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     E Jerônimo via e escutava, sentindo ir-se-lhe toda a alma pelos olhos enamorados.      Naquela mulata estava o grande mistério, a síntese das impressões que ele recebeu chegando aqui: ela era a luz ardente do meio-dia; ela era o calor vermelho das sestas da fazenda; era o aroma quente dos trevos e das baunilhas, que o atordoara nas matas brasileiras; era a palmeira virginal e esquiva que se não torce a nenhuma outra planta; era o veneno e era o açúcar gostoso; era o sapoti mais doce que o mel e era a castanha do caju, que abre feridas com o seu azeite de fogo; ela era a cobra verde e traiçoeira, a lagarta viscosa, a muriçoca doida, que esvoaçava havia muito tempo em torno do corpo dele, assanhando-lhe os desejos, acordando-lhe as fibras embambecidas pela saudade da terra, picando-lhe as artérias, para lhe cuspir dentro do sangue uma centelha daquele amor setentrional, uma nota daquela música feita de gemidos de prazer, uma larva daquela nuvem de cantáridas que zumbiam em torno da Rita Baiana e espalhavam-se pelo ar numa fosforescência afrodisíaca.                                                                                                             Aluísio Azevedo, O cortiço.O efeito expressivo do texto – bem como seu pertencimento ao Naturalismo em literatura – baseiam-se amplamente no procedimento de explorar de modo intensivo aspectos biológicos da natureza. Entre esses procedimentos empregados no texto, só NÃO se encontra a

     E Jerônimo via e escutava, sentindo ir-se-lhe toda a
alma pelos olhos enamorados.

     Naquela mulata estava o grande mistério, a síntese
das impressões que ele recebeu chegando aqui: ela era a luz
ardente do meio-dia; ela era o calor vermelho das sestas da
fazenda; era o aroma quente dos trevos e das baunilhas,
que o atordoara nas matas brasileiras; era a palmeira
virginal e esquiva que se não torce a nenhuma outra planta;
era o veneno e era o açúcar gostoso; era o sapoti mais doce
que o mel e era a castanha do caju, que abre feridas com o
seu azeite de fogo; ela era a cobra verde e traiçoeira, a
lagarta viscosa, a muriçoca doida, que esvoaçava havia
muito tempo em torno do corpo dele, assanhando-lhe os
desejos, acordando-lhe as fibras embambecidas pela
saudade da terra, picando-lhe as artérias, para lhe cuspir
dentro do sangue uma centelha daquele amor setentrional,
uma nota daquela música feita de gemidos de prazer, uma
larva daquela nuvem de cantáridas que zumbiam em torno
da Rita Baiana e espalhavam-se pelo ar numa
fosforescência afrodisíaca.

                                                                                                            Aluísio Azevedo, O cortiço.

O efeito expressivo do texto – bem como seu
pertencimento ao Naturalismo em literatura – baseiam-se
amplamente no procedimento de explorar de modo
intensivo aspectos biológicos da natureza. Entre esses
procedimentos empregados no texto, só NÃO se encontra a

Resposta:

A alternativa correta é E)

O trecho de O cortiço, de Aluísio Azevedo, exemplifica de maneira marcante as características do Naturalismo literário, movimento que busca retratar o ser humano como um produto de suas condições biológicas e sociais. A passagem descreve a personagem Rita Baiana através de uma linguagem carregada de sensualidade e elementos naturais, integrando o homem ao ambiente de forma visceral.

O texto explora intensamente os sentidos humanos, como a visão ("luz ardente do meio-dia"), o olfato ("aroma quente dos trevos e das baunilhas"), o paladar ("sapoti mais doce que o mel") e até mesmo sensações táteis ("calor vermelho das sestas"). Essa abordagem corresponde à alternativa B, que menciona a exploração exaustiva dos receptores sensoriais.

Além disso, a narrativa apresenta uma figuração variada de plantas e animais, como a "palmeira virginal", a "cobra verde e traiçoeira" e a "lagarta viscosa", que interagem simbolicamente com o protagonista, confirmando a alternativa C. A ênfase nos instintos e na atração sexual, associados a processos naturais de reprodução, também está presente, o que justifica a alternativa D.

No entanto, o texto não aborda explicitamente a seleção natural como força motriz da evolução, descartando a alternativa E como a correta. Apesar de o Naturalismo frequentemente dialogar com ideias científicas da época, como o determinismo, o excerto em questão concentra-se mais na relação sensorial e instintiva do homem com o meio, sem aprofundar-se em teorias evolutivas.

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