Questões Sobre Modernismo - Literatura - concurso
Questão 31
Leia o trecho abaixo:
“Não tenho uma palavra a dizer. Por que não me calo, então? Mas se eu não forçar a palavra a
mudez me engolfará para sempre em ondas. A palavra e a forma serão a tábua onde boiarei sobre
vagalhões de mudez.”
O fragmento, extraído da obra de Clarice Lispector, apresenta
- A)uma reflexão sobre o processo de criação literária.
- B)uma postura racional, antissentimental, triste e recorrente na literatura dessa fase.
- C)traços visíveis da sensibilidade, característica presente na 2ª fase modernista.
- D)a visão da autora, sempre preocupada com o valor da mulher na sociedade.
- E)exemplos de neologismo, característica comum na 3ª fase modernista.
A alternativa correta é A)
O trecho apresentado, extraído da obra de Clarice Lispector, revela uma profunda reflexão sobre o ato da escrita e a luta contra o silêncio. A autora expõe a necessidade de forçar a palavra, mesmo diante da dificuldade, como um meio de resistência contra a mudez que ameaça engolfá-la. Essa ideia está intimamente ligada ao processo criativo, no qual a palavra e a forma literária servem como instrumentos para navegar em meio ao caos e à incomunicabilidade.
A alternativa correta, portanto, é a A), pois o fragmento aborda justamente a angústia e a persistência envolvidas na criação literária. Clarice Lispector, conhecida por sua prosa introspectiva e existencial, frequentemente explora em suas obras os dilemas da expressão e da linguagem, temas centrais nessa passagem.
As demais alternativas não se adequam ao trecho em questão. A opção B) menciona uma postura racional e antissentimental, o que não corresponde ao tom lírico e subjetivo de Lispector. A alternativa C) fala da segunda fase modernista, mas a autora pertence a um contexto literário posterior, com características distintas. A opção D) desvia-se do tema central do texto, que não trata especificamente da condição feminina. Por fim, a alternativa E) menciona neologismos, algo que não se verifica no fragmento apresentado.
Dessa forma, a análise do trecho confirma que a resposta correta é A), destacando a relação entre a escrita e a superação do silêncio como elementos fundamentais do processo criativo na literatura de Clarice Lispector.
Questão 32
Leia com atenção o texto a seguir, retirado de Cobra Norato, de Raul Bopp.
III
Sigo depressa machucando a areia
Erva-picão me arranhou
Caules gordos brincam de afundar na lama
Galhinhos fazem psiu
Deixa eu passar que vou pra longe
Moitas de tiririca entopem o caminho
– Ai Pai-do-mato!
quem me quebrou com mau olhado
e virou meu rasto no chão?
Ando já com os olhos murchos
de tanto procurar a filha da rainha Luzia
O resto da noite me enrola
Com relação ao texto citado, é INCORRETO afirmar que ele
- A)constitui um trecho do poema épico intitulado Cobra Norato.
- B)usa expressões características da cultura popular brasileira.
- C)apresenta uma estrutura com variados recursos dialogais.
- D)relata a marcha interminável da herdeira mítica da coroa.
A alternativa correta é D)
O texto em questão, extraído de Cobra Norato de Raul Bopp, revela características marcantes da obra do autor, mesclando elementos da cultura popular brasileira com uma linguagem poética repleta de imagens vívidas e sonoridades expressivas. A análise das alternativas permite identificar qual afirmação é incorreta em relação ao fragmento.
A alternativa A) está correta, pois o texto é, de fato, um trecho do poema épico Cobra Norato, obra-prima de Raul Bopp que reconta lendas amazônicas com um estilo modernista. Já a alternativa B) também está correta, uma vez que o poema incorpora expressões e referências típicas da cultura popular, como "Pai-do-mato" e a menção a plantas como erva-picão e tiririca, elementos que remetem ao imaginário brasileiro.
A alternativa C) igualmente se sustenta como correta, pois o trecho apresenta uma estrutura dialogal, evidenciada pelo apelo direto ("- Ai Pai-do-mato!") e pela fala do narrador, que interage com o ambiente e questiona forças invisíveis. Por fim, a alternativa D) é a incorreta, já que o texto não relata a marcha da "herdeira mítica da coroa", mas sim a jornada do próprio narrador em busca da filha da rainha Luzia, personagem central da narrativa mítica.
Assim, o gabarito correto é D), pois o fragmento não descreve a trajetória de uma herdeira, mas sim a busca do protagonista, imerso em um cenário natural que interage com sua jornada.
Questão 33
Com relação à obra Cobra Norato, de Raul Bopp, é CORRETO afirmar que
- A)se trata de um poema do movimento literário conhecido como Modernismo Brasileiro.
- B)remete ao culto da serpente alada a qual foi chamada de "Cobra Norato" por Gonçalves Dias.
- C)se inspira na natureza tropical a qual foi amplamente valorizada pelo Arcadismo tardio.
- D)se refere às lendas da cultura ribeirinha, típica da confluência do Solimões com o Tincuã.
A alternativa correta é A)
Com relação à obra Cobra Norato, de Raul Bopp, é CORRETO afirmar que:
- A) se trata de um poema do movimento literário conhecido como Modernismo Brasileiro.
A alternativa A está correta, pois Cobra Norato é uma das principais obras do Modernismo Brasileiro, movimento que buscava romper com as tradições literárias anteriores e incorporar elementos da cultura nacional, como mitos e lendas regionais. Raul Bopp, ao escrever esse poema, mergulhou no universo amazônico, trazendo uma linguagem inovadora e uma visão mítica da floresta, características marcantes da primeira fase do Modernismo no Brasil.
As demais alternativas apresentam informações incorretas ou imprecisas. A cobra alada mencionada em B não está diretamente relacionada a Gonçalves Dias, e a obra não se inspira no Arcadismo tardio (C), movimento distinto do Modernismo. Já a opção D menciona uma confluência geográfica inexistente ("Solimões com o Tincuã"), o que a torna inválida.
Questão 34
A ideia de “pós-modernismo” surgiu pela primeira vez no mundo hispânico, na década de
1930, uma geração antes de seu aparecimento na Inglaterra ou nos EUA. Perry Anderson,
conhecido pelos seus estudos dos fenômenos culturais e políticos contemporâneos, em
“As Origens da Pós-Modernidade” (1999), conta que foi um amigo de Unamuno e Ortega,
Frederico de Onís, que imprimiu o termo pela primeira vez, embora descrevendo um refluxo
conservador dentro do próprio modernismo. Mas coube ao filósofo francês Jean-François
Lyotard, com a publicação “A Condição Pós-Moderna” (1979), a expansão do uso do
conceito.
Em sua origem, pós-modernismo significava a perda da historicidade e o fim da “grande
narrativa” – o que no campo estético significou o fim de uma tradição de mudança e ruptura,
o apagamento da fronteira entre alta cultura e da cultura de massa e a prática da
apropriação e da citação de obras do passado. (LIMA, 2004)
É uma característica importante do pós-modernismo:
- A)A consolidação de seus estudos na observação do mundo hispânico e na contraposição com os valores do velho mundo.
- B)A exploração dos movimentos culturais da contemporaneidade associados as suas manifestações e ideologias políticas.
- C)A dissolução de limites rígidos entre os fenômenos culturais, produzindo uma nova visão e orientação social.
- D)A manutenção de linhas conservadoras de valor estético, em conformidade com as tendências modernistas.
A alternativa correta é C)
O pós-modernismo, como movimento cultural e filosófico, surge a partir de uma crítica às estruturas rígidas e às grandes narrativas que caracterizaram o modernismo. Sua origem no mundo hispânico, ainda na década de 1930, antecipou discussões que só ganhariam força em outras partes do mundo décadas depois. Frederico de Onís, ao cunhar o termo, já apontava para um refluxo dentro do próprio modernismo, mas foi com Jean-François Lyotard que o conceito se popularizou, especialmente a partir da ideia do fim das metanarrativas.
Uma das marcas centrais do pós-modernismo é justamente a dissolução de fronteiras antes bem definidas, seja entre alta cultura e cultura de massa, seja entre passado e presente, através da apropriação e da citação. Essa característica é essencial para entender sua influência na arte, na literatura e no pensamento contemporâneo. A hibridização de estilos, a mistura de referências e a rejeição de hierarquias culturais tradicionais são traços que definem o movimento.
Dentre as alternativas apresentadas, a que melhor sintetiza essa essência do pós-modernismo é a C), que destaca a dissolução de limites rígidos entre fenômenos culturais, gerando uma nova perspectiva social. Essa visão reflete a fluidez e a pluralidade que o movimento abraça, contrastando com a rigidez das classificações modernistas. Enquanto o modernismo buscava rupturas claras e uma linearidade histórica, o pós-modernismo opera pela justaposição, pelo pastiche e pela relativização de categorias.
Assim, o pós-modernismo não apenas questiona as narrativas dominantes, mas também propõe uma reavaliação constante dos valores estéticos e culturais, desafiando noções de originalidade e autenticidade. Sua contribuição está justamente nessa capacidade de abraçar o contraditório e o fragmentado, oferecendo uma lente através da qual a complexidade do mundo contemporâneo pode ser melhor compreendida.
Questão 35
1. O mestre José Amaro é um homem pobre que vive no Santa Fé, mas não é empregado lá, trabalha por conta própria,
o que não faz dele um homem independente, já que o proprietário exige que ele saia da casa que ocupa no engenho.
2. O coronel Lula de Holanda faz parte de uma longa linhagem de senhores de engenho, donos há gerações do engenho
Santa Fé que, ao final do romance, estará de fogo morto.
3. Apesar da distância social que as separa, tanto a filha de José Amaro quanto a do coronel Lula de Holanda vivem em
isolamento e terminam por enlouquecer.
4. O capitão Vitorino Carneiro da Cunha grita o tempo todo que é um homem que não se submete ao poder de ninguém,
mas na verdade cede ao comando do cangaceiro, o capitão Antônio Silvino.
Assinale a alternativa correta.
- A)Somente as afirmativas 1 e 3 são verdadeiras.
- B)Somente as afirmativas 1, 2 e 3 são verdadeiras.
- C)Somente as afirmativas 2 e 4 são verdadeiras.
- D)Somente a afirmativa 3 é verdadeira.
- E)Somente a afirmativa 4 é verdadeira.
A alternativa correta é A)
O romance Fogo morto, de José Lins do Rego, apresenta personagens marcantes que refletem as contradições e conflitos da sociedade nordestina no contexto da decadência dos engenhos de açúcar. Analisando as afirmativas sobre os personagens, podemos identificar quais delas são verdadeiras.
A primeira afirmativa descreve corretamente a situação de mestre José Amaro, um homem pobre que, apesar de trabalhar por conta própria, não possui independência real, pois está sujeito às ordens do proprietário do Santa Fé. Essa condição ilustra a fragilidade dos trabalhadores diante do poder dos senhores de engenho.
A segunda afirmativa, porém, contém um equívoco. O coronel Lula de Holanda não pertence a uma linhagem tradicional de senhores de engenho, mas sim a uma família que ascendeu socialmente, o que é um aspecto importante de sua caracterização no romance.
A terceira afirmativa está correta ao apontar o paralelismo entre as filhas de José Amaro e do coronel Lula de Holanda. Ambas, apesar de origens sociais distintas, compartilham um destino trágico de isolamento e loucura, demonstrando como a opressão do sistema atinge diferentes estratos sociais.
Quanto à quarta afirmativa, ela apresenta uma interpretação equivocada do personagem Vitorino Carneiro da Cunha. Embora ele de fato proclame sua independência, não há no romance indicação de que ele se submeta ao cangaceiro Antônio Silvino.
Portanto, apenas as afirmativas 1 e 3 são verdadeiras, tornando a alternativa A) a correta. Essa análise revela como Fogo morto constrói personagens complexos que representam as tensões de uma sociedade em transformação.
Questão 36
Leia, atentamente, o seguinte poema:
Que pode uma criatura senão,
entre criaturas, amar?
amar e esquecer,
amar e malamar,
amar, desamar, amar?
sempre, e até de olhos vidrados, amar?
Que pode, pergunto, o ser amoroso,
sozinho, em rotação universal, senão
rodar também, e amar?
amar o que o mar traz à praia,
e o que ele sepulta, e o que, na brisa marinha,
é sal, ou precisão de amor, ou simples ânsia?
Amar solenemente as palmas do deserto,
o que é entrega ou adoração expectante,
e amar o inóspito, o áspero,
um vaso sem flor, um chão de ferro,
e o peito inerte, e a rua vista em sonho, e uma ave de rapina.
Este o nosso destino: amor sem conta,
distribuído pelas coisas pérfidas ou nulas,
doação ilimitada a uma completa ingratidão,
e na concha vazia do amor a procura medrosa,
paciente, de mais e mais amor.
Amar a nossa falta mesma de amor, e na secura nossa
amar a água implícita, e o beijo tácito, e a sede infinita.
O poema “Amar” integra a segunda parte, “Notícias Amorosas”, do livro Claro enigma, de Carlos Drummond de
Andrade. Sobre esse poema, assinale a alternativa correta.
- A)As indagações repetitivas, nas duas primeiras estrofes, reiteram a inviabilidade do amor diante de um mundo em que tudo é perecível.
- B)O poeta estabelece uma intensidade da manifestação do amor com relação ao belo diferente da intensidade do amor dispensado ao grotesco.
- C)Para acentuar a condição inexorável de amar, o poema enumera coisas que, por sua concretude e delicadeza naturais, justificam o amor que já recebem.
- D)O poema postula uma condição universal, na qual se fundem o sujeito, a ação praticada e os objetos a que essa ação se dirige.
- E)A última estrofe é a chave explicativa desse soneto e reitera a ineficácia do amor diante de um mundo caótico e insensível.
A alternativa correta é D)
O poema "Amar", de Carlos Drummond de Andrade, explora a essência do amor como uma força universal e inescapável, que permeia todas as dimensões da existência. A alternativa correta, D), afirma que o poema postula uma condição universal na qual sujeito, ação e objetos se fundem, e essa interpretação capta com precisão o núcleo da obra.
Drummond constrói uma reflexão sobre o amor não como um sentimento seletivo, mas como um movimento contínuo e abrangente, que envolve tanto o belo quanto o áspero, o acolhedor e o inóspito. As repetições do verbo "amar" ao longo do poema reforçam essa ideia de compulsoriedade, como se o amor fosse um destino inevitável, independente das circunstâncias ou da reciprocidade. O eu lírico questiona o que resta ao ser humano senão amar, mesmo diante da ingratidão ou da efemeridade das coisas.
A universalidade proposta na alternativa D) se confirma na maneira como o poeta iguala todas as formas de existência como merecedoras de amor: desde "o que o mar traz à praia" até "um vaso sem flor" ou "uma ave de rapina". Não há hierarquia; o amor é distribuído "pelas coisas pérfidas ou nulas", como afirma o verso. Essa visão integradora elimina a dualidade entre sujeito e objeto, mostrando que amar é um ato que transcende a lógica e se impõe como condição primordial da vida.
As outras alternativas falham em captar essa dimensão. A alternativa A) reduz o poema a uma visão pessimista, enquanto B) cria uma falsa oposição entre belo e grotesco, ignorando a equalização drummondiana. A alternativa C) desconsidera que o poema inclui o amor até pelo que é rude ou vazio, e E) incorre no erro de classificar o texto como soneto e de interpretar a última estrofe como derrotista, quando ela, na verdade, reafirma a persistência do amor mesmo na aridez.
Portanto, a alternativa D) é a única que sintetiza a mensagem central do poema: o amor como um fluxo contínuo e universal, no qual o ser humano está irremediavelmente imerso.
Questão 37
Leia o poema de Manuel Bandeira e o excerto da obra Um terno de pássaros ao
Sul (2008), de Carpinejar que são apresentados abaixo.
Poema do beco
Que me importa a paisagem, a Glória, a
[baía, a linha do horizonte?
– O que eu vejo é o beco.
(BANDEIRA, 1982, p. 67).
Um terno de pássaros ao Sul
O pampa é armadura do mar,
só vejo o gatilho da espuma.
O pampa é o repuxo do céu,
só vejo as naus encalhadas.
O pampa é a natureza enervada,
só vejo a praia aterrada do Guaíba.
(CARPINEJAR, 2008, p. 54).
Os versos acima aproximam-se na perspectiva que lançam sobre a paisagem, qual
seja:
- A)a indiferença, que sugere a desterritorialização do sujeito poético em relação ao seu espaço
- B)a identificação do sujeito poético ao espaço natural, percebida pela visão onírica da paisagem.
- C)o telurismo, que denota a aliança e a interdependência entre o sujeito lírico e o ambiente.
- D)a admiração pelas belezas naturais, expressa, respectivamente, na menção à linha do horizonte e ao pampa como continuidade do céu.
- E)a visão parcial do sujeito em relação ao seu espaço, guiada pelo seu estado de ânimo.
A alternativa correta é E)
Os poemas de Manuel Bandeira e Carpinejar apresentam uma visão particular sobre a paisagem, marcada pela subjetividade do sujeito poético. Em Poema do beco, Bandeira rejeita a grandiosidade da paisagem — a Glória, a baía, a linha do horizonte — para focar no beco, um espaço modesto e cotidiano. Essa escolha revela um olhar seletivo, determinado pelo estado de espírito do poeta, que privilegia o insignificante em detrimento do sublime.
Já em Um terno de pássaros ao Sul, Carpinejar descreve o pampa de forma fragmentada, destacando apenas aspectos específicos, como "o gatilho da espuma" ou "as naus encalhadas". Essa visão parcial reforça a ideia de que a percepção da paisagem é filtrada pelo estado emocional do sujeito lírico, que não enxerga a totalidade do cenário, mas apenas elementos que ressoam com sua condição interior.
Ambos os textos convergem na perspectiva de que a paisagem não é apreendida de maneira objetiva, mas sim através de um filtro subjetivo, determinado pelo estado de ânimo do observador. Essa interpretação corrobora a alternativa E) a visão parcial do sujeito em relação ao seu espaço, guiada pelo seu estado de ânimo, que é a resposta correta. A indiferença (A), a identificação onírica (B), o telurismo (C) e a admiração pelas belezas naturais (D) não capturam adequadamente a relação estabelecida nos poemas, que é antes de tudo uma relação mediada pela subjetividade e pelo humor do sujeito poético.
Questão 38
Os trechos abaixo demonstram formas de representar a figura feminina,
respectivamente, nas obras São Bernardo, Um terno de pássaros ao Sul e O noviço.
– “A senhora, pelo que mostra e pelas informações que peguei, é sisuda,
econômica, sabe onde tem as ventas e pode dar uma boa mãe de família”.
(RAMOS, 1977. p. 81).
– “A mãe remava/ em tua devastação,// percorria os parágrafos a lápis./ O grafite
dela, fino,/ uma agulha cerzindo// a moldura marfim./ Calma e cordata,/ sentava no
meio-fio da tinta,// descansando a fogueira/ das folhas e grilos”. (CARPINEJAR,
2008, p. 34-35).
– “Exultai, senhoras. Eu me deveria lembrar antes de me casar com duas mulheres,
que basta só uma para fazer o homem desgraçado”. (PENA, 1987, p. 118).
As três representações apontam para perspectivas norteadas, respectivamente,
pelos seguintes aspectos:
- A)sensualidade; sentimentalismo; e admiração.
- B)desinteresse; identificação; e temor.
- C)emoção; indiferença; e sentimentalismo.
- D)racionalidade; sensibilidade; e desprezo.
- E)idealização; objetividade; e ironia.
A alternativa correta é D)
Os trechos apresentados oferecem visões distintas da figura feminina em três obras literárias, cada uma refletindo um aspecto particular da representação da mulher. A análise dessas passagens permite identificar os elementos que norteiam cada perspectiva.
No primeiro excerto, de São Bernardo, a descrição da mulher como "sisuda, econômica" e capaz de ser "uma boa mãe de família" revela uma abordagem marcadamente racional. A personagem é avaliada por suas qualidades práticas e funcionais, como se fosse um objeto de utilidade doméstica, sem qualquer menção a características emocionais ou afetivas.
Já em Um terno de pássaros ao Sul, a representação feminina é construída com sensibilidade e delicadeza. A imagem da mãe que "remava em tua devastação" e "cerzia a moldura marfim" com seu lápis fino evoca um cuidado quase poético, demonstrando uma conexão emocional profunda e uma atenção aos detalhes afetivos.
Por fim, a fala de O noviço apresenta um tom de desprezo em relação à figura feminina. A afirmação de que "basta só uma [mulher] para fazer o homem desgraçado" reduz a relação conjugal a uma fonte de infortúnio, mostrando uma visão claramente depreciativa e irônica sobre o papel da mulher.
Assim, a sequência que melhor caracteriza essas representações é, de fato, a alternativa D) racionalidade; sensibilidade; e desprezo, pois capta com precisão os três eixos principais das passagens analisadas.
Questão 39
Os excertos a seguir são de Cecília Meireles e Carpinejar, respectivamente.
“Minhas mãos ainda estão molhadas
do azul das ondas entreabertas,
e a cor que escorre dos meus dedos
colore as areias desertas”.
(MEIRELES, 2000, p. 27).
“A matilha dos filhos
fareja o sonho inacabado,
perseguindo tua lapela castanha,
o açúcar do linho,
olor de café aquecido”.
(CARPINEJAR, 2008, p. 58-59).
Em ambas as composições, os versos acima revelam que o sujeito lírico tem do
mundo uma percepção
- A)onírica.
- B)sentimental.
- C)racional.
- D)sensorial.
- E)emotiva.
A alternativa correta é D)
Os excertos de Cecília Meireles e Carpinejar apresentam uma riqueza de imagens que evidenciam a percepção sensorial do sujeito lírico em relação ao mundo. Em ambos os poemas, os elementos descritos estão intimamente ligados aos sentidos, criando uma experiência vívida e palpável para o leitor.
No trecho de Cecília Meireles, a imagem das mãos "molhadas do azul das ondas" e a cor que escorre pelos dedos, tingindo as areias, remetem ao tato e à visão. A poeta capta nuances cromáticas e texturas, transformando o abstrato em algo concreto por meio da sensorialidade. Já em Carpinejar, os versos trazem referências olfativas ("olor de café aquecido") e táteis ("o açúcar do linho"), além da imagem visual da "lapela castanha". A matilha que fareja o sonho inacabado também reforça a ideia de uma percepção aguçada, que vai além do racional ou puramente emotivo.
Embora haja elementos oníricos e emotivos em ambos os textos, o que os une de forma mais marcante é justamente a abordagem sensorial. Os poetas não apenas descrevem emoções ou racionalizam experiências, mas as traduzem por meio de sensações físicas e percepções concretas do mundo. Dessa forma, a alternativa que melhor define a percepção do sujeito lírico nesses versos é a D) sensorial, pois é através dos sentidos que a experiência poética se constrói.
Questão 40
No romance São Bernardo, de Graciliano Ramos, a aquisição da fazenda São
Bernardo pelo narrador-protagonista, Paulo Honório, ilustra o capitalismo predatório,
sistema econômico que prima pelo acúmulo de capital a qualquer custo. A citação que
melhor caracteriza esse sistema econômico é:
- A)“Até os dezoito anos gastei muita enxada ganhando cinco tostões por doze horas de serviço". (RAMOS, 1977, p. 13).
- B)“A cerca ainda estava no ponto em que eu a tinha encontrado no ano anterior. Mendonça forcejava por avançar, mas continha-se; eu procurava alcançar os limites antigos, inutilmente". (RAMOS, 1977, p. 30).
- C)“Fiz coisas boas que me trouxeram prejuízo; fiz coisas ruins que deram lucro. E como sempre tive a intenção de possuir as terras de S. Bernardo, considerei legítimas as ações que me levaram a obtê-las". (RAMOS, 1977, p. 37).
- D)“Resolvi estabelecer-me aqui na minha terra, município de Viçosa, Alagoas, e logo planeei adquirir a propriedade S. Bernardo, onde trabalhei, no eito, com salário de cinco tostões". (RAMOS, 1977, p. 15).
- E)“No outro dia, cedo, ele [Padilha] meteu o rabo na ratoeira e assinou a escritura". (RAMOS, 1977, p. 24).
A alternativa correta é C)
No romance São Bernardo, de Graciliano Ramos, a trajetória de Paulo Honório como proprietário da fazenda São Bernardo serve como uma crítica contundente ao capitalismo predatório. O protagonista personifica a lógica implacável desse sistema, onde o acúmulo de riqueza justifica qualquer meio, mesmo que isso implique exploração, trapaça ou violência moral.
A citação que melhor sintetiza essa visão é a alternativa C): “Fiz coisas boas que me trouxeram prejuízo; fiz coisas ruins que deram lucro. E como sempre tive a intenção de possuir as terras de S. Bernardo, considerei legítimas as ações que me levaram a obtê-las". Essa passagem revela a essência do capitalismo predatório na narrativa: a racionalização da imoralidade em nome do lucro. Paulo Honório não apenas reconhece a ambiguidade de seus atos, mas os legitima, pois o fim – a posse da terra – justifica os meios.
As outras opções, embora relevantes para a construção do personagem e do contexto socioeconômico, não capturam com tanta precisão a dinâmica do capitalismo predatório. A alternativa A) ilustra a exploração do trabalho, mas de forma passiva; B) e D) abordam conflitos territoriais e aspirações pessoais, sem destacar a ética distorcida do sistema. Já a opção E), embora mostre uma ação questionável, é pontual e não explicita a justificativa ideológica por trás dela.
Portanto, a alternativa C) é a que melhor encapsula a mentalidade do capitalismo predatório, onde o sucesso material se sobrepõe a qualquer consideração ética, tema central na obra de Graciliano Ramos.