Questões Sobre Naturalismo - Literatura - concurso

A distinção entre Realismo e Naturalismo muitas vezes se apresenta de forma sutil, exceto em obras onde as características naturalistas são exageradas. Analisando as afirmações propostas, podemos identificar as diferenças fundamentais entre essas duas correntes literárias.

A primeira afirmação, que atribui aos naturalistas a ênfase na hereditariedade física e psicológica como determinante do comportamento das personagens, é verdadeira (V). O Naturalismo, influenciado pelas teorias científicas da época, como o determinismo de Taine, frequentemente retrata o ser humano como produto de sua carga hereditária.

A segunda afirmação, que descreve a personagem naturalista como reduzida a quase nada, aproximando-se do comportamento animal, também é verdadeira (V). O Naturalismo tende a enfatizar os aspectos mais primitivos e animalescos da natureza humana, muitas vezes retratando personagens dominadas por instintos básicos.

A terceira afirmação, que atribui aos personagens realistas uma ênfase na satisfação de necessidades instintivas, é falsa (F). Embora o Realismo busque retratar a realidade de forma objetiva, ele não reduz o ser humano a seus impulsos básicos como faz o Naturalismo, mantendo uma visão mais equilibrada da natureza humana.

A quarta afirmação, que descreve o desequilíbrio das personagens realistas como resultado da combinação de herança biológica e ambiente, é falsa (F). Essa descrição é mais característica do Naturalismo, enquanto o Realismo tende a focar mais nas influências sociais e psicológicas sem o determinismo biológico exacerbado.

Portanto, a sequência correta é B) V, V, F, F, que reflete adequadamente as diferenças entre essas duas importantes correntes literárias do século XIX.

O contexto sócio-histórico do Realismo e do Naturalismo na segunda metade do século XIX reflete um período de transformações profundas, tanto na Europa quanto no Brasil. Analisando as afirmações apresentadas, é possível identificar que as opções II, III e IV correspondem corretamente às características desse movimento literário e de seu cenário histórico.

A afirmação I, que associa o Realismo diretamente à Revolução Francesa, não é totalmente precisa. Embora a Revolução Francesa tenha tido impacto nas estruturas sociais e econômicas, o Realismo surge mais fortemente vinculado às consequências da Revolução Industrial e ao avanço do pensamento científico no século XIX. Portanto, essa alternativa não está correta.

Já a afirmação II descreve com exatidão o cenário social da época, marcado pela industrialização e pela divisão entre burguesia e proletariado. Os romances realistas e naturalistas frequentemente denunciavam a hipocrisia da elite burguesa e a exploração dos trabalhadores, tornando essa alternativa válida.

A afirmação III também está correta, pois os escritores realistas buscavam retratar a realidade de forma objetiva, incluindo as condições materiais e econômicas da sociedade. A abordagem das necessidades humanas básicas e das relações de trabalho era uma característica marcante dessa estética literária.

Por fim, a afirmação IV descreve com precisão as mudanças ocorridas no Brasil durante o mesmo período, como o fim do tráfico de escravos, a chegada de imigrantes, o avanço tecnológico e as tensões políticas e religiosas. Esses fatores influenciaram diretamente a produção literária brasileira, consolidando o Realismo e o Naturalismo no país.

Dessa forma, a alternativa correta é a C) II, III e IV, pois essas afirmações representam adequadamente o contexto sócio-histórico do Realismo e do Naturalismo no século XIX.

O estudo das escolas literárias brasileiras revela características distintas em cada movimento, refletindo os contextos históricos e sociais de suas épocas. Ao analisar as opções apresentadas, é possível identificar qual afirmação está incorreta sobre essas escolas.

A alternativa A) descreve corretamente o Realismo, movimento que de fato se concentrou na análise psicológica das personagens e na crítica à sociedade burguesa do século XIX, expondo suas contradições e hipocrisias. Autores como Machado de Assis são exemplos dessa abordagem.

A opção B) também está correta ao relacionar o Naturalismo com o Determinismo filosófico de Hippolyte Taine. O Naturalismo, como visto em obras de Aluísio Azevedo, enfatizava como o meio social e a hereditariedade moldavam o comportamento humano, muitas vezes de forma cruel e impiedosa.

A alternativa D) igualmente apresenta uma característica verdadeira do Naturalismo brasileiro, que explorou personagens marginalizadas, com perfis psicológicos complexos e muitas vezes patológicos, como evidenciado em obras como "O Cortiço".

Já a opção C), que é a incorreta, confunde características do Naturalismo com o Romantismo. As personagens românticas eram idealizadas, representando valores nobres ou sentimentos exacerbados, e não as camadas marginalizadas da sociedade. Quem de fato retratou prostitutas, moradores de cortiços e tipos humanos em conflito com a burguesia foi o Naturalismo, não o Romantismo.

Portanto, a resposta correta é C), pois atribui ao Romantismo características que são próprias do Naturalismo, demonstrando uma compreensão equivocada desses movimentos literários.

O Naturalismo brasileiro, movimento literário que se desenvolveu no final do século XIX, trouxe à tona temas polêmicos e uma abordagem científica da sociedade, explorando questões como sexualidade, determinismo social e racial. Analisando as afirmações sobre as obras dos principais autores desse período, podemos identificar a sequência correta de respostas.

A primeira afirmação sobre A carne, de Júlio Ribeiro, é verdadeira (V). A obra retrata a tensão entre a intelectualidade e os impulsos carnais na personagem Lenita, refletindo o conflito entre razão e instinto, típico do Naturalismo.

A segunda afirmação, referente a Bom-crioulo, de Adolfo Caminha, também é verdadeira (V). O romance aborda abertamente um relacionamento homossexual entre Amaro, um ex-escravo, e Aleixo, um marinheiro branco, tema ousado para a época.

A terceira afirmação sobre O Ateneu, de Raul Pompéia, é falsa (F). Embora a obra critique a sociedade e as instituições, o personagem Sérgio não é negro, e o preconceito retratado está mais ligado ao ambiente opressivo do colégio do que a questões raciais.

Por fim, a quarta afirmação, sobre O mulato, de Aluísio Azevedo, é falsa (F). O casal interracial formado por Raimundo e Ana Rosa enfrenta forte rejeição da sociedade maranhense, evidenciando o racismo e os preconceitos da época.

Portanto, a sequência correta é B) V – V – F – F, conforme o gabarito indicado.

Análise da representação social no Realismo e Naturalismo

Os textos I e II, extraídos de obras representativas do Realismo e do Naturalismo no Brasil, revelam abordagens distintas na representação da vida social. Enquanto Machado de Assis, em Memórias Póstumas de Brás Cubas, explora a psicologia dos personagens e suas relações afetivas, Aluísio Azevedo, em O Cortiço, adota uma perspectiva mais determinista, enfatizando a influência do meio sobre os indivíduos.

A opção correta, B), destaca que em O Cortiço o determinismo impede os personagens de superar seu destino social e econômico, condicionado pelo ambiente em que vivem. Essa característica é típica do Naturalismo, que busca explicar o comportamento humano através de fatores biológicos, sociais e ambientais. No trecho apresentado, a relação entre Jerônimo e Rita é marcada por impulsos animais e influências mesológicas, reforçando a ideia de que os personagens são vítimas de forças além de seu controle.

Em contraste, o texto de Machado de Assis, embora também crítico da sociedade, foca na subjetividade dos personagens e em suas escolhas individuais, como se observa no diálogo entre Brás Cubas e Virgília. A obra realista não se limita à descrição de ambientes, mas aprofunda-se na análise psicológica, sem perder de vista a crítica social. Portanto, a alternativa B) é a que melhor sintetiza a diferença entre as duas correntes literárias, destacando o determinismo como elemento central da representação naturalista.

A análise comparativa entre os textos de Machado de Assis e Aluísio Azevedo revela diferenças marcantes entre as abordagens realista e naturalista na literatura brasileira. Enquanto o primeiro retrata Virgília com nuances psicológicas e humanizadas, o segundo apresenta Rita sob uma perspectiva zoomorfizada, característica do naturalismo.

No Texto I, extraído de Memórias Póstumas de Brás Cubas, Machado de Assis constrói uma descrição de Virgília que mescla elementos físicos e psicológicos. A personagem é comparada a estátuas clássicas ("talhadas em pentélico"), mas imediatamente humanizada pelo narrador, que ressalta seu calor e expressividade ("não apática nem fria"). A complexidade emocional da cena - com o diálogo sobre a fuga - reforça essa caracterização multidimensional típica do realismo.

Já no Texto II, de O Cortiço, Aluísio Azevedo emprega uma linguagem naturalista ao descrever Rita. A personagem é reduzida a seus instintos e características animais: "sangue da mestiça", "macho de raça superior", "lascívias de macaco". Essa zoomorfização é típica do naturalismo, que via o ser humano como produto do meio e da hereditariedade, enfatizando seus aspectos biológicos e primitivos.

A diferença fundamental reside, portanto, na forma de caracterização das personagens femininas: humanizada e psicológica em Machado (realismo), animalizada e instintiva em Azevedo (naturalismo). Essa distinção exemplifica como as duas correntes literárias, embora contemporâneas, adotaram perspectivas radicalmente diferentes sobre a natureza humana e suas motivações.

O mulato

Ana Rosa cresceu; aprendera de cor a gramática do Sotero dos Reis; lera alguma coisa; sabia rudimentos de francês e tocava modinhas sentimentais ao violão e ao piano. Não era estúpida; tinha a intuição perfeita da virtude, um modo bonito, e por vezes lamentara não ser mais instruída. Conhecia muitos trabalhos de agulha; bordava como poucas, e dispunha de uma gargantazinha de contralto que fazia gosto de ouvir.

Uma só palavra boiava à superfície dos seus pensamentos: “Mulato”. E crescia, crescia, transformando-se em tenebrosa nuvem, que escondia todo o seu passado. Ideia parasita, que estrangulava todas as outras ideias.

— Mulato!

Esta só palavra explicava-lhe agora todos os mesquinhos escrúpulos, que a sociedade do Maranhão usara para com ele. Explicava tudo: a frieza de certas famílias a quem visitara; as reticências dos que lhe falavam de seus antepassados; a reserva e a cautela dos que, em sua presença, discutiam questões de raça e de sangue.

AZEVEDO, A. O Mulato. São Paulo: Ática, 1996 (fragmento)

O texto de Aluísio Azevedo é representativo do Naturalismo, vigente no final do século XIX. Nesse fragmento, o narrador expressa fidelidade ao discurso naturalista, pois

• A) relaciona a posição social a padrões de comportamento e à condição de raça.
• B) apresenta os homens e as mulheres melhores do que eram no século XIX.
• C) mostra a pouca cultura feminina e a distribuição de saberes entre homens e mulheres.
• D) ilustra os diferentes modos que um indivíduo tinha de ascender socialmente.
• E) critica a educação oferecida às mulheres e os maus-tratos dispensados aos negros.

O gabarito correto é A).

A Representação do Marginalizado no Naturalismo de "O Cortiço"

O trecho de O cortiço, de Aluísio Azevedo, exemplifica a essência da escola naturalista no Brasil, que busca retratar a realidade de forma crua e objetiva, com ênfase nos aspectos mais brutais da condição humana. O cortiço, como espaço central da narrativa, não é apenas um cenário, mas um organismo vivo que pulsa e se transforma junto com seus habitantes. A descrição do despertar coletivo, com seu barulho caótico e vitalidade quase animal, revela o protagonismo dos marginalizados, que vivem à margem da sociedade.

A linguagem utilizada pelo autor é carregada de imagens sensoriais, como o "zunzum" das vozes e a "lama preta e nutriente da vida", que reforçam a ideia de uma existência marcada pela luta e pela sobrevivência. Os personagens não são heróis ou figuras lendárias, mas pessoas comuns, muitas vezes brutais, que expressam seus desejos e frustrações de maneira direta e visceral. Essa abordagem é típica do naturalismo, que busca desvendar as forças biológicas e sociais que determinam o comportamento humano.

A opção correta, portanto, é a E) marginalizados ou pobres, pois o naturalismo brasileiro, seguindo a tendência inaugurada por Aluísio Azevedo, eleva os excluídos sociais ao centro da narrativa, mostrando suas vidas com todas as contradições e complexidades. Ao fazer isso, o autor não apenas denuncia as desigualdades, mas também humaniza aqueles que muitas vezes são invisibilizados pela literatura tradicional.

O trecho de O cortiço, de Aluísio Azevedo, exemplifica o naturalismo literário ao empregar elementos da natureza como metáfora para descrever a dinâmica social. A obra retrata o despertar do cortiço de forma vívida, comparando-o a um organismo vivo e pulsante, onde a agitação humana é equiparada à "fermentação sanguínea" e ao crescimento de "plantas rasteiras". Essa abordagem revela a influência do determinismo ambiental, típico do naturalismo, que enxerga o homem como produto do meio em que vive.

A alternativa correta (E) destaca justamente essa característica central: a utilização de fenômenos naturais para representar a sociedade. Azevedo não apenas descreve o espaço, mas o anima com imagens orgânicas – a lama "negra e nutriente", o "prazer animal de existir" – que reforçam a visão de que os moradores do cortiço são regidos por instintos e condições materiais, tal como seres em um ecossistema. Essa técnica afasta-se tanto do subjetivismo (D) quanto da idealização (B), priorizando uma análise quase científica da realidade.

O excerto também refuta o nacionalismo romântico (A), pois sua natureza descritiva não exalta a paisagem, mas a vincula à degradação. Embora haja contrastes no cortiço, como a alegria e a pobreza, eles não configuram antíteses sistemáticas (C), e sim uma representação crua da sobrevivência. Assim, a opção E consolida-se como a que melhor capta o princípio naturalista: a sociedade humana decifrada através das lentes da natureza em seu estado bruto.

O trecho de Émile Zola, extraído de O romance experimental, explicita os fundamentos da corrente literária naturalista, conforme indicado pela alternativa correta (C). Zola defende uma abordagem científica da literatura, comparando o trabalho do romancista ao do cientista: assim como o físico, o químico e o fisiólogo investigam leis naturais por meio da experimentação, o escritor naturalista deve aplicar o método experimental ao estudo do ser humano, suas paixões e seu contexto social.

A ênfase no determinismo — a ideia de que fatores biológicos, históricos e ambientais determinam o comportamento — revela a influência das teorias científicas do século XIX, como o evolucionismo de Darwin e o positivismo de Comte, no naturalismo. Essa corrente opõe-se ao idealismo romântico (D) e ao subjetivismo simbolista (A), privilegiando a observação metódica e a representação crua da realidade, inclusive em seus aspectos mais brutais ou patológicos. A menção à substituição dos "romances de pura imaginação" por obras baseadas na experimentação reforça o caráter antirromântico e materialista do movimento.

As demais alternativas são incompatíveis com o excerto: o Arcadismo (B) cultua a simplicidade pastoral e a razão neoclássica, enquanto o Barroco (E) explora o conflito espiritual e a linguagem ornamentada. Zola, ao propor uma literatura que "continua o trabalho do fisiólogo", consolida o Naturalismo como expressão artística da ciência em sua era.