Depois de analisar O Cortiço, é correto afirmar:I – A relação direta das tensões entre os “donos” dos cortiços se estabelece não só no acirramento das diferenças entre os moradores de ambos os cortiços, como também na própria nominação desses espaços coletivos nos quais se percebe, metaforicamente, uma relação animalesca e predatória entre os cabeça-de-gato (termo que alude à imagem do predador) e os carapicus (termo cujo valor semântico, vinculado ao de cabeça-de-gato, atualiza a imagem de presa).II – O final trágico de Bertoleza e o “diploma de sócio benemérito” dado a João Romão pela “comissão de abolicionistas” expressam as dissimetrias sociais, de gênero, étnico-culturais, dentre outras, viabilizando os estratagemas naturalistas que apontavam para suas personagens fortes, tornando improdutiva, em determinados momentos, a luta dos vencidos ou dos que procuravam sair da condição de menor, de fraco.III – No trecho “E, durante muito tempo, fez-se um vaivém de mercadores. Apareceram os tabuleiros de carne fresca e outros de tripas e fatos de boi; só não vinham hortaliças, porque havia muitas hortas no cortiço” (cap. 3), percebe-se que o espaço do cortiço formava uma espécie de mundo à parte e à margem da sociedade em que se assentava. Parecia independente, autônomo, inclusive em seus aspectos econômicos.
ambos os cortiços, como também na própria nominação desses espaços coletivos nos quais se percebe, metaforicamente, uma relação
animalesca e predatória entre os cabeça-de-gato (termo que alude à imagem do predador) e os carapicus (termo cujo valor semântico,
vinculado ao de cabeça-de-gato, atualiza a imagem de presa).
dissimetrias sociais, de gênero, étnico-culturais, dentre outras, viabilizando os estratagemas naturalistas que apontavam para suas
personagens fortes, tornando improdutiva, em determinados momentos, a luta dos vencidos ou dos que procuravam sair da condição
de menor, de fraco.
de boi; só não vinham hortaliças, porque havia muitas hortas no cortiço” (cap. 3), percebe-se que o espaço do cortiço formava uma
espécie de mundo à parte e à margem da sociedade em que se assentava. Parecia independente, autônomo, inclusive em seus aspectos
econômicos.
- A)as proposições I, II e III estão corretas
- B)apenas I está correta
- C)apenas II está correta
- D)apenas III está correta
- E)estão corretas apenas I e III
Resposta:
A alternativa correta é A)
Após uma análise cuidadosa de O Cortiço, de Aluísio Azevedo, é possível afirmar que as três proposições apresentadas estão corretas, conforme demonstrado a seguir.
I - A relação entre os cortiços e seus moradores é marcada por tensões que vão além da simples rivalidade. A metáfora animalesca presente nos termos cabeça-de-gato e carapicus reforça a dinâmica de predador e presa, evidenciando a brutalidade e a desigualdade social que permeiam o ambiente do cortiço. Essa linguagem simbólica é uma característica marcante do Naturalismo, que busca retratar o ser humano sob influência do meio e da hereditariedade.
II - O destino de Bertoleza e a ascensão social de João Romão exemplificam as dissimetrias presentes na sociedade da época. Enquanto Bertoleza, uma mulher negra e escravizada, tem um fim trágico, João Romão é recompensado por sua ambição e exploração, mesmo que imoral. Essa contradição ilustra como o Naturalismo retrata a luta desigual entre os fortes e os fracos, muitas vezes sem esperança de redenção para os oprimidos.
III - O trecho destacado mostra que o cortiço funciona como um microcosmo autossuficiente, distante das estruturas formais da sociedade. A dinâmica econômica interna, com mercadores e produtos circulando sem dependência externa, reforça a ideia de um espaço marginalizado, porém organizado em suas próprias regras. Essa autonomia relativa é mais uma prova da influência do meio na formação dos indivíduos, tema central na obra.
Portanto, as proposições I, II e III estão corretas, pois todas refletem aspectos fundamentais da narrativa naturalista de O Cortiço, seja na representação das relações sociais, na crítica às desigualdades ou na construção do espaço como determinante da condição humana.
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