INSTRUÇÃO: Para responder à questão 32, leia o trecho a seguir, retirado de Memórias Póstumas de Brás Cubas, de Machado de Assis.“Ultimamente, restituído à forma humana, vi chegar um hipopótamo, que me arrebatou. Deixei-me ir, calado, não sei se por medo ou confiança; mas, dentro em pouco, a carreira de tal modo se tornou vertiginosa, que me atrevi a interrogá-lo, e com alguma arte lhe disse que a viagem me parecia sem destino. – Engana-se, replicou o animal, nós vamos à origem dos séculos. Insinuei que deveria ser muitíssimo longe; mas o hipopótamo não me entendeu ou não me ouviu, se é que não fingiu uma dessas coisas, e, perguntando-lhe, visto que ele falava, se era descendente do cavalo de Aquiles ou da asna de Balaão, retorquiu-me com um gesto peculiar a estes dois quadrúpedes: abanou as orelhas. Pela minha parte fechei os olhos e deixei-me ir à ventura. Já agora não se me dá de confessar que sentia umas tais ou quais cócegas de curiosidade, por saber onde ficava a origem do Nilo, e sobretudo se valia alguma coisa mais ou menos que a consumação dos mesmos séculos: reflexões de cérebro enfermo. Como ia de olhos fechados, não via o caminho; lembra-me só que a sensação de frio aumentava com a jornada, e que chegou uma ocasião em que me pareceu entrar na região dos gelos eternos.” Todas as afirmativas estão corretamente associadas ao texto, EXCETO:
INSTRUÇÃO: Para responder à questão 32, leia o
trecho a seguir, retirado de Memórias Póstumas de
Brás Cubas, de Machado de Assis.
“Ultimamente, restituído à forma humana, vi chegar um
hipopótamo, que me arrebatou. Deixei-me ir, calado, não
sei se por medo ou confiança; mas, dentro em pouco,
a carreira de tal modo se tornou vertiginosa, que me
atrevi a interrogá-lo, e com alguma arte lhe disse que a
viagem me parecia sem destino.
– Engana-se, replicou o animal, nós vamos à origem
dos séculos.
Insinuei que deveria ser muitíssimo longe; mas o hipopótamo
não me entendeu ou não me ouviu, se é
que não fingiu uma dessas coisas, e, perguntando-lhe,
visto que ele falava, se era descendente do cavalo de
Aquiles ou da asna de Balaão, retorquiu-me com um
gesto peculiar a estes dois quadrúpedes: abanou as
orelhas. Pela minha parte fechei os olhos e deixei-me
ir à ventura. Já agora não se me dá de confessar que
sentia umas tais ou quais cócegas de curiosidade, por
saber onde ficava a origem do Nilo, e sobretudo se valia
alguma coisa mais ou menos que a consumação dos
mesmos séculos: reflexões de cérebro enfermo. Como
ia de olhos fechados, não via o caminho; lembra-me
só que a sensação de frio aumentava com a jornada,
e que chegou uma ocasião em que me pareceu entrar
na região dos gelos eternos.”
Todas as afirmativas estão corretamente associadas ao
texto, EXCETO:
- A)O texto configura uma tomada de consciência da personalidade dividida entre o eu e a realidade objetiva, tema frequente no final do século XIX, por influência dos avanços da ciência e da psicanálise.
- B)Machado de Assis foi um escritor que fez uso reiterado da ironia que, nesse texto, se expressa na personificação do animal e na sua capacidade de retornar aos tempos primordiais.
- C)A aventura de Brás Cubas, cavalgando um hipopótamo, em direção à origem dos séculos, configura um tipo de viagem diferente, pois se dá através do delírio da personagem machadiana.
- D)O narrador vale-se do recurso da humanização dos animais para expressar o sentimento de medo ao enfrentar uma viagem sem destino.
- E)As referências à mitologia clássica, comuns em Machado de Assis, costumam configurar uma perspectiva humorística, que, no caso de Memórias Póstumas de Brás Cubas, aparece no parentesco entre o cavalo de Aquiles e o hipopótamo.
Resposta:
A alternativa correta é D)
O trecho de Memórias Póstumas de Brás Cubas, de Machado de Assis, apresenta uma narrativa onírica e alegórica, na qual Brás Cubas é levado por um hipopótamo em uma viagem fantástica rumo à "origem dos séculos". A análise das alternativas revela que a opção D) é a única que não se adequa plenamente ao texto, pois o narrador não expressa medo, mas sim uma mistura de curiosidade e passividade diante do desconhecido.
A alternativa A) está correta ao associar o texto à temática da dualidade entre o eu e a realidade, comum no final do século XIX, influenciada pelo pensamento científico e psicanalítico. Já a alternativa B) destaca a ironia machadiana, presente na personificação do hipopótamo e no tom absurdo da viagem. A alternativa C) também está correta ao apontar que a viagem ocorre em um estado de delírio, característico do estilo inovador de Machado. Por fim, a alternativa E) identifica corretamente o uso humorístico das referências mitológicas, como o cavalo de Aquiles e a asna de Balaão.
A afirmação incorreta, portanto, é a D), já que o narrador não demonstra medo, mas sim uma curiosidade resignada, conforme evidenciado no trecho: "sentia umas tais ou quais cócegas de curiosidade". A humanização do hipopótamo serve mais como um recurso irônico e filosófico do que como expressão de temor.
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