Questões Sobre Naturalismo - Literatura - concurso
Questão 71
Jerônimo disputam a atenção da mulata Rita Baiana.
crepúsculo; e o samba rompeu mais forte e mais cedo que de costume, incitado pela grande
animação que havia em casa do Miranda.
divina! Nunca dançara com tanta graça e tamanha lubricidade!
pomba no cio. E o Firmo, bêbedo de volúpia, enroscava-se todo ao violão; e o violão e ele gemiam
com o mesmo gosto, grunhindo, ganindo, miando, com todas as vozes de bichos sensuais, num
desespero de luxúria que penetrava até ao tutano como línguas finíssimas de cobra.
assentando-se ao lado dele, o português segredou-lhe com a voz estrangulada de paixão:
um coco com um murro: era a força tranquila, o pulso de chumbo. O outro – franzino, um
palmo mais baixo que o português, pernas e braços secos, agilidade de maracajá: era a força
nervosa; era o arrebatamento que tudo desbarata no sobressalto do primeiro instante. Um, sólido
e resistente; o outro, ligeiro e destemido, mas ambos corajosos.”
vozes de bichos sensuais”, vemos um exemplo de animalização. Há uma busca pela interpretação
objetiva do comportamento dos personagens e pela ruptura com uma forma idealizada de
enxergar a vida.
exemplo de sensação auditiva proporcionada pelo texto.
narrativa lenta, uma das características no Naturalismo.
- A)I e III estão corretas.
- B)Apenas II está correta.
- C)I, II e III estão corretas.
- D)Apenas III está correta.
- E)II e III estão corretas.
A alternativa correta é A)
O trecho de O cortiço, de Aluísio Azevedo, apresenta elementos marcantes do Naturalismo, movimento literário que busca retratar o ser humano de forma objetiva, destacando seus instintos e influências do meio. A análise das afirmações sobre o texto revela aspectos fundamentais dessa escola literária.
A afirmação I está correta, pois a animalização dos personagens, como na descrição de Firmo e do violão emitindo sons que remetem a bichos sensuais, é uma característica naturalista. Essa técnica busca desidealizar o comportamento humano, mostrando-o guiado por impulsos primitivos, em ruptura com visões românticas.
A afirmação II está incorreta, já que a passagem citada não evoca uma sensação auditiva, mas sim visual e física, ao descrever Jerônimo com traços robustos e compará-lo a um touro e a Hércules. O texto não explora sons nesse trecho.
A afirmação III está correta, pois o Naturalismo se caracteriza por descrições minuciosas, que tornam a narrativa mais densa e lenta. O autor detalha tanto os personagens quanto a cena do samba, criando um ritmo mais pausado, típico do estilo.
Portanto, apenas as afirmações I e III estão corretas, correspondendo à alternativa A) do gabarito.
Questão 72
mas apenas uma opção está INCORRETA. Indique-a:
- A)O romance O Cortiço, obra-prima do naturalismo brasileiro, tem como epígrafe “A verdade, somente a verdade, nada mais que a verdade” e está ancorada na observação do mundo físico e na teoria determinista.
- B)Os dados da realidade concreta são captados por diferentes canais sensoriais que permitem uma minuciosa caracterização do ambiente, das pessoas e de seus modos de vida.
- C)A personificação do espaço coletivo e a zoomorfização das personagens são estratégias empregas na narrativa com o objetivo de enfatizar a degradação do cortiço e das relações sociais ali construídas.
- D)A obra é narrada em primeira pessoa e, apesar da predominância da diacronia temporal, vez ou outra há inserção de alguns flashbacks.
- E)O autor sofreu influência de Émile Zola, cuja qualidade é representar a realidade com rigor científico. Assim, traça um perfil da personagem João Romão, por exemplo, que o coloca como uma metonímia de todas as criaturas que imigram, sofrem e se perdem no sentido de apenas possuir.
A alternativa correta é D)
O romance O Cortiço, de Aluísio Azevedo, é uma das obras mais emblemáticas do naturalismo brasileiro, refletindo as influências científicas e deterministas da época. A análise das alternativas apresentadas revela que a opção D) está incorreta, pois a narrativa não é conduzida em primeira pessoa, mas sim em terceira pessoa, com um narrador onisciente que descreve de forma objetiva e detalhista o ambiente e as personagens.
A alternativa A) está correta ao destacar a epígrafe e a base determinista da obra, que busca retratar a realidade de forma crua e científica. Já a alternativa B) também está correta, pois o autor utiliza descrições sensoriais minuciosas para imergir o leitor no universo do cortiço, reforçando a atmosfera naturalista.
A C) aponta corretamente as estratégias narrativas de personificação do espaço e zoomorfização das personagens, técnicas que evidenciam a degradação humana e social. Por fim, a alternativa E) está correta ao mencionar a influência de Émile Zola e a representação metonímica de João Romão, simbolizando a ambição desmedida e a desumanização causada pelo capitalismo.
Portanto, a única afirmação incorreta é a D), que erroneamente atribui uma narração em primeira pessoa e flashbacks frequentes à estrutura da obra, elementos que não condizem com o estilo naturalista adotado por Aluísio Azevedo.
Questão 73
Em uma outra casinha do cortiço acabava de estalar uma nova sobremesa,
engrossando o barulho geral: era o jantar de um grupo de italianos mascates, onde o
Delporto, o Pompeo, o Francesco e o Andrea representavam as principais figuras.
Todos eles cantavam em coro, mais afinados que nas outras duas casas; quase,
porém, que se lhes não podia ouvir as vozes, tantas e tão estrondosas eram as
pragas que soltavam ao mesmo tempo. De quando em quando, de entre o grosso e
macho vozear dos homens, esguichava um falsete feminino, tão estridente que
provocava réplica aos papagaios e aos perus da vizinhança. E, daqui e dali, iam
rebentando novas algazarras em grupos formados cá e lá pela estalagem. Havia nos
operários e nos trabalhadores decidida disposição para pandegar, para aproveitar
bem, até ao fim, aquele dia de folga. A casa de pasto fermentava revolucionada,
como um estômago de bêbado depois de grande bródio, e arrotava sobre o pátio
uma baforada quente e ruidosa que entontecia.
Aluísio Azevedo, O cortiço.
Para dar ideia, de maneira mais precisa, da agitação da cena descrita, o
narrador se vale do uso reiterado de verbos que expressam
______________________ da ação e de adjetivos de significação
____________________.
As lacunas dessa frase podem ser corretamente preenchidas pelas palavras
- A)simultaneidade; intensificada.
- B)anterioridade; objetiva.
- C)posterioridade; subjetiva.
- D)intermitência; conotativa.
- E)descontinuidade; denotativa.
A alternativa correta é A)
O trecho de O cortiço, de Aluísio Azevedo, retrata uma cena de intensa agitação e barulho em um cortiço, onde diferentes grupos de moradores celebram com algazarra. O narrador emprega uma linguagem dinâmica e expressiva para transmitir o caos e a energia da situação, utilizando verbos e adjetivos que reforçam a sensação de movimento e intensidade.
Para descrever a agitação da cena, o autor recorre a verbos que sugerem simultaneidade da ação, como "estalar", "engrossar", "cantar", "soltar" e "rebentar", que ocorrem ao mesmo tempo, criando uma atmosfera de frenesi. Além disso, os adjetivos utilizados possuem uma significação intensificada, como "estrondosas", "estridente", "revolucionada" e "ruidosa", amplificando a percepção do leitor sobre o ambiente caótico e barulhento.
Assim, a alternativa correta para preencher as lacunas do enunciado é a letra A) simultaneidade; intensificada, pois os verbos destacam ações que acontecem em conjunto, enquanto os adjetivos reforçam a carga expressiva da descrição, intensificando a sensação de desordem e euforia.
Questão 74
Em uma outra casinha do cortiço acabava de estalar uma nova sobremesa,
engrossando o barulho geral: era o jantar de um grupo de italianos mascates, onde o
Delporto, o Pompeo, o Francesco e o Andrea representavam as principais figuras.
Todos eles cantavam em coro, mais afinados que nas outras duas casas; quase,
porém, que se lhes não podia ouvir as vozes, tantas e tão estrondosas eram as
pragas que soltavam ao mesmo tempo. De quando em quando, de entre o grosso e
macho vozear dos homens, esguichava um falsete feminino, tão estridente que
provocava réplica aos papagaios e aos perus da vizinhança. E, daqui e dali, iam
rebentando novas algazarras em grupos formados cá e lá pela estalagem. Havia nos
operários e nos trabalhadores decidida disposição para pandegar, para aproveitar
bem, até ao fim, aquele dia de folga. A casa de pasto fermentava revolucionada,
como um estômago de bêbado depois de grande bródio, e arrotava sobre o pátio
uma baforada quente e ruidosa que entontecia.
Aluísio Azevedo, O cortiço.
A crítica literária costuma observar que, em O cortiço, considerado como um
todo, ocorre uma espécie de ampla personificação, na medida em que,
convertido em um único ente, o próprio cortiço figurado na obra seria sua
personagem principal. Esse mesmo processo de personificação ocorre, em
escala menor, no seguinte trecho do texto:
- A)“Em uma outra casinha do cortiço acabava de estalar uma nova sobremesa, engrossando o barulho geral (...).”
- B)“Todos eles cantavam em coro, mais afinados que nas outras duas casas; quase, porém, que se lhes não podia ouvir as vozes, tantas e tão estrondosas eram as pragas que soltavam ao mesmo tempo.”
- C)“De quando em quando, de entre o grosso e macho vozear dos homens, esguichava um falsete feminino, tão estridente que provocava réplica aos papagaios e aos perus da vizinhança.”
- D)“E, daqui e dali, iam rebentando novas algazarras em grupos formados cá e lá pela estalagem.”
- E)“A casa de pasto fermentava revolucionada, como um estômago de bêbado depois de grande bródio, e arrotava sobre o pátio uma baforada quente e ruidosa que entontecia.”
A alternativa correta é E)
No trecho de O Cortiço, de Aluísio Azevedo, a personificação do espaço é um recurso literário marcante, evidenciando como o cortiço, enquanto ambiente, assume características humanas e se torna um organismo vivo e pulsante. A alternativa E) destaca esse processo ao descrever a "casa de pasto" como algo que "fermentava revolucionada" e "arrotava" uma "baforada quente e ruidosa". Essa linguagem atribui ações e sensações tipicamente humanas ao local, reforçando a ideia de que o cortiço é um personagem central na narrativa.
O uso de metáforas como "fermentava" e "arrotava" sugere uma digestão caótica, comparando o ambiente ao estômago de um bêbado após um excesso. Essa imagem não só intensifica a atmosfera de desordem e ebulição social, mas também reforça a tese de que o cortiço, como um todo, age e reage como um ser coletivo. A personificação em escala menor, nesse trecho, reflete a dinâmica do próprio romance, onde o espaço determina e é determinado pelos moradores, criando uma simbiose entre ambiente e personagens.
As demais alternativas, embora retratem a agitação do cortiço, não alcançam o mesmo nível de personificação. Elas descrevem ações humanas isoladas ou efeitos sonoros, mas não atribuem vida orgânica ao espaço. Portanto, a alternativa E) é a que melhor exemplifica o processo de personificação em menor escala, alinhando-se à crítica literária que vê no cortiço a verdadeira protagonista da obra.
Questão 75
Em uma outra casinha do cortiço acabava de estalar uma nova sobremesa,
engrossando o barulho geral: era o jantar de um grupo de italianos mascates, onde o
Delporto, o Pompeo, o Francesco e o Andrea representavam as principais figuras.
Todos eles cantavam em coro, mais afinados que nas outras duas casas; quase,
porém, que se lhes não podia ouvir as vozes, tantas e tão estrondosas eram as
pragas que soltavam ao mesmo tempo. De quando em quando, de entre o grosso e
macho vozear dos homens, esguichava um falsete feminino, tão estridente que
provocava réplica aos papagaios e aos perus da vizinhança. E, daqui e dali, iam
rebentando novas algazarras em grupos formados cá e lá pela estalagem. Havia nos
operários e nos trabalhadores decidida disposição para pandegar, para aproveitar
bem, até ao fim, aquele dia de folga. A casa de pasto fermentava revolucionada,
como um estômago de bêbado depois de grande bródio, e arrotava sobre o pátio
uma baforada quente e ruidosa que entontecia.
Aluísio Azevedo, O cortiço.
percepção dos sentidos (no caso, sobretudo o da audição), constitui
- A)resquício romântico, de ocorrência frequente nas obras de Aluísio Azevedo.
- B)testemunho da influência da música na literatura do séc. XIX.
- C)antecipação da estética do Modernismo.
- D)marca de seu pertencimento ao Naturalismo literário.
- E)vestígio do período parnasiano do autor.
A alternativa correta é D)
O trecho de O cortiço, de Aluísio Azevedo, apresenta uma descrição vívida e intensa da vida em um cortiço, destacando a agitação e os ruídos característicos desse ambiente. A riqueza de detalhes sensoriais, especialmente auditivos, como os cantos, pragas e algazarras, revela uma preocupação do autor em captar a realidade de forma objetiva e quase científica, traço marcante do Naturalismo literário.
O Naturalismo, corrente literária da qual Aluísio Azevedo é um dos principais representantes no Brasil, busca retratar o ser humano e a sociedade sob uma perspectiva determinista, influenciada por fatores como o meio social e as condições biológicas. A descrição minuciosa dos sons e da atmosfera caótica do cortiço não só imerge o leitor na cena, mas também reforça a ideia de que os personagens são produtos de seu ambiente, dominados por instintos e paixões.
Embora outras correntes literárias também explorem a percepção sensorial, como o Romantismo (com seu subjetivismo) ou o Modernismo (com sua fragmentação), a abordagem de Azevedo está alinhada ao Naturalismo. A ênfase na observação detalhada e na representação crua da realidade, sem idealizações, é uma característica central dessa escola. Portanto, a alternativa correta é D) marca de seu pertencimento ao Naturalismo literário, pois o texto exemplifica a técnica naturalista de descrever o ambiente e os personagens de forma realista e determinista.
Questão 76
A respeito do narrador do romance Bom-Crioulo, de Adolfo Caminha, assinale a alternativa correta.
- A)O narrador naturalista descreve com objetividade e riqueza de detalhes o cenário em que se ambienta o romance, como se observa neste trecho: “A lua, surgindo lenta e lenta, cor de fogo, a princípio, depois fria e opalescente, misto de névoa e luz, alma e solidão, melancolizava o largo cenário das ondas, derramando sobre o mar essa luz meiga, essa luz ideal que penetra o coração do marinheiro, comunicando-lhe uma saudade infinita dos que navegam".
- B)O narrador descreve com minúcia o pensamento das personagens, desvendando seu refinado sistema de valores culturais, como se observa neste trecho: “Estimava Bom-Crioulo desde o dia em que ele, desinteressadamente, por um acaso providencial, livrou-a de morrer na ponta de uma faca, história de ladrões... [...]".
- C)O narrador evidencia a percepção sofisticada de Amaro, que fica nítida nas referências do marinheiro à cultura grega: “Aleixo surgia-lhe agora em plena e exuberante nudez, muito alvo, as formas roliças de calipígio ressaltando na meia sombra voluptuosa do aposento, na penumbra acariciadora daquele ignorado e impudico santuário de paixões inconfessáveis... Belo modelo de efebo que a Grécia de Vênus talvez imortalizasse em estrofes de ouro límpido e estátuas duma escultura sensual e pujante".
- D)O narrador deixa pistas da vingança planejada por Amaro contra Aleixo, como se pode perceber nas referências intertextuais a Otelo, o clássico do ciúme, lido pelo marinheiro nos seus momentos de ócio: “Aleixo era seu, pertencia-lhe de direito, como uma coisa inviolável. Daí também o ódio ao grumete, um ódio surdo, mastigado, brutal como as cóleras de Otelo".
- E)O narrador interpreta o conflito vivido pelo ex-escravo, justapondo uma percepção animalizante ao lado de outra, construída por meio de comparações artísticas: “Dentro do negro rugiam desejos de touro ao pressentir a fêmea... Todo ele vibrava, demorando-se na idolatria pagã daquela nudez sensual como um fetiche diante de um símbolo de ouro ou como um artista diante duma obra-prima".
A alternativa correta é E)
Análise do Narrador em Bom-Crioulo de Adolfo Caminha
O narrador de Bom-Crioulo, romance naturalista de Adolfo Caminha, apresenta características marcantes que refletem as tendências literárias da época. Entre as alternativas apresentadas, a opção E) é a que melhor captura a essência da narrativa, pois evidencia a dualidade presente na construção do protagonista, Amaro, também conhecido como Bom-Crioulo.
O trecho citado na alternativa E) ilustra a complexidade da narrativa, que oscila entre uma visão animalizante e outra estetizante. Por um lado, o narrador descreve os impulsos brutais de Amaro com imagens que remetem à força primitiva ("desejos de touro ao pressentir a fêmea"). Por outro, utiliza comparações artísticas ("idolatria pagã", "fetiche diante de um símbolo de ouro", "artista diante duma obra-prima"), conferindo-lhe uma dimensão quase mitológica. Essa justaposição revela o conflito interno do personagem, marcado por paixões intensas e uma sensibilidade incomum para um ex-escravo.
As demais alternativas, embora contenham elementos presentes no romance, não representam com tanta precisão o estilo do narrador. A alternativa A) descreve uma cena lírica, mas o naturalismo de Caminha não se limita a paisagens poéticas. A B) menciona um suposto "refinado sistema de valores culturais", algo que não é central na obra. A C) atribui a Amaro uma erudição que ele não possui, já que as referências à cultura grega partem do narrador, não do personagem. Já a D) sugere uma influência direta de Otelo, o que é questionável, pois as referências intertextuais são mais uma ferramenta do narrador do que uma motivação consciente do protagonista.
Portanto, a alternativa E) é a que melhor sintetiza a perspectiva narrativa de Bom-Crioulo, capturando a tensão entre o instinto e a arte, entre o corpo e o símbolo, que permeia toda a obra.
Questão 77
E Jerônimo via e escutava, sentindo ir-se-lhe toda a
alma pelos olhos enamorados.
Naquela mulata estava o grande mistério, a síntese
das impressões que ele recebeu chegando aqui: ela era a luz
ardente do meio-dia; ela era o calor vermelho das sestas da
fazenda; era o aroma quente dos trevos e das baunilhas,
que o atordoara nas matas brasileiras; era a palmeira
virginal e esquiva que se não torce a nenhuma outra planta;
era o veneno e era o açúcar gostoso; era o sapoti mais doce
que o mel e era a castanha do caju, que abre feridas com o
seu azeite de fogo; ela era a cobra verde e traiçoeira, a
lagarta viscosa, a muriçoca doida, que esvoaçava havia
muito tempo em torno do corpo dele, assanhando-lhe os
desejos, acordando-lhe as fibras embambecidas pela
saudade da terra, picando-lhe as artérias, para lhe cuspir
dentro do sangue uma centelha daquele amor setentrional,
uma nota daquela música feita de gemidos de prazer, uma
larva daquela nuvem de cantáridas que zumbiam em torno
da Rita Baiana e espalhavam-se pelo ar numa
fosforescência afrodisíaca.
Aluísio Azevedo, O cortiço.
O efeito expressivo do texto – bem como seu
pertencimento ao Naturalismo em literatura – baseiam-se
amplamente no procedimento de explorar de modo
intensivo aspectos biológicos da natureza. Entre esses
procedimentos empregados no texto, só NÃO se encontra a
- A)representação do homem como ser vivo em interação constante com o ambiente.
- B)exploração exaustiva dos receptores sensoriais humanos (audição, visão, olfação, gustação), bem como dos receptores mecânicos.
- C)figuração variada tanto de plantas quanto de animais, inclusive observados em sua interação.
- D)ênfase em processos naturais ligados à reprodução humana e à metamorfose em animais.
- E)focalização dos processos de seleção natural como principal força direcionadora do processo evolutivo.
A alternativa correta é E)
O trecho de O cortiço, de Aluísio Azevedo, exemplifica de maneira marcante as características do Naturalismo literário, movimento que busca retratar o ser humano como um produto de suas condições biológicas e sociais. A passagem descreve a personagem Rita Baiana através de uma linguagem carregada de sensualidade e elementos naturais, integrando o homem ao ambiente de forma visceral.
O texto explora intensamente os sentidos humanos, como a visão ("luz ardente do meio-dia"), o olfato ("aroma quente dos trevos e das baunilhas"), o paladar ("sapoti mais doce que o mel") e até mesmo sensações táteis ("calor vermelho das sestas"). Essa abordagem corresponde à alternativa B, que menciona a exploração exaustiva dos receptores sensoriais.
Além disso, a narrativa apresenta uma figuração variada de plantas e animais, como a "palmeira virginal", a "cobra verde e traiçoeira" e a "lagarta viscosa", que interagem simbolicamente com o protagonista, confirmando a alternativa C. A ênfase nos instintos e na atração sexual, associados a processos naturais de reprodução, também está presente, o que justifica a alternativa D.
No entanto, o texto não aborda explicitamente a seleção natural como força motriz da evolução, descartando a alternativa E como a correta. Apesar de o Naturalismo frequentemente dialogar com ideias científicas da época, como o determinismo, o excerto em questão concentra-se mais na relação sensorial e instintiva do homem com o meio, sem aprofundar-se em teorias evolutivas.
Questão 78
E Jerônimo via e escutava, sentindo ir-se-lhe toda a
alma pelos olhos enamorados.
Naquela mulata estava o grande mistério, a síntese
das impressões que ele recebeu chegando aqui: ela era a luz
ardente do meio-dia; ela era o calor vermelho das sestas da
fazenda; era o aroma quente dos trevos e das baunilhas,
que o atordoara nas matas brasileiras; era a palmeira
virginal e esquiva que se não torce a nenhuma outra planta;
era o veneno e era o açúcar gostoso; era o sapoti mais doce
que o mel e era a castanha do caju, que abre feridas com o
seu azeite de fogo; ela era a cobra verde e traiçoeira, a
lagarta viscosa, a muriçoca doida, que esvoaçava havia
muito tempo em torno do corpo dele, assanhando-lhe os
desejos, acordando-lhe as fibras embambecidas pela
saudade da terra, picando-lhe as artérias, para lhe cuspir
dentro do sangue uma centelha daquele amor setentrional,
uma nota daquela música feita de gemidos de prazer, uma
larva daquela nuvem de cantáridas que zumbiam em torno
da Rita Baiana e espalhavam-se pelo ar numa
fosforescência afrodisíaca.
Aluísio Azevedo, O cortiço.
Entre as características atribuídas, no texto, à natureza
brasileira, sintetizada em Rita Baiana, aquela que
corresponde, de modo mais completo, ao teor das
transformações que o contato com essa mesma natureza
provocará em Jerônimo é a que se expressa em:
- A)“era o calor vermelho das sestas da fazenda”
- B)“era a palmeira virginal e esquiva que se não torce a nenhuma outra planta”.
- C)“era o veneno e era o açúcar gostoso”.
- D)“era a cobra verde e traiçoeira”
- E)“[era] a muriçoca doida, que esvoaçava havia muito tempo em torno do corpo dele”.
A alternativa correta é C)
O trecho de O Cortiço, de Aluísio Azevedo, apresenta uma descrição intensa e sensual da personagem Rita Baiana, que sintetiza a natureza brasileira e seus efeitos sobre Jerônimo. A dualidade presente na opção C) — "era o veneno e era o açúcar gostoso" — é a que melhor representa as transformações que o contato com essa natureza provocará nele.
A alternância entre elementos opostos, como o veneno e o açúcar, simboliza a ambivalência das experiências de Jerônimo: ao mesmo tempo que é seduzido e encantado pela exuberância tropical, ele também é corrompido e transformado por ela. Essa contradição reflete o caráter paradoxal da influência da natureza brasileira, capaz de despertar tanto o prazer quanto a destruição, o êxtase e a perdição.
Enquanto as outras opções destacam aspectos específicos — como o calor (A), a virgindade (B), a traição (D) ou a perturbação (E) —, a alternativa C) abrange de maneira mais completa a essência contraditória e avassaladora dessa transformação. Jerônimo não apenas se entrega aos encantos de Rita Baiana, mas é consumido por uma força que o redesenha, mesclando doçura e perigo em sua própria identidade.
Portanto, a resposta correta é de fato a letra C), pois captura a síntese do impacto profundo e irreversível que a natureza brasileira, personificada em Rita, exerce sobre Jerônimo.
Questão 79
INSTRUÇÃO: Para responder à questão , leia
o trecho de O cortiço, de Aluísio de Azevedo, e preencha
as lacunas.
Bertoleza é que continuava na cepa torta, sempre
a mesma crioula suja, sempre atrapalhada de serviço,
sem domingo nem dia santo: essa, em nada, em nada
absolutamente, participava das novas regalias do amigo:
pelo contrário, à medida que ele galgava posição social,
a desgraçada fazia-se mais e mais escrava e rasteira.
A personagem Bertoleza em O cortiço, de Aluísio de
Azevedo, representa o fatalismo_________ que se presentifica
em muitas obras _________, pautadas pela forte
influência de escritores franceses como _________.
- A)determinista – naturalistas – Émile Zola
- B)determinista – simbolistas – Gustave Flaubert
- C)capitalista – modernistas – Charles Baudelaire
- D)positivista – realistas – Charles Baudelaire
- E)capitalista – maneiristas – Émile Zola
A alternativa correta é A)
A personagem Bertoleza em O cortiço, de Aluísio de Azevedo, é um exemplo marcante do fatalismo determinista, característico da literatura naturalista. Sua condição de escravidão e submissão, mesmo diante da ascensão social de João Romão, ilustra a visão de que o indivíduo está preso a forças biológicas e sociais que determinam seu destino. Essa abordagem é típica das obras naturalistas, que buscam retratar a realidade de forma crua e científica, influenciadas pelo pensamento de autores franceses como Émile Zola, principal expoente do Naturalismo.
O trecho evidencia como Bertoleza permanece imersa em sua condição miserável, sem perspectivas de mudança, reforçando a ideia de que o meio e a hereditariedade moldam irremediavelmente a vida dos personagens. Essa perspectiva é central no Naturalismo, movimento literário que se desenvolveu no Brasil no final do século XIX, com forte influência das teorias científicas da época, como o determinismo e o positivismo.
Portanto, a alternativa correta é A) determinista – naturalistas – Émile Zola, pois sintetiza de forma precisa a relação entre a personagem, o movimento literário ao qual a obra pertence e sua principal influência estrangeira.
Questão 80
Mas, lá pelo meio do pagode, a baiana caíra na imprudência de derrear-se toda sobre o português e soprar-lhe um segredo, requebrando os olhos. Firmo, de um salto, aprumou-se então defronte dele, medindo-o de alto a baixo com um olhar provocador e atrevido. Jerônimo, também posto de pé, respondeu altivo com um gesto igual. Os instrumentos calaram-se logo. Fez-se um profundo silêncio. Ninguém se mexeu do lugar em que estava. E, no meio da grande roda, iluminados amplamente pelo capitoso luar de abril, os dois homens, perfilados defronte um do outro, olhavam-se em desafio.
(AZEVEDO, Aluísio. trecho de O cortiço. São Paulo, Ed. Hartra, 2009. p. 106-107)
Podem-se observar, no trecho acima, características típicas do movimento literário conhecido como
- A)Naturalismo.
- B)Romantismo.
- C)Parnasianismo.
- D)Regionalismo.
- E)Modernismo.
A alternativa correta é A)
Mas, lá pelo meio do pagode, a baiana caíra na imprudência de derrear-se toda sobre o português e soprar-lhe um segredo, requebrando os olhos. Firmo, de um salto, aprumou-se então defronte dele, medindo-o de alto a baixo com um olhar provocador e atrevido. Jerônimo, também posto de pé, respondeu altivo com um gesto igual. Os instrumentos calaram-se logo. Fez-se um profundo silêncio. Ninguém se mexeu do lugar em que estava. E, no meio da grande roda, iluminados amplamente pelo capitoso luar de abril, os dois homens, perfilados defronte um do outro, olhavam-se em desafio.
(AZEVEDO, Aluísio. trecho de O cortiço. São Paulo, Ed. Hartra, 2009. p. 106-107)
Podem-se observar, no trecho acima, características típicas do movimento literário conhecido como
- A) Naturalismo.
- B) Romantismo.
- C) Parnasianismo.
- D) Regionalismo.
- E) Modernismo.
O gabarito correto é A) Naturalismo.