No fragmento a seguir, extraído do capítulo XIV das Memórias póstumas de Brás Cubas, o narrador conta como ele conheceu Marcela, que viria a ser o primeiro amor de sua vida. Via-a, pela primeira vez, no Rossio Grande, na noite das luminárias, logo que constou a declaração da independência, uma festa de primavera, um amanhecer da alma pública. Éramos dous rapazes, o povo e eu; vínhamos da infância, com todos os arrebatamentos da juventude. Via-a sair de uma cadeirinha, airosa e vistosa, um corpo esbelto, ondulante, um desgarre, alguma coisa que nunca achara nas mulheres puras. – Segue-me, disse ela ao pajem. E eu seguia-a, tão pajem como o outro, como se a ordem me fosse dada, deixei-me ir namorado, vibrante, cheio das primeiras auroras. A meio caminho, chamaram-lhe “linda Marcela”, lembrou-me que ouvira tal nome a meu tio João, e fiquei, confesso que fiquei tonto. (…) Machado de Assis, Memórias póstumas de Brás Cubas.A ideia do narrador de que ele e “o povo” eram “dous rapazes” está ligada ao fato de Brás Cubas ser jovem e
No fragmento a seguir, extraído do capítulo XIV das Memórias póstumas de Brás Cubas, o narrador
conta como ele conheceu Marcela, que viria a ser o primeiro amor de sua vida.
Via-a, pela primeira vez, no Rossio Grande, na noite das luminárias, logo que constou a declaração da
independência, uma festa de primavera, um amanhecer da alma pública. Éramos dous rapazes, o povo e eu; vínhamos da infância, com todos os arrebatamentos da juventude. Via-a sair de uma cadeirinha, airosa e vistosa, um corpo esbelto, ondulante, um desgarre, alguma coisa que nunca achara nas mulheres puras. – Segue-me, disse ela ao pajem. E eu seguia-a, tão pajem como o outro,
como se a ordem me fosse dada, deixei-me ir namorado, vibrante, cheio das primeiras auroras. A meio caminho, chamaram-lhe “linda Marcela”, lembrou-me que ouvira tal nome a meu tio João, e fiquei, confesso que fiquei tonto. (…)
Machado de Assis, Memórias póstumas de Brás Cubas.
A ideia do narrador de que ele e “o povo” eram “dous rapazes” está ligada ao fato de Brás Cubas ser jovem e
- A)o Brasil estar abolindo a escravidão no final do século XIX.
- B)o país ter obtido sua independência econômica da Inglaterra.
- C)o povo brasileiro estar iniciando a fase nacional de nossa história.
- D)a independência política do Brasil ter ocorrido precocemente.
- E)Portugal querer que o país paulatinamente se desligasse da metrópole.
Resposta:
A alternativa correta é C)
No fragmento das Memórias Póstumas de Brás Cubas, Machado de Assis constrói uma metáfora significativa ao comparar o narrador e "o povo" a "dous rapazes" que emergem da infância para a juventude. Essa analogia não se limita apenas à experiência individual de Brás Cubas, mas reflete um momento histórico crucial para o Brasil: o início de sua vida como nação independente.
A opção correta (C) aponta para a interpretação de que o povo brasileiro estava iniciando a fase nacional de sua história, assim como Brás Cubas vivia sua juventude. A cena ocorre durante as celebrações da independência, um "amanhecer da alma pública", como descreve o narrador. Esse paralelo entre o despertar da vida adulta do protagonista e o despertar político do país é central no trecho.
Machado de Assis, com sua ironia característica, sugere que tanto Brás Cubas quanto o Brasil estavam em um momento de formação, cheios de expectativas e arrebatamentos, mas também de ingenuidades. A juventude do narrador espelha a juventude da nação, ambos em um processo de descoberta de si mesmos e do mundo.
As outras alternativas não se sustentam no contexto do fragmento. A independência política (D) não é tratada como precoce, mas como um marco natural de crescimento. Não há menção à abolição (A), à independência econômica da Inglaterra (B) ou a um desligamento paulatino de Portugal (E). O foco está na metáfora do nascimento de uma nova fase histórica, representada pela juventude do protagonista e do país.
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