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Texto 10A3AAA       Eram cinco horas da manhã e o cortiço acordava, abrindo, não os olhos, mas a sua infinidade de portas e janelas alinhadas. Um acordar alegre e farto de quem dormiu de uma assentada, sete horas de chumbo.       […]       O rumor crescia, condensando-se; o zunzum de todos os dias acentuava-se; já se não destacavam vozes dispersas, mas um só ruído compacto que enchia todo o cortiço. Começavam a fazer compras na venda; ensarilhavam-se discussões e rezingas; ouviam-se gargalhadas e pragas; já se não falava, gritava-se. Sentia-se naquela fermentação sanguínea, naquela gula viçosa de plantas rasteiras que mergulham os pés vigorosos na lama preta e nutriente da vida, o prazer animal de existir, a triunfante satisfação de respirar sobre a terra.           Aluísio Azevedo. O cortiço. 15.ª ed. São Paulo: Ática, 1984. p. 28-9.O texto 10A3AAA, trecho do romance de Aluísio Azevedo, estrutura-se a partir do princípio do naturalismo literário caracterizado pelo(a)

Texto 10A3AAA

      Eram cinco horas da manhã e o cortiço acordava, abrindo,
não os olhos, mas a sua infinidade de portas e janelas alinhadas. Um
acordar alegre e farto de quem dormiu de uma assentada, sete horas
de chumbo.

      […]

      O rumor crescia, condensando-se; o zunzum de todos
os dias acentuava-se; já se não destacavam vozes dispersas, mas um
só ruído compacto que enchia todo o cortiço. Começavam a fazer
compras na venda; ensarilhavam-se discussões e rezingas;
ouviam-se gargalhadas e pragas; já se não falava, gritava-se.
Sentia-se naquela fermentação sanguínea, naquela gula viçosa
de plantas rasteiras que mergulham os pés vigorosos na lama preta
e nutriente da vida, o prazer animal de existir, a triunfante satisfação
de respirar sobre a terra.

          Aluísio Azevedo. O cortiço. 15.ª ed. São Paulo: Ática, 1984. p. 28-9.

O texto 10A3AAA, trecho do romance de Aluísio Azevedo,
estrutura-se a partir do princípio do naturalismo literário
caracterizado pelo(a)

Resposta:

A alternativa correta é E)

O trecho de O cortiço, de Aluísio Azevedo, exemplifica o naturalismo literário ao empregar elementos da natureza como metáfora para descrever a dinâmica social. A obra retrata o despertar do cortiço de forma vívida, comparando-o a um organismo vivo e pulsante, onde a agitação humana é equiparada à "fermentação sanguínea" e ao crescimento de "plantas rasteiras". Essa abordagem revela a influência do determinismo ambiental, típico do naturalismo, que enxerga o homem como produto do meio em que vive.

A alternativa correta (E) destaca justamente essa característica central: a utilização de fenômenos naturais para representar a sociedade. Azevedo não apenas descreve o espaço, mas o anima com imagens orgânicas – a lama "negra e nutriente", o "prazer animal de existir" – que reforçam a visão de que os moradores do cortiço são regidos por instintos e condições materiais, tal como seres em um ecossistema. Essa técnica afasta-se tanto do subjetivismo (D) quanto da idealização (B), priorizando uma análise quase científica da realidade.

O excerto também refuta o nacionalismo romântico (A), pois sua natureza descritiva não exalta a paisagem, mas a vincula à degradação. Embora haja contrastes no cortiço, como a alegria e a pobreza, eles não configuram antíteses sistemáticas (C), e sim uma representação crua da sobrevivência. Assim, a opção E consolida-se como a que melhor capta o princípio naturalista: a sociedade humana decifrada através das lentes da natureza em seu estado bruto.

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