Questões Sobre Realismo - Literatura - concurso
Questão 31
é mortal, [esse silogismo] parecera-lhe, durante toda
a sua vida, correto em relação a Caio, mas de modo
algum em relação a ele.”
Editora 34, 2006.
Exceção entre os animais, o homem é o único que
carrega consigo a certeza da sua própria morte.
Esse conhecimento antecipado serve tanto de medida
e restrição para as ambições da vida quanto de
combustível para atos que garantam algum tipo de
imortalidade. De maneira geral, ao defrontar-se com
a morte, o ser humano tem noção dos seus limites e
daquilo que é possível fazer enquanto está vivo. Planos,
viagens, sonhos são marcos postos entre cada
um e seu próprio fim. Nesta prova você se deparará
com textos que refletem sobre esse tema.
Póstumas de Brás Cubas, de Machado de Assis.
um ilustre viajante viu desferirem o voo desde o
Ilisso às ribas africanas, sem embargo das ruínas
e dos tempos, – a imaginação dessa senhora também
voou por sobre os destroços presentes até às
ribas de uma África juvenil… Deixá-la ir; lá iremos
mais tarde; lá iremos quando eu me restituir aos
primeiros anos. Agora, quero morrer tranquilamente,
metodicamente, ouvindo os soluços das damas, as
falas baixas dos homens, a chuva que tamborila nas
folhas de tinhorão da chácara, e o som estrídulo de
uma navalha que um amolador está afiando lá fora, à
porta de um correeiro. Juro-lhes que essa orquestra
da morte foi muito menos triste do que podia parecer.
De certo ponto em diante chegou a ser deliciosa. A
vida estrebuchava-me no peito, com uns ímpetos de
vaga marinha, esvaía-se-me a consciência, eu descia
à imobilidade física e moral, e o corpo fazia-se-me
planta, e pedra e lodo, e coisa nenhuma.
foi menos a pneumonia, do que uma ideia grandiosa
e útil, a causa da minha morte, é possível que o leitor
me não creia, e todavia é verdade. Vou expor-lhe
sumariamente o caso. Julgue-o por si mesmo.”
texto aponta para a existência de pelo menos três
elementos narrativos: Virgília, o narrador Brás
Cubas e o leitor.
de uma África juvenil” assinalam a existência
de diferentes planos temporais na narrativa, dos
quais se destacam o momento da enunciação, o
passado recente e o passado mais remoto.
da morte do narrador a partir de uma doença
banal, serve de contraponto ao tom poético do
parágrafo anterior.
- A)I, apenas.
- B)III, apenas.
- C)I e II, apenas.
- D)II e III, apenas.
- E)I, II e III.
A alternativa correta é E)
O trecho de Memórias Póstumas de Brás Cubas, de Machado de Assis, apresenta uma reflexão sobre a morte e a condição humana, articulando elementos narrativos complexos que justificam a correção das três afirmativas apresentadas. A primeira (I) destaca a multiplicidade de vozes no texto, como Virgília, Brás Cubas e o leitor, evidenciada pelo uso variado de pronomes, o que enriquece a perspectiva narrativa. A segunda (II) aponta para a fluidez temporal, marcada por expressões que transitam entre o presente da enunciação, o passado recente e o remoto, criando uma estrutura não linear típica do estilo machadiano. Por fim, a terceira (III) sublinha o contraste entre o lirismo da descrição da morte e a banalidade da causa mortis (uma pneumonia), reforçando a ironia característica do autor. Assim, a alternativa E) é a correta, pois todas as afirmações são válidas e complementares na análise do excerto.
Questão 32
além de deixar algumas peças de teatro. A análise
psicológica dos personagens, o egoísmo, o pessimismo, o
negativismo, a linguagem correta, clássica, as frases
curtas, a técnica dos capítulos curtos e da conversa com o
leitor são as principais características de seus textos
realistas, ao lado da análise da sociedade e da crítica aos
valores românticos. Autor de Esaú e Jacó, Dom Casmurro
e Quincas Borba. Trata-se de
- A)José de Alencar.
- B)Machado de Assis.
- C)Tomás Antônio Gonzaga.
- D)Lima Barreto.
A alternativa correta é B)
O texto descreve um autor multifacetado, que transitou por diversos gêneros literários, como romance, crônica, conto, poesia e crítica, além de ter experimentado o teatro. Sua obra é marcada por características realistas, como a profunda análise psicológica dos personagens, a abordagem de temas como egoísmo, pessimismo e negativismo, e uma linguagem precisa, clássica, com frases curtas e capítulos breves. Outro traço distintivo é a interação com o leitor, além da crítica social e à idealização romântica.
Entre suas obras mais conhecidas estão Esaú e Jacó, Dom Casmurro e Quincas Borba, romances que consolidaram sua reputação como um dos maiores escritores brasileiros. Essas características e obras apontam claramente para Machado de Assis, o principal nome do Realismo no Brasil e fundador da Academia Brasileira de Letras.
Embora José de Alencar seja um grande romancista, sua produção está mais vinculada ao Romantismo. Tomás Antônio Gonzaga é um poeta árcade, e Lima Barreto, apesar de realista, possui um estilo mais direto e menos clássico que o descrito. Portanto, a alternativa correta é B) Machado de Assis.
Questão 33
INSTRUÇÃO: Para responder à questão 32, leia o
trecho a seguir, retirado de Memórias Póstumas de
Brás Cubas, de Machado de Assis.
“Ultimamente, restituído à forma humana, vi chegar um
hipopótamo, que me arrebatou. Deixei-me ir, calado, não
sei se por medo ou confiança; mas, dentro em pouco,
a carreira de tal modo se tornou vertiginosa, que me
atrevi a interrogá-lo, e com alguma arte lhe disse que a
viagem me parecia sem destino.
– Engana-se, replicou o animal, nós vamos à origem
dos séculos.
Insinuei que deveria ser muitíssimo longe; mas o hipopótamo
não me entendeu ou não me ouviu, se é
que não fingiu uma dessas coisas, e, perguntando-lhe,
visto que ele falava, se era descendente do cavalo de
Aquiles ou da asna de Balaão, retorquiu-me com um
gesto peculiar a estes dois quadrúpedes: abanou as
orelhas. Pela minha parte fechei os olhos e deixei-me
ir à ventura. Já agora não se me dá de confessar que
sentia umas tais ou quais cócegas de curiosidade, por
saber onde ficava a origem do Nilo, e sobretudo se valia
alguma coisa mais ou menos que a consumação dos
mesmos séculos: reflexões de cérebro enfermo. Como
ia de olhos fechados, não via o caminho; lembra-me
só que a sensação de frio aumentava com a jornada,
e que chegou uma ocasião em que me pareceu entrar
na região dos gelos eternos.”
Todas as afirmativas estão corretamente associadas ao
texto, EXCETO:
- A)O texto configura uma tomada de consciência da personalidade dividida entre o eu e a realidade objetiva, tema frequente no final do século XIX, por influência dos avanços da ciência e da psicanálise.
- B)Machado de Assis foi um escritor que fez uso reiterado da ironia que, nesse texto, se expressa na personificação do animal e na sua capacidade de retornar aos tempos primordiais.
- C)A aventura de Brás Cubas, cavalgando um hipopótamo, em direção à origem dos séculos, configura um tipo de viagem diferente, pois se dá através do delírio da personagem machadiana.
- D)O narrador vale-se do recurso da humanização dos animais para expressar o sentimento de medo ao enfrentar uma viagem sem destino.
- E)As referências à mitologia clássica, comuns em Machado de Assis, costumam configurar uma perspectiva humorística, que, no caso de Memórias Póstumas de Brás Cubas, aparece no parentesco entre o cavalo de Aquiles e o hipopótamo.
A alternativa correta é D)
O trecho de Memórias Póstumas de Brás Cubas, de Machado de Assis, apresenta uma narrativa onírica e alegórica, na qual Brás Cubas é levado por um hipopótamo em uma viagem fantástica rumo à "origem dos séculos". A análise das alternativas revela que a opção D) é a única que não se adequa plenamente ao texto, pois o narrador não expressa medo, mas sim uma mistura de curiosidade e passividade diante do desconhecido.
A alternativa A) está correta ao associar o texto à temática da dualidade entre o eu e a realidade, comum no final do século XIX, influenciada pelo pensamento científico e psicanalítico. Já a alternativa B) destaca a ironia machadiana, presente na personificação do hipopótamo e no tom absurdo da viagem. A alternativa C) também está correta ao apontar que a viagem ocorre em um estado de delírio, característico do estilo inovador de Machado. Por fim, a alternativa E) identifica corretamente o uso humorístico das referências mitológicas, como o cavalo de Aquiles e a asna de Balaão.
A afirmação incorreta, portanto, é a D), já que o narrador não demonstra medo, mas sim uma curiosidade resignada, conforme evidenciado no trecho: "sentia umas tais ou quais cócegas de curiosidade". A humanização do hipopótamo serve mais como um recurso irônico e filosófico do que como expressão de temor.
Questão 34
Machado de Assis revela em Memórias Póstumas de
Brás Cubas uma linguagem rica em recursos
estilísticos capaz de emprestar ao romance uma fina
dimensão estética. Sua obra é repassada pelas
diferentes funções da linguagem. Assim, indique a
alternativa que contém trecho em que predomina a
função metalinguística.
- A)“Tudo tinha a aparência de uma conspiração das coisas contra o homem: e, conquanto eu estivesse na minha sala, olhando para a minha chácara, sentado na minha cadeira, ouvindo os meus pássaros, ao pé dos meus livros, alumiado pelo meu sol, não chegava a curar-me das saudades daquela outra cadeira, que não era minha”.
- B)“Fui ter com Virgília; depressa esqueci o Quincas Borba. Virgília era o travesseiro do meu espírito, um travesseiro mole, tépido, aromático, enfronhado em cambraia e bruxelas”.
- C)“Não havia ali a atmosfera somente da águia e do beija-flor; havia também a da lesma e do sapo. Retira, pois, a expressão, alma sensível, castiga os nervos, limpa os óculos, – que isso às vezes é dos óculos, – e acabemos de uma vez com esta flor da moita”.
- D)“Citando o dito da rainha de Navarra, ocorre-me que entre o nosso povo, quando uma pessoa vê outra pessoa arrufada, costuma perguntar-lhe: 'Gentes, quem matou seus cachorrinhos?' Como se dissesse: '– quem lhe levou os amores, as aventuras secretas, etc.' Mas este capítulo não é sério”.
A alternativa correta é D)
O trecho que melhor exemplifica a função metalinguística em Memórias Póstumas de Brás Cubas é a alternativa D). A função metalinguística ocorre quando a linguagem é utilizada para falar sobre si mesma, explicando ou refletindo sobre seu próprio uso. No trecho selecionado, Machado de Assis comenta o significado de uma expressão popular ("Gentes, quem matou seus cachorrinhos?"), explicitando sua interpretação e, em seguida, faz uma observação sobre o tom do capítulo ("Mas este capítulo não é sério"). Essa autorreflexão sobre a linguagem e a estrutura narrativa é característica da função metalinguística.
As outras alternativas apresentam funções distintas: a alternativa A) enfatiza a emotividade (função emotiva), a B) destaca a subjetividade e a descrição afetiva (também emotiva), enquanto a C) mistura descrição e um tom quase didático, sem focar na autorreferência da linguagem. Portanto, a resposta correta é D).
Questão 35
O romance A Cidade e as Serras, de Eça de Queirós, é
o desenvolvimento de um conto chamado “Civilização”.
Faz a oposição entre a cidade cosmopolita e a vida do
campo, além de, também
- A)ambientar a ação dos personagens apenas nas cidades de Tormes, aldeia portuguesa, e na civilizada Lisboa do final do século XIX.
- B)narrar a história de Jacinto, um jovem muito rico, que alcança a felicidade porque tem por objetivo apenas ser o mais possível contemporâneo ao próprio tempo.
- C)apresentar desde o início um narrador que tem um ponto de vista firme, qual seja, o de depreciar a civilização da cidade e de exaltar a vida natural.
- D)caracterizar a vida do protagonista somente na cidade de Paris, rodeado de muita tecnologia e conhecimento e com uma vida social muito ativa e feliz.
A alternativa correta é C)
O romance A Cidade e as Serras, de Eça de Queirós, é uma obra que expande o conto "Civilização", explorando o contraste entre a vida urbana e a rural. A narrativa se desenvolve a partir da oposição entre a agitação cosmopolita das cidades e a simplicidade bucólica do campo, tema central da obra.
Entre as alternativas apresentadas, a correta é a C), que afirma que o romance apresenta desde o início um narrador com um ponto de vista firme, depreciando a civilização urbana e exaltando a vida natural. Essa perspectiva é essencial para compreender a crítica social e filosófica que Eça de Queirós constrói ao longo da narrativa.
As demais alternativas estão incorretas porque:
- A) Limita a ambientação apenas a Tormes e Lisboa, ignorando a importância de Paris na história.
- B) Descreve Jacinto como alguém que busca apenas ser contemporâneo ao seu tempo, o que não reflete sua transformação ao longo da narrativa.
- D) Reduz a vida do protagonista a Paris, omitindo sua mudança para o campo e a crítica ao excesso tecnológico.
Portanto, a alternativa C) é a que melhor sintetiza o posicionamento crítico do narrador em relação à civilização e à natureza, elemento fundamental para a interpretação da obra.
Questão 36
O escritor atinge a maturidade do realismo de sondagem moral que as obras seguintes iriam confirmar. Quando o romancista
assumiu, naquele livro capital, o foco narrativo, na verdade passou ao defunto-autor delegação para exibir, com o despejo dos
que já nada mais temem, as peças de cinismo e indiferença com que via montada a história dos homens. A revolução dessa
obra, que parece cavar um fosso entre dois mundos, foi uma revolução ideológica e formal: aprofundando o desprezo às
idealizações românticas e ferindo no cerne o mito do narrador onisciente, que tudo vê e tudo julga, deixou emergir a consciência
nua do indivíduo, fraco e incoerente.
(Adaptado de: BOSI, Alfredo. História concisa da literatura brasileira. São Paulo: Cultrix, 2000, p. 174-177)
O referente de “naquele livro capital” é o seguinte romance de Machado de Assis:
- A)Memórias Póstumas de Brás Cubas (1881).
- B)Quincas Borba (1892).
- C)Dom Casmurro (1900).
- D)Esaú e Jacó (1904).
- E)Relíquias da Casa Velha (1906).
A alternativa correta é A)
O texto em análise refere-se a uma obra fundamental de Machado de Assis, que marcou uma virada tanto na literatura brasileira quanto na carreira do autor. A descrição apresentada pelo crítico Alfredo Bosi aponta para características específicas desse romance, como a adoção de um "defunto-autor" como narrador, a ruptura com as idealizações românticas e a subversão do narrador onisciente. Esses elementos são emblemáticos de Memórias Póstumas de Brás Cubas (1881), obra que inaugurou a fase madura do Realismo machadiano.
A menção ao "foco narrativo" assumido pelo romancista, que delega a voz a um "defunto-autor", é uma referência direta à inovação técnica de Brás Cubas, que narra sua própria história após a morte. Essa escolha permitiu a Machado de Assis explorar com liberdade irônica os vícios e contradições da sociedade, sem as amarras de um narrador convencional. A "revolução ideológica e formal" mencionada no texto consolida-se justamente nessa obra, que rompe com tradições literárias anteriores e estabelece novas possibilidades para o romance brasileiro.
Embora outras obras posteriores de Machado de Assis tenham desenvolvido e aprofundado essas inovações – como Quincas Borba, Dom Casmurro e Esaú e Jacó –, foi em Memórias Póstumas de Brás Cubas que essas características apareceram pela primeira vez de maneira plena. Portanto, a alternativa correta para a questão proposta é de fato a letra A), que identifica precisamente o "livro capital" ao qual o texto se refere.
Questão 37
INSTRUÇÃO: A questão refere-se a noções de Teoria da Literatura: Gêneros Literários; Estilos
de Época (do Barroco ao Modernismo – Brasil): Contexto Histórico, características e principais autores.
A literatura brasileira apresenta dois grandes períodos, o colonial e o nacional, divididos pela Proclamação da
Independência do Brasil em 1822.
Assinale a alternativa em que se apresenta o autor de destaque do movimento literário identificado entre
parênteses.
- A)Cláudio Manuel da Costa (Romantismo – período nacional).
- B)Euclides da Cunha (Simbolismo – período nacional).
- C)Machado de Assis (Realismo – período nacional).
- D)Pero Vaz de Caminha (Barroco – período colonial).
A alternativa correta é C)
A literatura brasileira, ao longo de sua trajetória, passou por diversos movimentos e estilos, refletindo as transformações históricas e culturais do país. A divisão entre os períodos colonial e nacional, marcada pela Independência em 1822, é essencial para compreender a evolução das expressões literárias no Brasil. Dentro desse contexto, a questão apresentada aborda a relação entre autores e seus respectivos movimentos literários.
O Romantismo, por exemplo, foi um movimento de grande relevância no período nacional, mas Cláudio Manuel da Costa, mencionado na alternativa A, pertence ao Arcadismo, um estilo do período colonial. Já Euclides da Cunha, citado na opção B, é associado ao Pré-Modernismo, e não ao Simbolismo, movimento que teve como expoente Cruz e Sousa.
A alternativa D apresenta Pero Vaz de Caminha como representante do Barroco, o que é incorreto, já que ele escreveu a Carta de Achamento do Brasil, um documento do século XVI, anterior ao surgimento do Barroco no país.
A resposta correta, portanto, é a alternativa C, que relaciona Machado de Assis ao Realismo. Machado é considerado um dos maiores escritores brasileiros, e sua obra, como Memórias Póstumas de Brás Cubas, exemplifica as características realistas, como a crítica social e a análise psicológica dos personagens. Sua produção literária consolida-se no período nacional, marcando uma fase de maturidade na literatura brasileira.
Questão 38
Considere as seguintes afirmativas feitas em relação a alguns contos do livro Várias Histórias, de Machado de Assis:
1. O conto “Um homem célebre” assinala que nem a arte, nem o artista conseguem ficar alheios aos interesses
mercadológicos e às motivações mais torpes da política.
2. “A Causa Secreta” apresenta uma relação peculiar entre dois homens e uma mulher, na qual a efetivação da
relação adúltera entre dois amantes alegra um marido masoquista.
3. O “Conto de escola” indica que, mesmo no ambiente corretivo e punitivo de uma escola severa, é possível
aprender valores morais deturpados e nocivos.
4. O conto “D. Paula” é narrado a partir de uma perspectiva feminina, e nele a mulher pode escolher o seu destino,
mesmo que a ordem patriarcal estabelecida a impeça.
5. O conto “O Cônego ou a metafísica do estilo” apresenta várias teorias sobre a natureza do estilo; entre elas, uma
segundo a qual as palavras possuem sexo e residem em áreas diferentes do cérebro.
Assinale a alternativa correta.
- A)Somente as afirmativas 1 e 4 são verdadeiras.
- B)Somente as afirmativas 2 e 5 são verdadeiras.
- C)Somente as afirmativas 4 e 5 são verdadeiras.
- D)Somente as afirmativas 1, 3 e 5 são verdadeiras.
- E)Somente as afirmativas 2, 3 e 4 são verdadeiras.
A alternativa correta é D)
O livro Várias Histórias, de Machado de Assis, reúne contos que exploram temas complexos e críticos da sociedade brasileira do século XIX, revelando a maestria do autor em abordar questões humanas e sociais com ironia e profundidade. Analisando as afirmativas apresentadas, é possível identificar quais delas correspondem adequadamente aos contos mencionados.
A afirmativa 1, que discute o conto "Um homem célebre", está correta ao destacar como a arte e o artista são influenciados por interesses mercadológicos e políticos. O protagonista, um compositor talentoso, vê sua obra mais valorizada não por seu mérito artístico, mas por servir a propósitos políticos, ilustrando a subjugação da arte às conveniências mundanas.
Já a afirmativa 2, sobre "A Causa Secreta", apresenta uma interpretação equivocada. O conto, na verdade, aborda a relação sádica entre os personagens, em que a violência e a crueldade são centrais, e não um triângulo amoroso com um marido masoquista. Portanto, essa afirmação não corresponde ao enredo machadiano.
A afirmativa 3, referente ao "Conto de escola", está correta ao apontar que o ambiente escolar, embora aparentemente disciplinador, pode ensinar valores moralmente questionáveis. O protagonista, ao ser corrompido por um colega, aprende sobre traição e suborno, mostrando como a moralidade pode ser distorcida mesmo em espaços que deveriam promover virtudes.
A afirmativa 4, sobre "D. Paula", é incorreta. O conto não é narrado por uma perspectiva feminina, e sim por um narrador masculino que descreve a personagem de forma objetiva. Além disso, D. Paula não tem plena autonomia sobre seu destino, sendo mais uma vítima das estruturas patriarcais do que uma figura de escolha livre.
Por fim, a afirmativa 5, que trata de "O Cônego ou a metafísica do estilo", está correta ao mencionar as teorias discutidas no conto, incluindo a ideia peculiar de que as palavras possuem gênero e são processadas em áreas distintas do cérebro. Essa reflexão metalinguística é característica da prosa intelectual de Machado de Assis.
Dessa forma, as afirmativas 1, 3 e 5 são verdadeiras, correspondendo à alternativa D) como a correta. Essa análise reforça a riqueza temática e estilística de Várias Histórias, demonstrando como Machado de Assis constrói narrativas que desafiam convenções e provocam reflexões profundas sobre a condição humana.
Questão 39
Em seu esforço para dar sentido a si mesmo e ao passado, o relato de Paulo
Honório, em São Bernardo, ganha nuances psicológicas e aproxima-se ao de outro
narrador-protagonista muito famoso na Literatura Brasileira: Bentinho, o Dom
Casmurro, criado por Machado de Assis na obra homônima. Os trechos a seguir
pertencem aos dois romances, respectivamente, e referem-se à relação matrimonial
dos protagonistas.
– “O que eu dizia era simples, direto, e procurava debalde em minha mulher concisão
e clareza. Usar aquele vocabulário, vasto, cheio de ciladas, não me seria possível. E
se ela tentava empregar a minha linguagem resumida, matuta, as expressões mais
inofensivas e concretas eram para mim semelhantes às cobras: faziam voltas,
picavam e tinham significação venenosa”. (RAMOS, 1977, p. 141). […] – “O que
estragou tudo foi esse ciúme, Paulo”. (RAMOS, 1977, p. 147).
– “Tinha-me lembrado a definição que José Dias dera deles, ‘olhos de cigana oblíqua
e dissimulada” (ASSIS, 1988, p. 46). – “Pois até os defuntos! Nem os mortos
escapam aos seus ciúmes!” (ASSIS, 1988, p. 145).
Assinale e alternativa que melhor descreve o clima que envolve os narradores, em
suas relações amorosas, nos romances mencionados.
- A)Sentimento de inferioridade ante os outros homens.
- B)Desconfiança em relação à figura feminina.
- C)Sentimento de revolta.
- D)Descrença na instituição do casamento.
- E)Desejo de colocar à prova a fidelidade alheia.
A alternativa correta é B)
Em seu esforço para dar sentido a si mesmo e ao passado, o relato de Paulo Honório, em São Bernardo, ganha nuances psicológicas e aproxima-se ao de outro narrador-protagonista muito famoso na Literatura Brasileira: Bentinho, o Dom Casmurro, criado por Machado de Assis na obra homônima. Os trechos a seguir pertencem aos dois romances, respectivamente, e referem-se à relação matrimonial dos protagonistas.
O clima que envolve os narradores em suas relações amorosas é marcado por uma profunda desconfiança em relação à figura feminina, como evidenciam as citações apresentadas. Em São Bernardo, Paulo Honório demonstra uma incapacidade de compreender a linguagem de sua esposa, atribuindo-lhe intenções maldosas e interpretando suas palavras como "cobras" venenosas. Já em Dom Casmurro, Bentinho é consumido pelo ciúme, projetando suspeitas sobre Capitu e até mesmo sobre os mortos, conforme destacado no trecho.
Essa desconfiança não apenas permeia as narrativas, mas também serve como motor para os conflitos internos e externos vividos pelos protagonistas. A alternativa que melhor descreve esse clima é a B) Desconfiança em relação à figura feminina, pois ambos os narradores manifestam uma visão distorcida e paranoica das mulheres com quem se relacionam, transformando o amor em um campo minado de suspeitas e inseguranças.
Questão 40
TEXTO 8
CAPÍTULO IV
Este Quincas Borba, se acaso me fizeste o favor
de ler as Memórias póstumas de Brás Cubas, é aquele
mesmo náufrago da existência, que ali aparece, mendigo,
herdeiro inopinado, e inventor de uma filosofia.
Aqui o tens agora em Barbacena. Logo que chegou,
enamorou-se de uma viúva, senhora de condição
mediana e parcos meios de vida; mas, tão acanhada,
que os suspiros no namorado ficavam sem eco.
Chamava-se Maria da Piedade. Um irmão dela, que
é o presente Rubião, fez todo o possível para casá-los.
Piedade resistiu, um pleuris a levou.
Foi esse trechozinho de romance que ligou os
dois homens. Saberia Rubião que o nosso Quincas
Borba trazia aquele grãozinho de sandice, que um médico supôs achar-lhe? Seguramente, não; tinha-o
por homem esquisito. É, todavia, certo que o grãozinho
não se despegou do cérebro de Quincas Borba,
— nem antes, nem depois da moléstia que lentamente
o comeu. Quincas Borba tivera ali alguns parentes,
mortos já agora em 1867; o último foi o tio que o
deixou por herdeiro de seus bens. Rubião ficou sendo
o único amigo do filósofo. Regia então uma escola
de meninos, que fechou para tratar do enfermo. Antes
de professor, metera ombros a algumas empresas,
que foram a pique.
Durou o cargo de enfermeiro mais de cinco meses,
perto de seis. Era real o desvelo de Rubião, paciente,
risonho, múltiplo, ouvindo as ordens do médico, dando os remédios às horas marcadas, saindo
a passeio com o doente, sem esquecer nada, nem o
serviço da casa, nem a leitura dos jornais, logo que
chegava a mala da Corte ou a de Ouro Preto.
— Tu és bom, Rubião, suspirava Quincas Borba.
— Grande façanha! Como se você fosse mau!
A opinião ostensiva do médico era que a doença do Quincas Borba iria saindo devagar. Um dia, o
nosso Rubião, acompanhando o médico até à porta
da rua, perguntou-lhe qual era o verdadeiro estado
do amigo. Ouviu que estava perdido, completamente
perdido; mas, que o fosse animando. Para que tornar-lhe
a morte mais aflitiva pela certeza…?
— Lá isso, não, atalhou Rubião; para ele, morrer
é negócio fácil. Nunca leu um livro que ele escreveu,
há anos, não sei que negócio de filosofia…
— Não; mas filosofia é uma coisa, e morrer de
verdade é outra; adeus.
(ASSIS, Machado de. Quincas Borba. São Paulo:
Ática, 2011. p. 23-24.)
Machado de Assis (Texto 8) realiza sua literatura
com a artimanha de um ourives, mas não aquele que faz
uma simples obra de arte, um simples artesão. É o criador
que inventa novidade, cria uma obra para ser contemplada
no sentido filosófico. Por isso, seu texto possui certo
hermetismo, pois, parece anunciar, tal como a famosa esfinge
de Tebas: “Decifra-me ou devoro-te”. Dentro dessa
perspectiva, sua narrativa é dissimulada, é uma narrativa
da obliquidade, do enredamento de ideias e metáforas
que seduz o leitor ao jogar com as imagens, as palavras, a
ironia, a polissemia e a sequência do enredo, tornando o
discurso narrativo plurissignificativo, variado, múltiplo e
indefinido (o que é a loucura? o que é a razão?). Considerando
o fragmento selecionado e a totalidade do romance
Quincas Borba, assinale a alternativa correta:
- A)Machado relativiza as verdades científicas da segunda metade do século XIX e ironiza de forma especial a teoria darwinista. Para o filósofo Quincas Borba, a guerra, por exemplo, não é um dos processos de seleção natural.
- B)O humor machadiano dá um tom grave ao ridículo, ao burlesco contido na vida do homem, acentuando-o, ou lhe atribui coisas sérias, conduzindo o leitor a refletir sobre a mesquinha condição humana.
- C)a narrativa de Quincas Borba não segue uma ordem cronológica e obedece a um ordenamento de reminiscências, recheado de idas e vindas ao passado e retomadas do fluxo narrativo no presente.
- D)A “teoria do Humanitismo", elaborada por Quincas Borba, consiste em demonstrar que há um princípio destrutível, perecível, decifrável.
A alternativa correta é B)
O fragmento de Quincas Borba, de Machado de Assis, revela a maestria do autor em construir uma narrativa que transcende a simples linearidade dos fatos, mergulhando em questões filosóficas e existenciais. A relação entre Quincas Borba e Rubião, marcada pela doença, pela loucura e pela dedicação desinteressada, ilustra a complexidade da condição humana, tema central na obra machadiana.
O humor presente no texto, como na fala de Rubião — "Grande façanha! Como se você fosse mau!" —, não serve apenas para aliviar a tensão, mas para sublinhar a ironia e a ambiguidade das relações humanas. Machado de Assis utiliza o riso como ferramenta crítica, expondo a fragilidade e a contradição inerentes ao ser humano. A alternância entre o trágico e o cômico, como na cena em que o médico revela a gravidade da doença de Quincas Borba, mas recomenda que Rubião mantenha as aparências, reforça essa dualidade.
Além disso, a narrativa não se limita a uma simples descrição de eventos. Ela se constrói por meio de digressões, reflexões e jogos de linguagem que desafiam o leitor a decifrar seus múltiplos significados. A loucura de Quincas Borba, por exemplo, não é tratada como um mero distúrbio, mas como uma forma de questionar os limites entre razão e desrazão, entre sanidade e insanidade.
Assim, a alternativa B) é a correta, pois capta a essência do humor machadiano, que não se resume ao cômico superficial, mas serve como instrumento para explorar a condição humana em sua complexidade. O texto de Machado de Assis, como um todo, convida o leitor a refletir sobre as contradições da vida, mesclando o grave e o ridículo em uma narrativa que permanece atual e profundamente filosófica.