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Questões Sobre Modernismo - Literatura - concurso

Questão 41

Texto 1

Aqui é Minas; lá já é a Bahia? Estive nessas vilas, velhas, altas cidades… Sertão é o
sozinho. Compadre meu Quelemém diz: que eu sou muito do sertão? Sertão: é dentro
da gente.”

(ROSA, João Guimarães. Grande Sertão: Veredas. 29 ª ed. Rio de Janeiro: Editora Nova
Fronteira, 1986, p. 270.)

Texto 2

Poema Didáctico

(Socorro Lira/ Mia Couto)

Já tive um país pequeno, tão pequeno

que andava descalço dentro de mim

Um país tão magro que, no seu firmamento,

não cabia senão uma estrela menina
tão tímida e delicada, que só por dentro brilhava

Eu tive um país escrito sem maiúscula

Não tinha fundos para pagar um herói

Não tinha panos para costurar bandeira

nem solenidade para entoar um hino

Mas tinha pão e esperança pros viventes

e tinha sonhos pros nascentes

Eu tive um país pequeno

que não cabia no mundo

meu país – meu continente

há de caber nesse mundo

meu país e sua gente…

Mas tinha pão e esperança pros viventes

e tinha sonhos pros nascentes

Eu tive um país pequeno

que não cabia no mundo

meu país – meu continente

há de caber nesse mundo

meu país e sua gente

terá que caber no mundo,

meu país e minha gente.

(LIRA, Socorro. Os Sertões do Mundo. EP independente, ano 2014. Disponível em:<http://www.socorrolira.com.br/>  Acesso em 25/05/2014.) 

Texto 3

“João Guimarães Rosa criou este lugar fantástico, e fez dele uma espécie de lugar de
todos os lugares. O sertão e as veredas de que ele fala não são da ordem da geografia.
O sertão é um mundo construído na linguagem. “O sertão”, diz ele, “está dentro de
nós.” Rosa não escreve sobre o sertão. Ele escreve como se ele fosse o sertão.

Em Moçambique nós vivíamos e vivemos ainda o momento épico de criar um espaço
que seja nosso, não por tomada de posse, mas porque nele podemos encenar a ficção
de nós mesmos, enquanto criaturas portadoras de História e fazedoras de futuro. Era
isso a independência nacional, era isso a utopia de um mundo sonhado.”

(COUTO, Mia. E se Obama fosse africano? Ensaios. São Paulo: Companhia das Letras, 2011, p.
110.) 

Sobre o romance Grande Sertão: Veredas, de Guimarães Rosa, analise as
afirmativas abaixo e, em seguida, assinale a alternativa que apresenta a
sequência correta.

I. A narrativa de Grande Sertão: Veredas é centrada na necessidade do
narrador Riobaldo em contar e confessar o encontro e perda da
personagem principal Otacília.

II. É possível afirmar que o romance Grande Sertão: Veredas reescreve o
tema do sertão presente na literatura denominada regionalista, cujo
marco é Os Sertões, de Euclides da Cunha, até os chamados autores
regionalistas dos anos 30.

III. Polifonia, plurilinguísmo, prolixidade e abertura são características da
linguagem do romance Grande Sertão: Veredas.

IV. O narrador do romance Grande Sertão: Veredas é transparente, unívoco
e destituído de conflitos, diferentemente da personagem Diadorim, que
assume faces diversas: Diadorim/Reinaldo/Maria Deodorina; belo e
feroz; delicado e terrível. 

  • A)Somente I e III estão corretas.
  • B)Somente II e III estão corretas.
  • C)Somente I e II estão corretas.
  • D)Somente II e IV estão corretas.
  • E)Somente III e IV estão corretas.
FAZER COMENTÁRIO

A alternativa correta é B)

O romance Grande Sertão: Veredas, de João Guimarães Rosa, é uma obra fundamental da literatura brasileira, que transcende o regionalismo ao transformar o sertão em um espaço simbólico e universal. A análise das afirmativas sobre a obra revela aspectos essenciais de sua narrativa e linguagem.

A afirmativa I está incorreta, pois a narrativa não se centra apenas no encontro e na perda de Otacília, mas sim na jornada existencial de Riobaldo, suas reflexões sobre o amor, o destino, o pacto com o diabo e sua relação complexa com Diadorim. O romance é muito mais amplo e filosófico do que uma simples história de amor.

A afirmativa II está correta. Guimarães Rosa reelabora o tema do sertão, presente em obras como Os Sertões, de Euclides da Cunha, e nos romances regionalistas dos anos 30, mas vai além, transformando-o em um espaço mítico e interior. Como destacado no Texto 3, o sertão em Rosa não é apenas geográfico, mas uma construção linguística e existencial.

A afirmativa III também está correta. A linguagem de Grande Sertão: Veredas é marcada pela polifonia (múltiplas vozes), plurilinguísmo (mistura de registros e dialetos), prolixidade (densidade narrativa) e abertura (sentidos múltiplos). Essa riqueza linguística é uma das marcas do estilo rosiano.

Por fim, a afirmativa IV está incorreta. Riobaldo não é um narrador transparente ou unívoco; ele é cheio de contradições, dúvidas e conflitos, como mostra sua narrativa em primeira pessoa, repleta de hesitações e reflexões. Já Diadorim é uma figura complexa, mas isso não diminui a profundidade do narrador principal.

Portanto, a sequência correta é a alternativa B) Somente II e III estão corretas, pois reflete com precisão as características da obra e sua relação com a tradição literária brasileira.

Questão 42

Texto 1

Aqui é Minas; lá já é a Bahia? Estive nessas vilas, velhas, altas cidades… Sertão é o
sozinho. Compadre meu Quelemém diz: que eu sou muito do sertão? Sertão: é dentro
da gente.”

(ROSA, João Guimarães. Grande Sertão: Veredas. 29 ª ed. Rio de Janeiro: Editora Nova
Fronteira, 1986, p. 270.)

Texto 2

Poema Didáctico

(Socorro Lira/ Mia Couto)

Já tive um país pequeno, tão pequeno

que andava descalço dentro de mim

Um país tão magro que, no seu firmamento,

não cabia senão uma estrela menina
tão tímida e delicada, que só por dentro brilhava

Eu tive um país escrito sem maiúscula

Não tinha fundos para pagar um herói

Não tinha panos para costurar bandeira

nem solenidade para entoar um hino

Mas tinha pão e esperança pros viventes

e tinha sonhos pros nascentes

Eu tive um país pequeno

que não cabia no mundo

meu país – meu continente

há de caber nesse mundo

meu país e sua gente…

Mas tinha pão e esperança pros viventes

e tinha sonhos pros nascentes

Eu tive um país pequeno

que não cabia no mundo

meu país – meu continente

há de caber nesse mundo

meu país e sua gente

terá que caber no mundo,

meu país e minha gente.

(LIRA, Socorro. Os Sertões do Mundo. EP independente, ano 2014. Disponível em:<http://www.socorrolira.com.br/>  Acesso em 25/05/2014.) 

Texto 3

“João Guimarães Rosa criou este lugar fantástico, e fez dele uma espécie de lugar de
todos os lugares. O sertão e as veredas de que ele fala não são da ordem da geografia.
O sertão é um mundo construído na linguagem. “O sertão”, diz ele, “está dentro de
nós.” Rosa não escreve sobre o sertão. Ele escreve como se ele fosse o sertão.

Em Moçambique nós vivíamos e vivemos ainda o momento épico de criar um espaço
que seja nosso, não por tomada de posse, mas porque nele podemos encenar a ficção
de nós mesmos, enquanto criaturas portadoras de História e fazedoras de futuro. Era
isso a independência nacional, era isso a utopia de um mundo sonhado.”

(COUTO, Mia. E se Obama fosse africano? Ensaios. São Paulo: Companhia das Letras, 2011, p.
110.) 

Compare o romance Grande Sertão: Veredas, de Guimarães Rosa, e o “Poema
Didáctico” citado, de Socorro Lira e Mia Couto. Coloque entre parênteses a
letra V, quando se tratar de afirmativa verdadeira, ou a letra F, quando se
tratar de afirmativa falsa. A seguir, assinale a alternativa que apresenta a
sequência correta.

( ) As metáforas do “sertão” e do “país”, nos textos 1 e 2 citados, são
análogas e representativas do “lugar fantástico” a que se refere o
escritor Mia Couto, no texto 3.

( ) As referências a “sertão” e “país”, nos textos 2 e 3, “não são da ordem
da geografia” e representam o mundo subjetivo dos personagens/ eu-lírico
representados.

( ) “Já tive um país pequeno, tão pequeno/ que andava descalço dentro de
mim” diz respeito, circunstancialmente, a Moçambique, país natal do
escritor Mia Couto; pode-se inferir, remete ainda a outros sertões,
como o sertão mineiro de, Guimarães Rosa. 

  • A)V – V – V
  • B)V – F – V
  • C)F – V – V
  • D)F – F – V
  • E)F – F – F
FAZER COMENTÁRIO

A alternativa correta é A)

Compare o romance Grande Sertão: Veredas, de Guimarães Rosa, e o "Poema Didáctico" de Socorro Lira e Mia Couto, analisando as afirmações abaixo:

(V) As metáforas do "sertão" e do "país", nos textos 1 e 2 citados, são análogas e representativas do "lugar fantástico" a que se refere o escritor Mia Couto, no texto 3.

(V) As referências a "sertão" e "país", nos textos 2 e 3, "não são da ordem da geografia" e representam o mundo subjetivo dos personagens/eu-lírico representados.

(V) "Já tive um país pequeno, tão pequeno/ que andava descalço dentro de mim" diz respeito, circunstancialmente, a Moçambique, país natal do escritor Mia Couto; pode-se inferir, remete ainda a outros sertões, como o sertão mineiro de Guimarães Rosa.

O gabarito correto é A) V – V – V, pois todas as afirmações são verdadeiras e dialogam com a construção simbólica dos espaços nos textos analisados.

Questão 43

Tecendo a Manhã

João Cabral de Melo Neto

Um galo sozinho não tece uma manhã:

ele precisará sempre de outros galos.

De um que apanhe esse grito que ele

e o lance a outro;de um outro galo

que apanhe o grito que um galo antes

e o lance a outro; e de outros galos

que com muitos outros galos se cruzem

os fios de sol de seus gritos de galo,

para que a manhã, desde uma teia tênue,

se vá tecendo, entre todos os galos.

E se encorpando em tela, entre todos,

se erguendo tenda, onde entrem todos,

se entretendendo para todos, no toldo

(a manhã) que plana livre de armação.

A manhã, toldo de um tecido tão aéreo

que, tecido, se eleva por si: luz balão.

(MELO NETO, João Cabral. Obra completa – Volume Único. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1994,
p. 345)

Sobre o poema Tecendo a Manhã, de João Cabral de Melo Neto, e o
modernismo brasileiro, analise as afirmativas abaixo e, em seguida, assinale
a alternativa que apresenta a sequência correta.

I. O poema, pertencente ao livro A Educação pela Pedra, de João Cabral
de Melo Neto, revela a face mais lírica e menos objetiva do poeta
modernista, na evocação da concepção mágica e propiciatória dos
cantos dos galos.

II. É possível assegurar que o poeta João Cabral de Melo Neto realiza
plenamente, em “Tecendo a Manhã”, o seu projeto de impessoalidade
da poesia modernista na supressão do tom lírico tradicional.

III. As metáforas da “manhã” e da “luz balão” representam o próprio
poema (sinônimos ainda de “tela”, “tecido”, “tenda”, “toldo”), do que
se conclui ser o poema metalinguístico.

IV. Há no poema referência direta ao ditado popular “uma andorinha só
não faz verão”, cujo tema é a solidariedade.

  • A)Somente I e III estão corretas.
  • B)Somente II e III estão corretas.
  • C)Somente I e II estão corretas.
  • D)Somente II e IV estão corretas.
  • E)Somente III e IV estão corretas.
FAZER COMENTÁRIO

A alternativa correta é A)

Análise do poema "Tecendo a Manhã" e sua relação com o Modernismo Brasileiro

O poema "Tecendo a Manhã", de João Cabral de Melo Neto, é uma obra emblemática do modernismo brasileiro, que reflete tanto as características estilísticas do autor quanto os princípios do movimento literário ao qual pertence. A análise das afirmativas apresentadas permite uma compreensão mais aprofundada da obra e sua inserção no contexto modernista.

A afirmativa I está correta, pois o poema, de fato, pertence ao livro A Educação pela Pedra e revela um aspecto mais lírico de João Cabral, contrastando com sua usual objetividade. A imagem dos galos tecendo a manhã evoca uma concepção quase mágica, distanciando-se do rigor geométrico típico do poeta.

A afirmativa II está incorreta. Embora João Cabral busque a impessoalidade em sua poesia, "Tecendo a Manhã" não suprime completamente o lirismo. O poema mantém uma musicalidade e uma carga simbólica que o aproximam da tradição lírica, ainda que de forma contida.

A afirmativa III está correta. O poema é metalinguístico, pois as metáforas da "manhã", "luz balão", "tela", "tecido", "tenda" e "toldo" remetem ao próprio ato de criação poética, representando a construção do texto como um tecido que se forma coletivamente.

A afirmativa IV está incorreta. Embora o tema da solidariedade esteja presente no poema, não há uma referência direta ao ditado popular "uma andorinha só não faz verão". A ideia de coletividade é tratada de forma original, sem citação explícita de provérbios.

Portanto, a alternativa correta é A) Somente I e III estão corretas, pois essas afirmativas capturam com precisão os aspectos essenciais do poema e sua relação com a poética de João Cabral de Melo Neto e o modernismo brasileiro.

Questão 44

Para responder à questão, considere o poema abaixo.
Outro retrato
O laço de fita
que prende os cabelos
da moça do retrato
mais parece uma borboleta.
Um ventinho qualquer
e sai voando
rumo a outra vida
além do retrato
Uma vida onde os maridos
nunca chegam tarde
com um gosto amargo na boca.
[…]
Onde os filhos não vão
um dia estudar fora
e acabam se casando
e esquecem de escrever
Onde não sobram contas
a pagar nem dentes
postiços nem cabelos
brancos nem muito menos rugas
Um ventinho qualquer…
O laço de fita
prende sempre − coitada! −
os cabelos da moça
                                    (José Paulo Paes) 

Uma redação alternativa, em prosa, para versos do poema, em que se mantêm a correção e a coerência, considerado o
contexto, está em: 

  • A)Onde não se tenha contas a pagar, ou dentes postiços, cabelos brancos ou mesmo rugas.
  • B)Uma vida cujos maridos não costumam chegar tarde, com um gosto amargo na boca.
  • C)Um ventinho, qualquer, e sai voando, em direção a vida que se encontra para além do retrato.
  • D)Desventurada a moça, cujos cabelos estão sempre presos pelo laço de fita.
  • E)Os filhos, onde um dia vão estudar fora, e acabam se casando e esquecendo de escrever.
FAZER COMENTÁRIO

A alternativa correta é D)

O poema "Outro retrato", de José Paulo Paes, apresenta uma narrativa lírica que mistura realidade e imaginação, explorando temas como a passagem do tempo, as frustrações cotidianas e o desejo por uma vida idealizada. A análise das alternativas revela que a opção D) é a que melhor mantém a correção gramatical e a coerência com o contexto do poema, capturando o tom melancólico e resignado da voz poética.

Enquanto as outras alternativas apresentam variações dos versos originais, a alternativa D) sintetiza de forma precisa a condição da moça do retrato, cujo laço de fita, embora comparado a uma borboleta, nunca se liberta. A expressão "Desventurada a moça" reforça a ideia de infortúnio implícita no poema, já que sua imagem permanece estática, presa a um retrato que simboliza a impossibilidade de fuga ou transformação. As demais alternativas, embora contenham elementos do texto original, não conseguem transmitir com a mesma força a relação entre a imagem congelada no retrato e o destino trágico sugerido pelo poeta.

Assim, a alternativa D) destaca-se por sua fidelidade ao espírito do poema, mantendo a carga emotiva e a crítica sutil às convenções sociais que aprisionam a figura feminina em um ideal inatingível. A escolha do adjetivo "desventurada" e a interjeição "coitada!" ecoam a compaixão do autor pela personagem, reforçando a leitura de que o poema é, acima de tudo, um retrato da condição humana e de seus desejos frustrados.

Questão 45

TEXTO 1

                                     O mundo do menino impossível

Fim de tarde, boquinha da noite

com as primeiras estrelas
e os derradeiros sinos.

Entre as estrelas e lá detrás da igreja,

surge a lua cheia

para chorar com os poetas.

E vão dormir as duas coisas novas desse mundo:

o sol e os meninos.

Mas ainda vela

o menino impossível,

aí do lado,

enquanto todas as crianças mansas

dormem

           acalentadas

por Mãe-negra da Noite.

O menino impossível

que destruiu

os brinquedos perfeitos

que os vovós lhe deram:

o urso de Nurnberg,


o velho barbado jugoslavo,

as poupées de Paris aux


cheveux crêpés
,


o carrinho português


feito de folha de flandres
a

caixa de música checoslovaca,

o polichinelo italiano

made in England,

o trem de ferro de U. S. A.

e o macaco brasileiro

de Buenos Aires,

moviendo la cola y la cabeza.

 O menino impossível

que destruiu até

os soldados de chumbo de Moscou

e furou os olhos de um Papá Noel,

brinca com sabugos de milho,

caixas vazias,

tacos de pau,

pedrinhas brancas do rio…

“Faz de conta que os sabugos

são bois…”

“Faz de conta…”

“Faz de conta…”

[…]

O menino pousa a testa

e sonha dentro da noite quieta

da lâmpada apagada,

com o mundo maravilhoso

que ele tirou do nada…

[…] 

(LIMA, Jorge de. Melhores poemas. São Paulo: Global,
2006. p. 27-30. Adaptado.)

Jorge de Lima, a partir de Poemas (1927), adere ao
Modernismo e adota procedimentos estilísticos novos,
como o uso do verso livre, sem deixar de manter sua
estreita ligação com os clássicos e com a herança portuguesa.
Nesse período, amplia sua tendência para valorizar
mais o mundo noturno e imaginário, o devaneio, o
sonho, como exemplifica o poema “O mundo do menino
impossível”. Sobre o Texto 1, marque a alternativa correta:

  • A)O eu lírico se assume como menino e se caracteriza de maneira sobrenatural e mágica
  • B)O eu poético exprime a memória afetiva de sua infância e demonstra a desarticulação do tempo linear em sua poesia.
  • C)A voz poemática expõe o mundo da imaginação da criança, com a sua sede de liberdade, de ser feliz, livre das amarras da industrialização e das influências de ideias preconcebidas. O mundo do menino impossível é movido pelo imaginário.
  • D)O poema “O mundo do menino impossível" combina a metafísica, o onírico, o apelo social, a angústia, a reflexão mística e a reiteração barroca.
FAZER COMENTÁRIO

A alternativa correta é C)

O poema "O mundo do menino impossível", de Jorge de Lima, é uma obra que exemplifica a transição do autor para o Modernismo, mantendo ainda traços da tradição clássica e da herança literária portuguesa. O texto retrata o universo imaginativo de uma criança que desafia as convenções e as expectativas sociais, preferindo brincar com objetos simples e criar seu próprio mundo a partir do nada.

A alternativa correta, C, destaca que o poema apresenta o mundo da imaginação infantil, onde a criança busca liberdade e felicidade, longe das imposições da industrialização e das ideias preconcebidas. O menino impossível, ao destruir os brinquedos perfeitos e industrializados, simboliza a rejeição a um mundo padronizado e a valorização da criatividade espontânea. Suas brincadeiras com sabugos de milho, caixas vazias e pedrinhas brancas revelam uma capacidade de transformar o ordinário em extraordinário, movido pelo poder do imaginário.

O poema não se limita a uma simples recordação afetiva da infância (alternativa B), nem assume um tom sobrenatural ou mágico (alternativa A). Também não se concentra em temas metafísicos, místicos ou sociais de maneira explícita (alternativa D). Em vez disso, ele celebra a pureza e a inventividade da infância, mostrando como o menino impossível constrói seu próprio universo, livre das amarras do mundo adulto e industrializado.

Assim, a obra de Jorge de Lima, nesse período, reforça a importância do devaneio e do sonho como elementos centrais da experiência humana, especialmente na infância, onde a imaginação não conhece limites.

Questão 46

                                                       Brasil

                                   O Zé Pereira chegou de caravela

                                   E preguntou pro guarani da mata virgem

                                   — Sois cristão?

                                   — Não. Sou bravo, sou forte, sou filho da Morte

                                   Teterê tetê Quizá Quizá Quecê!

                                   Lá longe a onça resmungava Uu! ua! uu!

                                   O negro zonzo saído da fornalha

                                   Tomou a palavra e respondeu

                                   — Sim pela graça de Deus

                                  Canhem Babá Canhem Babá Cum Cum!

                                  E fizeram o Carnaval

                                                     Oswald de Andrade, Poesias Reunidas.

Considere as seguintes anotações referentes ao poema
de Oswald de Andrade:

I Mistura de registros linguísticos, níveis de linguagem
e pessoas verbais incompatíveis entre si.

II Paródia das narrativas que pretendem relatar a
fundação do Brasil.

III Glosa humorística do tema habitual das “três raças
formadoras” do povo brasileiro.

Contribui para o caráter carnavalizante do poema o que
se encontra em  

  • A)II e III, somente.
  • B)II, somente.
  • C)I, II e III.
  • D)I e II, somente.
  • E)I, somente.
FAZER COMENTÁRIO

A alternativa correta é C)

O poema de Oswald de Andrade, presente em Poesias Reunidas, é uma obra que exemplifica a estética modernista, marcada pela ruptura com as convenções literárias tradicionais. O texto em questão, ao retratar um diálogo entre o colonizador português ("Zé Pereira") e os habitantes originais da terra (o guarani e o negro), constrói uma narrativa carnavalizada, repleta de ironia e crítica social.

As anotações referentes ao poema destacam três aspectos fundamentais: a mistura de registros linguísticos (I), que inclui desde o português arcaico ("Sois cristão?") até expressões indígenas e africanas; a paródia das narrativas de fundação (II), ao subverter o discurso heroico da colonização; e a glosa humorística das "três raças" (III), ao apresentar uma visão descontraída e crítica do mito da formação racial brasileira.

Esses três elementos combinados — a linguagem heterogênea, a sátira histórica e a abordagem irônica da miscigenação — contribuem para o caráter carnavalizante do poema. A carnavalização, conceito elaborado por Mikhail Bakhtin, manifesta-se aqui na inversão de hierarquias, na polifonia de vozes e no tom lúdico que desafia as narrativas oficiais. Portanto, a alternativa correta é C) I, II e III, pois todos os aspectos mencionados colaboram para essa atmosfera de ruptura e celebração crítica.

Questão 47

“Trem de Ferro” – Manuel Bandeira

Foge, bicho

Foge, povo
Passa ponte

Passa poste

Passa pasto

Passa boi

(Fragmento extraído de Norma Goldstein, “Versos, sons,
ritmos”. 13ª edição. São Paulo, 2001, pág. 22). 

Neste fragmento de “Trem de Ferro” todos os versos
obedecem ao mesmo esquema rítmico. Neste caso temos
versos de:

  • A)uma sílaba.
  • B)duas sílabas.
  • C)três sílabas.
  • D)quatro sílabas.
FAZER COMENTÁRIO

A alternativa correta é C)

O poema "Trem de Ferro", de Manuel Bandeira, é um exemplo marcante da simplicidade e do ritmo presentes na poesia modernista brasileira. O fragmento apresentado demonstra uma estrutura métrica regular, onde cada verso segue um padrão silábico específico, contribuindo para a musicalidade do texto.

Analisando os versos:

  • "Foge, bicho"
  • "Foge, povo"
  • "Passa ponte"
  • "Passa poste"
  • "Passa pasto"
  • "Passa boi"

Observamos que todos os versos, com exceção do último ("Passa boi"), são compostos por três sílabas poéticas. A contagem segue as regras da métrica tradicional, considerando a elisão e a pronúncia das palavras na leitura do poema. O verso final, "Passa boi", embora tenha apenas duas sílabas gramaticais, na leitura poética pode ser considerado como tendo três sílabas devido à pausa no final.

Portanto, a alternativa correta é C) três sílabas, pois a maioria dos versos segue esse padrão rítmico, característico da construção poética de Bandeira neste poema. A escolha por versos curtos e o uso de repetições contribuem para criar a sensação de movimento do trem, reforçando o tema central da obra.

Questão 48

               “Mãos dadas” – Carlos Drummond de Andrade

Não serei o poeta de um mundo caduco.

Também não cantarei o mundo futuro.

Estou preso à vida e olho meus companheiros.

Estão taciturnos mas nutrem grandes esperanças.

Entre eles, considero a enorme realidade.

O presente é tão grande, não nos afastemos.

Não nos afastemos muito, vamos de mãos dadas.

Não serei o cantor de uma mulher, de uma história,

não direi os suspiros ao anoitecer, a paisagem vista da
janela,

não distribuirei entorpecentes ou cartas de suicida,

não fugirei para as ilhas nem serei raptado por serafins.

O tempo é a minha matéria,o tempo presente, os homens

presentes,

a vida presente.

(Carlos Drummond de Andrade, Obra Completa. Rio de
Janeiro: Jose Aguilar, 1973, pág. 111). 

O adjetivo “taciturnos” usado por Drummond no poema
“Mãos dadas” pode ser entendido como:

  • A)alertas.
  • B)espantados.
  • C)calados.
  • D)enojados.
FAZER COMENTÁRIO

A alternativa correta é C)

Ensaio sobre "Mãos dadas" – Carlos Drummond de Andrade

O poema "Mãos dadas", de Carlos Drummond de Andrade, é uma reflexão profunda sobre o presente e a conexão humana. O poeta rejeita tanto o passado decadente quanto um futuro idealizado, optando por se concentrar no "agora", na realidade concreta e nos laços que unem as pessoas. A escolha do adjetivo "taciturnos" para descrever seus companheiros revela uma característica essencial da condição humana: mesmo em silêncio, há esperança e solidariedade.

A palavra "taciturnos" (alternativa C) correta) sugere um estado de reserva, introspecção ou quietude, mas não de apatia. Drummond observa que, apesar do silêncio, seus companheiros nutrem "grandes esperanças". Essa aparente contradição entre o exterior calado e o interior fervilhante é justamente o que o poeta valoriza: a força contida no coletivo, mesmo quando não expressa em palavras.

Ao enfatizar o presente ("O presente é tão grande, não nos afastemos"), Drummond propõe uma poesia engajada com o agora, distante tanto do saudosismo quanto do futurismo vazio. O convite final – "vamos de mãos dadas" – simboliza a união e o apoio mútuo como antídotos contra a alienação e o desespero. O poema, portanto, é um manifesto pela presença autêntica no mundo e pela poesia como instrumento de conexão humana.

Questão 49

Leia o trecho de Macunaíma, de Mário de Andrade, para responder às questões de números 75 e 76.

Muitos casos sucederam nessa viagem por caatingas rios corredeiras, gerais, corgos, corredores de tabatinga matos-virgens e milagres do sertão. Macunaíma vinha com os dois manos pra São Paulo. Foi o Araguaia que facilitou-lhes a viagem. Por tantas conquistas e tantos feitos passados o herói não ajuntara um vintém só mas os tesouros herdados da icamiaba estrela estavam escondidos nas grunhas do Roraima lá. Desses tesouros Macunaíma apartou pra viagem nada menos de quarenta vezes quarenta milhões de bagos de cacau, a moeda tradicional. Calculou com eles um dilúvio de embarcações. E ficou lindo trepando pelo Araguaia aquele poder de igaras, duma em uma duzentas em ajojo que nem flecha na pele do rio. Na frente Macunaíma vinha de pé, carrancudo, procurando no longe a cidade. Matutava matutava roendo os dedos agora cobertos de berrugas de tanto apontarem Ci estrela. Os manos remavam espantando os mosquitos e cada arranco dos remos repercutindo nas duzentas igaras ligadas, despejava uma batelada de bagos na pele do rio, deixando uma esteira de chocolate onde os camuatás pirapitingas dourados piracanjubas uarus-uarás e bacus se regalavam.

(1988, p. 36-37)

Um traço do estilo modernista presente no trecho é a

  • A)quebra dos padrões convencionais de pontuação gráfica.
  • B)caracterização do herói como ser nobre, sábio e prudente.
  • C)linguagem impessoal, influenciada pelo discurso jornalístico.
  • D)comparação das personagens humanas com animais selvagens.
  • E)abundância de conectivos lógicos, revelando intenso racionalismo.
FAZER COMENTÁRIO

A alternativa correta é A)

O trecho de Macunaíma, de Mário de Andrade, apresenta um traço marcante do estilo modernista: a quebra dos padrões convencionais de pontuação gráfica, conforme indicado na alternativa A. Essa característica é evidente na ausência de vírgulas em sequências descritivas, como "caatingas rios corredeiras, gerais, corgos, corredores de tabatinga matos-virgens", e na fluidez sintática que imprime um ritmo próprio ao texto, aproximando-se da oralidade e da liberdade formal típica do Modernismo brasileiro.

Mário de Andrade, um dos principais nomes do movimento modernista, utiliza uma linguagem que subverte as normas tradicionais da escrita, priorizando a expressividade e a musicalidade em detrimento da rigidez gramatical. A ausência de pontuação em certos trechos, como "vinha com os dois manos pra São Paulo", reforça essa liberdade estilística, criando um fluxo narrativo que mescla elementos da cultura popular e da mitologia indígena com uma abordagem inovadora.

Além disso, o texto não se enquadra nas demais alternativas: Macunaíma não é retratado como um herói nobre ou racional (B e E), a linguagem não é impessoal (C) e não há comparações diretas entre personagens humanas e animais selvagens (D). A opção A, portanto, é a que melhor representa a ruptura modernista presente no fragmento, destacando a experimentação linguística como um dos pilares da obra.

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Questão 50

INSTRUÇÃO: Para responder à questão , leia o
excerto do romance Jubiabá, de Jorge Amado.


Foi quando o alemão voou para cima dele querendo
acertar no outro olho de Balduíno. O negro livrou o corpo
com um gesto rápido e como a mola de uma máquina
que se houvesse partido distendeu o braço bem por
baixo do queixo de Ergin, o alemão. O campeão da
Europa central descreveu uma curva com o corpo e
caiu com todo o peso.

A multidão rouca aplaudia em coro:

– BAL-DO… BAL-DO… BAL-DO…

O juiz contava:
– Seis… sete… oito…

Antônio Balduíno olhava satisfeito o branco estendido
aos seus pés.


Com base no diálogo e na obra de Jorge Amado, considere
as afirmativas.


I. A luta entre Antônio Balduíno e Ergin pode ser interpretada
como uma metáfora dos conflitos entre
o branco europeu e o negro brasileiro.

II. Ao longo dos seus diferentes romances, Jorge
Amado constrói um projeto estético baseado principalmente
na representação do intimismo e do
lirismo.

III. Nos romances Tereza Batista, cansada de guerra
e Memorial de Maria Moura
, o escritor baiano explora
basicamente o universo erótico feminino em
diferentes perspectivas sociais.

IV. O romance Capitães de areia apresenta um detalhado
quadro da marginalidade infantil urbana, ao
retratar crianças de rua, como Pedro Bala, Sem
Pernas e Pirulito.

Está/Estão correta(s) a(s) afirmativa(s)

  • A)I, apenas.
  • B)I e IV, apenas.
  • C)II e III, apenas.
  • D)I, II e IV, apenas.
  • E)I, II, III, IV.
FAZER COMENTÁRIO

A alternativa correta é B)

O excerto de Jubiabá, de Jorge Amado, apresenta uma cena emblemática da luta entre Antônio Balduíno, um negro brasileiro, e Ergin, um alemão descrito como "campeão da Europa central". Essa cena pode ser interpretada como uma metáfora dos conflitos históricos e sociais entre o colonizador branco europeu e o negro brasileiro, reforçando a afirmativa I como correta.

Quanto à afirmativa II, que menciona o projeto estético de Jorge Amado baseado no intimismo e no lirismo, ela não se sustenta. A obra do autor baiano é marcada por um realismo social, com foco nas questões populares, na luta de classes e na cultura afro-brasileira, distanciando-se de um viés intimista ou lírico predominante.

A afirmativa III também está incorreta, pois Tereza Batista cansada de guerra e Memorial de Maria Moura não são obras que exploram exclusivamente o universo erótico feminino. Embora Jorge Amado aborde a sexualidade feminina, esses romances têm como eixo central a resistência, a violência e a trajetória de mulheres fortes em contextos sociais opressivos.

Por fim, a afirmativa IV está correta, já que Capitães da Areia é um romance que retrata de forma detalhada a vida de crianças marginalizadas em Salvador, como Pedro Bala e Sem-Pernas, expondo as desigualdades sociais e a infância abandonada. Portanto, apenas as afirmativas I e IV estão corretas, correspondendo à alternativa B).

1 3 4 5 6 7 9