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Questões Sobre Parnasianismo - Literatura - concurso

Questão 41

I) Alberto de Oliveira
II) Raimundo Correia
III) Olavo Bilac
IV) Francisca Júlia
V) Artur Azevedo
( ) Estreou com o livro Mármores. Atravessou a fronteira que
separava o Parnasianismo do Simbolismo. Em sua obra Esfinges,
já aparecem exemplos dessa nova postura espiritual e artística.
( ) Iniciou o curso de Medicina no Rio de Janeiro e de Direito em
São Paulo, mas não terminou nenhum deles. No poema “Profissão
de fé” faz um juramento de que morrerá “em prol do Estilo”. “Ora
(direis) ouvir estrelas” e “Nel mezzo del camin” são exemplos de
seus famosos sonetos.
( ) Era também jornalista e comediógrafo. Soube dar tom
humorístico à sua produção poética parodiando resquícios
ultrarromânticos espalhados na poesia e no teatro de seu tempo.
( ) Fez Humanidades no Colégio Pedro II e Direito em São
Paulo. Estreou com “Primeiros Sonhos”, coleção de versos de
adolescente com características de resquícios românticos. Com a
obra Sinfonias já temos o sonetista de “As pombas”, “Mal secreto”
e “Anoitecer”.
( ) Seguindo o princípio da arte pela arte, segundo o qual
desfazia-se de qualquer compromisso com os níveis da
existência que não fossem relacionados ao fazer mimético, acaba
especializando-se em uma arte sobre a arte, que se concentra na
reprodução de objetos de decoração, como em “Vaso Chinês” e
“Vaso Grego”.

De acordo com Bosi (2013, p. 233), “é na convergência de ideias antirromânticos, como a
objetividade no trato dos temas e do culto da forma, que se situa a poética do Parnasianismo”.
Acerca dos autores parnasianos, estabeleça a correspondência correta, de cima para baixo, entre
a primeira lista e as informações da segunda.

  • A)IV, V, III, II, I
  • B)III, IV, V, I, II
  • C)IV, I, II, III, V
  • D)V, III, IV, I, II
  • E)IV, III, V, II, I
FAZER COMENTÁRIO

A alternativa correta é E)

O Parnasianismo brasileiro foi um movimento literário marcado pelo culto à forma, à objetividade e à perfeição estética, distanciando-se dos excessos emocionais do Romantismo. Entre seus principais expoentes estão os poetas listados: Alberto de Oliveira, Raimundo Correia, Olavo Bilac, Francisca Júlia e Artur Azevedo. Cada um deles contribuiu de maneira singular para a consolidação dessa estética no Brasil.

A primeira descrição refere-se a Francisca Júlia (IV), que estreou com Mármores e, posteriormente, em Esfinges, demonstrou uma transição entre o Parnasianismo e o Simbolismo, incorporando uma nova sensibilidade espiritual em sua obra. Já o segundo trecho descreve Olavo Bilac (III), conhecido por seu poema "Profissão de fé" e por sonetos célebres como "Ora (direis) ouvir estrelas" e Nel mezzo del camin, nos quais exalta o culto ao estilo.

O terceiro texto aponta para Artur Azevedo (V), que, além de poeta, destacou-se como comediógrafo e jornalista, utilizando o humor para criticar os resquícios ultrarromânticos de sua época. A quarta afirmação refere-se a Raimundo Correia (II), autor de Sinfonias e conhecido por sonetos como "As pombas" e "Mal secreto", que exemplificam sua maestria formal. Por fim, o último trecho descreve Alberto de Oliveira (I), cuja poesia se concentrava na reprodução de objetos artísticos, como evidenciado em "Vaso Chinês" e "Vaso Grego", seguindo rigorosamente o princípio da "arte pela arte".

Portanto, a sequência correta, de acordo com as descrições fornecidas, é IV, III, V, II, I, correspondente à alternativa E).

Questão 42

A seguir, há dois poemas de épocas diferentes: o primeiro, do final do século XIX e o
segundo, em meados do século XX. Leia-os, para responder à questão:
Texto 1
A UM POETA
Longe do estéril turbilhão da rua,
Beneditino, escreve! No aconchego
Do claustro, na paciência e no sossego,
Trabalha, e teima, e lima, e sofre, e sua!
Mas que na forma de disfarce o emprego
D
o esforço; e a trama viva se construa
De tal modo, que a imagem fique nua,
Rica mas sóbria, como um templo grego.
Não se mostre na fábrica o suplício
Do mestre. E, natural, o efeito agrade,
Sem lembrar os andaimes do edifício:
Porque a Beleza, gêmea da Verdade,
Arte pura, inimiga do artifício,
É a força e a graça na simplicidade.
(BILAC, Olavo. A um poeta. In: CANDIDO, Antonio; CASTELLO, José Aderaldo. Presença da literatura brasileira: do
Romantismo ao Realismo. v. II. São Paulo: Difusão Europeia do Livro,1972. p. 254.)
Texto 2
OFICINA IRRITADA
Eu quero compor um soneto duro
como poeta algum ousara escrever.
Eu quero pintar um soneto escuro,
seco, abafado, difícil de ler.
Quero que meu soneto, no futuro,
não desperte em ninguém nenhum prazer.
E que, no seu maligno ar imaturo,
ao mesmo tempo saiba ser, não ser.
Esse meu verbo antipático e impuro
há de pungir, há de fazer sofrer,
tendão de Vênus sob o pedicuro.
Ninguém o lembrará: tiro no muro,
cão mijando no caos, enquanto Arcturo,
claro enigma, se deixa surpreender.
(ANDRADE, Carlos Drummond. Antologia poética. Organizada pelo autor. Rio de Janeiro: José Olímpio, 1983. p. 178.)

Na última estrofe do texto 2, o poeta utiliza-se de duas imagens para expressar o soneto
pretendido: “tiro no muro” e “cão mijando no caos”. Indique a alternativa CORRETA quanto
ao emprego desse recurso.

  • A)O poeta empregou sinestesias para sugerir suas impressões de precariedade quanto ao modelo de criação parnasiana.
  • B)O poeta fez uso de metáforas para expressar seu desencanto e a irritação ao rejeitar os princípios parnasianos.
  • C)O poeta utilizou a gradação para enumerar as motivações de sua crescente irritação.
  • D)O poeta refere-se a uma figura mitológica, como forma de retomada da tradição clássica.
  • E)O poeta utiliza-se de antíteses para apresentar uma proposta moderna de composição poética.
FAZER COMENTÁRIO

A alternativa correta é B)

Os poemas apresentados, de Olavo Bilac e Carlos Drummond de Andrade, representam visões distintas sobre a criação poética em épocas diferentes. Enquanto Bilac, no século XIX, defende uma arte trabalhada com paciência e equilíbrio, inspirada na pureza e simplicidade clássica, Drummond, no século XX, propõe uma poesia deliberadamente áspera e desafiadora, rejeitando os ideais de beleza tradicional.

Na última estrofe do Texto 2, "Oficina Irritada", Drummond emprega as imagens "tiro no muro" e "cão mijando no caos" como metáforas que expressam seu descontentamento com a poesia parnasiana. Essas figuras transmitem a ideia de algo inútil, caótico e efêmero, refletindo sua rejeição aos princípios de perfeição formal e beleza idealizada defendidos por Bilac. A alternativa correta é a B), pois o poeta utiliza metáforas para manifestar seu desencanto e irritação diante da tradição parnasiana, marcando sua proposta de uma poesia mais crua e dissonante.

As outras alternativas não se adequam ao recurso empregado: não há sinestesia (A), gradação (C) ou antítese (E) nesses versos. A menção a "Arcturo" (D) não é o foco principal, servindo antes como contraponto irônico ao caos descrito. Assim, a resposta correta é B), confirmando o uso de metáforas para criticar a tradição e afirmar uma poética moderna.

Questão 43

A seguir, há dois poemas de épocas diferentes: o primeiro, do final do século XIX e o
segundo, em meados do século XX. Leia-os, para responder à questão:
Texto 1
A UM POETA
Longe do estéril turbilhão da rua,
Beneditino, escreve! No aconchego
Do claustro, na paciência e no sossego,
Trabalha, e teima, e lima, e sofre, e sua!
Mas que na forma de disfarce o emprego
D
o esforço; e a trama viva se construa
De tal modo, que a imagem fique nua,
Rica mas sóbria, como um templo grego.
Não se mostre na fábrica o suplício
Do mestre. E, natural, o efeito agrade,
Sem lembrar os andaimes do edifício:
Porque a Beleza, gêmea da Verdade,
Arte pura, inimiga do artifício,
É a força e a graça na simplicidade.
(BILAC, Olavo. A um poeta. In: CANDIDO, Antonio; CASTELLO, José Aderaldo. Presença da literatura brasileira: do
Romantismo ao Realismo. v. II. São Paulo: Difusão Europeia do Livro,1972. p. 254.)
Texto 2
OFICINA IRRITADA
Eu quero compor um soneto duro
como poeta algum ousara escrever.
Eu quero pintar um soneto escuro,
seco, abafado, difícil de ler.
Quero que meu soneto, no futuro,
não desperte em ninguém nenhum prazer.
E que, no seu maligno ar imaturo,
ao mesmo tempo saiba ser, não ser.
Esse meu verbo antipático e impuro
há de pungir, há de fazer sofrer,
tendão de Vênus sob o pedicuro.
Ninguém o lembrará: tiro no muro,
cão mijando no caos, enquanto Arcturo,
claro enigma, se deixa surpreender.
(ANDRADE, Carlos Drummond. Antologia poética. Organizada pelo autor. Rio de Janeiro: José Olímpio, 1983. p. 178.)

Com base em conhecimentos sobre a poesia brasileira, assinale “V” (VERDADEIRO) ou “F”
(FALSO) em cada afirmação referente aos poemas acima. Em seguida, escolha a sequência correta:
( ) Os dois poemas fazem uso do recurso da metalinguagem, abordando o fazer poético, a
linguagem se debruça sobre si mesma.
( ) O poema “A um poeta” foi publicado no início do século XX, e se refere à poesia escrita no
final do século XIX, já “Oficina irritada” foi publicado em 1951, no livro Claro enigma.
( ) Em ambos, o poema é o resultado do trabalho exaustivo do poeta e do sossego, condição ideal
para o fazer poético, mas depois de acabado não pode deixar transparecer o esforço empregado
em sua elaboração.
( ) O texto 2 contrapõe-se às ideias de equilíbrio e perfeição da forma e se afasta do ideal
defendido pelo texto 1, apresentando outra proposta de criação poética.
( ) O texto 2 expressa a angústia do eu poético, mediante ao esforço da criação poética em
consonância com os princípios artísticos do texto 1.
Marque a alternativa que apresenta a sequência CORRETA, de cima para baixo:

  • A)V, V, F, F, V
  • B)F, F, F, V, V
  • C)V, F, F, V, F
  • D)V, V, V, F, F
  • E)V, V, F, V, F
FAZER COMENTÁRIO

A alternativa correta é E)

Os poemas apresentados, "A um poeta" de Olavo Bilac e "Oficina irritada" de Carlos Drummond de Andrade, pertencem a contextos históricos e estéticos distintos, refletindo diferentes concepções sobre a criação poética. A análise das afirmações revela contrastes e convergências entre as duas obras.

A primeira afirmação é verdadeira (V), pois ambos os poemas utilizam a metalinguagem, discutindo o próprio ato de escrever poesia. Bilac exalta o trabalho minucioso e a busca pela perfeição formal, enquanto Drummond subverte essa ideia, propondo um poema intencionalmente difícil e desagradável.

A segunda afirmação também é verdadeira (V). "A um poeta" representa os ideais parnasianos do século XIX, embora tenha sido publicado no início do XX, enquanto "Oficina irritada" integra a produção modernista de Drummond, publicada em Claro enigma (1951).

A terceira afirmação é falsa (F). Embora Bilac defenda o trabalho paciente e discreto, Drummond rompe com essa concepção, celebrando justamente o caráter áspero e visível do labor poético, como evidenciam versos como "Eu quero compor um soneto duro".

A quarta afirmação é verdadeira (V). O texto de Drummond constitui uma clara ruptura com os valores de equilíbrio e beleza clássica defendidos por Bilac, optando por uma poética que valoriza o difícil, o impuro e o desagradável.

Por fim, a quinta afirmação é falsa (F). A angústia presente no poema de Drummond não está em consonância com os princípios de Bilac, mas sim em oposição a eles. Enquanto Bilac prega a discrição do esforço criativo, Drummond explicita o caráter conflituoso e intencionalmente imperfeito de sua poesia.

Portanto, a sequência correta é V, V, F, V, F, correspondente à alternativa E).

Questão 44

Todas as afirmações, a seguir, fazem referência a aspectos da poesia parnasiana, exceto
uma. Assinale-a.

  • A)Esse modelo estético desenvolveu-se primeiramente na França e apresentou uma concepção de poesia mais moderna e afinada com o rigor do pensamento positivista.
  • B)Os primeiros tempos de vida republicana favoreceram o intenso desenvolvimento de uma atmosfera urbana, erudita e sofisticada no Brasil que reproduziu de forma crítica os padrões europeus, a Belle Époque.
  • C)Nesse modelo literário de caráter exclusivamente poético, a criação estava pautada pelo exercício da razão, pelo equilíbrio e pela perfeição formal.
  • D)A poesia parnasiana foi marcada pela postura objetiva do eu poético, pela linguagem descritiva, pela inversão sintática, pela erudição vocabular e pelo resgate de temas da Antiguidade Clássica.
  • E)No Brasil, os poetas parnasianos tiveram grande expressão, uma vez que a sua poesia foi capaz de traduzir a mentalidade e os anseios da elite nas últimas décadas do século XIX e no início do século XX.
FAZER COMENTÁRIO

A alternativa correta é B)

O Parnasianismo foi um movimento literário que surgiu na França no século XIX como reação ao subjetivismo romântico, defendendo uma poesia mais objetiva, racional e formalmente perfeita. Suas características principais incluíam o culto à forma, o uso de linguagem erudita, temas clássicos e uma postura impessoal do poeta. No Brasil, o movimento encontrou terreno fértil, alinhando-se aos ideais de modernização e civilização da elite republicana.

Analisando as alternativas:

A) Correta. O Parnasianismo de fato surgiu na França e refletia os valores do positivismo, com sua ênfase na razão e no rigor formal.

B) Incorreta (gabarito). Embora o Brasil tenha vivido transformações urbanas no início da República, o Parnasianismo não reproduziu de forma crítica os padrões europeus, mas sim os assimilou de forma acrítica, como modelo de excelência artística.

C) Correta. O Parnasianismo era de fato um movimento exclusivamente poético que valorizava a razão, o equilíbrio e a perfeição formal acima de tudo.

D) Correta. Essas são características marcantes da poesia parnasiana: objetividade, descritivismo, inversões sintáticas, vocabulário erudito e temas clássicos.

E) Correta. A poesia parnasiana brasileira realmente expressou os valores e anseios da elite intelectual do período, servindo como símbolo de sofisticação cultural.

Portanto, a alternativa B é a incorreta, pois apresenta uma leitura crítica do movimento que não corresponde à realidade histórica - o Parnasianismo brasileiro adotou os modelos europeus de forma acrítica e celebratória, não como uma reprodução crítica.

Questão 45

Hino à Bandeira Nacional  


Salve, lindo pendão da esperança,

Salve, símbolo augusto da paz!

Tua nobre presença à lembrança

A grandeza da Pátria nos traz.

Recebe o afeto que se encerra

Em nosso peito juvenil,

Querido símbolo da terra,

Da amada terra do Brasil!  

O Hino à Bandeira Nacional foi escrito por um dos maiores
poetas parnasianistas chamado  

  • A)Olavo Bilac.
  • B)Aluísio de Azevedo.
  • C)Tomás Antônio Gonzaga.
  • D)Padre Antônio Vieira.
FAZER COMENTÁRIO

A alternativa correta é A)

Hino à Bandeira Nacional

Salve, lindo pendão da esperança,

Salve, símbolo augusto da paz!

Tua nobre presença à lembrança

A grandeza da Pátria nos traz.

Recebe o afeto que se encerra

Em nosso peito juvenil,

Querido símbolo da terra,

Da amada terra do Brasil!

O Hino à Bandeira Nacional foi escrito por um dos maiores poetas parnasianistas chamado

  • A) Olavo Bilac.
  • B) Aluísio de Azevedo.
  • C) Tomás Antônio Gonzaga.
  • D) Padre Antônio Vieira.

O gabarito correto é A).

Questão 46

Leia o trecho abaixo e, em seguida, assinale a alternativa
que preenche corretamente a lacuna.

De influência basicamente francesa, a poética
____________ baseava-se no binômio objetividade/ culto
da forma, numa evidente postura antirromântica. É uma
estética preocupada com a “arte pela arte”.  

  • A)parnasiana
  • B)arcádica
  • C)realista
  • D)barroca
FAZER COMENTÁRIO

A alternativa correta é A)

O trecho apresentado descreve características marcantes de um movimento literário específico, destacando sua influência francesa, a valorização da objetividade e do culto à forma, além de uma postura antirromântica e a defesa da "arte pela arte". Esses elementos são fundamentais para identificar a corrente estética em questão.

A alternativa A) parnasiana é a correta, pois o Parnasianismo, movimento literário que surgiu na França no século XIX e teve grande repercussão no Brasil, é conhecido exatamente por essas características. Os parnasianos buscavam a perfeição formal, a impessoalidade e a valorização da estética, opondo-se ao subjetivismo e ao sentimentalismo exacerbados do Romantismo.

As demais alternativas não se encaixam no contexto descrito: a B) arcádica refere-se ao Arcadismo, movimento do século XVIII que pregava a simplicidade e a idealização da natureza; a C) realista está ligada ao Realismo, que priorizava a representação crítica da sociedade; e a D) barroca remete ao Barroco, marcado pelo dualismo e pelo excesso de ornamentação.

Portanto, a lacuna deve ser preenchida com "parnasiana", conforme indicado no gabarito.

Questão 47

                                                    TEXTO 4

                                       PSICOLOGIA DE UM VENCIDO

                                                                                                        Augusto dos Anjos

                                     Eu, filho do carbono e do amoníaco,

                                       Monstro de escuridão e rutilância,

                                    Sofro, desde a epigênese da infância,

                                    A influência má dos signos do zodíaco.

                                       Profundissimamente hipocondríaco,

                                   Este ambiente me causa repugnância…

                               Sobe-me à boca uma ânsia análoga à ânsia

                                  Que se escapa da boca de um cardíaco.

                                 Já o verme — este operário das ruínas —

                                     Que o sangue podre das carnificinas

                                   Come, e à vida em geral declara guerra,

                                  Anda a espreitar meus olhos para roê-los,

                                     E há de deixar-me apenas os cabelos,

                                        Na frialdade inorgânica da terra!

ANJOS, A. Eu e Outras Poesias. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1998. 

Quanto ao poema de Augusto dos Anjos (texto 4), é coerente afirmar que

  • A)revela um “eu” conformado com seu destino ao traduzir um olhar depressivo sobre o homem reduzido às leis fisiológicas.
  • B)vai ao encontro do movimento parnasiano e da tendência geral de se pensar a poesia como a arte de dizer o sublime, o inefável.
  • C)reduz as possibilidades de polissemia exigidas pela arte literária ao trazer palavras consideradas “antipoéticas” como “carbono”, “verme” e “epigênese”.
  • D)resiste às classificações literárias de cunho didático por suas características formais e temáticas.
  • E)despreza completamente o cientificismo em voga no início do século XX.
FAZER COMENTÁRIO

A alternativa correta é D)

O poema Psicologia de um Vencido, de Augusto dos Anjos, é uma obra singular que desafia classificações literárias tradicionais. Sua linguagem crua, repleta de termos científicos como "carbono", "amoníaco" e "epigênese", contrasta com a subjetividade lírica, criando uma dicção poética única. A opção D) é a mais coerente porque o texto não se encaixa facilmente em movimentos como o Parnasianismo ou o Simbolismo, nem se limita a uma visão puramente científica ou depressiva da existência.

Ao mesmo tempo que aborda temas como a decomposição e a fragilidade humana, Augusto dos Anjos não se conforma com um destino passivo (eliminando a opção A). Sua poesia também não se alinha ao ideal parnasiano do "belo" e do "sublime" (eliminando B), e muito menos rejeita completamente o cientificismo (eliminando E). Pelo contrário, ele o absorve de forma crítica e criativa.

Embora utilize palavras consideradas "antipoéticas", isso não reduz a polissemia do texto (eliminando C), pois justamente essa escolha lexical amplia suas camadas de significado. A fusão entre elementos orgânicos e inorgânicos, entre o científico e o existencial, faz de sua obra um caso à parte na literatura brasileira, resistindo a categorizações simplistas.

Portanto, a alternativa D) é a correta, pois reconhece a originalidade formal e temática de Augusto dos Anjos, cuja poesia transcende rótulos e permanece como uma voz dissonante e poderosa.

Questão 48

Com relação ao parnasianismo brasileiro, avalie as afirmações abaixo.

I. É na convergência de ideais antirromânticos, como a objetividade no trato dos temas e o culto da forma, que se situa a
poética do Parnasianismo.

II. A primeira corrente do Parnasianismo se amparava, sobretudo, na pesquisa lírica de intenção psicológica; procurava a
beleza na expressão de estados inefáveis, por meio de tonalidades raras ou delicadas.

III. O parnasiano típico acaba por se deleitar na nomeação de alfaias, vasos e leques chineses, flautas gregas, taças de
coral, ídolos de gesso em túmulos de mármore… e exaurindo-se na sensação de um detalhe ou na memória de um
fragmento narrativo.

IV. Ao contrário do Naturalismo, que trouxe um vigoroso impulso de análise social, o Parnasianismo pouco trouxe de
essencial sobre o tema.

Está correto sobre a poética parnasiana o que se afirma APENAS em

  • A)I e II.
  • B)I e IV.
  • C)II e III.
  • D)I, III e IV.
  • E)II, III e IV.
FAZER COMENTÁRIO

A alternativa correta é D)

O Parnasianismo brasileiro foi um movimento literário que se destacou pela busca da perfeição formal e pela rejeição aos excessos sentimentais do Romantismo. Analisando as afirmações apresentadas, podemos identificar quais delas estão corretas em relação à poética parnasiana.

Afirmação I: Correta. O Parnasianismo de fato se caracterizou pela objetividade no tratamento dos temas e pelo culto à forma, opondo-se ao subjetivismo romântico. A valorização da métrica, da rima e da linguagem refinada era central para os parnasianos.

Afirmação II: Incorreta. Essa descrição se aproxima mais do Simbolismo, que buscava expressar estados psicológicos e sensações sutis. O Parnasianismo, por outro lado, priorizava a descrição objetiva e a beleza plástica, não a introspecção lírica.

Afirmação III: Correta. Os poetas parnasianos frequentemente recorriam a descrições detalhadas de objetos luxuosos e exóticos, demonstrando seu apreço pela arte pela arte e pelo preciosismo descritivo.

Afirmação IV: Correta. Enquanto o Naturalismo se dedicava a análises sociais, o Parnasianismo manteve-se distante dessas questões, concentrando-se nos aspectos estéticos da poesia.

Portanto, as afirmações corretas sobre a poética parnasiana são I, III e IV, correspondendo à alternativa D.

Questão 49

O trecho a seguir integra o romance A última quimera, de Ana Miranda:
Meus sofrimentos sempre foram menores diante dos de Augusto, sempre competimos de certa maneira sobre quem sofria mais
grandiosamente, como um jogo de xadrez em que as peças não fossem cavalos, bispos, torres, reis, rainhas mas a angústia,
a dor física, a dor mental, o vazio existencial, a depressão, as forças subterrâneas, a morbidez, a neurose, o pesadelo, a
convulsão de espírito, a negação, o não ser, a mágoa, a miséria humana, o uivo noturno, as carnações abstêmias, os lúbricos
arroubos, a fome incoercível, a paixão pelas mulheres impossíveis, a morte; e nesse momento ele parece zombar de mim,
como se dissesse: “Vê, como são tolos seus sofrimentos? Você perdeu um amigo e eu perdi a vida”. (p. 192)
Com base nesse trecho específico e na totalidade da obra, considere as seguintes afirmativas:
1. O romance cita documentos para confirmar os fatos históricos narrados, além de expor informações biográficas
precisas sobre dois poetas brasileiros, que ficaram conhecidos pelo rigor científico e pelo estilo descritivo.
2. O estilo poético de Augusto dos Anjos, um dos personagens centrais da obra, está exemplificado em vários
trechos do romance. São exemplos disso a enumeração de vocábulos de teor melancólico e pessimista e o uso
de imagens que recriam uma atmosfera mórbida.
3. O narrador do romance adota uma perspectiva distanciada em relação à história e aos personagens reais que
recria, contribuindo para reforçar o seu caráter documental e o efeito de veracidade que pretende.
4. A construção dos personagens Olavo Bilac e Augusto dos Anjos combina dados biográficos dos dois poetas com
cenas domésticas e particulares, que conferem a eles uma inegável complexidade humana e psicológica.
5. A dimensão temporal-espacial do romance recria, ficcionalmente, a cidade do Rio de Janeiro, no final do século
XIX, descrevendo o ambiente material da cidade, os fatos de sua história no período e também a atmosfera
intelectual da Belle Époque. 

Assinale a alternativa correta.

  • A)Somente as afirmativas 1 e 4 são verdadeiras.
  • B)Somente as afirmativas 2 e 3 são verdadeiras.
  • C)Somente as afirmativas 3 e 5 são verdadeiras.
  • D)Somente as afirmativas 1, 2 e 4 são verdadeiras.
  • E)Somente as afirmativas 2, 4 e 5 são verdadeiras.
FAZER COMENTÁRIO

A alternativa correta é E)

O trecho de A última quimera, de Ana Miranda, revela uma narrativa profundamente marcada pelo tom melancólico e introspectivo, características que remetem ao estilo poético de Augusto dos Anjos, um dos personagens centrais da obra. A enumeração de elementos como "angústia", "dor física", "morbidez" e "morte" exemplifica o vocabulário pessimista e a atmosfera mórbida típicos da poesia de Augusto dos Anjos, confirmando a afirmativa 2.

Além disso, a construção dos personagens Olavo Bilac e Augusto dos Anjos não se limita a dados biográficos, mas incorpora cenas íntimas e psicológicas que os humanizam, conferindo-lhes complexidade. Essa abordagem, que mistura realidade e ficção, sustenta a afirmativa 4.

Por fim, a obra recria ficcionalmente o Rio de Janeiro do final do século XIX, capturando não apenas sua materialidade urbana, mas também o clima intelectual da Belle Époque. Essa dimensão histórico-espacial corrobora a afirmativa 5.

As afirmativas 1 e 3, no entanto, não se sustentam. O romance não prioriza um tom documental ou científico, nem adota um narrador distanciado; pelo contrário, a subjetividade e a carga emocional permeiam a narrativa. Portanto, a alternativa correta é a E) Somente as afirmativas 2, 4 e 5 são verdadeiras.

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Questão 50

Psicologia de um vencido

Eu, filho do carbono e do amoníaco,
Monstro de escuridão e rutilância,
Sofro, desde a epigênesis da infância,
A influência má dos signos do zodíaco.

Profundíssimamente hipocondríaco,
Este ambiente me causa repugnância…
Sobe-me à boca uma ânsia análoga à ânsia
Que se escapa da boca de um cardíaco.

Já o verme — este operário das ruínas —
Que o sangue podre das carnificinas
Come, e à vida em geral declara guerra,

Anda a espreitar meus olhos para roê-los,
E há de deixar-me apenas os cabelos,
Na frialdade inorgânica da terra!

ANJOS, A. Obra completa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1994.

A poesia de Augusto dos Anjos revela aspectos de uma literatura de transição designada como pré-modernista. Com relação à poética e à abordagem temática presentes no soneto, identificam-se marcas dessa literatura de transição, como






















  • A)a forma do soneto, os versos metrificados, a presença de rimas e o vocabulário requintado, além do ceticismo, que antecipam conceitos estéticos vigentes no Modernismo.
  • B)o empenho do eu lírico pelo resgate da poesia simbolista, manifesta em metáforas como “Monstro de escuridão e rutilância” e “influência má dos signos do zodíaco”.
  • C)a seleção lexical emprestada ao cientificismo, como se lê em “carbono e amoníaco”, “epigênesis da infância” e “frialdade inorgânica”, que restitui a visão naturalista do homem.
  • D)a manutenção de elementos formais vinculados à estética do Parnasianismo e do Simbolismo, dimensionada pela inovação na expressividade poética, e o desconcerto existencial.
  • E)a ênfase no processo de construção de uma poesia descritiva e ao mesmo tempo filosófica, que incorpora valores morais e científicos mais tarde renovados pelos modernistas.
FAZER COMENTÁRIO

A alternativa correta é D)

Psicologia de um vencido: análise da poética de Augusto dos Anjos

O soneto "Psicologia de um vencido", de Augusto dos Anjos, exemplifica as características de transição entre as estéticas do final do século XIX e as vanguardas modernistas. A obra sintetiza elementos parnasianos e simbolistas com uma temática inovadora que prenuncia o desconcerto existencial típico do século XX.

A manutenção da forma clássica do soneto, com versos metrificados e rimas perfeitas, demonstra o lastro parnasiano na obra de Augusto dos Anjos. Contudo, o poeta subverte essa tradição ao empregar um vocabulário científico ("carbono", "amoníaco", "epigênese") que desmitifica o lirismo romântico e apresenta uma visão naturalista da condição humana.

A temática do poema revela um profundo pessimismo existencial, marcado por imagens como "monstro de escuridão e rutilância" e a premonição da morte orgânica. Essa angústia metafísica, associada a um tratamento cru da realidade biológica, antecipa preocupações que seriam desenvolvidas pelo Modernismo.

A opção D corretamente identifica essa síntese entre tradição formal e inovação temática. Augusto dos Anjos preserva a disciplina métrica do Parnasianismo enquanto incorpora uma visão de mundo desencantada, científica e profundamente pessimista que rompe com os cânones do século XIX.

Assim, o poema representa um momento singular na literatura brasileira, onde convivem o rigor formal herdado do século XIX e uma sensibilidade moderna que questiona os fundamentos da existência humana através de uma linguagem ao mesmo tempo erudita e científica.

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