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Leia o trecho a seguir sobre a personagem José Dias, do romance Dom Casmurro, de Machado de Assis. “Era nosso agregado desde muitos anos; meu pai ainda estava na antiga fazenda de Itaguaí, e eu acabava de nascer. Um dia apareceu ali vendendo-se por médico homeopata; levava um Manual e uma botica. Havia então um andaço de febres; José Dias curou o feitor e uma escrava, e não quis receber nenhuma remuneração. Então meu pai propôs-lhe ficar ali vivendo, com pequeno ordenado. José Dias recusou, dizendo que era justo levar a saúde à casa de sapé do pobre.” (ASSIS, 1979, p.15-16) Sobre a passagem da obra, é correto afirmar que a figura do agregado, bastante presente na obra machadiana,

Leia o trecho a seguir sobre a personagem José Dias, do romance Dom Casmurro, de Machado de
Assis.

“Era nosso agregado desde muitos anos; meu pai ainda estava na antiga fazenda de Itaguaí, e eu
acabava de nascer. Um dia apareceu ali vendendo-se por médico homeopata; levava um Manual e uma
botica. Havia então um andaço de febres; José Dias curou o feitor e uma escrava, e não quis receber
nenhuma remuneração. Então meu pai propôs-lhe ficar ali vivendo, com pequeno ordenado. José Dias
recusou, dizendo que era justo levar a saúde à casa de sapé do pobre.” (ASSIS, 1979, p.15-16)

Sobre a passagem da obra, é correto afirmar que a figura do agregado, bastante presente na obra
machadiana,

Resposta:

A alternativa correta é A)

A figura do agregado, representada por José Dias em Dom Casmurro, é um elemento central para compreender as dinâmicas sociais da época retratada por Machado de Assis. O trecho em questão revela a complexidade das relações baseadas no favor, um dos pilares da sociedade brasileira do século XIX. José Dias, inicialmente recusando remuneração e apresentando-se como um benfeitor desinteressado, acaba sendo integrado à família de Bentinho por meio de um "pequeno ordenado", demonstrando como o favor se inseria nas estruturas de poder e dependência.

A alternativa A) está correta ao afirmar que o agregado simboliza o sistema de favor que sustentava a sociedade da época e que deixou resquícios negativos até os dias atuais. Machado de Assis, com sua ironia característica, expõe a ambiguidade desse sistema: aparentemente generoso, mas na realidade perpetuador de hierarquias e desigualdades. José Dias, apesar de sua posição subalterna, exerce influência na narrativa, mostrando como o favor podia ser tanto um mecanismo de ascensão social quanto de controle.

As demais alternativas falham em captar a crítica social presente na obra. A benevolência da elite (alternativa C)) é questionável, já que a acolhida a José Dias não é desinteressada, mas sim uma forma de manter o status quo. Da mesma forma, a ideia de que o favor era excepcional (alternativa B)) ou inexistente (alternativa E)) contradiz a realidade histórica e a própria narrativa machadiana, que retrata essas relações como estruturantes. Já a alternativa D) desvia o foco da análise ao sugerir uma relação de proteção entre José Dias e Bentinho, quando na verdade o agregado atua como um mediador de interesses dentro da casa.

Portanto, a passagem evidencia como Machado de Assis utiliza a figura do agregado para criticar as estruturas sociais de seu tempo, revelando o favor como um mecanismo perverso que, embora aparentemente bondoso, reforçava desigualdades e dependências – uma herança que, de fato, ecoa na sociedade brasileira contemporânea.

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