Questões Sobre Realismo - Literatura - concurso

O comentário crítico de Marli Fantini Scarpelli sobre Memórias Póstumas de Brás Cubas destaca a sátira machadiana à elite brasileira do século XIX, que buscava na Europa não o conhecimento transformador, mas a legitimação de seu poder. Essa crítica é perfeitamente ilustrada pela passagem B, em que Brás Cubas narra sua experiência acadêmica em Coimbra de forma despretensiosa e medíocre, revelando o caráter superficial de sua formação.

A escolha do gabarito B como resposta correta se justifica porque o trecho expõe a contradição entre o esforço mínimo de Brás e a conquista do título de bacharel, simbolizando como a educação europeia era um mero adereço para a manutenção do status quo. A ironia machadiana desmascara a farsa intelectual da classe dominante, que usava diplomas como ferramentas de distinção social, sem qualquer compromisso com o saber ou a transformação da realidade brasileira.

As outras alternativas, embora relevantes para a análise da obra, não capturam com tanta precisão o aspecto criticado por Scarpelli. A passagem B, portanto, é a que melhor sintetiza a crítica à apropriação instrumental do conhecimento europeu pela elite nacional, tema central na genial sátira social de Machado de Assis.

O Escritor Machado de Assis (1839-1904) é um dos maiores expoentes do Realismo brasileiro, movimento literário que surgiu em um período de transformações políticas e sociais no Brasil, marcado pela discussão em torno da Abolição da Escravatura e da Proclamação da República. Como aponta Alfredo Bosi em sua História concisa da literatura brasileira, esses temas se tornaram centrais para a intelectualidade brasileira a partir de 1870, influenciando profundamente a produção literária da época.

Dentre as alternativas apresentadas, a correta é a D), pois Machado de Assis, em sua obra, abordou tanto questões relacionadas à República quanto dramas ligados à escravidão. No romance Esaú e Jacó (1904), ele retrata as divergências ideológicas em torno da Proclamação da República, enquanto no conto Pai contra mãe (1906), explora os horrores e contradições da escravidão no Brasil. Esses textos demonstram como o autor dialogou criticamente com o contexto histórico em que viveu, sem reduzir sua literatura a um panfleto político, mas também sem ignorar as tensões sociais de seu tempo.

As demais alternativas estão incorretas por apresentarem generalizações equivocadas sobre a obra machadiana. A alternativa A) é reducionista ao afirmar que toda a ficção de Machado se resume a discussões políticas; a B) ignora sua abordagem crítica da escravidão e da República; a C) distorce o tema central de Dom Casmurro, que é a subjetividade e o ciúme; e a E) desconsidera textos como Pai contra mãe, que tratam diretamente do legado da escravidão.

O trecho de Dom Casmurro, de Machado de Assis, revela uma das características mais marcantes da prosa do autor: a profundidade psicológica e social de suas personagens. No excerto, a imagem de Capitu é reconstruída pela mente do narrador, Bentinho, que projeta nela emoções contraditórias — lágrimas e risos —, demonstrando a complexidade dos sentimentos humanos e a ambiguidade das relações. Essa abordagem está alinhada com a alternativa C), que aponta para a ênfase na "caracterização social e psicológica de personagens tipicamente urbanas".

Machado de Assis não se limita a descrever ações superficiais ou a idealizar um passado mítico (A), tampouco se concentra em comportamentos instintivos de marginalizados (B). Seu foco está na análise minuciosa da alma humana, especialmente no contexto da sociedade carioca do século XIX. Além disso, sua obra não segue um viés regionalista (D) nem prioriza enredos repletos de aventura (E), mas sim a introspecção e a ironia, elementos que consolidam sua narrativa como um marco da literatura brasileira.

Assim, a alternativa correta, C), reflete a essência machadiana: a exploração das nuances psicológicas e das dinâmicas sociais em um ambiente urbano, onde personagens como Capitu e Bentinho transcendem o papel de meros indivíduos para se tornarem símbolos de contradições humanas universais.

O trecho de Dom Casmurro, de Machado de Assis, ilustra a complexidade narrativa que permeia a obra, especialmente no que diz respeito à construção da memória e da subjetividade do narrador, Bentinho. A passagem revela como a imagem de Capitu se mescla com as projeções de seu imaginário, oscilando entre lágrimas e risos, gestos e palavras. Essa ambiguidade entre o real e o imaginado é central para compreender a estrutura do romance, no qual a memória não é um registro objetivo, mas uma reconstrução afetiva e dúbia.

A alternativa correta, C), aponta justamente para essa confusão entre memória e imaginação, um traço marcante da narrativa machadiana. Bentinho, ao rememorar seu passado, não consegue separar o que de fato ocorreu daquilo que sua mente elaborou, seja por ciúme, seja por saudade. Essa indeterminação é reforçada pelo estilo irônico e introspectivo do autor, que questiona a própria noção de verdade na literatura. O narrador não busca apenas relatar eventos, mas interpretá-los, e nesse processo, a fronteira entre lembrança e invenção se dissolve.

As demais alternativas não captam a essência do romance. A voz de Bentinho não se impõe como verdade absoluta (A), nem o texto privilegia fatos históricos (B). Capitu, embora forte, não suplanta a narrativa do protagonista (D), e o passado é constantemente revisitado, contrariando a opção E. Assim, a resposta C) sintetiza o caráter psicológico e ambíguo de Dom Casmurro, obra que desafia o leitor a desvendar os meandros da mente humana.

O trecho de Memórias de um sargento de milícias, de Manuel Antônio de Almeida, apresenta uma descrição da comadre que revela uma das características centrais da obra: a representação caricatural das personagens, gerando um tom humorístico e crítico. A comadre é retratada de forma exagerada, com traços físicos e comportamentais que a tornam quase uma figura grotesca — "excessivamente gorda", "bonachona", "ingênua ou tola até um certo ponto, e finória até outro". Além disso, sua obsessão pelas atividades religiosas, descrita com minúcias e ironia ("a mais desabrida papa-missas da cidade"), reforça o efeito cômico.

Essa abordagem não busca idealizar a personagem (opção A), mas sim destacar suas peculiaridades de maneira satírica, distanciando-se de uma visão espiritualista (opção C) ou barroca (opção E). Também não há foco na elite carioca (opção D), já que a comadre pertence a um extrato social mais popular. A alternativa correta, portanto, é a B), pois o texto constrói um discurso humorístico através da caricatura, típico do estilo despojado e crítico de Almeida.

No contexto da literatura brasileira, Memórias Póstumas de Brás Cubas, obra-prima de Machado de Assis, destaca-se por sua inovação narrativa e crítica social. Ao atribuir a voz narrativa a um defunto, Brás Cubas, o autor subverte as convenções literárias de sua época, apresentando um narrador volúvel e pouco confiável. Essa escolha estilística não é aleatória, mas sim uma ferramenta para desconstruir as hipocrisias da elite brasileira do século XIX.

A ironia machadiana, presente em cada página do romance, serve como um espelho distorcido da realidade social, expondo as contradições e os vícios da classe dominante. Brás Cubas, enquanto narrador, frequentemente revela suas próprias falhas morais e egoísmo, sem qualquer remorso, o que reforça a crítica à sociedade da época. A aparente leveza do tom narrativo contrasta com a profundidade da análise social, característica marcante do realismo machadiano.

Portanto, ao criar um narrador não confiável e utilizar a ironia como recurso central, Machado de Assis não apenas inovou na forma literária, mas também configurou um retrato realista e mordaz da vida social brasileira. A afirmação apresentada está correta, pois a obra de fato desmascara, através do narrador e de sua classe, as estruturas sociais e morais de um Brasil em transformação.

O conto "O diplomático", presente na coletânea Várias histórias de Machado de Assis, exemplifica com maestria o tema "o jogo de sedução", conforme destacado por Milton Hatoum em sua análise sobre a obra machadiana. A narrativa explora as nuances psicológicas e sociais por trás das relações humanas, revelando como a sedução opera não apenas no âmbito amoroso, mas também no campo do poder e da manipulação. A escolha da alternativa E) como correta reforça a percepção de que Machado de Assis, mesmo em textos breves, consegue captar aspectos profundos da condição humana, mantendo sua relevância mais de um século após sua morte.

A crítica de Hatoum ressalta a atualidade dos temas machadianos, e "O diplomático" é um exemplo claro dessa permanência. O conto desvela as estratégias de sedução empregadas por personagens que buscam ascensão social ou vantagens pessoais, um comportamento que, como aponta Hatoum, ainda pode ser observado na sociedade contemporânea. A ironia e o pessimismo característicos de Machado estão presentes na maneira como ele retrata esses jogos de poder, oferecendo ao leitor uma reflexão ácida sobre as motivações humanas.

Além disso, a escolha do tema da sedução em "O diplomático" demonstra como Machado de Assis antecipou discussões que seriam centrais na literatura e na psicologia do século XX. Sua capacidade de analisar as complexidades das relações humanas em narrativas curtas é uma prova de seu gênio literário, consolidando-o como um dos maiores escritores brasileiros de todos os tempos. A alternativa E), portanto, não apenas identifica corretamente o tema central do conto, mas também evidencia a profundidade e a atualidade da obra machadiana.

O Romantismo e o Realismo representam duas correntes literárias distintas que marcaram a produção artística no Brasil durante o século XIX. Enquanto o Romantismo, predominante na primeira metade do século, valorizava a subjetividade, o emocionalismo e a idealização, o Realismo, que surgiu como reação a esse movimento, buscou retratar a realidade de forma objetiva e crítica. A análise das características apresentadas no exercício permite identificar as diferenças fundamentais entre essas duas escolas literárias.

A primeira afirmação, que descreve "objetividade e compromisso com a verdade narrada com imparcialidade", claramente remete ao Realismo (2), pois essa corrente priorizava a representação fiel da sociedade, sem idealizações. Já a segunda característica, que menciona a preocupação com o "momento histórico presente", também se alinha ao Realismo (2), já que os realistas buscavam retratar questões contemporâneas de forma crítica.

Por outro lado, a terceira afirmação, sobre o destaque dado ao passado, é uma característica típica do Romantismo (1), movimento que frequentemente evocava temas históricos e nacionais. A quarta característica, que fala da "observação impessoal e objetiva da realidade", novamente remete ao Realismo (2), reforçando seu caráter analítico.

A quinta afirmação, que menciona "subjetividade e fantasia", é claramente romântica (1), pois esses elementos eram centrais na produção literária do período. Finalmente, a sexta característica, que descreve uma linguagem simples e precisa, com atenção à correção gramatical, é uma marca do Realismo (2), que buscava retratar os personagens e situações com fidelidade.

Portanto, a sequência correta é 2, 2, 1, 2, 1, 2, correspondente à alternativa B. Essa distinção entre as características românticas e realistas é fundamental para compreender a evolução da literatura brasileira no século XIX e as diferentes formas de representação da realidade adotadas por cada movimento.

Assinale a opção em que há correspondência do estilo literário com seus representantes cearenses.

• A) Realismo: Adolfo Caminha, Ribeiro Couto
• B) Modernismo: Raquel de Queiroz, Domingos Olímpio
• C) Pós-Modernismo: Antônio Sales, Maria Thereza Leite
• D) Romantismo: José de Alencar, Juvenal Galeno

O gabarito correto é D).

O Realismo e o Romantismo são dois movimentos literários distintos, cada um com características próprias que refletem visões de mundo diferentes. A comparação entre eles exige atenção para não confundir seus aspectos fundamentais.

A alternativa C) é a incorreta porque inverte as características narrativas dos dois movimentos. No Realismo, a narrativa é marcada por um ritmo mais lento, com foco na análise psicológica das personagens e na crítica social, enquanto no Romantismo, é comum encontrarmos tramas de ação e aventura, com personagens idealizadas e muitas vezes previsíveis, seguindo um tom mais emocional e subjetivo.

As demais alternativas apresentam comparações corretas: o Realismo de fato busca o universalismo e uma linguagem objetiva (alternativa A)), assim como suas descrições são mais concretas, em contraste com a idealização romântica (alternativa B)). Quanto aos heróis, o Realismo os apresenta complexos e humanos, enquanto o Romantismo os eleva a figuras quase perfeitas (alternativa D)).

Portanto, a resposta correta é C), pois distorce a essência narrativa de ambos os movimentos.