Questões Sobre Romantismo - Literatura - concurso
Questão 21
O Laço de Fita
Castro Alves
NÃO SABES, criança? ‘Stou louco de amores…
Prendi meus afetos, formosa Pepita.
Mas onde? No templo, no espaço, nas névoas?!
Não rias, prendi-me
Num laço de fita.
Na selva sombria de tuas madeixas, (1)
Nos negros cabelos da moça bonita,
Fingindo a serpente qu’enlaça a folhagem,
Formoso enroscava-se
O laço de fita.
Meu ser, que voava nas luzes da festa,
Qual pássaro bravo, que os ares agita, (2)
Eu vi de repente cativo, submisso
Rolar prisioneiro
Num laço de fita.
E agora enleada na tênue cadeia
Debalde minh’alma se embate, se irrita… (3)
O braço, que rompe cadeias de ferro,
Não quebra teus elos,
Ó laço de fita!
Meu Deus! As falenas têm asas de opala,
Os astros se libram na plaga infinita.
Os anjos repousam nas penas brilhantes…
Mas tu… tens por asas
Um laço de fita. (4)
Há pouco voavas na célere valsa,
Na valsa que anseia, que estua e palpita.
Por que é que tremeste? Não eram meus lábios…
Beijava-te apenas…
Teu laço de fita.
Mas ai! findo o baile, despindo os adornos
N’alcova onde a vela ciosa… crepita,
Talvez da cadeia libertes as tranças
Mas eu… fico preso
No laço de fita.
Pois bem! Quando um dia na sombra do vale
Abrirem-me a cova… formosa Pepita!
Ao menos arranca meus louros da fronte,
E dá-me por c’roa…
Teu laço de fita.
(ALVES, Castro. Obra completa. Rio de Janeiro: Editora Nova Aguilar, 1997, p. 84-85.
Identifique as afirmativas verdadeiras sobre o poema “O Laço de Fita”, de
Castro Alves, e o romantismo, período literário no qual o autor está inserido.
Coloque entre parênteses a letra V, quando se tratar de afirmativa verdadeira,
ou a letra F, quando se tratar de afirmativa falsa. A seguir, assinale a
alternativa que apresenta a sequência correta.
( ) O poema pertence à poesia social de Castro Alves, gênero no qual
canta em favor da liberdade, em versos como: “O braço, que rompe
cadeias de ferro,/ Não quebra teus elos,/Ó laço de fita!”
( ) A morte, ao final do poema, representa o aprisionamento do eu-lírico,
ao impossibilitar a realização do sentimento amoroso.
( ) Há a sugestão de possível relação íntima entre os amantes, nas ações
de: “despir os adornos” e “libertar as tranças” e na imagem do “crepitar
da vela”.
- A)V – V – V
- B)V – F – V
- C)F – V – V
- D)F – F – V
- E)F – F – F
A alternativa correta é D)
O poema "O Laço de Fita", de Castro Alves, é uma obra marcante do Romantismo brasileiro, movimento literário que valoriza a subjetividade, o amor idealizado e a expressão intensa dos sentimentos. A análise das afirmativas sobre o poema revela aspectos importantes tanto da obra quanto do período literário em que está inserido.
A primeira afirmativa é falsa (F), pois o poema não pertence à poesia social de Castro Alves, gênero no qual o autor aborda temas como a abolição da escravidão. Embora haja menção a "cadeias de ferro" no poema, o contexto é claramente amoroso, utilizando a imagem do laço de fita como metáfora para o aprisionamento sentimental.
A segunda afirmativa também é falsa (F). A morte, ao final do poema, não representa necessariamente o aprisionamento do eu-lírico, mas sim uma forma de eternização do amor, característica romântica. O pedido para que Pepita coloque o laço de fita como coroa em seu túmulo sugere a transcendência do sentimento amoroso, não seu fracasso.
A terceira afirmativa é verdadeira (V). De fato, há sugestões de possível relação íntima entre os amantes, especialmente nas imagens de "despir os adornos" e "libertar as tranças", combinadas com a atmosfera criada pelo "crepitar da vela". Esses elementos são típicos do Romantismo, que frequentemente abordava o amor de forma mais sensual, embora ainda idealizada.
Portanto, a sequência correta é F – F – V, correspondente à alternativa D). O poema exemplifica bem as características do Romantismo, com seu tom passiona, a idealização da amada e o uso de imagens naturais para expressar sentimentos, mantendo-se distante da vertente social da obra de Castro Alves.
Questão 22
Sua história tem pouca coisa de notável. Fora Leonardo
algibebe em Lisboa, sua pátria; aborrecera-se porém do
negócio, e viera ao Brasil. Aqui chegando, não se sabe por
proteção de quem, alcançou o emprego de que o vemos
empossado, e que exercia, como dissemos, desde tempos
remotos. Mas viera com ele no mesmo navio, não sei fazer o
quê, uma certa Maria da hortaliça, quitandeira das praças de
Lisboa, saloia rochonchuda e bonitota. O Leonardo, fazendo-se-lhe
justiça, não era nesse tempo de sua mocidade mal-apessoado,
e sobretudo era maganão. Ao sair do Tejo, estando
a Maria encostada à borda do navio, o Leonardo fingiu que
passava distraído por junto dela, e com o ferrado sapatão
assentou-lhe uma valente pisadela no pé direito. A Maria,
como se já esperasse por aquilo, sorriu-se como envergonhada
do gracejo, e deu-lhe também em ar de disfarce um tremendo
beliscão nas costas da mão esquerda. Era isto uma declaração
em forma, segundo os usos da terra: levaram o resto do dia de
namoro cerrado; ao anoitecer passou-se a mesma cena de
pisadela e beliscão, com a diferença de serem desta vez um
pouco mais fortes; e no dia seguinte estavam os dois amantes
tão extremosos e familiares, que pareciam sê-lo de muitos
anos.
Manuel Antônio de Almeida, Memórias de um sargento de milícias.
Embora de fato pertençam ao Romantismo, as Memórias
de um sargento de milícias não apresentam as
características mais típicas e notórias desse movimento.
No entanto, analisando-se o trecho aqui reproduzido,
verifica-se que nele se apresenta claramente o seguinte
traço do Romantismo:
- A)preferência pela narração de aventuras fabulosas e extraordinárias.
- B)tendência a emitir juízos morais sobre as condutas da personagens.
- C)livre expressão de conteúdos eróticos incomuns e chocantes.
- D)tematização franca e aberta da vida popular e cotidiana.
- E)busca do raro e do exótico, como meio de fuga da realidade burguesa.
A alternativa correta é D)
O trecho de Memórias de um Sargento de Milícias, de Manuel Antônio de Almeida, ilustra uma característica marcante do Romantismo que se distancia dos elementos mais convencionais do movimento. Enquanto o Romantismo brasileiro frequentemente se voltava para o nacionalismo, o sentimentalismo exaltado e a idealização do amor e da natureza, a obra de Almeida apresenta uma abordagem distinta, centrada na representação realista e despretensiosa da vida popular.
No excerto, a narrativa descreve o encontro casual entre Leonardo, um alfaiate lisboeta, e Maria da Hortaliça, uma quitandeira. A cena é simples, cotidiana e até mesmo prosaica, sem qualquer traço de grandiosidade ou exotismo. O flerte entre os dois personagens se dá por meio de gestos banais — uma pisadela e um beliscão —, revelando um comportamento típico das camadas populares da época. A linguagem é direta, sem juízos morais ou idealizações, o que reforça a temática da vida comum.
Essa abordagem justifica a alternativa D como correta, pois o texto tematiza de maneira franca e aberta o universo popular, sem recorrer a aventuras extraordinárias (A), julgamentos éticos (B), erotismo chocante (C) ou fuga da realidade (E). Almeida retrata o cotidiano com humor e naturalidade, antecipando elementos que mais tarde seriam explorados pelo Realismo.
Questão 23
Sua história tem pouca coisa de notável. Fora Leonardo
algibebe em Lisboa, sua pátria; aborrecera-se porém do
negócio, e viera ao Brasil. Aqui chegando, não se sabe por
proteção de quem, alcançou o emprego de que o vemos
empossado, e que exercia, como dissemos, desde tempos
remotos. Mas viera com ele no mesmo navio, não sei fazer o
quê, uma certa Maria da hortaliça, quitandeira das praças de
Lisboa, saloia rochonchuda e bonitota. O Leonardo, fazendo-se-lhe
justiça, não era nesse tempo de sua mocidade mal-apessoado,
e sobretudo era maganão. Ao sair do Tejo, estando
a Maria encostada à borda do navio, o Leonardo fingiu que
passava distraído por junto dela, e com o ferrado sapatão
assentou-lhe uma valente pisadela no pé direito. A Maria,
como se já esperasse por aquilo, sorriu-se como envergonhada
do gracejo, e deu-lhe também em ar de disfarce um tremendo
beliscão nas costas da mão esquerda. Era isto uma declaração
em forma, segundo os usos da terra: levaram o resto do dia de
namoro cerrado; ao anoitecer passou-se a mesma cena de
pisadela e beliscão, com a diferença de serem desta vez um
pouco mais fortes; e no dia seguinte estavam os dois amantes
tão extremosos e familiares, que pareciam sê-lo de muitos
anos.
Manuel Antônio de Almeida, Memórias de um sargento de milícias.
No excerto, narram-se as circunstâncias em que travaram
conhecimento Leonardo (Pataca) e Maria (da hortaliça), a
bordo do navio que, procedente de Portugal, iria
desembarcá-los no Rio de Janeiro.
Considere as seguintes afirmações referentes ao excerto:
I A narrativa é isenta de traços idealizantes, seja no que
se refere às personagens, seja no que se refere a suas
relações amorosas.
II O ângulo de representação privilegiado pelo
romancista é o da comicidade e do humor.
III A vivacidade da cena figurada no excerto deve-se à
presença de um narrador-personagem, que participa
da ação.
Está correto o que se afirma em
- A)I, somente.
- B)I e II, somente.
- C)III, somente.
- D)II e III, somente.
- E)I, II e III.
A alternativa correta é B)
O excerto de Memórias de um Sargento de Milícias, de Manuel Antônio de Almeida, apresenta uma narrativa que se destaca pela ausência de idealizações e pelo tom cômico que permeia a descrição das personagens e suas relações. A análise das afirmações sobre o trecho revela que apenas as proposições I e II estão corretas, conforme o gabarito indicado.
A primeira afirmação (I) ressalta que a narrativa é isenta de traços idealizantes, o que se confirma pela representação realista e despretensiosa de Leonardo e Maria. O autor não romantiza suas figuras ou o início de seu relacionamento, apresentando-os de maneira crua e até mesmo grotesca, como na cena da pisadela e do beliscão, que substitui declarações amorosas convencionais.
Já a segunda afirmação (II) aponta para o ângulo cômico e humorístico adotado pelo romancista, evidente na descrição das ações das personagens e na linguagem informal utilizada. A cena do navio é marcada por uma comicidade que ridiculariza os costumes amorosos da época, reforçando o tom satírico da obra.
Por fim, a terceira afirmação (III) é incorreta, pois o narrador não é personagem, mas sim um observador externo que relata os eventos com distanciamento e ironia. A vivacidade da cena decorre da linguagem dinâmica e dos detalhes pitorescos, não da participação do narrador na ação.
Portanto, a alternativa correta é B) I e II, somente, já que a narrativa se sustenta no realismo e no humor, sem recorrer a um narrador envolvido diretamente na trama.
Questão 24
Brasil
O Zé Pereira chegou de caravela
E preguntou pro guarani da mata virgem
— Sois cristão?
— Não. Sou bravo, sou forte, sou filho da Morte
Teterê tetê Quizá Quizá Quecê!
Lá longe a onça resmungava Uu! ua! uu!
O negro zonzo saído da fornalha
Tomou a palavra e respondeu
— Sim pela graça de Deus
Canhem Babá Canhem Babá Cum Cum!
E fizeram o Carnaval
Oswald de Andrade, Poesias Reunidas.
Entre as estratégias expressivas de que se vale o poema,
só NÃO se encontra a
- A)reprodução da variante oral-popular da linguagem.
- B)referência a verso célebre da literatura brasileira, extraído de “I-Juca-Pirama”, de Gonçalves Dias.
- C)estrutura semelhante à do “poema piada”, praticado no Modernismo.
- D)utilização de versos brancos e de versos livres.
- E)citação de expressões do tupi-guarani, do nheengatu e da língua iorubá.
A alternativa correta é E)
O poema de Oswald de Andrade, presente em Poesias Reunidas, é uma obra que sintetiza elementos fundamentais do Modernismo brasileiro, explorando a identidade nacional de forma crítica e irônica. A análise das estratégias expressivas utilizadas no texto revela uma mistura de linguagem coloquial, referências culturais e uma estrutura que desafia as convenções poéticas tradicionais.
Entre as alternativas apresentadas, a única que não se aplica ao poema é a E), que menciona a citação de expressões do tupi-guarani, do nheengatu e da língua iorubá. Embora o poema incorpore elementos indígenas e africanos, como o diálogo com o guarani e a fala do negro, não há evidência de que essas expressões sejam diretamente extraídas dessas línguas específicas. O texto se concentra mais na representação simbólica dessas culturas do que na reprodução linguística literal.
Por outro lado, o poema claramente reproduz uma variante oral-popular da linguagem (alternativa A), como visto na fala do guarani e do negro, que remete a uma expressão coloquial e espontânea. Além disso, há uma possível referência intertextual ao verso "Sou bravo, sou forte, sou filho da Morte", que ecoa o famoso poema "I-Juca-Pirama", de Gonçalves Dias (alternativa B), reforçando o diálogo do Modernismo com a tradição literária anterior.
A estrutura do poema também se assemelha ao "poema piada" (alternativa C), característico da primeira fase modernista, com seu tom irreverente e sua crítica mordaz à colonização e ao sincretismo cultural brasileiro. Por fim, a alternância entre versos brancos e livres (alternativa D) é outra marca presente, demonstrando a liberdade formal típica da poesia modernista.
Portanto, a resposta correta é E), pois o poema não se baseia em citações diretas das línguas mencionadas, mas sim em uma apropriação estética e cultural dessas matrizes para compor sua crítica social e histórica.
Questão 25
[4]
Eu, Marília, não sou algum vaqueiro,
que viva de guardar alheio gado,
de tosco trato, de expressões grosseiro,
dos frios gelos e dos sóis queimado.
Tenho próprio casal(1) e nele assisto(2) ;
dá-me vinho, legume, fruta, azeite;
das brancas ovelhinhas tiro o leite,
e mais as finas lãs, de que me visto.
Graças, Marília bela,
graças à minha estrela!
(…)
[5]
Tu não verás, Marília, cem cativos
tirarem o cascalho e a rica terra,
ou dos cercos dos rios caudalosos,
ou da minada serra.
Não verás separar ao hábil negro
do pesado esmeril a grossa areia,
e já brilharem os granetes de oiro
no fundo da bateia(3) .
(…)
Não verás enrolar negros pacotes
das secas folhas do cheiroso fumo;
nem espremer entre as dentadas rodas
da doce cana o sumo.
Verás em cima da espaçosa mesa
altos volumes(4)de enredados feitos;
ver-me-ás folhear os grandes livros,
e decidir os pleitos.
Enquanto revolver os meus consultos,
tu me farás gostosa companhia,
lendo os fastos da sábia, mestra História,
e os cantos da poesia.
Tomás A. Gonzaga, Marília de Dirceu.
Glossário:
(1)casal: pequena propriedade rural.
(2)assisto: resido, moro.
(3)bateia: utensílio empregado no garimpo; espécie de
gamela.
(4)altos volumes: referência a processos judiciais, pois o poeta
era magistrado.
A configuração que o tema do amor recebe, nos versos
do excerto,
- A)será retomada pelo movimento indianista do século XIX, especialmente em Iracema e O guarani, de José de Alencar.
- B)antecipa a concepção natural e fisiológica do amor que será preconizada pelo Naturalismo.
- C)contrasta com o amor concebido como um absoluto, muito próprio do Romantismo.
- D)equivale, já, à banalização do amor que se consumará no Modernismo, particularmente em Manuel Bandeira e Mário de Andrade.
- E)prefigura as relações conjugais desencantadas e materialistas que serão objeto de análise no Realismo, especialmente nos romances machadianos da maturidade.
A alternativa correta é C)
O excerto de Marília de Dirceu, de Tomás Antônio Gonzaga, apresenta uma configuração peculiar do tema do amor, que se distancia de algumas correntes literárias posteriores e se aproxima de outras. A alternativa correta, conforme o gabarito, é a C), pois o amor retratado nos versos contrasta com a concepção romântica do amor como um absoluto.
Nos versos, o eu lírico dirige-se a Marília de forma afetuosa, mas sem exaltar uma paixão avassaladora ou idealizada, característica do Romantismo. Em vez disso, ele descreve uma vida simples e pastoral, marcada pela harmonia entre o trabalho no campo e a companhia da amada. A relação é apresentada com equilíbrio e serenidade, sem os excessos emocionais típicos da literatura romântica.
O poeta enfatiza sua condição de proprietário rural, destacando a autossuficiência e a modéstia de sua vida: "Tenho próprio casal e nele assisto; / dá-me vinho, legume, fruta, azeite". Essa abordagem realista e concreta do cotidiano contrasta com a idealização romântica, que muitas vezes eleva o amor a um plano quase transcendental.
Além disso, o trecho menciona atividades intelectuais, como a leitura e a resolução de pleitos judiciais, reforçando uma visão do amor que integra razão e afeto. Essa dualidade entre a vida prática e a contemplação literária distancia-se da paixão desmedida e da entrega total ao sentimento, típicas do Romantismo.
Portanto, a alternativa C) é a mais adequada, pois o excerto de Gonzaga não se alinha com a exaltação romântica do amor, apresentando, em vez disso, uma relação equilibrada e terrena, que antecipa, em certa medida, uma visão mais moderada e humana do sentimento amoroso.
Questão 26
- A)o experimentalismo estético, de caráter vanguardista, visível no abundante emprego de neologismos.
- B)o tratamento preferencial de realidades bem determinadas, com foco nos problemas sociais nelas envolvidos.
- C)a utilização do determinismo geográfico e racial, na interpretação dos fatos narrados.
- D)a adoção do primitivismo da "Arte Negra" como modelo formal, à semelhança do que fizera o Cubismo europeu.
- E)o uso de recursos próprios dos textos jornalísticos, em especial, a preferência pelo relato imparcial e objetivo.
A alternativa correta é B)
No excerto de Capitães da Areia, de Jorge Amado, percebe-se claramente a abordagem de realidades sociais bem definidas, característica marcante do "romance de 1930". A narrativa centra-se na figura de Omolu, divindade africana associada aos negros pobres, e na disseminação da bexiga (varíola) como uma forma de vingança contra as desigualdades sociais. O texto evidencia a crítica às estruturas de poder, destacando a falta de acesso à saúde por parte das populações marginalizadas, enquanto os ricos possuem recursos como a vacina.
A opção correta, B), justifica-se pelo fato de o trecho abordar problemas sociais concretos, como a exclusão dos negros e pobres, a negligência do Estado e a diferença de condições entre classes. Jorge Amado, alinhado ao Modernismo engajado da década de 1930, utiliza a literatura como instrumento de denúncia, retratando conflitos e injustiças que marcam a realidade brasileira. A referência ao lazareto, local de isolamento sanitário, reforça a crítica às políticas públicas excludentes, que afetam principalmente os mais vulneráveis.
As demais alternativas não se aplicam ao excerto. Não há experimentalismo linguístico (A), nem determinismo geográfico ou racial (C). Também não se identifica uma influência direta da "Arte Negra" cubista (D) ou um tom jornalístico imparcial (E). O foco está na representação literária de questões sociais, típica da segunda fase do Modernismo brasileiro.
Questão 27
Instrução: A questão toma por base
uma passagem do romance O sertanejo, do romântico brasileiro
José de Alencar (1829-1877).
O sertanejo
O moço sertanejo bateu o isqueiro e acendeu fogo num
toro carcomido, que lhe serviu de braseiro para aquentar o
ferro; e enquanto esperava, dirigiu-se ao boi nestes termos e
com um modo afável:
– Fique descansado, camarada, que não o envergonharei
levando-o à ponta de laço para mostrá-lo a toda aquela gente!
Não; ninguém há de rir-se de sua desgraça. Você é um boi
valente e destemido; vou dar-lhe a liberdade. Quero que viva
muitos anos, senhor de si, zombando de todos os vaqueiros do
mundo, para um dia, quando morrer de velhice, contar que só
temeu a um homem, e esse foi Arnaldo Louredo.
O sertanejo parou para observar o boi, como se esperasse
mostra de o ter ele entendido, e continuou:
– Mas o ferro da sua senhora, que também é a minha,
tenha paciência, meu Dourado, esse há de levar; que é o sinal
de o ter rendido o meu braço. Ser dela, não é ser escravo; mas
servir a Deus, que a fez um anjo. Eu também trago o seu ferro
aqui, no meu peito. Olhe, meu Dourado. O mancebo abriu a camisa, e mostrou ao boi o emblema
que ele havia picado na pele, sobre o seio esquerdo, por meio
do processo bem conhecido da inoculação de uma matéria colorante
na epiderme. O debuxo de Arnaldo fora estresido com
o suco do coipuna, que dá uma bela tinta escarlate, com que
os índios outrora e atualmente os sertanejos tingem suas redes
de algodão.
Depois de ter assim falado ao animal, como a um homem
que o entendesse, o sertanejo tomou o cabo de ferro, que já
estava em brasa, e marcou o Dourado sobre a pá esquerda.
– Agora, camarada, pertence a D. Flor, e portanto quem
o ofender tem de haver-se comigo, Arnaldo Louredo. Tem entendido?…
Pode voltar aos seus pastos; quando eu quiser, sei
onde achá-lo. Já lhe conheço o rasto.
O Dourado dirigiu-se com o passo moroso para o mato;
chegado à beira, voltou a cabeça para olhar o sertanejo, soltou
um mugido saudoso e desapareceu.
Arnaldo acreditou que o boi tinha-lhe dito um afetuoso
adeus.
E o narrador deste conto sertanejo não se anima a afirmar
que ele se iludisse em sua ingênua superstição.
(José de Alencar. O sertanejo. Rio de Janeiro:
Livraria Garnier, [s.d.]. tomo II, p. 79-80. Adaptado.)
Ser dela, não é ser escravo; mas servir a Deus, que a fez
um anjo.
Com esta visão que o sertanejo tem de sua senhora, fica perfeitamente
caracterizado no relato um dos traços fundamentais da
literatura do Romantismo:
- A)idealização.
- B)animização.
- C)escapismo.
- D)condoreirismo.
- E)Mal do Século.
A alternativa correta é A)
A passagem de O sertanejo, de José de Alencar, ilustra um dos traços mais marcantes da literatura romântica brasileira: a idealização. O trecho em análise revela como o protagonista, Arnaldo Louredo, enxerga sua senhora, D. Flor, com uma reverência quase divina, afirmando que "ser dela, não é ser escravo; mas servir a Deus, que a fez um anjo". Essa fala evidencia a exaltação da figura feminina, elevada a um patamar celestial, distante da realidade mundana.
O Romantismo, como movimento literário, caracterizou-se pela valorização do emocional, do subjetivo e, sobretudo, pela idealização de figuras e cenários. No caso de Alencar, essa idealização não se restringe apenas à mulher amada, mas também se estende à natureza e ao próprio sertanejo, representado por Arnaldo como um herói corajoso e nobre, capaz de dialogar com um animal como se fosse um igual.
As outras alternativas apresentadas não se aplicam ao contexto. A animização (B) refere-se a atribuir características humanas a animais, o que, embora presente no diálogo com o boi, não é o foco principal. O escapismo (C) e o Mal do Século (E) são mais associados ao desespero e à fuga da realidade, temas não explorados nesse trecho. Já o condoreirismo (D), corrente abolicionista e social da poesia romântica, também não se encaixa na cena descrita.
Portanto, a resposta correta é A) idealização, pois reflete a maneira como o Romantismo transformava personagens e sentimentos em representações perfeitas e sublimes, distantes das imperfeições humanas.
Questão 28
Lucíola, de José de Alencar é um romance:
- A)Romântico sertanista, com a ação transcorrendo no sertão de Minas Gerais. O confronto de culturas e a visão exaltada da vida camponesa são temas importantes da obra. Lúcia, a protagonista, com sua pureza, encanta o viajante Paulo. Vindo da cidade, ele se hospeda na fazenda onde ela vive com seu pai. A paixão proibida que os dois vivem choca os familiares da moça, que está prometida em casamento a outro rapaz.
- B)Romântico nacionalista. A temática da Batalha dos Guararapes, em que os portugueses defenderam a terra brasileira da invasão dos holandeses em Pernambuco (terra de José de Alencar, homenageada no livro), busca, na verdade, exaltar a maravilha da liberdade em um país recém tornado independente. Lucíola é a heroína de um povo na luta pela liberdade.
- C)Realista. A descrição dos costumes das classes baixas na corte, num tempo de aumento da população e maior complexidade nas relações sociais é o centro do enredo do romance, que, de modo objetivo e por vezes agressivo, conta a trajetória de Lúcia, uma mulher que, vivendo na miséria, se prostitui para sustentar os filhos, sem que eles saibam disso. Seu drama é tentar evitar que sua filha, Lucíola, siga o mesmo destino. Porém, adepto de uma concepção de mundo determinista, o romance mostra que é inevitável que isso aconteça com a menina.
- D)Romântico urbano, figurando dentro do segmento de romances alencarianos denominado “perfis de mulher”. Ambientado na corte, o romance é ousado por apresentar uma prostituta como protagonista. A história de Lúcia é narrada por Paulo, em cartas dirigidas à Sra. G.M. Apaixonado por ela, Paulo luta para fazer com que seu amor a “salve” da vida que ela leva.
- E)Pré-modernista. Ainda apegado a alguns valores estéticos realistas – como a descrição da vida nos subúrbios cariocas do começo do século XX –, o texto se abre ao experimentalismo formal ao colocar como narradora uma personagem - Lúcia –, que se exprime com coloquialismos e regionalismos. Vinda do Nordeste para a capital federal, a narradora vai à procura da mãe Lucíola, que, anos antes, deixou o sertão para trabalhar na cidade. A descoberta frustrante que a narradora faz é a de que sua mãe tornou-se prostituta e vive miseravelmente no Rio.
A alternativa correta é D)
Lucíola, de José de Alencar, é um romance que se enquadra na alternativa D) Romântico urbano, pertencente ao segmento dos "perfis de mulher" na obra alencariana. Ambientado na corte imperial do Rio de Janeiro, o livro se destaca por sua ousadia ao apresentar uma cortesã como protagonista, desafiando os padrões morais da época.
A narrativa é conduzida por Paulo, que, por meio de cartas dirigidas à Sra. G.M., relata sua paixão por Lúcia, uma mulher envolta no mundo da prostituição. O enredo explora o conflito entre o amor idealizado e a realidade social, com Paulo buscando "redimir" Lúcia através de seu afeto, característica típica do Romantismo.
Diferentemente das outras opções apresentadas, a obra não se passa no sertão (A), não aborda temas nacionalistas como a Batalha dos Guararapes (B), não possui um enfoque realista ou determinista (C) e tampouco apresenta características pré-modernistas (E).
Como representante do Romantismo urbano brasileiro, Lucíola combina elementos passionais com uma crítica velada à sociedade da época, mantendo porém a idealização da figura feminina e do amor, marcas registradas do estilo romântico de José de Alencar.
Questão 29
Este romance de Machado de Assis, consagrado pela
crítica e pelo público, é uma das obras mais representativas
da prosa brasileira e de toda a língua portuguesa, tendo
como foco narrativo principal a suspeita de Bentinho da
traição de sua amada Capitu com o amigo Escobar.
Qual dos romances abaixo de Machado de Assis é o que
apresenta as características acima descritas:
- A)Memórias Póstumas de Brás Cubas.
- B)Memorial de Aires.
- C)Helena.
- D)Dom Casmurro.
A alternativa correta é D)
O romance de Machado de Assis que apresenta as características descritas no texto é "Dom Casmurro", conforme indicado pelo gabarito correto (D). Publicado em 1899, a obra é um marco da literatura brasileira e portuguesa, explorando temas como ciúme, traição e a subjetividade da narrativa.
O enredo gira em torno de Bentinho, que narra em primeira pessoa suas suspeitas sobre a infidelidade de Capitu, sua esposa, com seu melhor amigo, Escobar. A ambiguidade da narrativa, que nunca confirma ou nega explicitamente a traição, tornou o livro um dos mais estudados e discutidos da obra machadiana.
As outras opções apresentadas são também romances de Machado de Assis, mas não correspondem à descrição:
- A) Memórias Póstumas de Brás Cubas - Narrado por um defunto autor, é uma sátira social e filosófica.
- B) Memorial de Aires - Último romance do autor, com tom mais melancólico e reflexivo.
- C) Helena - Romance de juventude, com temática mais sentimental e convencional.
Portanto, a resposta correta é D) Dom Casmurro, obra que sintetiza o estilo maduro de Machado de Assis e sua capacidade de explorar as complexidades da alma humana.
Questão 30
Leia o capítulo de Memórias Póstumas de Brás Cubas, de
Machado de Assis, para responder às questões de números
71 a 74.
O cimo da montanha
Entrei a amar Virgília com muito mais ardor, depois que
estive a pique de a perder, e a mesma coisa lhe aconteceu a
ela. Assim, a presidência não fez mais do que avivar a afeição
primitiva; foi a droga com que tornamos mais saboroso o nosso
amor, e mais prezado também. Nos primeiros dias, depois daquele
incidente, folgávamos de imaginar a dor da separação,
se houvesse separação, a tristeza de um e de outro, à proporção que o mar, como uma toalha elástica, se fosse dilatando
entre nós; e, semelhantes às crianças, que se achegam ao
regaço das mães, para fugir a uma simples careta, fugíamos
do suposto perigo, apertando-nos com abraços.
Scheherazade* o dos seus contos. Esse foi, cuido eu, o ponto
máximo do nosso amor, o cimo da montanha, donde por algum
tempo divisamos os vales de leste e de oeste, e por cima de
nós o céu tranquilo e azul. Repousado esse tempo, começamos
a descer a encosta, com as mãos presas ou soltas, mas
a descer, a descer…
conta ao sultão as histórias que vão adiando a sentença de morte dela.
do romance realista de Machado de Assis, que é
- A)a sucessão rápida de acontecimentos, criando um constante clima de suspense.
- B)o discurso impessoal, impossibilitando o acesso ao interior das personagens.
- C)o tom emocional, de indignação, com que se denunciam os problemas sociais.
- D)a reflexão a respeito das motivações psicológicas das atitudes humanas.
- E)a descrição de uma natureza exuberante e intocada pela civilização.
A alternativa correta é D)
No capítulo O cimo da montanha, de Memórias Póstumas de Brás Cubas, Machado de Assis explora uma característica fundamental do romance realista: a análise profunda das motivações psicológicas que orientam as ações humanas. O trecho em questão revela a complexidade emocional de Brás Cubas e Virgília, cujo amor se intensifica após a ameaça de separação, demonstrando como o perigo e o medo da perda podem reavivar sentimentos.
A narrativa machadiana não se limita a descrever eventos externos, mas mergulha na interioridade das personagens, expondo seus conflitos, desejos e contradições. A metáfora do "cimo da montanha" ilustra o ápice da paixão, seguido pelo inevitável declínio, um movimento que reflete a natureza transitória e volúvel dos sentimentos humanos. Essa abordagem psicológica, típica do realismo de Machado, distancia-se de elementos como suspense acelerado (A), discurso impessoal (B), tom de denúncia social (C) ou descrições da natureza (E).
Assim, a alternativa correta é D) a reflexão a respeito das motivações psicológicas das atitudes humanas, pois o trecho evidencia a maestria de Machado em dissectar a alma humana, revelando suas nuances e ambiguidades.