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Mal secreto      Se a cólera que espuma, a dor que mora      N’alma, e destrói cada ilusão que nasce,     Tudo o que punge, tudo o que devora      O coração, no rosto se estampasse;     Se se pudesse, o espírito que chora,     Ver através da máscara da face,     Quanta gente, talvez, que inveja agora      Nos causa, então piedade nos causasse!     Quanta gente que ri, talvez, consigo      Guarda um atroz, recôndito inimigo,     Como invisível chaga cancerosa!     Quanta gente que ri, talvez existe,     Cuja ventura única consiste      Em parecer aos outros venturosa!CORREIA. R In: PATRIOTA, M. Para compreender Raimundo Correia. Brasilia: AFhambra, 1995. Coerente com a proposta parnasiana de cuidado formal e racionalidade na condução temática, o soneto de Raimundo Correia reflete sobre a forma como as emoções do indivíduo são julgadas em sociedade. Na concepção do eu lírico, esse julgamento revela que

Mal secreto

      Se a cólera que espuma, a dor que mora
     N’alma, e destrói cada ilusão que nasce,
     Tudo o que punge, tudo o que devora
     O coração, no rosto se estampasse;
     Se se pudesse, o espírito que chora,
     Ver através da máscara da face,
     Quanta gente, talvez, que inveja agora
     Nos causa, então piedade nos causasse!
     Quanta gente que ri, talvez, consigo
     Guarda um atroz, recôndito inimigo,
     Como invisível chaga cancerosa!
     Quanta gente que ri, talvez existe,
     Cuja ventura única consiste
     Em parecer aos outros venturosa!

CORREIA. R In: PATRIOTA, M. Para compreender Raimundo Correia. Brasilia: AFhambra, 1995.

Coerente com a proposta parnasiana de cuidado formal e racionalidade na condução temática, o soneto de Raimundo Correia reflete sobre a forma como as emoções do indivíduo são julgadas em sociedade. Na concepção do eu lírico, esse julgamento revela que

Resposta:

A alternativa correta é A)

Mal secreto: A Máscara Social no Parnasianismo de Raimundo Correia

No soneto Mal secreto, Raimundo Correia explora com maestria parnasiana um dos grandes paradoxos da condição humana: a contradição entre o que sentimos e o que mostramos ao mundo. Através de uma estrutura métrica rigorosa e linguagem precisa, o poeta desvela o abismo entre a aparência social e a realidade íntima, tema que encontra perfeita correspondência na alternativa A do questionamento proposto.

Ao desenvolver a imagem da "máscara da face", Correia constrói uma poderosa metáfora sobre a dissimulação necessária à vida em sociedade. Os versos revelam como "a cólera que espuma" e "a dor que mora n'alma" são cuidadosamente ocultadas sob um semblante socialmente aceitável. Essa construção poética evidencia como a pressão para corresponder às expectativas alheias força o indivíduo a criar uma persona distante de sua verdade interior.

O poeta vai além ao sugerir o caráter ilusório das relações sociais: "Quanta gente que ri, talvez existe, / Cuja ventura única consiste / Em parecer aos outros venturosa!". Esses versos finais sintetizam com ironia a essência do "mal secreto" - a infelicidade mascarada de felicidade, a angústia transformada em espetáculo social. A escolha lexical ("parecer" em oposição a "ser") reforça a ideia de que a aceitação social exige a encenação permanente.

Correia, ao articular essa reflexão com a perfeição formal exigida pelo Parnasianismo, demonstra como a escola literária conseguia tratar de temas profundamente humanos mesmo dentro de suas restrições estéticas. O soneto permanece atual justamente por revelar essa dimensão atemporal da condição humana: nosso eterno conflito entre autenticidade e adaptação social.

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