Logo do Site - Banco de Questões

Questões Sobre Naturalismo - Literatura - concurso

Questão 41

(…) Eis aí meu canto.
Ele é tão baixo que sequer o escuta
ouvido rente ao chão. Mas é tão alto
que as pedras o absorvem. Está na mesa

aberta em livros, cartas e remédios.
Na parede infiltrou-se. O bonde, a rua,
o uniforme de colégio se transformam,
são ondas de carinho te envolvendo.

Como fugir ao mínimo objeto
ou recusar-se ao grande? Os temas passam,
eu sei que passarão, mas tu resistes,
e cresces como fogo, como casa,
como orvalho entre dedos,

na grama, que repousam.

Já agora te sigo a toda parte,
e te desejo e te perco, estou completo,
me destino, me faço tão sublime,
tão natural e cheio de segredos,
tão firme, tão fiel… Tal uma lâmina,
o povo, meu poema, te atravessa.
Carlos Drummond de Andrade.  A rosa do povo.

O trecho final do excerto, “Tal uma lâmina, / o povo, meu
poema, te atravessa”, pode ser empregado para se
caracterizar o fio condutor da seguinte obra literária

  • A)Senhora.
  • B)Dom Casmurro.
  • C)O Ateneu.
  • D)São Bernardo.
  • E)Morte e vida severina.
FAZER COMENTÁRIO

A alternativa correta é E)

O trecho final do poema de Carlos Drummond de Andrade, "Tal uma lâmina, / o povo, meu poema, te atravessa", revela uma conexão profunda entre a poesia e a experiência coletiva, marcada por dor, resistência e transcendência. Essa imagem da lâmina que atravessa o povo pode ser associada à obra Morte e vida severina, de João Cabral de Melo Neto, pois ambas compartilham um engajamento social e uma linguagem que corta como faca, expondo as feridas da existência humana.

Em Morte e vida severina, o retirante Severino personifica a luta do povo nordestino contra a miséria e a morte, numa jornada que mescla sofrimento e esperança. Assim como no poema de Drummond, há uma fusão entre o indivíduo e o coletivo, onde a voz poética se confunde com a voz do povo. A "lâmina" simboliza tanto a dor quanto a força de resistência, presente na linguagem cortante e precisa de João Cabral, que, assim como Drummond, transforma a realidade em arte.

Portanto, a alternativa correta é E) Morte e vida severina, pois a obra dialoga diretamente com a ideia de um poema que atravessa o povo, revelando sua essência e sua luta.

Questão 42

Leia o segmento abaixo.

No Brasil novecentista, uma sociedade escravocrata e patriarcal, o espaço de atuação das mulheres
era restrito. Elas aparecem representadas em Dom Casmurro, de Machado de Assis, e O cortiço, de
Aluísio Azevedo. …….. escolhe ficar com o homem que desperta seu desejo, sem a necessidade de
casar. Paira sobre …….. a desconfiança sobre sua motivação para casar com o vizinho. Por sua vez,
…….. casa e descarta o marido, em busca de uma vida livre do domínio masculino.

Assinale a alternativa que preenche corretamente as lacunas do segmento acima, na ordem em que
aparecem.

  • A)Rita Baiana – Capitu – Pombinha
  • B)Capitu – Rita Baiana – Pombinha
  • C)Pombinha – Capitu – Rita Baiana
  • D)Pombinha – Rita Baiana – Capitu
  • E)Rita Baiana – Pombinha – Capitu
FAZER COMENTÁRIO

A alternativa correta é A)

O trecho apresentado aborda a representação feminina em duas obras fundamentais da literatura brasileira do século XIX: Dom Casmurro, de Machado de Assis, e O cortiço, de Aluísio Azevedo. Em um contexto social marcado pelo patriarcado e pela escravidão, as personagens femininas dessas obras desafiam, cada uma à sua maneira, as normas vigentes. A análise das lacunas revela que a sequência correta é Rita Baiana, Capitu e Pombinha, correspondendo à alternativa A).

Rita Baiana, personagem de O cortiço, é retratada como uma mulher livre e sensual, que escolhe ficar com o homem que desperta seu desejo, sem se preocupar com o casamento. Já Capitu, de Dom Casmurro, envolve-se em uma relação matrimonial cercada de dúvidas e desconfianças por parte do marido, Bentinho. Por fim, Pombinha, também de O cortiço, após se casar, rejeita o marido em busca de autonomia, rompendo com as expectativas sociais da época.

Essas personagens ilustram diferentes formas de resistência feminina em uma sociedade opressiva, destacando a complexidade de suas motivações e ações. A alternativa A) é, portanto, a correta, pois reflete com precisão as características e os arcos narrativos de Rita Baiana, Capitu e Pombinha, respectivamente.

Questão 43

Leia o segmento abaixo, do terceiro capítulo de O cortiço, de Aluísio Azevedo.
Daí a pouco, em volta das bicas era um zunzum crescente; uma aglomeração tumultuosa de machos
e fêmeas. (…) O rumor crescia, condensando-se; o zunzum de todos os dias acentuava-se; já se
não destacavam vozes dispersas, mas um só ruído compacto que enchia todo o cortiço. Começavam
a fazer compras na venda; ensarilhavam-se discussões e rezingas; ouviam-se gargalhadas e pragas;
já se não falava, gritava-se. Sentia-se naquela fermentação sanguínea, naquela gula viçosa de
plantas rasteiras que mergulham os pés vigorosos na lama preta e nutriente da vida, o prazer animal
de existir, a triunfante satisfação de respirar sobre a terra.
Assinale com V (verdadeiro) ou F (falso) as seguintes afirmações sobre o segmento.
( ) O segmento apresenta a descrição do cortiço sem destacar um personagem, com ênfase na
coletividade para ações triviais de homens, mulheres e crianças.
( ) O despertar, matéria cotidiana, é figurado como fato rotineiro de pessoas executando seus
hábitos higiênicos matinais.
( ) A linguagem do narrador, preocupado em mostrar a dimensão natural presente nas ações
humanas, evidencia-se em expressões como ―prazer animal de existir‖.
( ) O objetivo, nesse segmento, é apresentar o cortiço e a venda como empreendimentos
comerciais usados no enriquecimento de João Romão.
A sequência correta de preenchimento dos parênteses, de cima para baixo, é

  • A)V – V – F – F.
  • B)V – V – V – V.
  • C)V – F – F – V.
  • D)F – F – F – V.
  • E)V – V – V – F.
FAZER COMENTÁRIO

A alternativa correta é E)

O trecho de O cortiço, de Aluísio Azevedo, apresenta uma descrição vívida da vida coletiva no cortiço, destacando a agitação e a vitalidade dos moradores em suas atividades cotidianas. A análise das afirmações revela o seguinte:

A primeira afirmação é Verdadeira (V), pois o texto não foca em um personagem específico, mas sim na coletividade, retratando homens, mulheres e crianças em ações triviais, como compras e discussões. O narrador enfatiza o movimento e o barulho do ambiente, caracterizando o cortiço como um espaço de convívio intenso e caótico.

A segunda afirmação também é Verdadeira (V), já que o despertar e as atividades matinais são representados como parte da rotina dos moradores. O texto descreve o burburinho crescente, as compras na venda e as interações entre as pessoas, mostrando hábitos cotidianos que se repetem diariamente.

A terceira afirmação é igualmente Verdadeira (V), pois a linguagem do narrador, de fato, associa as ações humanas a elementos naturais, como na expressão "prazer animal de existir". Essa escolha lexical reforça a ideia de que os moradores do cortiço vivem de maneira instintiva, quase selvagem, mergulhados em uma existência marcada pela vitalidade e pela luta pela sobrevivência.

Por fim, a quarta afirmação é Falsa (F), uma vez que o objetivo do trecho não é apresentar o cortiço e a venda como empreendimentos comerciais de João Romão, mas sim retratar a dinâmica social e a atmosfera vibrante do local. O foco está na vida dos moradores, não na figura do proprietário ou em seus interesses econômicos.

Portanto, a sequência correta é V – V – V – F, correspondente à alternativa E).

Questão 44

Aluísio Azevedo tinha estabelecido um plano
como romancista: “traçar um grande painel da
sociedade brasileira, com a intenção declarada de
reunir todos os tipos brasileiros, bons e maus, de
seu tempo e compendiar, em forma de romance,
fatos de nossa vida pública que jamais serão
apresentados pela História”.
Assim, ao lançar, em 1890, O Cortiço, o autor
coloca no romance as seguintes personagens
ficcionais que contracenam, exceto

  • A)Bertoleza e João Romão.
  • B)Marcela e Brás Cubas.
  • C)Pombinha e Leònie.
  • D)Rita baiana e Jerônimo.
  • E)Estela e Miranda.
FAZER COMENTÁRIO

A alternativa correta é B)

Aluísio Azevedo, um dos grandes nomes do Naturalismo brasileiro, estabeleceu como objetivo literário retratar a sociedade de seu tempo de forma ampla e crítica. Seu romance O Cortiço, publicado em 1890, é uma obra emblemática desse projeto, apresentando um mosaico de personagens que representam diferentes estratos sociais, vícios e contradições da vida urbana no Brasil do século XIX.

O autor buscou, como mencionado, compilar "todos os tipos brasileiros" em sua narrativa, criando um painel realista e por vezes cruel da realidade. Dentre as personagens que habitam o cortiço de João Romão, encontramos figuras como Bertoleza, escravizada e explorada; Rita Baiana, símbolo da sensualidade e vitalidade; Jerônimo, o imigrante português corrompido pelo ambiente; e Pombinha, a jovem ingênua que se perde na promiscuidade. No entanto, Marcela e Brás Cubas são personagens que pertencem a outra obra—Memórias Póstumas de Brás Cubas, de Machado de Assis—, o que torna a alternativa B a correta, já que não fazem parte do universo de O Cortiço.

Essa distinção é importante para compreender tanto a obra de Aluísio Azevedo quanto a riqueza da literatura brasileira da época, marcada por diferentes correntes estéticas e visões de mundo. Enquanto Azevedo mergulha nas camadas populares e na animalização do ser humano, Machado de Assis constrói uma narrativa irônica e psicológica, mostrando a diversidade do Realismo-Naturalismo no Brasil.

Questão 45

As ideias desenvolvidas nos textos O Cortiço, de
Aluísio Azevedo [1890], e A Cidade e as Serras, de
Eça de Queirós [1901], estão ligadas às
consequências da civilização e do progresso que
aprofundaram a divisão das classes sociais na
segunda metade do século XIX e início do XX, no
Brasil e em Portugal.

Com base nessa perspectiva sócio-histórica,
assinale a afirmativa incorreta.

  • A)O espaço de ambientação das obras deixa de ser significativo em consequência da valorização do sobrado de Miranda e do cortiço.
  • B)A superpopulação do cortiço reduz as pessoas ao grau mais baixo e repulsivo da escala animal.
  • C)Jacinto representa o resgate do coletivo e das raízes nacionais campesinas.
  • D)O homem ‘civilizado’ tem como única saída a tranquilidade de um espaço que simboliza a volta ao passado pré-industrial.
  • E)Tanto Aluísio Azevedo quanto Eça de Queirós utilizam-se da habilidade descritiva para criar o efeito visual dos espaços representados.
FAZER COMENTÁRIO

A alternativa correta é A)

Os romances O Cortiço, de Aluísio Azevedo, e A Cidade e as Serras, de Eça de Queirós, abordam criticamente os impactos da civilização e do progresso nas sociedades brasileira e portuguesa no final do século XIX e início do XX. Ambos os autores exploram as contradições e desigualdades geradas pela modernização, destacando a degradação humana e a alienação causadas pelo avanço urbano e industrial.

Em O Cortiço, a superpopulação e as condições miseráveis do cortiço reduzem seus moradores a um estado animalesco, como aponta a alternativa B), que está correta. Já em A Cidade e as Serras, Jacinto, personagem central, vive inicialmente mergulhado no artificialismo da vida parisiense, mas acaba redescobrindo a simplicidade e a autenticidade no campo, conforme a alternativa C), também correta. A alternativa D) reforça essa ideia, indicando que a única saída para o homem civilizado seria o retorno a um passado pré-industrial, o que está em consonância com a obra de Eça.

A alternativa E) também está correta, pois ambos os autores empregam descrições minuciosas para criar uma representação visual marcante dos espaços em suas narrativas, seja o cortiço brasileiro ou os contrastes entre Paris e as serras portuguesas.

Por fim, a alternativa A) é a incorreta, pois o espaço é fundamental nas duas obras. Em O Cortiço, o cortiço e o sobrado de Miranda simbolizam a divisão de classes, enquanto em A Cidade e as Serras, os espaços urbanos e rurais refletem a crítica ao progresso desenfreado. Portanto, longe de ser insignificante, o espaço é um elemento central na construção das narrativas e na crítica social proposta pelos autores.

Questão 46

Saindo criança de São Luís, no Maranhão, para Lisboa, Raimundo viaja órfão de pai, um ex-comerciante português, e afastado da mãe Domingas, uma ex-escrava do pai.
Depois de anos da Europa, Raimundo volta formado para o Brasil. Passa um ano no Rio e decide regressar a São Luís para rever seu tutor e tio, Manuel Pescada.
Bem recebido pela família do tio, Raimundo desperta logo as atenções de sua prima Ana Rosa que, em dado momento, lhe declara seu amor.
Essa paixão correspondida encontra, todavia, três obstáculos: o do pai, que queria a filha casada com um dos caixeiros da loja; o da avó Maria Bárbara, mulher racista; o do Cônego Diogo, comensal da casa e adversário de Raimundo.
Todos os três conheciam as origens negróides de Raimundo. E o Cônego Diogo era o mais empenhado em impedir a ligação, uma vez que fora responsável pela morte do pai de Raimundo.
Tudo aconteceu quando Raimundo nasceu, seu pai José Pedro da Silva casou-se com Quitéria Inocência de Freitas Santiago, mulher branca. Suspeitando da atenção que José Pedro dedicava ao pequeno Raimundo e à escrava Domingas, Quitéria ordena que açoitem a negra e lhe queimem as partes genitais. 4 Desesperado, José Pedro carrega o filho e leva-o para a casa do irmão, em São Luís. De volta à fazenda, imaginando Quitéria ainda refugiada na casa da mãe, José Pedro ouve vozes em seu quarto. Invadindo-o, o fazendeiro surpreende Quitéria e o então Padre Diogo, em pleno adultério. Desonrado, o pai de Raimundo mata Quitéria, tendo o Padre como testemunha. Graças à culpa do adultério e à culpa do homicídio, forma-se um pacto de cumplicidade entre ambos. Diante de mais essa desgraça, José Pedro abandona a fazenda, retira-se para a casa do irmão e adoece. Algum tempo depois, já restabelecido, José Pedro resolve voltar à fazenda, mas no meio do caminho, é tocaiado e morto. Por outro lado, aos poucos, o Padre Diogo começa a insinuar-se também, na casa de Manoel Pescada. Raimundo ignorava tudo isso.
Em São Luís, agora adulto, sua preocupação básica é desvendar suas origens e, por isso, insiste com o tio em visitar a fazenda onde nascera. Durante o percurso a São Brás, Raimundo começa a descobrir os primeiros dados sobre suas origens e insiste com o tio para que lhe conceda a mão de Ana Rosa. Depois de várias recusas, Raimundo fica sabendo que o motivo da proibição devia-se à cor de sua pele.
Voltando a São Luís, Raimundo muda-se da casa do tio, decide voltar para o Rio, confessa em carta à Ana Rosa, seu amor; mas acaba não viajando.
Apesar das proibições, Ana Rosa e ele planejam uma fuga. Entretanto, a carta principal é interceptada por um cúmplice do Cônego Diogo, o caixeiro Dias, empregado de Manoel Pescada e forte pretendente, sempre repelido, à mão de Ana Rosa. Na hora da fuga, os namorados são surpreendidos. Arma-se o escândalo, do qual o Cônego é o grande executor. Raimundo retira-se desolado e ao abrir a porta de casa, um tiro acerta-o pelas costas. Com uma arma que lhe emprestara o Cônego Diogo, o caixeiro Dias assassina o rival.
Ana Rosa aborta. Entretanto, seis anos depois, ela é vista saindo de uma recepção oficial, de braço com o senhor Dias e preocupada com os “três filhinhos que ficaram em casa, a dormir”. 

O autor da obra mencionada na questão anterior é:

  • A)Machado de Assis.
  • B)Raul Pompeia.
  • C)Euclides da Cunha.
  • D)Aluísio Azevedo.
FAZER COMENTÁRIO

A alternativa correta é D)

O texto apresentado descreve a trama do romance O Mulato, escrito por Aluísio Azevedo, um dos principais expoentes do Naturalismo brasileiro. A narrativa acompanha a trajetória de Raimundo, um homem de origem mestiça que enfrenta os preconceitos raciais e sociais da sociedade maranhense do século XIX.

A história começa com a infância de Raimundo, marcada pela separação de sua mãe, Domingas, uma ex-escrava, e pela morte de seu pai, José Pedro. Após anos estudando na Europa, ele retorna ao Brasil e reencontra sua família em São Luís, onde se apaixona por sua prima Ana Rosa. No entanto, esse amor é impedido por uma série de obstáculos, incluindo o racismo da avó de Ana Rosa, a ambição do pai dela e a manipulação do Cônego Diogo, figura central na tragédia que envolve a família.

O romance explora temas como o preconceito racial, a hipocrisia social e a corrupção moral, características marcantes do Naturalismo. Aluísio Azevedo utiliza uma linguagem crítica e realista para denunciar as mazelas da sociedade brasileira da época, especialmente a questão racial e a falsa moralidade das elites.

O desfecho trágico da obra, com a morte de Raimundo e o destino de Ana Rosa, reforça a visão determinista do autor, que enxerga o indivíduo como vítima do meio social e das heranças biológicas. A obra é um marco na literatura brasileira e consolida Aluísio Azevedo como um dos grandes nomes do movimento naturalista no Brasil.

Portanto, o autor correto da obra mencionada é D) Aluísio Azevedo.

Questão 47

Saindo criança de São Luís, no Maranhão, para Lisboa, Raimundo viaja órfão de pai, um ex-comerciante português, e afastado da mãe Domingas, uma ex-escrava do pai.
Depois de anos da Europa, Raimundo volta formado para o Brasil. Passa um ano no Rio e decide regressar
a São Luís para rever seu tutor e tio, Manuel Pescada.
Bem recebido pela família do tio, Raimundo desperta logo as atenções de sua prima Ana Rosa que, em
dado momento, lhe declara seu amor.
Essa paixão correspondida encontra, todavia, três obstáculos: o do pai, que queria a filha casada com um
dos caixeiros da loja; o da avó Maria Bárbara, mulher racista; o do Cônego Diogo, comensal da casa e
adversário de Raimundo.
Todos os três conheciam as origens negróides de Raimundo. E o Cônego Diogo era o mais empenhado
em impedir a ligação, uma vez que fora responsável pela morte do pai de Raimundo.
Tudo aconteceu quando Raimundo nasceu, seu pai José Pedro da Silva casou-se com Quitéria Inocência
de Freitas Santiago, mulher branca. Suspeitando da atenção que José Pedro dedicava ao pequeno
Raimundo e à escrava Domingas, Quitéria ordena que açoitem a negra e lhe queimem as partes genitais.
4
Desesperado, José Pedro carrega o filho e leva-o para a casa do irmão, em São Luís. De volta à fazenda,
imaginando Quitéria ainda refugiada na casa da mãe, José Pedro ouve vozes em seu quarto. Invadindo-o,
o fazendeiro surpreende Quitéria e o então Padre Diogo, em pleno adultério. Desonrado, o pai de
Raimundo mata Quitéria, tendo o Padre como testemunha. Graças à culpa do adultério e à culpa do
homicídio, forma-se um pacto de cumplicidade entre ambos. Diante de mais essa desgraça, José Pedro
abandona a fazenda, retira-se para a casa do irmão e adoece. Algum tempo depois, já restabelecido, José
Pedro resolve voltar à fazenda, mas no meio do caminho, é tocaiado e morto. Por outro lado, aos poucos,
o Padre Diogo começa a insinuar-se também, na casa de Manoel Pescada. Raimundo ignorava tudo isso.
Em São Luís, agora adulto, sua preocupação básica é desvendar suas origens e, por isso, insiste com o tio
em visitar a fazenda onde nascera. Durante o percurso a São Brás, Raimundo começa a descobrir os
primeiros dados sobre suas origens e insiste com o tio para que lhe conceda a mão de Ana Rosa. Depois
de várias recusas, Raimundo fica sabendo que o motivo da proibição devia-se à cor de sua pele.

Voltando a São Luís, Raimundo muda-se da casa do tio, decide voltar para o Rio, confessa em carta à Ana
Rosa, seu amor; mas acaba não viajando.
Apesar das proibições, Ana Rosa e ele planejam uma fuga. Entretanto, a carta principal é interceptada por
um cúmplice do Cônego Diogo, o caixeiro Dias, empregado de Manoel Pescada e forte pretendente,
sempre repelido, à mão de Ana Rosa. Na hora da fuga, os namorados são surpreendidos. Arma-se o
escândalo, do qual o Cônego é o grande executor. Raimundo retira-se desolado e ao abrir a porta de casa,
um tiro acerta-o pelas costas. Com uma arma que lhe emprestara o Cônego Diogo, o caixeiro Dias
assassina o rival.
Ana Rosa aborta. Entretanto, seis anos depois, ela é vista saindo de uma recepção oficial, de braço com o
senhor Dias e preocupada com os “três filhinhos que ficaram em casa, a dormir”. 
Trata-se do romance: 

  • A)Casa de Pensão.
  • B)O Mulato.
  • C)O Ateneu.
  • D)Quincas Borba.
FAZER COMENTÁRIO

A alternativa correta é B)

O romance descrito no texto é uma obra marcante da literatura brasileira, que aborda temas profundos como o preconceito racial, a hipocrisia social e os conflitos passionais. A narrativa gira em torno de Raimundo, um homem de origem mestiça que, após se formar na Europa, retorna ao Brasil e se vê envolvido em uma série de desafios devido à sua ascendência negra.

A história expõe as contradições da sociedade maranhense do século XIX, onde as aparências e os interesses econômicos frequentemente se sobrepõem aos sentimentos e à justiça. A personagem de Ana Rosa representa o amor genuíno, mas também a fragilidade diante das pressões familiares e sociais. Já o Cônego Diogo encarna a figura do vilão, cuja maldade é alimentada por segredos do passado e pela manipulação religiosa.

O desfecho trágico da obra – com o assassinato de Raimundo e o destino resignado de Ana Rosa – reforça a crítica do autor ao racismo estrutural e às convenções sociais que perpetuam a desigualdade. Apesar de ter sido escrito no século XIX, o romance mantém sua relevância ao retratar questões que ainda ecoam na sociedade brasileira contemporânea.

O título correto da obra é O Mulato, de Aluísio Azevedo, um dos principais representantes do Naturalismo no Brasil. A escolha da alternativa B) está, portanto, correta.

Questão 48

O Pré-Modernismo não será considerado uma escola literária, sobretudo, um período literário de
transição do Realismo/ Naturalismo para o Modernismo; sendo os principais objetivos:

  • A)Exaltar e refletir aspectos essenciais da cultura brasileira como ocorre em Macunaíma, de Mário de Andrade.
  • B)Tendo como representantes autores como Graciliano Ramos e Clarice Lispector, o pré-modernismo caracteriza aspectos da cultura brasileira dentro de um contexto mais subjetivo.
  • C)A necessidade de transformação nas artes (na temática e na linguagem literária); ruptura com os moldes simbolistas e parnasianos.
  • D)Explorar aspectos ainda desconhecidos pelo cânone literário, como ocorre na obra poética de Olavo Bilac.
FAZER COMENTÁRIO

A alternativa correta é A)

Questão 49

            No Realismo ficcional, a mente cientificista também é
responsável pelo esvaziar-se do êxtase que a paisagem suscitava nos
escritores românticos. O que se entende pela preferência dada agora
aos ambientes urbanos e, em nível mais profundo, pela não
identificação do escritor realista com aquela vida e aquela natureza
transformadas pelo positivismo em complexos de normas e fatos
indiferentes à alma humana.
          O determinismo reflete-se na perspectiva em que se
movem os narradores ao trabalhar as suas personagens. A pretensa
neutralidade não chega ao ponto de ocultar o fato de que o autor
carrega sempre de tons sombrios o destino das suas criaturas.
Atente-se, nos romances desse período, para a galeria de seres
distorcidos ou acachapados pelo Fatum.
Alfredo Bosi. História concisa da literatura brasileira.
São Paulo: Cultrix, 2004, p. 172-3 (com adaptações).

Considerando o fragmento de texto precedente e as disposições da BNCC do ensino fundamental para a disciplina de língua portuguesa, julgue o item a seguir, a respeito do Realismo e do Naturalismo na literatura brasileira.

Na galeria de personagens distorcidos do Naturalismo
brasileiro encontra-se Bentinho — o narrador de Dom
Casmurro
, de Machado de Assis —, cuja personalidade é
definida no texto a partir de determinismos raciais e
geográficos.

  • C) CERTO
  • E) ERRADO
FAZER COMENTÁRIO

A alternativa correta é E)

O fragmento de texto de Alfredo Bosi destaca características fundamentais do Realismo e do Naturalismo na literatura brasileira, enfatizando a ruptura com o subjetivismo romântico e a adoção de uma visão científica e determinista da realidade. Nesse contexto, o Naturalismo brasileiro, influenciado pelo positivismo e pelo determinismo, buscou retratar personagens cujas ações e destinos eram moldados por fatores externos, como hereditariedade, meio social e condições biológicas.

No entanto, ao analisar a afirmação sobre Bentinho, narrador de Dom Casmurro de Machado de Assis, é importante ressaltar que a obra não se enquadra estritamente no Naturalismo. Embora Machado de Assis tenha sido contemporâneo do movimento, sua literatura transcendeu as limitações deterministas, explorando a complexidade psicológica e a ambiguidade humana de maneira irônica e crítica. Bentinho não é definido por determinismos raciais ou geográficos, mas por suas próprias contradições e pelo jogo de perspectivas narrativas que desafiam uma interpretação única.

Portanto, a afirmação de que Bentinho é um exemplo de personagem distorcido pelo Naturalismo, com personalidade determinada por fatores raciais e geográficos, está incorreta. Machado de Assis não se limitou aos preceitos naturalistas, criando uma obra que questiona justamente as noções de verdade e destino linear. O gabarito correto é E) ERRADO.

Continua após a publicidade..

Questão 50

            No Realismo ficcional, a mente cientificista também é
responsável pelo esvaziar-se do êxtase que a paisagem suscitava nos
escritores românticos. O que se entende pela preferência dada agora
aos ambientes urbanos e, em nível mais profundo, pela não
identificação do escritor realista com aquela vida e aquela natureza
transformadas pelo positivismo em complexos de normas e fatos
indiferentes à alma humana.
          O determinismo reflete-se na perspectiva em que se
movem os narradores ao trabalhar as suas personagens. A pretensa
neutralidade não chega ao ponto de ocultar o fato de que o autor
carrega sempre de tons sombrios o destino das suas criaturas.
Atente-se, nos romances desse período, para a galeria de seres
distorcidos ou acachapados pelo Fatum.
Alfredo Bosi. História concisa da literatura brasileira.
São Paulo: Cultrix, 2004, p. 172-3 (com adaptações).

Considerando o fragmento de texto precedente e as disposições da BNCC do ensino fundamental para a disciplina de língua portuguesa, julgue o item a seguir, a respeito do Realismo e do Naturalismo na literatura brasileira.

Nas obras realistas e naturalistas, as personagens tendem ao
típico, o que pode levar a uma construção literária do
patológico, como se observa nas obras O Bom Crioulo, de
Adolfo Caminha, e O Cortiço, de Aluísio Azevedo.

  • C) CERTO
  • E) ERRADO
FAZER COMENTÁRIO

A alternativa correta é C)

O fragmento de texto apresentado, extraído da obra de Alfredo Bosi, destaca características fundamentais do Realismo e do Naturalismo na literatura brasileira, sobretudo no que diz respeito à representação das personagens e ao enfoque dado aos ambientes urbanos. Esses movimentos literários, marcados por uma visão cientificista e determinista, afastaram-se da idealização romântica, optando por retratar a realidade de forma crítica e, muitas vezes, crua.

Nas obras realistas e naturalistas, como mencionado no item a ser julgado, as personagens frequentemente assumem traços típicos, representando grupos sociais ou comportamentos patológicos. Essa tendência é evidente em romances como O Bom Crioulo, de Adolfo Caminha, e O Cortiço, de Aluísio Azevedo. Em ambos, as personagens são construídas a partir de condicionantes biológicos, sociais e psicológicos, refletindo a influência do determinismo e do positivismo na literatura da época.

A afirmação de que as personagens nessas obras tendem ao típico, muitas vezes com um viés patológico, está correta. O Naturalismo, em particular, explora aspectos como a degeneração, o crime e os desvios de comportamento, reforçando a ideia de que o ser humano é moldado por forças externas e internas além de seu controle. Portanto, o gabarito C) CERTO é adequado, pois condiz com as características literárias do período e com as análises críticas consolidadas, como as apresentadas por Bosi.

1 3 4 5 6 7 9