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Questões Sobre Romantismo - Literatura - concurso

Questão 1

É preciso não perder de vista o quanto importava ao escritor
_______________ cobrir com seus numerosos romances passado e
presente, cidade e campo, litoral e sertão, e compor, assim, uma espécie de
________________ do Brasil.

Preenche-se de modo respectivo e adequado os espaços em branco com o que está
em:

  • A)José de Alencar; suma narrativa.
  • B)Machado de Assis; painel psicológico.
  • C)Mário de Andrade; rapsódia.
  • D)Euclides da Cunha; anatomia.
  • E)João Guimarães Rosa; cartografia poética.
FAZER COMENTÁRIO

A alternativa correta é A)

O texto em questão aborda a importância de um escritor em representar diferentes aspectos do Brasil através de suas obras, cobrindo desde o passado até o presente, explorando tanto cenários urbanos quanto rurais, e retratando tanto o litoral quanto o sertão. Essa abordagem ampla e diversificada sugere a construção de uma visão abrangente e narrativa do país.

Analisando as opções fornecidas:

  • A) José de Alencar; suma narrativa. José de Alencar é conhecido por sua vasta obra que abrange diferentes regiões e períodos do Brasil, como em "O Guarani" (sertão e passado histórico) e "Senhora" (cenário urbano). O termo "suma narrativa" se encaixa bem na ideia de uma síntese literária do país, o que justifica essa ser a resposta correta.
  • B) Machado de Assis; painel psicológico. Machado de Assis focou mais na análise psicológica e crítica social, principalmente no Rio de Janeiro, não se encaixando na abrangência geográfica e temporal mencionada.
  • C) Mário de Andrade; rapsódia. Mário de Andrade, apesar de importante, está mais associado à representação cultural e folclórica, como em "Macunaíma", e não à diversidade geográfica e histórica citada.
  • D) Euclides da Cunha; anatomia. Euclides da Cunha retratou o sertão em "Os Sertões", mas sua obra não abrange a pluralidade mencionada no texto.
  • E) João Guimarães Rosa; cartografia poética. Guimarães Rosa explorou o sertão de forma profunda e poética, mas sua obra não cobre a amplitude de cenários e épocas citada.

Portanto, a alternativa A) José de Alencar; suma narrativa é a que melhor preenche os espaços em branco, conforme indicado pelo gabarito.

Questão 2

Instrução: O texto a seguir é base para a questão.

    Não é possível idear nada mais puro e harmonioso do que o
perfil dessa estátua de moça.

    Era alta e esbelta. Tinha um desses talhes flexíveis e lançados,
que são hastes de lírio para o rosto gentil; porém na mesma delicadeza
do porte esculpiam-se os contornos mais graciosos com
firme nitidez das linhas e uma deliciosa suavidade nos relevos.

    Não era alva, também não era morena. Tinha sua tez a cor
das pétalas da magnólia, quando vão desfalecendo ao beijo do
sol. Mimosa cor de mulher, se a aveluda a pubescência* juvenil,
e a luz coa pelo fino tecido, e um sangue puro a escumilha** de
róseo matiz. A dela era assim.

    Uma altivez de rainha cingia-lhe a fronte, como diadema
cintilando na cabeça de um anjo. Havia em toda a sua pessoa
um quer que fosse de sublime e excelso que a abstraía da terra.
Contemplando-a naquele instante de enlevo, dir-se-ia que ela se
preparava para sua celeste ascensão.

(José de Alencar, Diva.)

* Pubescência: puberdade.

** Escumilha: borda sobre escumilha (tecido).

Sobre a perspectiva de descrição da personagem, é correto
afirmar que o narrador tem um enfoque

  • A)imparcial, o que pode ser constatado pela linguagem precisa, racional e isenta de juízos de valor.
  • B)objetivo e imparcial, ainda que, em algumas passagens, enalteça traços da personalidade da moça.
  • C)duplo, já que alude a aspectos comportamentais e psicológicos tanto em 1.ª quanto em 3.ª pessoa.
  • D)subjetivo, flagrante pela seleção vocabular, apesar de o texto ser elaborado em 3.ª pessoa.
  • E)parcial, marcado pelas impressões pessoais, que se evidenciam pelo emprego da 1.ª pessoa.
FAZER COMENTÁRIO

A alternativa correta é D)

O trecho de Diva, de José de Alencar, apresenta uma descrição profundamente subjetiva da personagem, evidenciada pela linguagem carregada de admiração e juízos de valor. Apesar de o narrador utilizar a terceira pessoa, sua perspectiva é marcadamente pessoal, como demonstram as escolhas lexicais e as imagens poéticas empregadas.

A descrição da moça é repleta de adjetivos valorativos, como "puro e harmonioso", "gentil", "graciosos", "deliciosa suavidade" e "altivez de rainha", que revelam um olhar idealizador. Além disso, comparações como "haste de lírio" e "cor das pétalas da magnólia" reforçam a subjetividade, transformando a personagem em quase uma figura celestial, distante da realidade terrena.

Embora o texto não utilize a primeira pessoa, a parcialidade do narrador é inegável. Ele não se limita a descrever traços físicos ou comportamentais de forma neutra, mas projeta sua própria percepção emocional e estética sobre a personagem. Essa abordagem subjetiva, típica do estilo romântico de Alencar, confere ao trecho um tom lírico e idealizado, afastando-se completamente de qualquer pretensão de imparcialidade.

Questão 3

Instrução: O texto a seguir é base para a questão.

    Não é possível idear nada mais puro e harmonioso do que o
perfil dessa estátua de moça.

    Era alta e esbelta. Tinha um desses talhes flexíveis e lançados,
que são hastes de lírio para o rosto gentil; porém na mesma delicadeza
do porte esculpiam-se os contornos mais graciosos com
firme nitidez das linhas e uma deliciosa suavidade nos relevos.

    Não era alva, também não era morena. Tinha sua tez a cor
das pétalas da magnólia, quando vão desfalecendo ao beijo do
sol. Mimosa cor de mulher, se a aveluda a pubescência* juvenil,
e a luz coa pelo fino tecido, e um sangue puro a escumilha** de
róseo matiz. A dela era assim.

    Uma altivez de rainha cingia-lhe a fronte, como diadema
cintilando na cabeça de um anjo. Havia em toda a sua pessoa
um quer que fosse de sublime e excelso que a abstraía da terra.
Contemplando-a naquele instante de enlevo, dir-se-ia que ela se
preparava para sua celeste ascensão.

(José de Alencar, Diva.)

* Pubescência: puberdade.

** Escumilha: borda sobre escumilha (tecido).

Sobre o texto, afirma-se que
I. apresenta a mulher, objeto de adoração, idealizada e
descrita de forma inacessível, como sugerem os termos:
puro, altivez, rainha, anjo, sublime, excelso, ascensão;
II. critica os costumes da sociedade da época, a exemplo da
maioria dos romances românticos do século XIX;
III. se vale de uma linguagem simples e popular, o que era
comum aos escritores do momento literário a que Alencar
pertenceu.
Está correto o contido em

  • A)I, apenas.
  • B)III, apenas.
  • C)I e II, apenas.
  • D)II e III, apenas.
  • E)I, II e III.
FAZER COMENTÁRIO

A alternativa correta é A)

O texto em análise, extraído da obra Diva de José de Alencar, apresenta uma descrição idealizada e quase etérea da figura feminina, característica marcante do Romantismo brasileiro. A personagem é retratada com traços de pureza, harmonia e sublimidade, distanciando-a da realidade terrena e elevando-a a um plano quase divino. Essa idealização é reforçada por termos como puro, altivez, rainha, anjo, sublime, excelso e ascensão, que corroboram a afirmação I, tornando-a correta.

Quanto à afirmação II, que sugere uma crítica aos costumes da sociedade da época, o texto não apresenta elementos que sustentem essa interpretação. A obra de Alencar, embora inserida no contexto do Romantismo, não se dedica a uma crítica social explícita neste trecho, focando-se antes na exaltação da beleza e da figura feminina idealizada. Portanto, a afirmação II está incorreta.

A afirmação III, que menciona o uso de uma linguagem simples e popular, também não se aplica ao excerto analisado. A prosa de Alencar, neste caso, é elaborada e poética, repleta de imagens líricas e vocabulário refinado, típico da estética romântica cultuada pela elite literária da época. Dessa forma, a afirmação III também está incorreta.

Assim, apenas a afirmação I está correta, conforme indicado pela alternativa A) I, apenas.

Questão 4

O diálogo entre duas ou mais obras de arte chamamos de
intertextualidade. Ela pode ser observada em qualquer
manifestação cultural, inclusive na literatura. Muitos poetas
“reinventaram” a “Canção do exílio”, partindo desse poema de
Gonçalves Dias criaram intertextos do poema.  

Canção do exílio
Gonçalves Dias

Minha terra tem palmeiras,
onde canta o sabiá;
As aves que aqui gorjeiam,
Não gorjeiam como lá.

Nosso céu tem mais estrelas,
Nossas várzeas têm mais flores,
Nossos bosques têm mais vida,
Nossa vida mais amores.
(…)

Canção do exílio
Murilo Mendes

Minha terra tem macieiras da Califórnia
onde cantam gaturamos de Veneza.
Os poetas da minha terra
são pretos que vivem em torres de ametista,
(…)
Nossas flores são mais bonitas
nossas frutas mais gostosas
mas custam cem mil rés a dúzia
Ai quem me dera chupar uma carambola de verdade
e ouvir um sabiá com certidão de idade! 

Outra Canção do exílio
Eduardo Alves da Costa

Minha terra tem Palmeiras                             
Corinthians e outros times                             
De copas exuberantes
Que ocultam muitos crimes.                          
As aves que aqui revoam                              
São corvos do nunca mais,                            
A povoar nossa noite
com duros olhos de açoite 
que os anos esquecem jamais.
Em cismar sozinho, ao relento, 
sob o céu poluído, sem estrelas,
Nenhum prazer tenho eu cá… 
.………………………………                                    

Murilo Mendes e Eduardo Alves da Costa estabelecem
intertextualidade em relação a Gonçalves Dias por:  
  • A)conotação positiva.
  • B)reiteração de imagens.
  • C)conservação das técnicas de composição.
  • D)oposição de ideias.
  • E)valorização do nacionalismo.
FAZER COMENTÁRIO

A alternativa correta é D)

O diálogo entre obras de arte, conhecido como intertextualidade, é um fenômeno rico e complexo que permite a reinvenção de ideias e formas de expressão. No caso das diferentes versões da "Canção do Exílio", esse diálogo se manifesta de maneira clara e proposital. Gonçalves Dias, em seu poema original, constrói uma imagem idealizada da pátria, repleta de elementos naturais e sentimentos nostálgicos. Já Murilo Mendes e Eduardo Alves da Costa, ao reinterpretarem o texto, subvertem essa visão romântica, apresentando críticas sociais e políticas.

Murilo Mendes, por exemplo, introduz elementos estrangeiros e irônicos, como "macieiras da Califórnia" e "gaturamos de Veneza", questionando a pureza do nacionalismo. Além disso, ao mencionar frutas caras e sabiás com "certidão de idade", ele satiriza a idealização do Brasil, expondo contradições econômicas e culturais. Já Eduardo Alves da Costa vai além, substituindo as palmeiras por times de futebol e transformando as aves em "corvos do nunca mais", criando uma atmosfera sombria que reflete violência e esquecimento.

Essa abordagem contrastante evidencia a oposição de ideias (alternativa D) em relação ao texto original. Enquanto Gonçalves Dias celebra a terra natal com lirismo, os outros poetas a desconstroem, usando a mesma estrutura para transmitir mensagens críticas. A intertextualidade, nesse caso, não busca reforçar o nacionalismo ou repetir imagens, mas sim contestar a visão romântica, revelando as contradições e problemas da realidade brasileira.

Questão 5

Informe se é falso (F) ou verdadeiro (V) o que se afirma a respeito das causas do desenvolvimento
da gramática histórico-comparativa. Em seguida, assinale a alternativa que apresenta a sequência
correta.


( ) Surgimento do Romantismo na Alemanha, que instigou a busca do passado e da origem dos
povos.


( ) Descoberta do Sânscrito, língua antiga da Índia, que se mostrava semelhante às línguas
europeias.

( ) Surgimento das ideias de Darwin e a influência das ciências naturais sobre os linguistas.

( ) Surgimento das ideias de Auguste Comte, que valorizava a especulação em oposição à
experimentação.

  • A)V – V – F – F.
  • B)F – F – F – V.
  • C)V – V – V – F.
  • D)F – F – V – V.
FAZER COMENTÁRIO

A alternativa correta é C)

O desenvolvimento da gramática histórico-comparativa foi influenciado por diversos fatores históricos e intelectuais. A análise das afirmações apresentadas permite identificar quais delas são verdadeiras (V) ou falsas (F) em relação às causas desse movimento linguístico.

(V) Surgimento do Romantismo na Alemanha, que instigou a busca do passado e da origem dos povos. O Romantismo alemão teve um papel fundamental no interesse pela história e identidade cultural, incentivando estudos linguísticos que buscavam reconstruir as origens das línguas e povos europeus.

(V) Descoberta do Sânscrito, língua antiga da Índia, que se mostrava semelhante às línguas europeias. A comparação entre o Sânscrito e as línguas europeias foi essencial para o estabelecimento da linguística comparada, revelando relações de parentesco entre idiomas distantes geograficamente.

(V) Surgimento das ideias de Darwin e a influência das ciências naturais sobre os linguistas. O evolucionismo de Darwin inspirou linguistas a aplicarem conceitos de mudança e seleção ao estudo das línguas, reforçando a abordagem científica da linguística histórica.

(F) Surgimento das ideias de Auguste Comte, que valorizava a especulação em oposição à experimentação. Auguste Comte, pai do Positivismo, defendia justamente o oposto: a primazia da observação e da experimentação sobre a especulação abstrata. Portanto, essa afirmação é falsa no contexto do desenvolvimento da gramática histórico-comparativa.

Assim, a sequência correta é V – V – V – F, correspondente à alternativa C).

Questão 6

O movimento literário que caracterizou-se pelo pioneirismo na busca pela nacionalização da literatura por meio
da valorização da paisagem e da cultura da nossa terra, opondo-se ao neoclassicismo foi o:

  • A)Clacissismo.
  • B)Arcadismo.
  • C)Romantismo.
  • D)Parnasianismo.
  • E)Simbolismo.
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A alternativa correta é C)

O movimento literário que caracterizou-se pelo pioneirismo na busca pela nacionalização da literatura por meio da valorização da paisagem e da cultura da nossa terra, opondo-se ao neoclassicismo foi o:

  • A) Classicismo.
  • B) Arcadismo.
  • C) Romantismo.
  • D) Parnasianismo.
  • E) Simbolismo.

O gabarito correto é C) Romantismo.

Questão 7

Leia o poema de Álvares de Azevedo para responder à questão.

O pastor moribundo

                                                               Cantiga de viola

A existência dolorida

Cansa em meu peito: eu bem sei

Que morrerei!

Contudo da minha vida

Podia alentar-se a flor

No teu amor!

Do coração nos refolhos

Solta um ai! num teu suspiro

Eu respiro!

Mas fita ao menos teus olhos

Sobre os meus: eu quero-os ver

Para morrer!

Guarda contigo a viola

Onde teus olhos cantei…

E suspirei!

Só a ideia me consola

Que morro como vivi…

Morro por ti!

Se um dia tu’alma pura

Tiver saudades de mim,

Meu serafim!

Talvez notas de ternura —

Inspirem o doido amor

Do trovador!

(Álvares de Azevedo, Lira dos vinte anos.)

Um traço comum à estética romântica, presente tanto
no texto citado de José de Alencar quanto no poema de
Álvarez de Azevedo, é o

  • A)didatismo.
  • B)objetivismo.
  • C)pessimismo.
  • D)bucolismo.
  • E)sentimentalismo.
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A alternativa correta é E)

O poema "O pastor moribundo", de Álvares de Azevedo, é uma expressão marcante da estética romântica, que valoriza a intensidade dos sentimentos e a subjetividade. O texto revela uma profunda carga emocional, caracterizada pelo tom melancólico e pela idealização do amor, elementos típicos do Romantismo.

O eu lírico expressa sua dor existencial e a proximidade da morte, mas encontra consolo no amor da pessoa amada. A linguagem é carregada de sentimentalismo, como se observa em versos como "Podia alentar-se a flor / No teu amor!" e "Morro por ti!". Essas passagens evidenciam a exaltação dos sentimentos, uma das marcas fundamentais da poesia romântica.

O sentimentalismo, portanto, é o traço que une esse poema à obra de José de Alencar e a outros autores do período romântico. A escolha da alternativa E) como correta reforça a ideia de que o Romantismo brasileiro buscou explorar as emoções de forma intensa e dramática, muitas vezes em contraste com a razão e a objetividade.

Assim, o poema de Álvares de Azevedo ilustra não apenas o lirismo amoroso, mas também a angústia e a melancolia que permeiam a produção literária romântica, consolidando o sentimentalismo como uma de suas principais características.

Questão 8

Falta de educação e velocidade 

    Os anjos da morte estão cansados de nos recolher, a nós que nos matamos ou somos assassinados no
tráfego das estradas, cidades, esquinas deste país. Os anjos da morte estão exaustos de pegar restos de vidas
botadas fora. Os anjos da morte andam fartos de corpos mutilados e almas atônitas. Os anjos da morte suspiram
por todo esse desperdício.

Não sei se as propagandas que tentam aos poucos aliviar essa tragédia ajudam tanto a preservar vidas
quanto as intermináveis, ricas e coloridas propagandas de cerveja ajudam a beber mais e mais e mais,
colaborando para uma parte dessa carnificina. Mas sei que estou no limite. Não apenas porque abro jornais, TV
e computador e vejo a mortandade em andamento, mas porque tenho observado as coisas em questão.
Recentemente, dirigindo numa autoestrada, percebi um motorista tentando empurrar para o canteiro central um
carro que seguia à minha frente na faixa esquerda, na velocidade adequada ao trajeto. Chegava
provocadoramente perto, pertinho, pertíssimo, quase batia no outro, que se desviava um pouco lutando para
manter-se firme no seu trajeto sem despencar.

    […]

    Atenção: os jovens são – em geral, mas não sempre – mais arrojados, mais imprudentes, têm menos
experiência na direção. Portanto, são mais inclinados a acidentes, bobos ou fatais, em que a gente mata e morre.
Mas há um número impressionante de adultos – mais homens do que mulheres, diga-se de passagem, porque
talvez sejam biologicamente mais agressivos – cometendo loucuras ao dirigir, avançando o sinal, quase
empurrando o veículo da frente com seu parachoque, não cedendo passagem, ultrapassando em locais absurdos
sem a menor segurança, bebendo antes de dirigir, enfim, usando o carro como um punhal hostil […].

    Cada um se porta como quer – ou como consegue. Isso vem do caráter inato, combinado com a educação
recebida em casa. Quando esse comportamento ultrapassa o convívio cotidiano e pode mutilar pais de família,
filhos e filhas amados, amigos preciosos, ou seja lá quem for, então é preciso instaurar leis férreas e punições
comparáveis. Que não permitam escapadelas nem facilitem cometer a infração com branda cobrança. Que não
admitam desculpas e subterfúgios, não premiem o erro, não pequem por uma criminosa omissão.

    Precisamos em quase tudo de autoridade e respeito, para que haja uma reforma generalizada, passando
da desordem e do caos a algum tipo de segurança e bem-estar. […]

Autoridade justa, mas muito rigorosa, é o que talvez nos deixe mais lúcidos e mais bem-educados: em
casa, na escola, na rua, na estrada, no bar, no clube, dentro do nosso carro. E os fatigados anjos da morte
poderão, se não entrar em férias, ao menos relaxar um pouco.

Lya Luft

O poeta da Segunda Geração Romântica que soube utilizar, de forma sensível e surpreendente, os temas e as
formas estereotipados do Ultrarromantismo, bem como poetizar figuras e imagens retiradas do cotidiano mais
banal foi

  • A)Gonçalves Dias
  • B)José de Alencar
  • C)Álvares de Azevedo
  • D)Machado de Assis
  • E)Castro Alves
FAZER COMENTÁRIO

A alternativa correta é C)

Falta de educação e velocidade

Os anjos da morte estão cansados de nos recolher, a nós que nos matamos ou somos assassinados no tráfego das estradas, cidades, esquinas deste país. Os anjos da morte estão exaustos de pegar restos de vidas botadas fora. Os anjos da morte andam fartos de corpos mutilados e almas atônitas. Os anjos da morte suspiram por todo esse desperdício.
Não sei se as propagandas que tentam aos poucos aliviar essa tragédia ajudam tanto a preservar vidas quanto as intermináveis, ricas e coloridas propagandas de cerveja ajudam a beber mais e mais e mais, colaborando para uma parte dessa carnificina. Mas sei que estou no limite. Não apenas porque abro jornais, TV e computador e vejo a mortandade em andamento, mas porque tenho observado as coisas em questão. Recentemente, dirigindo numa autoestrada, percebi um motorista tentando empurrar para o canteiro central um carro que seguia à minha frente na faixa esquerda, na velocidade adequada ao trajeto. Chegava provocadoramente perto, pertinho, pertíssimo, quase batia no outro, que se desviava um pouco lutando para manter-se firme no seu trajeto sem despencar.
[...]
Atenção: os jovens são – em geral, mas não sempre – mais arrojados, mais imprudentes, têm menos experiência na direção. Portanto, são mais inclinados a acidentes, bobos ou fatais, em que a gente mata e morre. Mas há um número impressionante de adultos – mais homens do que mulheres, diga-se de passagem, porque talvez sejam biologicamente mais agressivos – cometendo loucuras ao dirigir, avançando o sinal, quase empurrando o veículo da frente com seu parachoque, não cedendo passagem, ultrapassando em locais absurdos sem a menor segurança, bebendo antes de dirigir, enfim, usando o carro como um punhal hostil [...].
Cada um se porta como quer – ou como consegue. Isso vem do caráter inato, combinado com a educação recebida em casa. Quando esse comportamento ultrapassa o convívio cotidiano e pode mutilar pais de família, filhos e filhas amados, amigos preciosos, ou seja lá quem for, então é preciso instaurar leis férreas e punições comparáveis. Que não permitam escapadelas nem facilitem cometer a infração com branda cobrança. Que não admitam desculpas e subterfúgios, não premiem o erro, não pequem por uma criminosa omissão.
Precisamos em quase tudo de autoridade e respeito, para que haja uma reforma generalizada, passando da desordem e do caos a algum tipo de segurança e bem-estar. [...]
Autoridade justa, mas muito rigorosa, é o que talvez nos deixe mais lúcidos e mais bem-educados: em casa, na escola, na rua, na estrada, no bar, no clube, dentro do nosso carro. E os fatigados anjos da morte poderão, se não entrar em férias, ao menos relaxar um pouco.

Lya Luft

O poeta da Segunda Geração Romântica que soube utilizar, de forma sensível e surpreendente, os temas e as formas estereotipados do Ultrarromantismo, bem como poetizar figuras e imagens retiradas do cotidiano mais banal foi

  • A) Gonçalves Dias
  • B) José de Alencar
  • C) Álvares de Azevedo
  • D) Machado de Assis
  • E) Castro Alves

O gabarito correto é C).

Questão 9

Outro traço importante da poesia de Álvares de Azevedo
é o gosto pelo prosaísmo e o humor, que formam a vertente
para nós mais moderna do Romantismo. A sua obra
é a mais variada e complexa no quadro da nossa poesia
romântica; mas a imagem tradicional de poeta sofredor e
desesperado atrapalhou a reconhecer a importância de sua
veia humorística.

(Antonio Candido. “Prefácio”.
In: Álvares de Azevedo. Melhores poemas, 2003. Adaptado.)

A veia humorística ressaltada pelo crítico Antonio Candido na
poesia de Álvares de Azevedo está bem exemplificada em:

  • A)Cavaleiro das armas escuras, Onde vais pelas trevas impuras Com a espada sanguenta na mão? Por que brilham teus olhos ardentes E gemidos nos lábios frementes Vertem fogo do teu coração?
  • B)Ontem tinha chovido... Que desgraça! Eu ia a trote inglês ardendo em chama, Mas lá vai senão quando uma carroça Minhas roupas tafuis encheu de lama...
  • C)Pálida, à luz da lâmpada sombria, Sobre o leito de flores reclinada, Como a lua por noite embalsamada, Entre as nuvens do amor ela dormia!
  • D)Se eu morresse amanhã, viria ao menos Fechar meus olhos minha triste irmã; Minha mãe de saudades morreria Se eu morresse amanhã!
  • E)Quando em meu peito rebentar-se a fibra, Que o espírito enlaça à dor vivente, Não derramem por mim nem uma lágrima Em pálpebra demente.
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A alternativa correta é B)

O ensaio a seguir analisa a veia humorística na poesia de Álvares de Azevedo, conforme destacada pelo crítico Antonio Candido, e como ela se manifesta em sua obra, exemplificada pela alternativa B.

Álvares de Azevedo, um dos principais nomes da segunda geração do Romantismo brasileiro, é frequentemente associado à melancolia, ao sofrimento e ao desespero típicos do movimento. No entanto, como aponta Antonio Candido, sua poesia também apresenta um traço marcante de humor e prosaísmo, elementos que conferem modernidade e complexidade à sua obra. Essa dualidade entre o trágico e o cômico é uma das características mais ricas de sua produção literária.

O trecho da alternativa B, "Ontem tinha chovido... Que desgraça! / Eu ia a trote inglês ardendo em chama, / Mas lá vai senão quando uma carroça / Minhas roupas tafuis encheu de lama...", ilustra perfeitamente essa veia humorística. Aqui, o poeta descreve uma situação cotidiana e prosaica — o incômodo de sujar as roupas com a lama de uma carroça — com um tom irônico e exagerado, transformando um evento banal em motivo de comicidade. O uso de expressões como "Que desgraça!" e a descrição hiperbólica do incidente revelam um olhar crítico e divertido sobre a realidade, distanciando-se do tom grandiloquente e sentimental comum à poesia romântica.

Enquanto as outras alternativas apresentam versos marcados pela dor, pela morte ou pelo lirismo amoroso — temas tradicionais do Romantismo —, o fragmento da opção B destoa justamente por seu caráter despretensioso e humorístico. Esse contraste demonstra a versatilidade de Álvares de Azevedo, capaz de oscilar entre o sublime e o trivial, entre a angústia existencial e a leveza do riso.

Portanto, a análise de Antonio Candido revela uma faceta essencial da poesia de Álvares de Azevedo que muitas vezes é negligenciada: seu talento para o humor e a crítica social, elementos que o aproximam de uma sensibilidade mais moderna e plural. A alternativa B, com seu tom prosaico e cômico, é um exemplo emblemático dessa dimensão menos conhecida, porém fundamental, de sua obra.

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Questão 10

INSTRUÇÃO: Para responder à questão, leia
o excerto abaixo, retirado da obra Macário, de
Álvares de Azevedo.

(O DESCONHECIDO) Eu sou o diabo. Boa-noite,
Macário.

(MACÁRIO) Boa-noite, Satã. (Deita-se. O desconhecido
sai). O diabo! uma boa fortuna! Há dez anos
que eu ando para encontrar esse patife! Desta vez
agarrei-o pela cauda! A maior desgraça deste mundo
é ser Fausto sem Mefistófeles. Olá, Satã!

(SATÃ) Macário.

(MACÁRIO) Quando partimos?

(SATÃ) Tens sono?

(MACÁRIO) Não.

(SATÃ) Então já.

(MACÁRIOE o meu burro?

(SATÃ) Irás na minha garupa.

Sobre o movimento literário em que se inscreve Álvares
de Azevedo, é INCORRETO afirmar:

  • A)A representação de figuras do mundo sobrenatural também constitui uma das características desse movimento, conforme se lê no excerto acima.
  • B)José de Alencar é o autor de romances mais representativos desse movimento, com obras como O Guarani, O sertanejo, As minas de prata.
  • C)A representação da nação, um dos temas do movimento em que se inscreve a obra de Álvares de Azevedo, exaltou as belezas naturais da terra brasileira.
  • D)Os estados de alma em que o sujeito poético expressa seus sentimentos de tristeza, dor e angústia é tema recorrente no movimento em que se inscreve a obra de Álvares de Azevedo.
  • E)A poesia de Álvares de Azevedo, como a dos outros românticos brasileiros, define-se em torno de dois polos poéticos: a marcante presença da natureza, explorada com destaque em Noites da taverna, e a constante viagem ao interior do sujeito para exprimir sua dor e seus sentimentos.
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A alternativa correta é E)

O excerto de Macário, de Álvares de Azevedo, revela traços marcantes do movimento literário ao qual o autor pertence: o Romantismo brasileiro, em sua vertente ultrarromântica ou "mal-do-século". A obra apresenta elementos como o diálogo com o sobrenatural (representado pela figura de Satã), o tom sombrio e a angústia existencial, características típicas dessa fase literária.

Analisando as alternativas, a opção E) é a incorreta, pois afirma que a poesia de Álvares de Azevedo se define pela "marcante presença da natureza, explorada com destaque em Noites da taverna". Isso está equivocado, já que Noites da taverna é uma obra em prosa, não poética, e seu tema central não é a natureza, mas sim o pessimismo, o tédio e a transgressão boêmia, típicos do ultrarromantismo.

As demais alternativas estão corretas: A) aponta o sobrenatural como característica do movimento; B) destaca José de Alencar como principal romancista do Romantismo brasileiro (embora sua obra pertença à vertente indianista/nacionalista, não ao mal-do-século); C) menciona a exaltação da natureza brasileira, tema presente no Romantismo; e D) aborda a expressão de sentimentos melancólicos, típica da poesia de Álvares de Azevedo e seus contemporâneos ultrarromânticos.

Portanto, o erro está na associação incorreta entre a natureza e Noites da taverna, além da confusão entre prosa e poesia na obra de Álvares de Azevedo.

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