Questões Sobre Romantismo - Literatura - concurso
Questão 31
CAPÍTULO XIV / O PRIMEIRO BEIJO
Tinha dezessete anos; pungia-me um buçozinho
que eu forcejava por trazer a bigode. Os olhos, vivos e resolutos, eram a minha feição verdadeiramente máscula.
Como ostentasse certa arrogância, não se distinguia bem
se era uma criança, com fumos de homem, se um homem
com ares de menino. Ao cabo, era um lindo garção, lindo
e audaz, que entrava na vida de botas e esporas, chicote
na mão e sangue nas veias, cavalgando um corcel nervoso,
rijo, veloz, como o corcel das antigas baladas, que o
romantismo foi buscar ao castelo medieval, para dar com
ele nas ruas do nosso século. O pior é que o estafaram a
tal ponto, que foi preciso deitá-lo à margem, onde o
realismo o veio achar, comido de lazeira e vermes, e, por
compaixão, o transportou para os seus livros.
Sim, eu era esse garção bonito, airoso, abastado;
e facilmente se imagina que mais de uma dama inclinou
diante de mim a fronte pensativa, ou levantou para mim os
olhos cobiçosos. De todas porém a que me cativou logo
foi uma… uma… não sei se diga; este livro é casto, ao
menos na intenção; na intenção é castíssimo. Mas vá lá;
ou se há de dizer tudo ou nada. A que me cativou foi uma
dama espanhola, Marcela, a “linda Marcela”, como lhe
chamavam os rapazes do tempo. E tinham razão os
rapazes. Era filha de um hortelão das Astúrias; disse-mo
ela mesma, num dia de sinceridade, porque a opinião aceita
é que nascera de um letrado de Madri, vítima da invasão
francesa, ferido, encarcerado, espingardeado, quando ela
tinha apenas doze anos.
Cosas de España. Quem quer que fosse, porém, o
pai, letrado ou hortelão, a verdade é que Marcela não
possuía a inocência rústica, e mal chegava a entender a
moral do código. Era boa moça, lépida, sem escrúpulos,
um pouco tolhida pela austeridade do tempo, que lhe não
permitia arrastar pelas ruas os seus estouvamentos e
berlindas; luxuosa, impaciente, amiga de dinheiro e de
rapazes. Naquele ano, morria de amores por um certo
Xavier, sujeito abastado e tísico, – uma pérola.
(MACHADO
DE ASSIS, J. M. Memórias Póstumas de Brás Cubas.
Rio de Janeiro: Ediouro, s. d.)
O narrador refere-se à decadência do Romantismo
por meio da expressão
- A)“transportou para os seus livros”.
- B)“para dar com ele nas ruas do nosso século”.
- C)“comido de lazeira e vermes”.
- D)“cavalgando um corcel nervoso, rijo, veloz”.
- E)“foi buscar ao castelo medieval”.
A alternativa correta é C)
CAPÍTULO XIV / O PRIMEIRO BEIJO
O trecho em questão, extraído de Memórias Póstumas de Brás Cubas de Machado de Assis, apresenta uma reflexão irônica sobre a transição do Romantismo para o Realismo na literatura. O narrador, Brás Cubas, descreve-se como um jovem audaz e cheio de vigor, comparando-se a um cavaleiro romântico montado em um "corcel nervoso, rijo, veloz". No entanto, essa imagem idealizada é subvertida quando o cavalo, símbolo do Romantismo, é retratado como "comido de lazeira e vermes", abandonado à margem até ser resgatado pelo Realismo.
A expressão "comido de lazeira e vermes" (alternativa C) é a que melhor representa a decadência do Romantismo no texto. Ela evoca uma imagem de deterioração e abandono, contrastando com o idealismo exaltado do movimento romântico. Machado de Assis, mestre do Realismo, utiliza essa metáfora para criticar a exaustão das fórmulas românticas, que já não se sustentavam diante da visão mais crítica e objetiva da realidade proposta pelo Realismo.
As demais alternativas não capturam essa crítica à decadência do Romantismo. A alternativa A) refere-se à incorporação do tema pelo Realismo, B) e E) aludem à origem medieval do cavaleiro romântico, e D) descreve apenas o ímpeto juvenil do narrador, sem o tom de desgaste presente em C). Portanto, a resposta correta é, de fato, a alternativa C).
Questão 32
O OPERÁRIO NO MAR
Na rua passa um operário. Como vai firme! Não tem blusa.
No conto, no drama, no discurso político, a dor do operário
está na sua blusa azul, de pano grosso, nas mãos grossas,
nos pés enormes, nos desconfortos enormes. Esse é um
homem comum, apenas mais escuro que os outros, e com
uma significação estranha no corpo, que carrega desígnios
e segredos. Para onde vai ele, pisando assim tão firme? Não
sei. A fábrica ficou lá atrás. Adiante é só o campo, com
algumas árvores, o grande anúncio de gasolina americana e
os fios, os fios, os fios. O operário não lhe sobra tempo de
perceber que eles levam e trazem mensagens, que contam
da Rússia, do Araguaia, dos Estados Unidos. Não ouve, na
Câmara dos Deputados, o líder oposicionista vociferando.
Caminha no campo e apenas repara que ali corre água, que
mais adiante faz calor. Para onde vai o operário? Teria
vergonha de chamá-lo meu irmão. Ele sabe que não é,
nunca foi meu irmão, que não nos entenderemos nunca. E
me despreza… Ou talvez seja eu próprio que me despreze a
seus olhos. Tenho vergonha e vontade de encará-lo: uma
fascinação quase me obriga a pular a janela, a cair em
frente dele, sustar-lhe a marcha, pelo menos implorar-lhe
que suste a marcha. Agora está caminhando no mar. Eu
pensava que isso fosse privilégio de alguns santos e de
navios. Mas não há nenhuma santidade no operário, e não
vejo rodas nem hélices no seu corpo, aparentemente banal.
Sinto que o mar se acovardou e deixou-o passar. Onde
estão nossos exércitos que não impediram o milagre? Mas
agora vejo que o operário está cansado e que se molhou,
não muito, mas se molhou, e peixes escorrem de suas mãos.
Vejo-o que se volta e me dirige um sorriso úmido. A palidez
e confusão do seu rosto são a própria tarde que se
decompõe. Daqui a um minuto será noite e estaremos
irremediavelmente separados pelas circunstâncias
atmosféricas, eu em terra firme, ele no meio do mar. Único
e precário agente de ligação entre nós, seu sorriso cada vez
mais frio atravessa as grandes massas líquidas, choca-se
contra as formações salinas, as fortalezas da costa, as
medusas, atravessa tudo e vem beijar-me o rosto, trazer-me
uma esperança de compreensão. Sim, quem sabe se um dia
o compreenderei?
Carlos Drummond de Andrade, Sentimento do mundo.
Embora o texto de Drummond e o romance Capitães da
Areia, de Jorge Amado, assemelhem-se na sua especial
atenção às classes populares, um trecho do texto que NÃO
poderia, sem perda de coerência formal e ideológica, ser
enunciado pelo narrador do livro de Jorge Amado é,
sobretudo, o que está em:
- A)“Na rua passa um operário. Como vai firme! Não tem blusa.”
- B)“Esse é um homem comum, apenas mais escuro que os outros (...).”
- C)“Não ouve, na Câmara dos Deputados, o líder oposicionista vociferando.”
- D)“Teria vergonha de chamá-lo meu irmão. Ele sabe que não é, nunca foi meu irmão, que não nos entenderemos nunca.”
- E)“Mas agora vejo que o operário está cansado e que se molhou, não muito, mas se molhou, e peixes escorrem de suas mãos.”
A alternativa correta é D)
O texto "O Operário no Mar", de Carlos Drummond de Andrade, e o romance Capitães da Areia, de Jorge Amado, compartilham uma abordagem centrada nas classes populares, mas com perspectivas distintas. Enquanto Drummond constrói uma relação de distância e incompreensão entre o narrador e o operário, Jorge Amado se aproxima afetivamente dos marginalizados, retratando-os com empatia e solidariedade.
O trecho que não poderia ser enunciado pelo narrador de Capitães da Areia é a alternativa D): "Teria vergonha de chamá-lo meu irmão. Ele sabe que não é, nunca foi meu irmão, que não nos entenderemos nunca." Essa afirmação revela um abismo social e emocional entre o narrador e o operário, algo que contrasta radicalmente com a postura do narrador de Jorge Amado, que assume uma posição de identificação e fraternidade com os personagens marginalizados.
Em Capitães da Areia, o narrador não apenas reconhece a humanidade dos meninos abandonados, mas também os trata como iguais, denunciando as injustiças que sofrem. A distância e a vergonha expressas no poema de Drummond seriam incompatíveis com a voz narrativa de Jorge Amado, que busca justamente romper com essa separação de classes e estabelecer um laço de compreensão e luta comum.
Questão 33
E Jerônimo via e escutava, sentindo ir-se-lhe toda a
alma pelos olhos enamorados.
Naquela mulata estava o grande mistério, a síntese
das impressões que ele recebeu chegando aqui: ela era a luz
ardente do meio-dia; ela era o calor vermelho das sestas da
fazenda; era o aroma quente dos trevos e das baunilhas,
que o atordoara nas matas brasileiras; era a palmeira
virginal e esquiva que se não torce a nenhuma outra planta;
era o veneno e era o açúcar gostoso; era o sapoti mais doce
que o mel e era a castanha do caju, que abre feridas com o
seu azeite de fogo; ela era a cobra verde e traiçoeira, a
lagarta viscosa, a muriçoca doida, que esvoaçava havia
muito tempo em torno do corpo dele, assanhando-lhe os
desejos, acordando-lhe as fibras embambecidas pela
saudade da terra, picando-lhe as artérias, para lhe cuspir
dentro do sangue uma centelha daquele amor setentrional,
uma nota daquela música feita de gemidos de prazer, uma
larva daquela nuvem de cantáridas que zumbiam em torno
da Rita Baiana e espalhavam-se pelo ar numa
fosforescência afrodisíaca.
Aluísio Azevedo, O cortiço.
Em que pese a oposição programática do Naturalismo ao
Romantismo, verifica-se no excerto – e na obra a que
pertence – a presença de uma linha de continuidade entre
o movimento romântico e a corrente naturalista brasileira,
a saber, a
- A)exaltação patriótica da mistura de raças.
- B)necessidade de autodefinição nacional.
- C)aversão ao cientificismo.
- D)recusa dos modelos literários estrangeiros.
- E)idealização das relações amorosas.
A alternativa correta é B)
O excerto de O cortiço, de Aluísio Azevedo, revela uma complexa mistura de elementos naturalistas e românticos, apesar da aparente oposição entre os dois movimentos literários. A passagem descreve a personagem Rita Baiana como uma síntese de sensações e símbolos que representam o Brasil, destacando a natureza, os aromas, os sabores e até mesmo os perigos tropicais. Essa descrição exuberante e sensual, típica do Romantismo, é combinada com uma abordagem mais crua e determinista, característica do Naturalismo.
No entanto, o que se destaca como linha de continuidade entre os dois movimentos é a necessidade de autodefinição nacional (alternativa B). Tanto o Romantismo quanto o Naturalismo brasileiros buscaram construir uma identidade literária que refletisse as particularidades do país, embora com enfoques distintos. Enquanto o Romantismo idealizava a natureza e o povo brasileiro, o Naturalismo buscava retratar a realidade social de forma mais crítica, mas ainda assim com um olhar voltado para as singularidades nacionais.
No trecho em questão, Jerônimo, um imigrante português, é arrebatado pela figura de Rita Baiana, que encarna o Brasil em sua plenitude sensorial e contraditória. Essa representação não apenas exalta a mestiçagem, mas também reflete a busca por uma identidade nacional, marcada pela diversidade e pelo conflito. Assim, mesmo dentro de uma obra naturalista, persiste a preocupação romântica de definir o que é ser brasileiro, confirmando a alternativa B como a correta.
Questão 34
- A)É uma das principais obras da primeira fase do Romantismo, na qual ocorre uma idealização do caráter do indígena, retratado como exemplo de pureza e inocência.
- B)É com este romance que se inaugura o Naturalismo no Brasil, que, em seguida, terá em Aluísio Azevedo seu principal representante.
- C)É umas das principais obras da primeira fase do Modernismo brasileiro, representando com candura a vida e os costumes do sertão.
- D)Embora pertencendo ao Realismo, já traz traços do Naturalismo, sobretudo na caracterização do personagem Tico, um anão mudo que é o responsável pela reviravolta da trama.
- E)Embora pertencendo ao Romantismo, já antecipa características do Realismo/Naturalismo, sobretudo, por sua caracterização do ser humano como produto do meio.
A alternativa correta é E)
O romance Inocência, do Visconde de Taunay, é uma obra que ocupa um lugar singular na literatura brasileira, marcando uma transição entre o Romantismo e o Realismo/Naturalismo. Embora inserido no contexto romântico, o livro apresenta elementos que antecipam as tendências realistas e naturalistas, o que justifica a alternativa E) como a correta.
A narrativa, ambientada no sertão brasileiro, retrata a história de amor entre Inocência e Cirino, permeada por conflitos e obstáculos sociais. Diferentemente das obras românticas que idealizavam o indígena ou o herói nacionalista, Inocência apresenta personagens mais complexos, influenciados pelo meio em que vivem. Essa abordagem já sinaliza uma visão mais realista do ser humano, distanciando-se da idealização típica do Romantismo.
Além disso, a obra não se enquadra na primeira fase do Romantismo (alternativa A), pois não há a exaltação do indígena como símbolo de pureza. Também não inaugura o Naturalismo no Brasil (alternativa B), papel que coube a obras posteriores, como O Mulato, de Aluísio Azevedo. Da mesma forma, não pertence ao Modernismo (alternativa C), movimento que surgiria décadas depois. Embora apresente alguns traços naturalistas, como a influência do meio na formação dos personagens, não se trata de uma obra plenamente realista ou naturalista (alternativa D).
Portanto, Inocência é um exemplo de como a literatura evoluiu no Brasil, mantendo características românticas enquanto já apontava para o Realismo e o Naturalismo, especialmente na forma como retrata a condição humana como produto do ambiente social e geográfico.
Questão 35
Como uma espécie de patologia social, o racismo
está presente nas variadas esferas do cotidiano. A
literatura, enquanto manifestação artística culturalizada,
muitas vezes acaba ecoando esses estereótipos
raciais de forma a rechaçá-los ou confirmá-los. Assim
sendo, é preciso que estejamos sempre atentos às
representações raciais no interior do discurso literário.
Se é verdade que uma palavra pode fazer milagres,
como advertia o escritor Manuel Puig, também não é
menos verdade que uma metáfora racista pode abalar
violentamente a dignidade humana.
Esta Prova discutirá a interface entre racismo e
literatura.
INSTRUÇÃO: Para responder à questão , leia o
trecho do romance A escrava Isaura, de Bernardo
Guimarães.
– Não gosto que a cantes, não, Isaura. Hão de pensar
que és maltratada, que és uma escrava infeliz, vítima
de senhores bárbaros e cruéis. Entretanto passas
aqui uma vida que faria inveja a muita gente livre.
Gozas da estima de teus senhores. Deram-te uma
educação como não tiveram muitas ricas e ilustres
damas que eu conheço. És formosa, e tens uma cor
linda, que ninguém dirá que gira em tuas veias uma
só gota de sangue africano. […]
– Mas senhora, apesar de tudo isso, que sou eu mais
do que uma simples escrava? Essa educação que
me deram e essa beleza, que tanto me gabam, de
que me servem?… São trastes de luxo colocados na
senzala do africano. A senzala nem por isso deixa de
ser o que é: uma senzala.
– Queixas-te de tua sorte, Isaura?
– Eu não, senhora; não tenho motivo… o que quero
dizer com isto é que, apesar de todos esses dotes
e vantagens que me atribuem, sei conhecer o meu
lugar.
Com base no texto e no contexto do qual o fragmento
acima faz parte, afirma-se:
I. De acordo com a primeira fala, a cor de Isaura
é apontada como uma possível negação de sua
origem africana.
II. Apesar de alguns questionamentos acerca da
senzala, a escrava parece resignada ao lugar
que ela ocupa na sociedade da época.
III. A obra A Escrava Isaura, de Bernardo Guimarães,
integra um dos momentos cruciais do realismo
literário brasileiro, no qual os autores se mostravam
preocupados com a crítica social.
Está/Estão correta(s) a(s) afirmativa(s)
- A)I, apenas.
- B)II, apenas.
- C)I e II, apenas.
- D)II e III, apenas.
- E)I, II, III.
A alternativa correta é C)
O trecho de A Escrava Isaura, de Bernardo Guimarães, revela nuances complexas da representação racial e social no Brasil do século XIX. A análise das afirmativas permite compreender como a obra aborda questões como identidade, submissão e crítica à estrutura escravocrata.
Afirmativa I: Correta. A fala da senhora destaca a cor de Isaura como um elemento que supostamente a distancia de suas raízes africanas, reforçando um ideal de embranquecimento. A menção ao "sangue africano" como algo invisível em sua aparência ilustra a tentativa de negar sua ancestralidade, um mecanismo comum na sociedade racista da época.
Afirmativa II: Correta. Isaura demonstra consciência de sua condição, mesmo reconhecendo os privilégios que possui em relação a outros escravos. Sua fala sobre a "senzala" como realidade inalterável, apesar de seus "trastes de luxo", revela uma resignação crítica, na qual ela não se rebela abertamente, mas também não romantiza sua situação.
Afirmativa III: Incorreta. Embora a obra dialogue com questões sociais, A Escrava Isaura pertence ao Romantismo brasileiro, não ao Realismo. Bernardo Guimarães não prioriza a crítica objetiva às estruturas de poder, característica do Realismo, mas sim um tom melodramático e idealizado, típico da estética romântica.
Portanto, apenas as afirmativas I e II estão corretas, conforme o gabarito indica. O trecho evidencia como a literatura pode reproduzir contradições da sociedade, mesmo quando parece contestá-las.
Questão 36
“Uma das grandes preocupações desses autores era opor-se à burguesia. Criticavam o comportamento abjeto,
como o adultério feminino; revelavam também o lado corrupto do clero e a hipocrisia de muitos fieis extremosos,
como as beatas. Os escritores, apesar das críticas, mostravam-se impassíveis diante dos fatos narrados, distantes
da situação. Apelavam ainda para as impressões sensoriais e, com isso, tornava-se frequente a sexualização do
amor.”
O texto acima caracteriza o
- A)Simbolismo.
- B)Romantismo.
- C)Realismo.
- D)Modernismo.
A alternativa correta é C)
O texto apresentado descreve características marcantes do movimento literário conhecido como Realismo. Essa escola artística surgiu no século XIX como uma resposta ao Romantismo, priorizando a representação objetiva da realidade e a crítica social. Os autores realistas buscavam retratar a sociedade de forma imparcial, expondo seus vícios e contradições sem idealizações.
Como mencionado no excerto, os escritores realistas se opunham à burguesia e denunciavam comportamentos considerados imorais, como o adultério feminino - uma abordagem que contrastava com a visão romântica do amor. A crítica à corrupção do clero e à hipocrisia religiosa também era frequente, revelando o caráter investigativo e desmistificador do Realismo.
A postura impassível dos narradores, mantendo distância emocional dos fatos narrados, é outra característica fundamental do Realismo, que buscava uma abordagem quase científica da realidade. A ênfase nas impressões sensoriais e a sexualização do amor, mencionadas no texto, refletem a influência do Naturalismo, vertente do Realismo que incorporava conceitos deterministas.
Esses elementos permitem identificar claramente que o texto se refere ao Realismo (alternativa C), diferenciando-o de outros movimentos como o Romantismo (idealizador), Simbolismo (subjetivo) ou Modernismo (que surgiria posteriormente com características distintas). O Realismo representou uma importante virada na literatura ao trazer uma visão mais crítica e menos sentimental da sociedade.
Questão 37
- A)Leôncio – A escrava Isaura – Bernardo Guimarães – Isaura.
- B)Brás Cubas – Memórias póstumas de Brás Cubas – Machado de Assis – Virgília.
- C)Martim – Iracema – José de Alencar – Iracema.
- D)Bentinho – Dom Casmurro – Machado de Assis – Capitu.
- E)Fernando – Senhora – José de Alencar – Aurélia.
A alternativa correta é D)
Ensaio sobre a personagem Capitu em "Dom Casmurro"
O excerto apresentado revela uma das passagens mais emblemáticas da literatura brasileira, retirada da obra Dom Casmurro, de Machado de Assis. A descrição dos "olhos de ressaca" pertence à narração de Bentinho, o protagonista, que rememora sua relação com Capitu, personagem central do romance. A alternativa correta para preencher as lacunas é, de fato, a letra D, pois a citação caracteriza justamente o olhar enigmático e envolvente de Capitu, que tanto intriga o narrador.
Capitu é uma das personagens mais complexas e discutidas da literatura nacional. Seu olhar, comparado à força da ressaca, simboliza a ambiguidade que permeia toda a narrativa: será ela inocente ou culpada da traição que Bentinho suspeita? Machado de Assis constrói uma figura feminina que desafia as convenções de sua época, dotada de personalidade forte e capaz de exercer fascínio tanto sobre o narrador quanto sobre os leitores.
A genialidade do autor está em nunca confirmar ou negar explicitamente as acusações de Bentinho, deixando margem para múltiplas interpretações. Essa ambiguidade transformou Capitu em um ícone literário, cuja análise ultrapassa o romance e reflete sobre ciúme, narrativa não confiável e as relações humanas. Seus "olhos de ressaca" continuam, mais de um século depois, a arrastar leitores para o turbilhão de dúvidas e paixões que constituem essa obra-prima da literatura brasileira.
Questão 38
De Memórias Póstumas de Brás Cubas, romance
de Machado de Assis, pode-se afirmar que
- A)é uma obra ainda marcada pelo ideário romântico e recusa a objetividade, característica da atitude cientificista do final do século XIX.
- B)propõe o engajamento da arte como movimento social, por meio da crítica de costumes e da defesa de reformas sociais, ainda que defendendo os valores burgueses, monárquicos e religiosos da época.
- C)explica o comportamento humano como produto de leis naturais e como decorrência de fatores biológicos capazes de oferecer o retrato objetivo e imparcial da sociedade.
- D)revela a precariedade da espécie humana através da pretensa superioridade de seu protagonista, Brás Cubas, defunto autor que conta sua história valendo-se de postura irônica.
- E)estrutura-se de forma rigorosamente linear, evitando a narração fragmentária e as digressões que podem ferir a estética da obra e a sequência da narrativa.
A alternativa correta é D)
O romance Memórias Póstumas de Brás Cubas, de Machado de Assis, é uma obra que desafia convenções literárias e sociais ao apresentar um narrador inusitado: um defunto que relata sua própria vida com ironia e distanciamento. A alternativa D) é a correta, pois capta a essência da obra ao destacar a precariedade da condição humana, exposta através da figura pretensamente superior de Brás Cubas, cuja narrativa revela, na verdade, sua mediocridade e egoísmo.
Machado de Assis utiliza a ironia como ferramenta para desconstruir as ilusões de grandeza de seu protagonista, mostrando como a suposta excelência moral e intelectual de Brás Cubas é apenas uma fachada. A obra rompe com o romantismo (contrariando a alternativa A)), não se limita a um engajamento social simplista (como sugere a alternativa B)) e tampouco reduz o comportamento humano a determinismos biológicos (ao contrário da alternativa C)).
Além disso, a estrutura narrativa não é linear (invalidando a alternativa E)), mas sim fragmentada e repleta de digressões, o que reforça o caráter inovador da obra. Assim, Memórias Póstumas de Brás Cubas se consolida como uma crítica mordaz à sociedade e à natureza humana, marcada pela genialidade literária de Machado de Assis.
Questão 39
Viagens na Minha Terra é um romance escrito por
Almeida Garrett. Desta obra se pode afirmar que
- A)é um romance cuja prática literária distancia-se das coordenadas conceituais da época, ou seja, Romantismo, nacionalismo e liberdade formal.
- B)apresenta um estilo ziguezagueante, mas recusa o processo de digressões, com a justificativa de que isso fere a estrutura da obra e prejudica a interpretação do leitor
- C)rompe com a linearidade narrativa, utiliza o recurso da montagem e vale-se do processo do enquadramento de uma estória dentro da outra, como é o caso da estória da Menina dos Rouxinóis.
- D)relata apenas um drama familiar ocorrido no Vale de Santarém como pretexto para analisar as paixões que acometem os jovens na sociedade repressora e capitalista portuguesa do século XIX.
- E)inscreve-se na tradição dos livros de viagem e objetiva contar apenas a história cultural portuguesa e a valorização de sua origens e de seus monumentos.
A alternativa correta é C)
O romance Viagens na Minha Terra, de Almeida Garrett, é uma obra que se destaca pela sua inovação narrativa e pela forma como desafia as convenções literárias de sua época. Entre as alternativas apresentadas, a correta é a C), que afirma que a obra rompe com a linearidade narrativa, utiliza o recurso da montagem e insere uma estória dentro da outra, como ocorre com a narrativa da Menina dos Rouxinóis.
Essa característica é fundamental para compreender a originalidade do texto. Garrett não se limita a uma estrutura tradicional, mas mistura elementos de viagem, reflexão e ficção, criando uma obra híbrida que transcende os limites do gênero romântico. A digressão e a fragmentação narrativa são marcas do estilo do autor, que busca capturar a complexidade da experiência humana e da realidade portuguesa do século XIX.
Além disso, a obra não se restringe a um simples drama familiar ou a um relato de viagem convencional, como sugerem outras alternativas. Pelo contrário, Viagens na Minha Terra é uma reflexão sobre a identidade nacional, a literatura e a sociedade, tudo isso entrelaçado de maneira não linear e cheia de nuances.
Portanto, a alternativa C) é a que melhor sintetiza a essência da obra, destacando sua ruptura com a narrativa tradicional e sua abordagem inovadora, que influenciou gerações posteriores de escritores.
Questão 40
Assinale a alternativa que contém apenas assertivas verdadeiras a respeito das escolas literárias brasileiras.
I – A poesia romântica brasileira pode ser dividida em três gerações: 1ª geração: Nacionalista; 2ª geração: Ultrarromântica; 3ª geração: Condoreira.
II – As características do Realismo são semelhantes às do Romantismo, pois em ambos os movimentos havia a idealização da mulher e o sentimentalismo exagerado.
III – Algumas das principais características do Arcadismo são a busca por uma vida simples e a valorização da natureza. Thomas Antonio Gonzaga e Cláudio Manoel da Costa estão entre seus principais expoentes.
- A)II e III estão corretas, I está incorreta.
- B)I e III estão corretas, II está incorreta.
- C)I e II estão corretas, III está incorreta.
- D)todas estão incorretas.
- E)todas estão corretas.
A alternativa correta é B)
Análise das assertivas sobre escolas literárias brasileiras:
A alternativa correta é a B) I e III estão corretas, II está incorreta, conforme o gabarito indicado. Esta resposta pode ser justificada através da seguinte análise:
I - Verdadeira: A divisão da poesia romântica brasileira em três gerações está correta: a primeira com caráter nacionalista (Gonçalves Dias), a segunda ultrarromântica (Álvares de Azevedo) e a terceira condoreira (Castro Alves), representando diferentes fases do movimento.
II - Falsa: O Realismo se opõe justamente aos principais aspectos do Romantismo, rejeitando a idealização e o sentimentalismo em favor de uma abordagem objetiva e crítica da realidade. A assertiva inverte completamente a relação entre esses movimentos.
III - Verdadeira: O Arcadismo de fato pregava o retorno à vida simples e à natureza (fugere urbem), sendo Gonzaga (autor de "Marília de Dirceu") e Cláudio Manoel da Costa (poeta de "Vila Rica") seus principais representantes no Brasil.
Portanto, apenas as assertivas I e III correspondem à realidade histórica das escolas literárias brasileiras, enquanto a II apresenta uma contradição fundamental entre Realismo e Romantismo.