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Psicologia de um vencido Eu, filho do carbono e do amoníaco, Monstro de escuridão e rutilância, Sofro, desde a epigênesis da infância, A influência má dos signos do zodíaco. Profundíssimamente hipocondríaco, Este ambiente me causa repugnância… Sobe-me à boca uma ânsia análoga à ânsia Que se escapa da boca de um cardíaco. Já o verme — este operário das ruínas — Que o sangue podre das carnificinas Come, e à vida em geral declara guerra, Anda a espreitar meus olhos para roê-los, E há de deixar-me apenas os cabelos, Na frialdade inorgânica da terra! ANJOS, A. Obra completa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1994.A poesia de Augusto dos Anjos revela aspectos de uma literatura de transição designada como pré-modernista. Com relação à poética e à abordagem temática presentes no soneto, identificam-se marcas dessa literatura de transição, como

Psicologia de um vencido

Eu, filho do carbono e do amoníaco,
Monstro de escuridão e rutilância,
Sofro, desde a epigênesis da infância,
A influência má dos signos do zodíaco.

Profundíssimamente hipocondríaco,
Este ambiente me causa repugnância…
Sobe-me à boca uma ânsia análoga à ânsia
Que se escapa da boca de um cardíaco.

Já o verme — este operário das ruínas —
Que o sangue podre das carnificinas
Come, e à vida em geral declara guerra,

Anda a espreitar meus olhos para roê-los,
E há de deixar-me apenas os cabelos,
Na frialdade inorgânica da terra!

ANJOS, A. Obra completa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1994.

A poesia de Augusto dos Anjos revela aspectos de uma literatura de transição designada como pré-modernista. Com relação à poética e à abordagem temática presentes no soneto, identificam-se marcas dessa literatura de transição, como






















Resposta:

A alternativa correta é D)

Psicologia de um vencido: análise da poética de Augusto dos Anjos

O soneto "Psicologia de um vencido", de Augusto dos Anjos, exemplifica as características de transição entre as estéticas do final do século XIX e as vanguardas modernistas. A obra sintetiza elementos parnasianos e simbolistas com uma temática inovadora que prenuncia o desconcerto existencial típico do século XX.

A manutenção da forma clássica do soneto, com versos metrificados e rimas perfeitas, demonstra o lastro parnasiano na obra de Augusto dos Anjos. Contudo, o poeta subverte essa tradição ao empregar um vocabulário científico ("carbono", "amoníaco", "epigênese") que desmitifica o lirismo romântico e apresenta uma visão naturalista da condição humana.

A temática do poema revela um profundo pessimismo existencial, marcado por imagens como "monstro de escuridão e rutilância" e a premonição da morte orgânica. Essa angústia metafísica, associada a um tratamento cru da realidade biológica, antecipa preocupações que seriam desenvolvidas pelo Modernismo.

A opção D corretamente identifica essa síntese entre tradição formal e inovação temática. Augusto dos Anjos preserva a disciplina métrica do Parnasianismo enquanto incorpora uma visão de mundo desencantada, científica e profundamente pessimista que rompe com os cânones do século XIX.

Assim, o poema representa um momento singular na literatura brasileira, onde convivem o rigor formal herdado do século XIX e uma sensibilidade moderna que questiona os fundamentos da existência humana através de uma linguagem ao mesmo tempo erudita e científica.

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