, desembocando em discussões raciais, sociais e morais, prelúdio inequívoco ao Modernismo.
  • E)Embora estejam presentes na obra ideias pessimistas quanto ao Brasil e tons idílicos da colônia alemã, não há nenhuma tendência a provar a superioridade do colono branco sobre o mestiço.
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A alternativa correta é B)

O texto apresentado aborda a complexidade da classificação da obra Canaã, de Graça Aranha, dentro do contexto literário brasileiro, destacando sua posição ambígua entre o Pré-Modernismo e o Modernismo. A fase Pré-Modernista muitas vezes é vista como marginal, situada entre estéticas passadistas e a ruptura modernista, o que gera interpretações divergentes sobre obras como Canaã.

A alternativa correta, conforme o gabarito, é a B, que afirma: "Aproveitando criaturas e fatos reais, pondo em cena colonos e caboclos, não fez, contudo, um livro realista e ainda menos regionalista. Não interessava ao autor o pitoresco nem se sentia inclinado a submeter-se passivamente à observação, um e outro entram na obra, mas no seu lugar como elementos de construção e nunca como fim." Essa passagem reforça a dificuldade de enquadrar a obra em categorias literárias tradicionais, como Realismo ou Naturalismo, pois Graça Aranha não se limitou a reproduzir a realidade de forma passiva, mas utilizou-a como base para uma construção artística mais ampla.

As outras alternativas, embora apresentem aspectos relevantes da obra, não capturam com a mesma precisão o caráter contraditório de sua classificação. A alternativa A enfatiza a relevância temática e a antecipação de questões modernistas, enquanto a C destaca o papel de Graça Aranha no Modernismo. Já a D ressalta as discussões raciais e sociais, e a E aborda a ausência de uma defesa explícita da superioridade racial. No entanto, apenas a alternativa B evidencia a recusa do autor em se prender a rótulos estéticos, confirmando a complexidade de classificar Canaã dentro de uma escola literária específica.

Questão 26

                                    Canção do Suicida

                       NÃO ME MATAREI, meus amigos.

                       Não o farei, possivelmente.

                       Mas que tenho vontade, tenho.

                       Tenho, e, muito curiosamente,

                     

                       Com um tiro. Um tiro no ouvido,

                       Vingança contra a condição

                       Humana, ai de nós! sobre-humana

                       De ser dotado de razão.

                            (BANDEIRA, Manuel. Poesia completa e
prosa
. Rio de Janeiro:

                                                                          Editora Nova
Aguilar: 1993, p. 336) 

A análise adequada para o poema de Bandeira é: 

  • A)Mescla-se o prosaico ao sublime, o banal ao poético. Trata-se de uma atitude de apego ao lirismo e ao amor romântico. É, pois, na criação de uma poesia do cotidiano que o poeta ironiza a idealização romântica, traçando a modernidade.
  • B)As rupturas sintáticas passariam a ser os meios correntes na poesia moderna para exprimir, no poema, o novo ambiente, em que vive o homem da grande cidade, que anda de carro, vê cinema, fala ao telefone, e está cada vez mais sujeito ao bombardeio da propaganda.
  • C)O poema já mostra, além da melancolia pela infância do eu-lírico, ideais modernistas, pela quebra de paradigmas como a forma fixa e a métrica (versos livres) e o jogo semântico das palavras em contexto.
  • D)O poema, através de simples vocabulário, atinge temas profundos e saudosistas, de forma criativa utiliza-se de fatos do cotidiano das pessoas. Nesse caso, o acidente biográfico é reconhecível na referência à falta de saúde, decorrente da tuberculose que manteve o poeta recluso num sanatório durante anos.
  • E)O poema apresenta uma das grandes conquistas dos modernos: o humorismo, sob forma de ironia ou de paradoxo, utilizando-o como instrumento de análise moral, aprofundamento das emoções e senso de complexidade do homem e do mundo.
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A alternativa correta é E)

O poema "Canção do Suicida", de Manuel Bandeira, exemplifica uma das marcas mais significativas da poesia moderna: o uso do humor como ferramenta crítica e reflexiva. A opção correta, E), destaca justamente essa característica, ao apontar o humorismo como um recurso empregado pelos modernistas para explorar a condição humana de maneira irônica e paradoxal.

No poema, Bandeira aborda um tema denso — o desejo de morte — com um tom aparentemente despretensioso, quase prosaico. A afirmação "NÃO ME MATAREI, meus amigos" carrega uma ironia sutil, pois, ao mesmo tempo que nega a ação, o eu lírico expõe seu desejo latente. Essa ambiguidade entre o sério e o cômico revela a complexidade das emoções humanas, sem recorrer ao melodrama ou ao lirismo excessivo.

Além disso, a referência ao "tiro no ouvido" como uma vingança contra a razão humana reforça o paradoxo. O poeta critica a racionalidade, que tanto nos eleva quanto nos aprisiona, utilizando um humor ácido para questionar nossa própria natureza. Essa abordagem, típica do Modernismo, rompe com a idealização romântica e mergulha nas contradições do cotidiano, sem perder profundidade.

Portanto, a análise mais adequada é a que reconhece no poema o humor como instrumento de reflexão moral e emocional, confirmando a alternativa E) como a correta. Bandeira, com sua linguagem simples e direta, transforma o trivial em poético, revelando a genialidade de sua obra dentro do movimento modernista.

Questão 27

A denominação de Modernismo abrange, em nossa literatura, três fatos intimamente ligados: um movimento, uma estética e um
período. O movimento surgiu em São Paulo com a famosa Semana de Arte Moderna, em 1922, e se ramificou depois pelo País,
tendo como finalidade principal superar a literatura vigente, formada pelos restos do Naturalismo, Parnasianismo e do
Simbolismo. Correspondeu a ele uma teoria estética, nem sempre claramente delineada, e muito menos unificada, mas que
visava, sobretudo, a orientar e definir uma renovação, formulando em novos termos o conceito de literatura e escritor. Estes
fatos tiveram seu momento mais dinâmico e agressivo até mais ou menos 1930, abrindo-se a partir daí uma nova etapa de
maturação, cujo término se tem localizado cada vez mais no ano de 1945. Convém, portanto, considerar como encerrada nesse
ano a fase dinâmica do Modernismo.

(CANDIDO, Antonio; CASTELLO, José Aderaldo. Presença da literatura brasileira: Modernismo. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil,
1997, p. 9)

Das afirmações abaixo, indique a que tem por tópico principal a apresentação da fase inicial do Modernismo relacionada ao seu
período histórico.

  • A)O Modernismo se vincula estreitamente a certas transformações da sociedade. 1922 é um ano simbólico do Brasil moderno, coincidindo com o Centenário da Independência. Em 1922 irrompe a transformação literária; ocorre o primeiro dos levantes político-militares que acabariam por triunfar com a Revolução de Outubro de 1930.
  • B)Os modernistas de 1922 nunca se consideraram como componentes de uma escola, nem afirmaram ter postulados rigorosos em comum. O que os unificava era um grande desejo de expressão livre e a tendência para transmitir, sem os embelezamentos tradicionais do academismo, a emoção pessoal.
  • C)Ao voltarem as liberdades democráticas abafadas pelo regime ditatorial de 1937, inclusive as da imprensa, o País verificou, meio atônito, que tinha ingressado em uma fase nova, de industrialização e progresso econômico-social acelerado, apesar dos graves e perigosos problemas do subdesenvolvimento.
  • D)No Brasil, o Modernismo significou principalmente libertação dos modelos acadêmicos, que se haviam consolidado entre 1890 e 1920. Em relação a eles, os modernistas afirmaram a sua libertação em vários rumos e setores: vocabulário, sintaxe, escolha dos temas, a própria maneira de ver o mundo.
  • E)Em 1930, sofríamos, como todo o mundo civilizado, os efeitos da grande crise econômica mundial, aberta em 1929, que motivou um decênio de depressão; ocorre uma intensa radicalização política, tanto para a esquerda quando para a direita.
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A alternativa correta é A)

O texto fornecido aborda o Modernismo na literatura brasileira, destacando sua origem, características e período histórico. A questão solicita a identificação da afirmação que melhor apresenta a fase inicial do Modernismo, relacionando-a ao seu contexto histórico. Analisando as alternativas, a opção A é a que mais se adequa a essa demanda, pois estabelece uma conexão clara entre o movimento modernista e as transformações sociais e políticas do Brasil em 1922.

A alternativa A menciona o ano de 1922 como um marco simbólico, associando-o ao Centenário da Independência, à transformação literária e aos levantes político-militares que culminariam na Revolução de 1930. Essa abordagem contextualiza o Modernismo dentro de um panorama histórico mais amplo, reforçando sua relação com as mudanças que ocorriam no país na época. Já as demais alternativas, embora relevantes para o estudo do Modernismo, não focam especificamente na fase inicial do movimento e sua ligação com o período histórico.

Portanto, a resposta correta é A, pois ela sintetiza de maneira precisa a fase inicial do Modernismo e sua conexão com o momento histórico brasileiro, conforme destacado no texto de referência.

Questão 28

INSTRUÇÃO: A questão refere-se a noções de Teoria da Literatura: Gêneros Literários; Estilos
de Época (do Barroco ao Modernismo – Brasil): Contexto Histórico, características e principais autores.

Em relação à autoria das obras literárias brasileiras do século XX, assinale a alternativa CORRETA.

  • A)O quinze (1930) foi o primeiro livro de Raquel de Queiroz. A grande seca ocorrida em 1915 e a fome que a acompanha fazem parte do pano de fundo do romance que se tornou um dos grandes representantes da chamada literatura regionalista.
  • B)A hora da estrela (1977) foi escrito por Cecília Meireles e publicado no ano da morte da autora. É um romance que apresenta três histórias superpostas dialogando por toda a narrativa. O romance já surpreende por apresentar 13 títulos possíveis.
  • C)A trilogia épica O tempo e o vento apresenta a saga das famílias de Terra-Cambará na formação do Rio Grande do Sul. A obra, escrita por Rubem Braga, foi dividida em três partes, publicadas em 1949, 1951 e 1962.
  • D)O livro A morte e a morte de Quincas Berro d´água, de Vinícius de Morais, destaca-se por sua leveza, criatividade e humor. Escrita em menos de uma semana, foi publicada em 1959 e teve sucesso imediato.
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A alternativa correta é A)

O século XX foi um período de grande efervescência na literatura brasileira, marcado por movimentos estéticos diversos e pela consolidação de vozes literárias fundamentais. Entre as alternativas apresentadas, a correta é a letra A, que afirma que O Quinze (1930) foi o primeiro livro de Rachel de Queiroz e um marco da literatura regionalista.

Publicado quando a autora tinha apenas 20 anos, O Quinze retrata a seca devastadora de 1915 no Nordeste, tema caro ao regionalismo brasileiro. Rachel de Queiroz, com sua prosa sóbria e realista, expõe as mazelas sociais e humanas provocadas pela estiagem, consolidando-se como uma das principais escritoras do Modernismo brasileiro.

As demais alternativas apresentam equívocos em relação à autoria das obras citadas. A Hora da Estrela (1977) é de autoria de Clarice Lispector, não de Cecília Meireles. A trilogia O Tempo e o Vento foi escrita por Érico Veríssimo, não por Rubem Braga. Já A Morte e a Morte de Quincas Berro d'Água pertence a Jorge Amado, não a Vinicius de Moraes.

Essa questão reforça a importância de se conhecer as obras e autores canônicos da literatura brasileira do século XX, assim como seus contextos históricos e estéticos. O Modernismo e suas vertentes, como o regionalismo de Rachel de Queiroz, foram fundamentais para a construção de uma identidade literária nacional.

Questão 29

“Catar Feijão
Catar feijão se limita com escrever:
joga-se os grãos na água do alguidar
e as palavras na folha de papel;
e depois, joga-se fora o que boiar.
Certo, toda palavra boiará no papel,
água congelada, por chumbo seu verbo:
pois para catar esse feijão, soprar nele,
e jogar fora o leve e o oco, palha eco,” 

Alguidar: recipiente de barro, metal ou material plástico, usado para tarefas domésticas

Em Catar feijão, João Cabral de Melo Neto revela

  • A)o princípio de que a poesia é fruto de inspiração poética, pois resulta de um trabalho emocional.
  • B)influência do Dadaísmo ao escolher palavras, ao acaso, que nada significam para a construção da poesia.
  • C)preocupação com a construção de uma poesia racional contrária ao sentimentalismo choroso.
  • D)valorização do eu lírico, ao extravasar o estado de alma e o sentimento poético.
  • E)valorização do pormenor mediante jogos de palavras, sobrecarregando a poesia de figura e de linguagem rebuscada.
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A alternativa correta é C)

No poema "Catar Feijão", João Cabral de Melo Neto estabelece uma analogia entre o ato de selecionar grãos e o processo de escrita poética, revelando sua preocupação com a construção de uma poesia racional e antissentimental. A metáfora do feijão que deve ser catado — separando o que é sólido e essencial do que é leve e oco — reflete a busca por uma linguagem precisa, despojada de excessos emocionais ou ornamentos vazios.

Cabral rejeita a ideia de que a poesia seja fruto de inspiração momentânea ou transbordamento sentimental (alternativa A), assim como não compactua com o acaso dadaísta (B). Seu método é consciente e laborioso: assim como o feijão ruim boia na água, as palavras superficiais devem ser descartadas. A opção pela objetividade e pelo rigor formal (C) contrasta com a valorização do eu lírico romântico (D) e com os jogos linguísticos rebuscados (E).

Ao comparar a palavra a "água congelada", o poeta reforça sua estética contida, onde cada verbo deve ter peso ("chumbo"). A palha e o eco representam o que é dispensável — a linguagem que não sustenta significado. Essa economia expressiva, típica de Cabral, evidencia sua recusa ao lirismo convencional, priorizando uma poesia construída com disciplina, quase artesanal, em que a emoção surge da exatidão, não do derramamento.

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Questão 30

Assinale a alternativa que contém uma das características da segunda fase modernista brasileira.

  • A)Os efeitos da crise econômica mundial e os choques ideológicos que levaram a posições mais definidas formavam um campo propício ao desenvolvimento de um romance caracterizado pela denúncia social.
  • B)Na poesia, ganha corpo uma geração de poetas que se opõem às conquistas e inovações dos primeiros modernistas de 1922. Uma nova proposta é defendida inicialmente pela revista Orfeu.
  • C)O período de 1930 a 1945 é o mais radical do movimento modernista, pela necessidade de ruptura com toda arte passadista.
  • D)As revistas e manifestos marcam o segundo momento modernista, com a divulgação do movimento pelos vários estados brasileiros.
  • E)Ao mesmo tempo em que se procura o moderno, o original e o polêmico, o nacionalismo se manifesta em suas múltiplas facetas: uma volta às origens, a pesquisa de fontes quinhentistas, a procura de uma “língua brasileira".
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A alternativa correta é A)

Características da Segunda Fase Modernista Brasileira: Um Ensaio

A segunda fase do Modernismo brasileiro, também conhecida como "Fase de Consolidação", ocorreu entre 1930 e 1945 e foi marcada por profundas transformações sociais, políticas e culturais. Dentre suas principais características, destaca-se o desenvolvimento de uma literatura engajada, que refletia os conflitos e tensões da época.

Como aponta a alternativa correta (A), o período foi fortemente influenciado pela crise econômica mundial e pelos choques ideológicos que antecederam a Segunda Guerra Mundial. Esse contexto histórico propiciou o surgimento de uma produção literária marcada pela denúncia social, especialmente no gênero romanesco.

Autores como Graciliano Ramos, Jorge Amado e Rachel de Queiroz exemplificam essa tendência, ao retratarem em suas obras as desigualdades sociais, as lutas de classes e os problemas do trabalhador brasileiro. O romance nordestino, em particular, tornou-se um importante veículo de crítica social, denunciando as condições precárias de vida no interior do país.

Embora outras alternativas mencionem aspectos relevantes do Modernismo - como o nacionalismo (E) ou as revistas literárias (D) - a característica mais distintiva da segunda fase foi justamente esse compromisso social e político da literatura, que refletia os anseios e contradições de uma sociedade em transformação.

Portanto, a alternativa A corretamente identifica uma das marcas fundamentais desse período: a literatura como instrumento de denúncia e reflexão sobre os problemas sociais brasileiros.

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