Questões Sobre Romantismo - Literatura - concurso
Questão 11
A palavra “memórias” no título do romance Memórias
de um Sargento de Milícias, de Manoel Antônio de
Almeida, remete
- A)às lembranças vividas pelo autor, em sua relação direta com a população da cidade do Rio de Janeiro, no final do século XIX.
- B)aos fatos narrados ao autor por um companheiro de redação, ex-militar português que vivera no Brasil os tempos descritos no romance.
- C)às situações vividas e relatadas pelo Major Vidigal, único personagem rigorosamente histórico do romance, conhecedor da sociedade de seu tempo.
- D)aos relatos feitos pelo sargento de milícias, das peripécias de toda sorte, em especial as amorosas, vividas por ele ao longo da narrativa.
A alternativa correta é B)
A palavra "memórias" no título do romance Memórias de um Sargento de Milícias, de Manoel Antônio de Almeida, remete aos fatos narrados ao autor por um companheiro de redação, ex-militar português que vivera no Brasil os tempos descritos no romance.
Essa interpretação, indicada pela alternativa B), sugere que o título não se refere diretamente às vivências do autor ou de personagens específicos da narrativa, como o Major Vidigal ou o próprio sargento. Em vez disso, está ligado a histórias contadas por uma figura externa, um ex-militar que compartilhou suas experiências com Almeida.
A obra, publicada originalmente em folhetins entre 1852 e 1853, retrata a vida urbana do Rio de Janeiro no início do século XIX, mesclando elementos românticos e realistas. A escolha do título reflete essa construção narrativa indireta, em que as "memórias" são reconstruídas a partir de relatos de terceiros, não sendo autobiográficas nem centradas em um único personagem histórico.
Questão 12
Memórias de um Sargento de Milícias
cronologicamente faz parte da literatura romântica
brasileira; no entanto, torna-se uma obra atípica em
relação ao momento em que foi escrita. Das alternativas
abaixo, indique a que não valida essa afirmação
porque
- A)seu enredo é marcado por intenso e trágico sofrimento amoroso cujo desfecho concretiza um final feliz, com a união conjugal e ascensão social dos personagens.
- B)sua linguagem é marcada pela oralidade e coloquialidade, em tom de crônica jornalística, ilustrando a prática de que se deve escrever como se fala.
- C)obra caracterizada pela ausência do tom açucarado e idealizador da literatura romântica, visto que as relações sentimentais não se dão nem pela grandeza no sofrimento, nem pela redenção pela dor.
- D)a caracterização dos personagens ou fere a descrição sempre idealizada do perfil feminino ou configura traços de um herói pelo avesso mais marcado por defeitos que por virtudes.
A alternativa correta é A)
Memórias de um Sargento de Milícias é uma obra singular dentro do Romantismo brasileiro, destacando-se por características que a distanciam dos padrões típicos do período. A alternativa A) é a que não valida essa afirmação, pois descreve um enredo romântico convencional, repleto de sofrimento amoroso trágico e final feliz, elementos que não correspondem à proposta inovadora do romance.
O livro, escrito por Manuel Antônio de Almeida, apresenta uma narrativa realista e despretensiosa, afastando-se do sentimentalismo exagerado e da idealização típicos do Romantismo. Sua linguagem coloquial (B)), a ausência de idealização nas relações amorosas (C)) e a construção de personagens imperfeitos e anti-heróis (D)) reforçam seu caráter atípico. Já a alternativa A), ao mencionar um enredo marcado por sofrimento intenso e redenção amorosa, descreve justamente o que a obra não apresenta, confirmando sua excepcionalidade no contexto literário da época.
Questão 13
INSTRUÇÃO: A questão refere-se a noções de Teoria da Literatura: Gêneros Literários; Estilos
de Época (do Barroco ao Modernismo – Brasil): Contexto Histórico, características e principais autores.
Estilo de época remete ao conjunto de características comuns a vários escritores quanto ao modo de utilizar
a língua, a explorar temas e a refletir uma visão de mundo em determinados períodos da história.
Considerando os estilos de época (do Barroco ao Modernismo no Brasil), é INCORRETO afirmar que
- A)o artista barroco deseja conciliar céu e terra, por isso recorre a temas opostos que se misturam, ressaltando o bizarro, lembrando que a morte é comum a todas as aspirações humanas.
- B)o autor simbolista quer cantar, evocar suas emoções e trazê-las de uma forma mais palpável para o texto, para que possam ser sentidas em sua plenitude. Por isso, o uso da sinestesia é amplo.
- C)o escritor realista-naturalista destaca-se por combater ferozmente os valores sociais. A ambientação dos seus romances se dá, preferencialmente, em locais miseráveis, localizados com precisão.
- D)o poeta romântico utiliza o soneto em que a vida é cantada em toda sua glória, sobressaindo-se a alegria, a sensualidade, o conhecimento do mal. A imaginação é dominada pela realidade objetiva.
A alternativa correta é D)
A questão apresentada aborda os estilos de época na literatura brasileira, do Barroco ao Modernismo, solicitando a identificação da afirmação incorreta entre as alternativas. O gabarito indica a opção D como a resposta certa, e a análise a seguir justifica essa escolha.
O Barroco, representado por autores como Gregório de Matos e Padre Antônio Vieira, caracteriza-se pela dualidade entre o terreno e o divino, explorando contrastes e paradoxos. A alternativa A descreve corretamente essa tensão típica do período, que busca conciliar opostos e refletir sobre a fugacidade da vida.
O Simbolismo, com nomes como Cruz e Sousa e Alphonsus de Guimaraens, prioriza a subjetividade e a expressão das emoções por meio de recursos como a sinestesia, conforme mencionado na alternativa B. Essa escola literária valoriza a musicalidade e a sugestão, afastando-se da objetividade.
Já o Realismo-Naturalismo, representado por Machado de Assis e Aluísio Azevedo, critica a sociedade de forma contundente, muitas vezes ambientando suas narrativas em espaços marginalizados, como afirma a alternativa C. A precisão descritiva e a análise social são marcas desse estilo.
A alternativa D, no entanto, apresenta uma contradição ao atribuir ao Romantismo características incompatíveis com o movimento. O poeta romântico, como Gonçalves Dias ou Álvares de Azevedo, não se limita à "realidade objetiva"; pelo contrário, ele exalta o sentimentalismo, o individualismo e a imaginação, muitas vezes idealizando a vida e a natureza. A referência ao "conhecimento do mal" e à dominação da realidade objetiva não condiz com o escapismo e a subjetividade típicos do Romantismo, tornando essa afirmação a incorreta.
Portanto, a análise confirma que a opção D é a resposta adequada, pois distorce as características essenciais do Romantismo, um movimento marcado pelo lirismo e pela liberdade criativa, distante da rigidez objetiva mencionada.
Questão 14
- A)Ziraldo.
- B)José de Alencar.
- C)Monteiro Lobato.
- D)Machado de Assis.
A alternativa correta é B)
Ensaio sobre "Iracema" de José de Alencar
"Iracema", obra-prima de José de Alencar, é um dos pilares do romantismo brasileiro e da construção da identidade nacional por meio da literatura. Publicado em 1865, o romance indianista narra o amor impossível entre a virgem tabajara Iracema e o colonizador português Martim, simbolizando o encontro entre duas culturas e o nascimento simbólico do Brasil.
José de Alencar, representante máximo do romantismo brasileiro, utiliza uma linguagem poética e descritiva para criar uma alegoria da formação do povo brasileiro. A obra se destaca pela fusão entre elementos da natureza brasileira e o imaginário romântico, onde a figura do indígena é idealizada como "o bom selvagem".
A escolha da alternativa B como correta se justifica não apenas pelo fato de Alencar ser o autor, mas também por sua importância como principal escritor indianista do Brasil. Enquanto Machado de Assis (alternativa D) marcou o realismo, Monteiro Lobato (C) a literatura infantil e Ziraldo (A) os quadrinhos, foi Alencar quem melhor representou essa fase de construção mitológica da nacionalidade.
"Iracema" permanece relevante por sua abordagem sobre o choque cultural, o colonialismo e a formação da identidade brasileira, temas que continuam atuais na discussão sobre nossa história e diversidade cultural.
Questão 15
1. Nos dois romances, os nomes dos protagonistas são significativos: Lúcia, pseudônimo adotado pela brilhante
cortesã, ofusca a pureza perdida de Maria da Glória; já no caso de Amaro, o apelido Bom-Crioulo é irônico, salientando
o viés negativo adotado na caraterização dessa personagem.
2. Em Lucíola, busca-se legitimar o comportamento sexual da protagonista por meio de uma motivação ajustada à
moralidade burguesa do século XIX: Lúcia inicia-se na prostituição por conta de sua ingenuidade e desamparo,
tentando salvar a própria família da miséria extrema.
3. Bom-Crioulo estabelece paralelos entre o cativeiro da escravidão e aquele representado pela atração de Amaro por
Aleixo: seja na cena do castigo físico a que Amaro é submetido no primeiro capítulo, seja nas agruras da personagem
título quando, transferido de embarcação, se vê afastado de Aleixo.
sexual, ambos os romances adotam um tom sóbrio, com vocabulário discreto que evita expressões grosseiras de
modo a ajustar-se às expectativas do público de seu tempo.
Assinale a alternativa correta.
- A)Somente as afirmativas 1 e 4 são verdadeiras.
- B)Somente as afirmativas 2 e 3 são verdadeiras.
- C)Somente as afirmativas 1, 2 e 3 são verdadeiras.
- D)Somente as afirmativas 3 e 4 são verdadeiras.
- E)As afirmativas 1, 2, 3 e 4 são verdadeiras.
A alternativa correta é B)
Os romances Lucíola, de José de Alencar, e Bom-Crioulo, de Adolfo Caminha, apresentam abordagens distintas em relação às suas personagens principais e aos temas que exploram, refletindo os contextos literários do Romantismo e do Naturalismo, respectivamente. A análise das afirmativas permite compreender melhor as nuances dessas obras.
A primeira afirmativa sugere que os nomes dos protagonistas carregam significados simbólicos. Em Lucíola, Lúcia, nome adotado pela cortesã, contrasta com sua identidade anterior, Maria da Glória, simbolizando a perda da pureza. Já em Bom-Crioulo, o apelido de Amaro é visto como irônico, destacando uma caracterização negativa. No entanto, essa leitura é questionável, pois o termo "Bom-Crioulo" pode ser interpretado de forma mais complexa, não necessariamente como uma ironia direta, mas como uma ambiguidade que reflete a condição social e racial da personagem.
A segunda afirmativa aborda a justificativa moral para a prostituição de Lúcia em Lucíola, indicando que sua entrada nesse mundo se deve ao desamparo e à necessidade de salvar a família. Essa motivação alinha-se à moralidade burguesa do século XIX, que buscava humanizar a figura da cortesã, atribuindo-lhe uma razão nobre para suas ações. Essa interpretação é válida, pois o romance de Alencar busca, de fato, legitimar o comportamento de Lúcia dentro de um contexto social específico.
A terceira afirmativa estabelece um paralelo entre o cativeiro da escravidão e a atração de Amaro por Aleixo em Bom-Crioulo. O castigo físico sofrido por Amaro no início da narrativa e seu sofrimento ao ser afastado de Aleixo reforçam essa leitura, evidenciando as opressões sociais e afetivas que marcam a personagem. Essa análise é pertinente, pois o romance de Caminha explora as tensões raciais e sexuais de maneira crítica, vinculando-as a estruturas de poder.
Por fim, a quarta afirmativa propõe que ambos os romances tratam as cenas de intimidade sexual com discrição, evitando linguagem explícita. Embora essa afirmação possa ser parcialmente verdadeira para Lucíola, que segue um tom mais romântico e idealizado, Bom-Crioulo, como obra naturalista, apresenta uma abordagem mais direta e crua das relações sexuais, contrariando a ideia de que ambos os textos se adequam igualmente às expectativas de discrição do público.
Portanto, as afirmativas corretas são a 2 e a 3, que refletem com precisão as estratégias narrativas e temáticas dos romances analisados. A alternativa B é a resposta adequada.
Questão 16
Pereira, e o médico ambulante, Cirino, sobre o naturalista alemão, Meyer.
—Nem sei como me contenha… Estou cego de raiva… Que presente me mandou o Chico!… É uma peste, este diabo melado…
Vê uma rapariguinha e enche logo as bochechas para lhe dizer meia dúzia de pachuchadas e graçolas… Não está má esta!… É
um perdido. Nada… Isto não me cheira bem: vou ficar de olho nele…
—Faz muito bem, apoiou Cirino.
—Vejam só, continuou Pereira retendo o seu interlocutor para deixar Meyer distanciar-se, em boas me fui eu meter! … Se
não fosse a tal carta do mano, o cujo dançava ao som do cacete… Malcriadaço! Uma mulher que daqui a dois dias está para
receber marido… Deus nos livre que o Manecão o ouvisse… Desancava-o logo, se não o cosesse a facadas… Vejam só, hem?…
Sempre é gente de outras terras… Cruz! Também vi logo… um latagão bonito… todo faceiro… havera por força de ser rufião.
- A)Cirino discorda de Pereira, pois tem opinião muito diferente dele sobre as mulheres, mas o apoia porque foi hospedado por ele e depende de sua proteção.
- B)A desconfiança de Pereira em relação a Meyer tem fundamento, pois o alemão se vê como um ser superior aos sertanejos e acha que todas as moças dali se apaixonarão por ele.
- C)As ameaças violentas feitas por Pereira em razão da honra da filha acabam se concretizando, mas não será Meyer que sofrerá essa violência.
- D)Manecão é um velho capanga de Pereira que conhece Inocência desde que a menina nasceu e lhe é inteiramente dedicado, por isso seria violento diante de um desrespeito a ela.
- E)O casamento próximo de Inocência, dali a dois dias, torna os ânimos mais exaltados, por isso Pereira fica tão irritado com Meyer.
A alternativa correta é C)
O trecho do capítulo XII de Inocência, de Visconde de Taunay, apresenta um diálogo tenso entre Pereira, pai da protagonista, e Cirino, o médico ambulante, a respeito do comportamento do naturalista alemão Meyer. O tom de raiva e desconfiança de Pereira revela a preocupação com a honra da filha, que está prestes a se casar. A alternativa correta, conforme o gabarito, é a letra C), pois as ameaças violentas mencionadas por Pereira de fato se concretizam posteriormente na narrativa, embora não seja Meyer quem sofra as consequências.
A fala de Pereira demonstra um código de honra rígido, típico do sertão brasileiro retratado na obra, onde qualquer afronta à moral familiar é passível de punição severa. A menção a Manecão, futuro marido de Inocência, reforça essa mentalidade, já que ele seria capaz de agir com extrema violência caso testemunhasse um desrespeito à noiva. Apesar de Meyer ser um estrangeiro e, portanto, visto com desconfiança, a narrativa posterior mostra que a violência prometida por Pereira recai sobre outro personagem, confirmando a alternativa C como correta.
O contexto do casamento iminente, mencionado na alternativa E, contribui para a tensão, mas não é o único motivo da irritação de Pereira. Sua reação exagerada reflete os valores da sociedade sertaneja, onde a honra feminina é protegida a qualquer custo. Assim, o trecho não apenas antecipa um conflito futuro, mas também expõe a mentalidade patriarcal e violenta que permeia o universo da obra.
Questão 17
O texto a seguir servirá de base para a questão:
“Mas, como é que ele tão sereno, tão lúcido,
empregara sua vida, gastara o seu tempo, envelhecera
atrás de tal quimera? Como é que não viu nitidamente
a realidade, não a pressentiu logo e se deixou enganar
por um falaz ídolo, absorver-se nele, dar-lhe em
holocausto toda a sua existência? Foi o seu
isolamento, o seu esquecimento de si mesmo; e assim
é que ia para a cova, sem deixar traço seu, sem um
filho, sem um amor, sem um beijo mais quente, sem
nenhum mesmo, e sem sequer uma asneira!”
Lima Barreto e Aluízio de Azevedo integram,
respectivamente, quais escolas literárias?
- A)Pré-modernismo e Naturalismo.
- B)Pré-modernismo e Pré-modernismo.
- C)Naturalismo e Romantismo.
- D)Romantismo e Pré-modernismo.
A alternativa correta é A)
O trecho apresentado, extraído da obra literária, revela uma profunda reflexão sobre a condição humana, marcada pelo isolamento e pelo desprendimento das relações afetivas e existenciais. Essa abordagem crítica e introspectiva é característica de autores que se destacaram em movimentos literários distintos, mas igualmente importantes para a compreensão da evolução da literatura brasileira.
Lima Barreto, autor do excerto, é um dos principais representantes do Pré-Modernismo, período de transição entre as estéticas do século XIX e as vanguardas modernistas do início do século XX. Sua escrita é marcada por uma crítica social aguda, linguagem coloquial e temáticas urbanas, muitas vezes abordando questões como a marginalização e a desigualdade. A angústia existencial presente no texto reflete esse olhar desiludido sobre a sociedade.
Já Aluísio Azevedo, por sua vez, é um expoente do Naturalismo, escola literária que surgiu como desdobramento do Realismo, mas com ênfase na análise científica do comportamento humano, influenciada por teorias deterministas. Suas obras, como "O Cortiço", exploram a animalização do homem e a força dos instintos, sempre com um tom crítico em relação às estruturas sociais.
Portanto, a alternativa correta que relaciona Lima Barreto ao Pré-Modernismo e Aluísio Azevedo ao Naturalismo é a letra A, confirmando o gabarito oficial. Essa distinção é essencial para compreender como cada autor, em seu contexto histórico e estético, contribuiu para a riqueza da nossa literatura.
Questão 18
A peça teatral O noviço (1987), de Martins Pena, foi produzida durante o
Romantismo Brasileiro. No entanto, o texto aproxima-se do
- A)Modernismo, por assemelhar-se ao Romance de 30, na apresentação de temas regionais.
- B)Simbolismo, pois explora a composição de personagens como tipos que representam determinada condição humana e social.
- C)Naturalismo, pois relaciona o personagem à paisagem bucólica em que está inserido.
- D)Barroco, ao preocupar-se em demonstrar a dualidade da relação humana e divina e as contrariedades humanas.
- E)Realismo, por retratar cenas e problemáticas da sociedade brasileira, revelando a hipocrisia humana e os jogos de interesse e poder.
A alternativa correta é E)
A peça teatral O noviço (1987), de Martins Pena, é uma obra produzida no contexto do Romantismo Brasileiro, mas que apresenta características que a aproximam de outros movimentos literários. A análise das alternativas revela que a resposta mais adequada é a opção E) Realismo, pois a obra retrata de forma crítica as dinâmicas sociais, a hipocrisia humana e os conflitos de interesse presentes na sociedade brasileira da época.
Embora escrita no período romântico, a peça se destaca por sua abordagem satírica e pela exposição das contradições sociais, elementos que são marcas do Realismo. A obra não se limita a idealizações típicas do Romantismo, mas sim revela os vícios e as ambições humanas de maneira direta, aproximando-se da estética realista.
As demais alternativas não correspondem adequadamente ao estilo da peça. O Modernismo (A) e o Simbolismo (B) são movimentos posteriores e com características distintas. O Naturalismo (C) enfatizaria determinismos biológicos e sociais de forma mais explícita, enquanto o Barroco (D) abordaria questões metafísicas e religiosas com maior intensidade. Portanto, a relação com o Realismo (E) é a mais pertinente, confirmando o gabarito correto.
Questão 19
Leia o fragmento.
“Estávamos em fins de janeiro. Os paus-d’arco, floridos, salpicavam a mata de
pontos amarelos; de manhã a serra cachimbava; o riacho, depois das últimas
trovoadas, cantava grosso, bancando rio, e a cascata em que se despenha, antes de
entrar no açude, enfeitava-se de espuma”. (RAMOS, 1977, p. 86).
Embora produzido no contexto da estética modernista, o romance aproxima-se, na
citação lida, a outro movimento literário marcado pela valorização e idealização da
natureza, qual seja:
- A)Naturalismo.
- B)Simbolismo.
- C)Barroco.
- D)Romantismo.
- E)Parnasianismo.
A alternativa correta é D)
O fragmento apresentado, extraído de uma obra modernista, revela uma forte conexão com características típicas do Romantismo, movimento literário que valorizava a natureza de forma idealizada e emotiva. A descrição da paisagem, com seus detalhes sensoriais e a personificação de elementos naturais — como o riacho que "cantava grosso" e a serra que "cachimbava" — remete à tradição romântica, que via na natureza não apenas um cenário, mas uma extensão dos sentimentos humanos.
Enquanto o Naturalismo (A) enfatizava a influência do meio sobre o homem de forma científica e determinista, e o Simbolismo (B) buscava o transcendente por meio de sugestões e mistério, o trecho em questão não se alinha a essas abordagens. O Barroco (C), por sua vez, é marcado por conflitos e dualidades, e o Parnasianismo (E) priorizava a forma perfeita e a objetividade, distanciando-se da emotividade presente no texto.
Assim, a alternativa correta é D) Romantismo, pois a passagem captura a essência desse movimento: a fusão entre o mundo exterior e a subjetividade, a celebração da natureza como refúgio e expressão de beleza e harmonia.
Questão 20
Meus buritizais levados de verdes
Anderson Cunha
A derradeira…
A derradeira
Lágrima de dor
Teimou e caiu
Ai saudade, eu não sei esquecer
Lágrima de dor
Teimou e caiu
Ai saudade, eu não sei esquecer
Aquela estrela…
Aquela estrela
Marvada chegou
Tinhosa e vil
De mim levou meu bem querer
Aquela estrela ô
Tinhosa e vil
De mim levou meu bem querer
Minha pele é solidão
O meu colo, bem querer
Lágrima de dor
Teimou e caiu
Ai saudade, eu não sei esquecer
Aquela estrela ô
Tinhosa e vil
De mim levou meu bem querer
“
(…) Era a Mulher, que falava. Ah, e a Mulher rogava: – Que
trouxessem o corpo daquele rapaz moço, vistoso, o dos olhos muito verdes…
Eu
desguisei. Eu deixei minhas lágrimas virem, e ordenando: – ‘Traz Diadorim!’ (…)
Diadorim, Diadorim, oh, ah, meus buritizais levados de verdes… (…)
Sufoquei, numa estrangulação de dó. Constante o que a
Mulher disse: carecia de se lavar e vestir o corpo.
Piedade, como que ela mesma, embebendo toalha,
limpou as faces de Diadorim, casca de tão grosso sangue, repisado. (…)
Eu dizendo que a Mulher ia lavar o corpo dele. Ela rezava rezas da Bahia.
Mandou todo o mundo sair. Eu fiquei. (…) Não me mostrou de propósito o corpo.
E disse…
Diadorim – nu de tudo. E ela disse:
– ‘A Deus dada. Pobrezinha…’ (…)
Como em todo o tempo antes eu não contei ao senhor – e mercê peço: – mas para
o senhor divulgar comigo, a par, justo o travo de tanto segredo, sabendo somente
no átimo em que eu também só soube… Que Diadorim era o corpo de uma
mulher, moça perfeita… (…)
Eu estendi as mãos para tocar naquele corpo, e estremeci,
retirando as mãos para trás (…) E a Mulher estendeu a toalha,recobrindo as partes.
Mas aqueles olhos eu beijei, e as faces, a boca. (…) E eu não sabia por que nome
chamar; eu exclamei me doendo:
– ‘Meu amor!…’ ”
Texto extraído do livro Grande Sertão: Veredas, de João Guimarães Rosa
Sobre o romance Grande Sertão: Veredas, de João Guimarães Rosa, e sua
apropriação pela canção popular brasileira contemporânea, em Meus
buritizais levados de verdes, de Anderson Cunha, analise as afirmativas
abaixo e, em seguida, assinale a alternativa que apresenta a sequência correta.
I. Na trama de citações da canção Meus Buritizais levados de verdes, há
uma referência à personagem Diadorim (“Diadorim, oh, ah, meus
buritizais levados de verdes”), mas também uma citação textual direta à
clássica canção do sertão, Asa Branca (“Quando o verde dos teus
olhos/ Se espalhar na plantação”).
II. Embora a saudade seja tema de ambos os textos, Meus buritizais levados
de verdes e Grande Sertão: Veredas, é possível verificar um sentimento
de plenitude e realização do desejo pelos amantes nos versos: “Minha
pele é solidão/ O meu colo, bem querer” e no trecho citado: “Mas aqueles
olhos eu beijei, e as faces, a boca. (…) E eu não sabia por que nome
chamar; eu exclamei me doendo: – ‘Meu amor!…’ “
III. Meus buritizais levados de verdes tematiza uma das principais
problemáticas do romance Grande Sertão: Veredas: a presença do
maligno, a mistura entre bem e mal, o que é sintetizado na metáfora da
“estrela tinhosa e vil”.
IV. A cena clássica da morte de Diadorim, para a qual toda a narrativa de
Riobaldo converge, é recuperada pela canção, decorrendo disso o seu
teor dramático e trágico, corroborando a impossibilidade de realização do
amor sintetizada no romance “até que ponto esses olhos, sempre
havendo, aquela beleza verde, me adoecido, tão impossível.” (p. 36).
- A)Somente I e III estão corretas.
- B)Somente II e III estão corretas.
- C)Somente I e II estão corretas.
- D)Somente II e IV estão corretas.
- E)Somente III e IV estão corretas.
A alternativa correta é E)
O romance Grande Sertão: Veredas, de João Guimarães Rosa, é uma obra fundamental da literatura brasileira, marcada por sua linguagem inovadora e por temas profundos como o amor, o destino e a dualidade entre o bem e o mal. A canção Meus buritizais levados de verdes, de Anderson Cunha, dialoga diretamente com essa obra, especialmente ao retomar a figura de Diadorim e a atmosfera trágica que permeia o romance.
A análise das afirmativas revela que as opções III e IV são as corretas. A terceira afirmativa destaca a problemática do mal no romance, representada na canção pela "estrela tinhosa e vil", uma metáfora que sintetiza a ambiguidade entre o bem e o mal, tema central em Grande Sertão: Veredas. Já a quarta afirmativa aponta para a cena da morte de Diadorim, que é recuperada na canção, reforçando o teor dramático e a impossibilidade de realização do amor, tal como expresso no romance.
As afirmativas I e II, no entanto, não estão corretas. A primeira incorre ao mencionar uma suposta citação de Asa Branca, que não está presente no texto da canção. A segunda, por sua vez, interpreta erroneamente os versos e o trecho citado, já que ambos expressam dor e saudade, e não plenitude ou realização do desejo.
Portanto, a alternativa correta é a E) Somente III e IV estão corretas, pois são as que melhor refletem a relação entre a canção de Anderson Cunha e o romance de Guimarães Rosa, captando os elementos centrais da narrativa e sua reverberação na música popular brasileira contemporânea.