Texto 1 Aqui é Minas; lá já é a Bahia? Estive nessas vilas, velhas, altas cidades… Sertão é o sozinho. Compadre meu Quelemém diz: que eu sou muito do sertão? Sertão: é dentro da gente.”(ROSA, João Guimarães. Grande Sertão: Veredas. 29 ª ed. Rio de Janeiro: Editora Nova Fronteira, 1986, p. 270.) Texto 2 Poema Didáctico (Socorro Lira/ Mia Couto) Já tive um país pequeno, tão pequeno que andava descalço dentro de mim Um país tão magro que, no seu firmamento, não cabia senão uma estrela meninatão tímida e delicada, que só por dentro brilhavaEu tive um país escrito sem maiúscula Não tinha fundos para pagar um herói Não tinha panos para costurar bandeira nem solenidade para entoar um hino Mas tinha pão e esperança pros viventes e tinha sonhos pros nascentes Eu tive um país pequeno que não cabia no mundo meu país – meu continente há de caber nesse mundo meu país e sua gente… Mas tinha pão e esperança pros viventes e tinha sonhos pros nascentes Eu tive um país pequeno que não cabia no mundo meu país – meu continente há de caber nesse mundo meu país e sua gente terá que caber no mundo, meu país e minha gente. (LIRA, Socorro. Os Sertões do Mundo. EP independente, ano 2014. Disponível em:<http://www.socorrolira.com.br/> Acesso em 25/05/2014.) Texto 3 “João Guimarães Rosa criou este lugar fantástico, e fez dele uma espécie de lugar de todos os lugares. O sertão e as veredas de que ele fala não são da ordem da geografia. O sertão é um mundo construído na linguagem. “O sertão”, diz ele, “está dentro de nós.” Rosa não escreve sobre o sertão. Ele escreve como se ele fosse o sertão. Em Moçambique nós vivíamos e vivemos ainda o momento épico de criar um espaço que seja nosso, não por tomada de posse, mas porque nele podemos encenar a ficção de nós mesmos, enquanto criaturas portadoras de História e fazedoras de futuro. Era isso a independência nacional, era isso a utopia de um mundo sonhado.” (COUTO, Mia. E se Obama fosse africano? Ensaios. São Paulo: Companhia das Letras, 2011, p. 110.) Sobre o romance Grande Sertão: Veredas, de Guimarães Rosa, analise as afirmativas abaixo e, em seguida, assinale a alternativa que apresenta a sequência correta. I. A narrativa de Grande Sertão: Veredas é centrada na necessidade do narrador Riobaldo em contar e confessar o encontro e perda da personagem principal Otacília. II. É possível afirmar que o romance Grande Sertão: Veredas reescreve o tema do sertão presente na literatura denominada regionalista, cujo marco é Os Sertões, de Euclides da Cunha, até os chamados autores regionalistas dos anos 30. III. Polifonia, plurilinguísmo, prolixidade e abertura são características da linguagem do romance Grande Sertão: Veredas. IV. O narrador do romance Grande Sertão: Veredas é transparente, unívoco e destituído de conflitos, diferentemente da personagem Diadorim, que assume faces diversas: Diadorim/Reinaldo/Maria Deodorina; belo e feroz; delicado e terrível.
Texto 1
Aqui é Minas; lá já é a Bahia? Estive nessas vilas, velhas, altas cidades… Sertão é o
sozinho. Compadre meu Quelemém diz: que eu sou muito do sertão? Sertão: é dentro
da gente.”
(ROSA, João Guimarães. Grande Sertão: Veredas. 29 ª ed. Rio de Janeiro: Editora Nova
Fronteira, 1986, p. 270.)
Texto 2
Poema Didáctico
(Socorro Lira/ Mia Couto)
Já tive um país pequeno, tão pequeno
que andava descalço dentro de mim
Um país tão magro que, no seu firmamento,
não cabia senão uma estrela menina
tão tímida e delicada, que só por dentro brilhava
Eu tive um país escrito sem maiúscula
Não tinha fundos para pagar um herói
Não tinha panos para costurar bandeira
nem solenidade para entoar um hino
Mas tinha pão e esperança pros viventes
e tinha sonhos pros nascentes
Eu tive um país pequeno
que não cabia no mundo
meu país – meu continente
há de caber nesse mundo
meu país e sua gente…
Mas tinha pão e esperança pros viventes
e tinha sonhos pros nascentes
Eu tive um país pequeno
que não cabia no mundo
meu país – meu continente
há de caber nesse mundo
meu país e sua gente
terá que caber no mundo,
meu país e minha gente.
(LIRA, Socorro. Os Sertões do Mundo. EP independente, ano 2014. Disponível em:<http://www.socorrolira.com.br/> Acesso em 25/05/2014.)
Texto 3
“João Guimarães Rosa criou este lugar fantástico, e fez dele uma espécie de lugar de
todos os lugares. O sertão e as veredas de que ele fala não são da ordem da geografia.
O sertão é um mundo construído na linguagem. “O sertão”, diz ele, “está dentro de
nós.” Rosa não escreve sobre o sertão. Ele escreve como se ele fosse o sertão.
Em Moçambique nós vivíamos e vivemos ainda o momento épico de criar um espaço
que seja nosso, não por tomada de posse, mas porque nele podemos encenar a ficção
de nós mesmos, enquanto criaturas portadoras de História e fazedoras de futuro. Era
isso a independência nacional, era isso a utopia de um mundo sonhado.”
(COUTO, Mia. E se Obama fosse africano? Ensaios. São Paulo: Companhia das Letras, 2011, p.
110.)
Sobre o romance Grande Sertão: Veredas, de Guimarães Rosa, analise as
afirmativas abaixo e, em seguida, assinale a alternativa que apresenta a
sequência correta.
I. A narrativa de Grande Sertão: Veredas é centrada na necessidade do
narrador Riobaldo em contar e confessar o encontro e perda da
personagem principal Otacília.
II. É possível afirmar que o romance Grande Sertão: Veredas reescreve o
tema do sertão presente na literatura denominada regionalista, cujo
marco é Os Sertões, de Euclides da Cunha, até os chamados autores
regionalistas dos anos 30.
III. Polifonia, plurilinguísmo, prolixidade e abertura são características da
linguagem do romance Grande Sertão: Veredas.
IV. O narrador do romance Grande Sertão: Veredas é transparente, unívoco
e destituído de conflitos, diferentemente da personagem Diadorim, que
assume faces diversas: Diadorim/Reinaldo/Maria Deodorina; belo e
feroz; delicado e terrível.
- A)Somente I e III estão corretas.
- B)Somente II e III estão corretas.
- C)Somente I e II estão corretas.
- D)Somente II e IV estão corretas.
- E)Somente III e IV estão corretas.
Resposta:
A alternativa correta é B)
O romance Grande Sertão: Veredas, de João Guimarães Rosa, é uma obra fundamental da literatura brasileira, que transcende o regionalismo ao transformar o sertão em um espaço simbólico e universal. A análise das afirmativas sobre a obra revela aspectos essenciais de sua narrativa e linguagem.
A afirmativa I está incorreta, pois a narrativa não se centra apenas no encontro e na perda de Otacília, mas sim na jornada existencial de Riobaldo, suas reflexões sobre o amor, o destino, o pacto com o diabo e sua relação complexa com Diadorim. O romance é muito mais amplo e filosófico do que uma simples história de amor.
A afirmativa II está correta. Guimarães Rosa reelabora o tema do sertão, presente em obras como Os Sertões, de Euclides da Cunha, e nos romances regionalistas dos anos 30, mas vai além, transformando-o em um espaço mítico e interior. Como destacado no Texto 3, o sertão em Rosa não é apenas geográfico, mas uma construção linguística e existencial.
A afirmativa III também está correta. A linguagem de Grande Sertão: Veredas é marcada pela polifonia (múltiplas vozes), plurilinguísmo (mistura de registros e dialetos), prolixidade (densidade narrativa) e abertura (sentidos múltiplos). Essa riqueza linguística é uma das marcas do estilo rosiano.
Por fim, a afirmativa IV está incorreta. Riobaldo não é um narrador transparente ou unívoco; ele é cheio de contradições, dúvidas e conflitos, como mostra sua narrativa em primeira pessoa, repleta de hesitações e reflexões. Já Diadorim é uma figura complexa, mas isso não diminui a profundidade do narrador principal.
Portanto, a sequência correta é a alternativa B) Somente II e III estão corretas, pois reflete com precisão as características da obra e sua relação com a tradição literária brasileira.
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