O que primeiro chama a atenção na ficção de Machado de Assis é a despreocupação com as modas dominantes e o aparente arcaísmo da técnica. No momento em que Flaubert sistematizava a teoria do “romance que narra a si próprio”, apagando o narrador atrás da objetividade da narrativa, ou no momento em que Zola preconizava o inventário maciço da realidade, observada nos menores detalhes, Machado cultivava livremente o elíptico, o incompleto, o fragmentário, intervindo na narrativa com bisbilhotice saborosa, lembrando que atrás dela estava a voz convencional. Era uma forma de manter, na segunda metade do século XIX, o tom caprichoso de Stern (1713 – 1738), que ele prezava; de efetuar os seus saltos temporais e brincar com o leitor. Era também um eco do conte philosophique, à maneira de Voltaire (1694 – 1778), e era, sobretudo, o seu modo próprio de deixar as coisas meio no ar, inclusive criando certas perplexidades não resolvidas. Antonio Candido. Esquema de Machado de Assis. In: Vários Escritos. 3.ª ed. São Paulo: Duas Cidades, 1995 (com adaptações)Considerando as ideias do texto precedente e a relação desse texto com a historiografia literária brasileira, julgue o seguinte item.Assim como Machado de Assis, escritores do Modernismo brasileiro também recuperaram o modelo antirrealista do século XVIII.
O que primeiro chama a atenção na ficção de Machado de
Assis é a despreocupação com as modas dominantes e o aparente
arcaísmo da técnica. No momento em que Flaubert sistematizava a
teoria do “romance que narra a si próprio”, apagando o narrador
atrás da objetividade da narrativa, ou no momento em que Zola
preconizava o inventário maciço da realidade, observada nos
menores detalhes, Machado cultivava livremente o elíptico, o
incompleto, o fragmentário, intervindo na narrativa com
bisbilhotice saborosa, lembrando que atrás dela estava a voz
convencional. Era uma forma de manter, na segunda metade do
século XIX, o tom caprichoso de Stern (1713 – 1738), que ele
prezava; de efetuar os seus saltos temporais e brincar com o leitor.
Era também um eco do conte philosophique, à maneira de
Voltaire (1694 – 1778), e era, sobretudo, o seu modo próprio
de deixar as coisas meio no ar, inclusive criando certas
perplexidades não resolvidas.
Antonio Candido. Esquema de Machado de Assis. In: Vários
Escritos. 3.ª ed. São Paulo: Duas Cidades, 1995 (com adaptações)
Considerando as ideias do texto precedente e a relação desse texto
com a historiografia literária brasileira, julgue o seguinte item.
Assim como Machado de Assis, escritores do Modernismo
brasileiro também recuperaram o modelo antirrealista do
século XVIII.
- C) CERTO
- E) ERRADO
Resposta:
A alternativa correta é E)
O texto de Antonio Candido destaca a singularidade da técnica narrativa de Machado de Assis, que se distanciava das correntes literárias dominantes de seu tempo, como o realismo de Flaubert e o naturalismo de Zola. Em vez de aderir a essas tendências, Machado optou por um estilo fragmentário, irônico e interventivo, resgatando elementos do século XVIII, como a influência de Laurence Sterne e o conte philosophique de Voltaire. Essa abordagem contrastava com o rigor formal e a objetividade que caracterizavam as obras de seus contemporâneos europeus.
No entanto, ao afirmar que os escritores modernistas brasileiros também recuperaram o modelo antirrealista do século XVIII, o item comete um equívoco. O Modernismo no Brasil, embora tenha rompido com as convenções literárias tradicionais, inspirou-se principalmente nas vanguardas europeias do início do século XX, como o futurismo, o cubismo e o surrealismo, além de valorizar a cultura popular e nacional. A conexão direta com o antirrealismo setecentista, como feito por Machado de Assis, não é uma característica central do movimento modernista. Portanto, a afirmação está incorreta.
Em suma, enquanto Machado de Assis dialogou com a tradição literária do século XVIII de maneira singular, os modernistas buscaram outras referências e rupturas, consolidando um projeto estético distinto. A resposta correta, portanto, é E) ERRADO.
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