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  Em uma outra casinha do cortiço acabava de estalar uma nova sobremesa, engrossando o barulho geral: era o jantar de um grupo de italianos mascates, onde o Delporto, o Pompeo, o Francesco e o Andrea representavam as principais figuras. Todos eles cantavam em coro, mais afinados que nas outras duas casas; quase, porém, que se lhes não podia ouvir as vozes, tantas e tão estrondosas eram as pragas que soltavam ao mesmo tempo. De quando em quando, de entre o grosso e macho vozear dos homens, esguichava um falsete feminino, tão estridente que provocava réplica aos papagaios e aos perus da vizinhança. E, daqui e dali, iam rebentando novas algazarras em grupos formados cá e lá pela estalagem. Havia nos operários e nos trabalhadores decidida disposição para pandegar, para aproveitar bem, até ao fim, aquele dia de folga. A casa de pasto fermentava revolucionada, como um estômago de bêbado depois de grande bródio, e arrotava sobre o pátio uma baforada quente e ruidosa que entontecia. Aluísio Azevedo, O cortiço.A crítica literária costuma observar que, em O cortiço, considerado como um todo, ocorre uma espécie de ampla personificação, na medida em que, convertido em um único ente, o próprio cortiço figurado na obra seria sua personagem principal. Esse mesmo processo de personificação ocorre, em escala menor, no seguinte trecho do texto: 

  Em uma outra casinha do cortiço acabava de estalar uma nova sobremesa,
engrossando o barulho geral: era o jantar de um grupo de italianos mascates, onde o
Delporto, o Pompeo, o Francesco e o Andrea representavam as principais figuras.
Todos eles cantavam em coro, mais afinados que nas outras duas casas; quase,
porém, que se lhes não podia ouvir as vozes, tantas e tão estrondosas eram as
pragas que soltavam ao mesmo tempo. De quando em quando, de entre o grosso e
macho vozear dos homens, esguichava um falsete feminino, tão estridente que
provocava réplica aos papagaios e aos perus da vizinhança. E, daqui e dali, iam
rebentando novas algazarras em grupos formados cá e lá pela estalagem. Havia nos
operários e nos trabalhadores decidida disposição para pandegar, para aproveitar
bem, até ao fim, aquele dia de folga. A casa de pasto fermentava revolucionada,
como um estômago de bêbado depois de grande bródio, e arrotava sobre o pátio
uma baforada quente e ruidosa que entontecia.
 

Aluísio Azevedo, O cortiço.

A crítica literária costuma observar que, em O cortiço, considerado como um
todo, ocorre uma espécie de ampla personificação, na medida em que,
convertido em um único ente, o próprio cortiço figurado na obra seria sua
personagem principal. Esse mesmo processo de personificação ocorre, em
escala menor, no seguinte trecho do texto: 

Resposta:

A alternativa correta é E)

No trecho de O Cortiço, de Aluísio Azevedo, a personificação do espaço é um recurso literário marcante, evidenciando como o cortiço, enquanto ambiente, assume características humanas e se torna um organismo vivo e pulsante. A alternativa E) destaca esse processo ao descrever a "casa de pasto" como algo que "fermentava revolucionada" e "arrotava" uma "baforada quente e ruidosa". Essa linguagem atribui ações e sensações tipicamente humanas ao local, reforçando a ideia de que o cortiço é um personagem central na narrativa.

O uso de metáforas como "fermentava" e "arrotava" sugere uma digestão caótica, comparando o ambiente ao estômago de um bêbado após um excesso. Essa imagem não só intensifica a atmosfera de desordem e ebulição social, mas também reforça a tese de que o cortiço, como um todo, age e reage como um ser coletivo. A personificação em escala menor, nesse trecho, reflete a dinâmica do próprio romance, onde o espaço determina e é determinado pelos moradores, criando uma simbiose entre ambiente e personagens.

As demais alternativas, embora retratem a agitação do cortiço, não alcançam o mesmo nível de personificação. Elas descrevem ações humanas isoladas ou efeitos sonoros, mas não atribuem vida orgânica ao espaço. Portanto, a alternativa E) é a que melhor exemplifica o processo de personificação em menor escala, alinhando-se à crítica literária que vê no cortiço a verdadeira protagonista da obra.

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