Questões Sobre Naturalismo - Literatura - concurso

O fragmento de texto apresentado, extraído da obra de Alfredo Bosi, destaca as características fundamentais do Realismo e do Naturalismo na literatura brasileira, enfatizando a influência do pensamento cientificista e determinista na representação da realidade. Esses movimentos literários, em contraste com o Romantismo, buscaram uma abordagem mais objetiva e analítica da sociedade, muitas vezes retratando personagens cujos destinos são moldados por forças sociais e biológicas além de seu controle.

No entanto, a afirmação sobre O Cortiço, de Aluísio Azevedo, sugere que o narrador adota uma voz completamente objetiva e isenta de juízos de valor, o que não corresponde à realidade da obra. A passagem citada, que descreve uma personagem feminina com termos como "olhos luxuriosos de macaca" e "Toda ela estava a pedir homem", revela uma carga significativa de subjetividade e juízo moral, características que contradizem a suposta neutralidade científica. O Naturalismo, embora influenciado pelo determinismo e pela ciência, não eliminou completamente a perspectiva do autor, que muitas vezes carregava suas descrições de estereótipos e visões moralizantes.

Portanto, a afirmação de que o narrador em O Cortiço é destituído de juízos de valor é incorreta. A obra, assim como outras do período, reflete as contradições e os vieses do pensamento da época, mesclando a pretensão de objetividade com uma visão profundamente influenciada pelos valores e preconceitos do autor e de sua sociedade. O gabarito correto, nesse caso, é E) ERRADO.

O fragmento de texto apresentado destaca a influência do cientificismo e do determinismo no Realismo e no Naturalismo, correntes literárias que marcaram profundamente a produção artística do século XIX. Como mencionado por Alfredo Bosi, a mentalidade cientificista do período levou a uma ruptura com a visão idealizada da natureza presente no Romantismo, substituindo-a por uma abordagem mais objetiva e, por vezes, sombria da realidade. Essa mudança reflete-se tanto na escolha dos cenários urbanos quanto na forma como as personagens são construídas, muitas vezes vítimas de um destino implacável, moldado por forças sociais e biológicas.

No contexto brasileiro, o Naturalismo encontrou um de seus maiores expoentes em Aluísio Azevedo, cuja obra O Cortiço exemplifica claramente as características citadas. O romance retrata a vida nos cortiços do Rio de Janeiro sob uma ótica determinista, em que os personagens são influenciados pelo meio, pela hereditariedade e pelas condições sociais, reforçando a ideia de que o ser humano está sujeito a leis naturais e sociais inescapáveis. Dessa forma, o cientificismo e o determinismo são, de fato, pilares fundamentais do Naturalismo, corroborando a afirmação presente no item.

Portanto, considerando tanto o texto de Bosi quanto as disposições da BNCC para o ensino fundamental, que enfatizam a importância de compreender as escolas literárias em seu contexto histórico e filosófico, é correto afirmar que o cientificismo e o determinismo são características centrais do Naturalismo, sendo O Cortiço um exemplo paradigmático dessa corrente no Brasil. Assim, o gabarito indicado como correto (C) está de acordo com a análise proposta.

O movimento tropicalista, assim como o Modernismo brasileiro, surgiu em contextos históricos distintos, mas ambos representaram rupturas estéticas e culturais em suas épocas. No entanto, a afirmação de que tanto o Modernismo quanto o Tropicalismo aderiram às políticas de Estado para a cultura e o desenvolvimento nacional é equivocada, especialmente no caso do Tropicalismo.

O Modernismo, na década de 1920, teve um caráter mais assimilado pelo discurso nacionalista, ainda que crítico, em busca de uma identidade cultural brasileira. Já o Tropicalismo, nos anos 1960, emergiu como uma resposta à rigidez do nacionalismo cultural defendido tanto pela esquerda tradicional quanto pelo regime militar. A canção Tropicália, de Caetano Veloso, exemplifica essa postura ao misturar referências internacionais (como o rock) com elementos locais, desafiando as noções puristas de cultura nacional.

Os versos apresentados — "Eu organizo o movimento / Eu oriento o carnaval / Eu inauguro um monumento no planalto central do país" — podem ser lidos como uma ironia ao discurso desenvolvimentista e ufanista do governo militar, e não como uma adesão. A Tropicália, portanto, não se alinhou às políticas oficiais, mas as subverteu através de uma estética híbrida e crítica.

Assim, a afirmação está errada, pois o Tropicalismo não endossou as políticas culturais do Estado, mas as questionou através de sua linguagem inovadora e transgressora.

O nacionalismo como tema literário no Brasil não surgiu pela primeira vez no final do século XIX com Machado de Assis, como sugere a afirmação a ser julgada. Embora Machado tenha feito uma crítica aguda à sociedade brasileira em obras como Memórias Póstumas de Brás Cubas, o nacionalismo já se manifestava na literatura brasileira desde o Romantismo, no início do século XIX. Autores como Gonçalves Dias e José de Alencar, por exemplo, exploraram temas nacionalistas em suas obras, exaltando a natureza brasileira e construindo uma identidade nacional literária.

O Tropicalismo, por sua vez, estabeleceu uma relação complexa com o nacionalismo na década de 1960, como evidenciado nos textos apresentados. Enquanto o Modernismo da Semana de 22 propunha uma assimilação crítica das vanguardas europeias para criar uma arte genuinamente brasileira, o Tropicalismo radicalizou essa abordagem ao incorporar elementos da cultura pop internacional, como o rock e a guitarra elétrica, sem abandonar as raízes culturais locais. A pronúncia nordestina de Caetano Veloso ao cantar em inglês, mencionada por Roberto Schwarz, exemplifica essa síntese peculiar que caracterizou o movimento.

A letra da canção Tropicália de Caetano Veloso ilustra essa ambiguidade ao mesmo tempo em que faz referência a elementos nacionais ("chapadões", "planalto central"), utiliza uma estrutura poética que dialoga com a tradição modernista. O movimento tropicalista, portanto, não rejeitou o nacionalismo, mas o reinterpretou de maneira crítica e inovadora, incorporando influências estrangeiras de forma consciente e criativa.

Assim, a afirmação de que o nacionalismo surgiu como tema literário apenas no final do século XIX com Machado de Assis está incorreta, pois desconsidera toda uma tradição literária anterior que já trabalhava com questões nacionalistas. O gabarito correto é, portanto, E) ERRADO.

Assinale a alternativa que contempla o nome do escritor brasileiro e um dos principais representantes do naturalismo do Brasil, que nasceu na cidade de Aracati – CE.

• A) João Guimarães Rosa.
• B) Adolfo Caminha.
• C) José de Alencar.
• D) Euclides da Cunha.

O gabarito correto é B) Adolfo Caminha.

A educação pela pedra e o Modernismo brasileiro

O poema A educação pela pedra, de João Cabral de Melo Neto, publicado em 1966, apresenta características marcantes da Terceira Fase do Modernismo brasileiro. Esta fase, que se estende aproximadamente de 1945 a 1968, é conhecida por sua linguagem mais objetiva e pelo desenvolvimento de uma poesia reflexiva e metalinguística.

No poema em questão, observamos traços fundamentais dessa produção literária:

• Economia vocabular e precisão linguística
• Abordagem reflexiva sobre o fazer poético
• Fusão entre forma e conteúdo
• Preocupação com a materialidade da linguagem
• Racionalismo e objetividade

A obra se afasta claramente das propostas surrealistas (A) e simbolistas (B), que privilegiavam respectivamente o inconsciente e a sugestão poética. Também não se enquadra na Primeira Fase modernista (D), marcada pelo experimentalismo e pela ruptura violenta com tradições. O naturalismo (E), por sua vez, é uma corrente distante da produção cabralina.

A classificação correta como Modernismo - Terceira Fase (C) se justifica pela construção lapidar do poema, seu caráter metapoético e pela forma como transforma a pedra em objeto de reflexão estética e existencial, características centrais dessa fase do movimento modernista no Brasil.

No ensaio "Literatura e sociedade: estudos de teoria e história literária", Antônio Candido utiliza um episódio envolvendo Aluísio de Azevedo para discutir a relação entre arte e realidade. O escritor, conhecido por introduzir o naturalismo na literatura brasileira, consultou o médico Fernandes Figueira sobre os efeitos do envenenamento por estricnina durante a composição de "O homem". No entanto, apesar de buscar informações científicas, Azevedo optou por alterar os dados, atribuindo ao veneno uma ação mais rápida e dramática para atender às necessidades de sua narrativa.

Esse exemplo ilustra a complexa dinâmica entre representação artística e realidade. Candido demonstra que, mesmo em movimentos literários que prezam pela fidelidade ao real, como o naturalismo, a arte não se limita a reproduzir mecanicamente os fatos. O trabalho criativo estabelece uma relação transformadora com o mundo, modificando aspectos da realidade em função de exigências estéticas e narrativas.

A alternativa correta (C) aponta justamente para essa característica fundamental da produção artística: "Existe uma relação arbitrária e deformante estabelecida pelo trabalho artístico com a realidade". A arte não copia passivamente o real, mas o reelabora através de escolhas conscientes do artista, que podem incluir distorções e adaptações em função de seus objetivos criativos.

O episódio relatado por Candido revela como a literatura, mesmo quando pretende ser fiel à realidade, acaba estabelecendo com ela uma relação mediada pela subjetividade e pelas necessidades da obra. Essa perspectiva nos ajuda a compreender que a produção literária não pode ser reduzida a uma simples reprodução do mundo exterior, mas constitui uma reconstrução ativa que segue suas próprias leis e finalidades.

O poema "Canção do Exílio", de Gonçalves Dias, é uma das obras mais emblemáticas da primeira fase do Romantismo brasileiro. Esse movimento literário, que se estende de 1836 a 1881, teve início com a publicação de "Suspiros Poéticos e Saudades", de Gonçalves de Magalhães, e foi marcado pelo nacionalismo, pela exaltação da natureza e pela busca de uma identidade cultural própria. O texto apresentado reforça essa característica ao idealizar a pátria, contrastando-a com o ambiente estrangeiro, numa clara manifestação de saudade e ufanismo.

A alternativa correta para preencher as lacunas do texto é a letra B), pois indica corretamente o período (Romantismo), a obra inaugural ("Suspiros Poéticos e Saudades"), seu autor (Gonçalves de Magalhães) e a obra que encerra esse ciclo ("Memórias Póstumas de Brás Cubas", de Machado de Assis). Essa transição marca o início do Realismo no Brasil, evidenciando a evolução da literatura nacional.

O poema de Gonçalves Dias, portanto, não apenas representa a essência do Romantismo brasileiro, mas também ilustra a importância desse movimento na construção de uma literatura autenticamente nacional, distanciando-se dos modelos europeus e valorizando os elementos locais.

O romance O cortiço, de Aluísio Azevedo, é frequentemente associado ao Naturalismo, movimento literário que busca retratar a realidade de forma objetiva e científica, enfatizando a influência do meio, da hereditariedade e dos instintos no comportamento humano. A afirmação de que Azevedo se afastou da visão naturalista em sua obra é equivocada, pois o autor manteve os princípios deterministas característicos desse estilo.

No livro, os personagens são profundamente marcados por suas condições sociais, raciais e ambientais, sendo moldados pelo cortiço em que vivem. A narrativa explora a animalização do ser humano, a luta pela sobrevivência e a degradação moral, elementos típicos do Naturalismo. Portanto, longe de abandonar essa perspectiva, Azevedo a utiliza para compor um retrato crítico da sociedade brasileira do século XIX.

Dessa forma, a alternativa correta é E) ERRADO, já que O cortiço não se distancia do Naturalismo, mas, pelo contrário, consolida-se como uma das obras mais representativas desse movimento no Brasil.

O Romantismo no Brasil foi um movimento literário que buscou estabelecer uma identidade nacional, distanciando-se das influências europeias e valorizando elementos locais. No entanto, a afirmação de que a cor local nas obras românticas expressava um esforço para criar uma literatura original sem recorrer ao pitoresco ou incluir figuras marginalizadas, como indígenas e negros, está incorreta.

Na realidade, o Romantismo brasileiro muitas vezes idealizou essas figuras, incorporando-as de maneira estereotipada e pitoresca, como símbolos de uma "brasilidade" romantizada. Autores como José de Alencar, por exemplo, retrataram o indígena de forma nobre, mas distante da realidade social da época, enquanto personagens negros raramente ocupavam papéis centrais ou eram representados com profundidade.

Além disso, a busca pela originalidade não excluiu o uso de elementos pitorescos, que eram justamente um recurso para destacar a diferença em relação à literatura europeia. Portanto, a afirmação contém imprecisões históricas e teóricas, tornando a alternativa E) a correta.