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Textos para a questãoTexto I        A beleza de Virgília tinha agora um tom grandioso, que não possuíra antes de casar. Era dessas figuras talhadas em pentélico, de um lavor nobre, rasgado e puro, tranquilamente bela, como as estátuas, mas não apática nem fria. Ao contrário, tinha o aspecto das naturezas cálidas, e podia-se dizer que, na realidade, resumia todo o amor. Resumia-o sobretudo naquela ocasião, em que exprimia mudamente tudo quanto pode dizer a pupila humana. Mas o tempo urgia; deslacei-lhe as mãos, peguei-lhe nos pulsos, e, fito nela, perguntei-lhe se tinha coragem.— De quê? — De fugir.Machado de Assis. Memórias Póstumas de Brás Cubas. LXIII Fujamos. Porto Alegre: L&PM, 2004, p.110-1.Texto II    Rita, essa noite, recolhera-se aflita e assustada. (…) Desde que Jerônimo propendeu para ela, fascinando-a com a sua tranquila seriedade de animal bom e forte, o sangue da mestiça reclamou os seus direitos de apuração, e Rita preferiu no europeu o macho de raça superior. O cavouqueiro, pelo seu lado, cedendo às imposições mesológicas, enfarava a esposa, sua congênere, e queria a mulata, porque a mulata era o prazer, era a volúpia, era o fruto dourado e acre destes sertões americanos, onde a alma de Jerônimo aprendeu lascívias de macaco e onde seu corpo porejou o cheiro sensual dos bodes. Aluísio Azevedo. O cortiço. Cap. XV. São Paulo: Ática, 1990, p. 117 A partir da leitura comparativa entre os textos I e II, assinale a opção correta acerca da diferença entre a produção literária realista e a naturalista no Brasil.

Textos para a questão


Texto I

   

    A beleza de Virgília tinha agora um tom grandioso, que
não possuíra antes de casar. Era dessas figuras talhadas em
pentélico, de um lavor nobre, rasgado e puro, tranquilamente bela,
como as estátuas, mas não apática nem fria. Ao contrário, tinha o
aspecto das naturezas cálidas, e podia-se dizer que, na realidade,
resumia todo o amor. Resumia-o sobretudo naquela ocasião, em que
exprimia mudamente tudo quanto pode dizer a pupila humana. Mas
o tempo urgia; deslacei-lhe as mãos, peguei-lhe nos pulsos, e, fito
nela, perguntei-lhe se tinha coragem.

— De quê?
— De fugir.
Machado de Assis. Memórias Póstumas de Brás Cubas. LXIII
Fujamos
. Porto Alegre: L&PM, 2004, p.110-1.
Texto II
    Rita, essa noite, recolhera-se aflita e assustada. (…) Desde
que Jerônimo propendeu para ela, fascinando-a com a sua tranquila
seriedade de animal bom e forte, o sangue da mestiça reclamou os
seus direitos de apuração, e Rita preferiu no europeu o macho de
raça superior. O cavouqueiro, pelo seu lado, cedendo às imposições
mesológicas, enfarava a esposa, sua congênere, e queria a mulata,
porque a mulata era o prazer, era a volúpia, era o fruto dourado e
acre destes sertões americanos, onde a alma de Jerônimo aprendeu
lascívias de macaco e onde seu corpo porejou o cheiro sensual dos
bodes.
Aluísio Azevedo. O cortiço. Cap. XV.
São Paulo: Ática, 1990, p. 117

A partir da leitura comparativa entre os textos I e II, assinale a
opção correta acerca da diferença entre a produção literária realista
e a naturalista no Brasil.

Resposta:

A alternativa correta é C)

A análise comparativa entre os textos de Machado de Assis e Aluísio Azevedo revela diferenças marcantes entre as abordagens realista e naturalista na literatura brasileira. Enquanto o primeiro retrata Virgília com nuances psicológicas e humanizadas, o segundo apresenta Rita sob uma perspectiva zoomorfizada, característica do naturalismo.

No Texto I, extraído de Memórias Póstumas de Brás Cubas, Machado de Assis constrói uma descrição de Virgília que mescla elementos físicos e psicológicos. A personagem é comparada a estátuas clássicas ("talhadas em pentélico"), mas imediatamente humanizada pelo narrador, que ressalta seu calor e expressividade ("não apática nem fria"). A complexidade emocional da cena - com o diálogo sobre a fuga - reforça essa caracterização multidimensional típica do realismo.

Já no Texto II, de O Cortiço, Aluísio Azevedo emprega uma linguagem naturalista ao descrever Rita. A personagem é reduzida a seus instintos e características animais: "sangue da mestiça", "macho de raça superior", "lascívias de macaco". Essa zoomorfização é típica do naturalismo, que via o ser humano como produto do meio e da hereditariedade, enfatizando seus aspectos biológicos e primitivos.

A diferença fundamental reside, portanto, na forma de caracterização das personagens femininas: humanizada e psicológica em Machado (realismo), animalizada e instintiva em Azevedo (naturalismo). Essa distinção exemplifica como as duas correntes literárias, embora contemporâneas, adotaram perspectivas radicalmente diferentes sobre a natureza humana e suas motivações.

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