Questões Sobre Vanguardas Europeias - Literatura - concurso
Questão 1
O mundo dessa pintura, como o dos sonhos, é ao mesmo tempo familiar e desconhecido: familiar, em razão do estilo minuciosamente realista, que permite ao espectador o reconhecimento de uma figura ou de um objeto pintados; desconhecido, por causa da estranheza dos contextos em que eles aparecem, como num sonho.
(Fiona Bradley. Surrealismo, 2001. Adaptado.)
O comentário da historiadora de arte aplica-se à pintura reproduzida em:
- E)
A alternativa correta é C)
O comentário da historiadora de arte Fiona Bradley sobre o surrealismo descreve uma característica essencial desse movimento artístico: a combinação entre o realismo meticuloso e a atmosfera onírica que desconstrói a lógica cotidiana. Essa dualidade entre o familiar e o estranho é uma marca registrada de obras surrealistas, como as de Salvador Dalí ou René Magritte, que desafiam a percepção ao apresentar elementos reconhecíveis em contextos absurdos ou simbólicos.
O gabarito correto para a questão apresentada é a alternativa C, que provavelmente se refere a uma pintura emblemática do surrealismo. Essa escolha reforça o entendimento de que o movimento buscava transcender a realidade convencional, mergulhando no inconsciente e no imaginário. A justaposição de objetos comuns em cenários inesperados cria uma tensão poética, convidando o espectador a questionar os limites entre o racional e o fantástico.
Assim, a análise de Bradley ressalta como o surrealismo, ao imitar a linguagem dos sonhos, não apenas representa o mundo, mas o reinventa. A pintura mencionada na opção C deve exemplificar essa abordagem, onde a precisão técnica serve a um propósito subversivo: desvelar as camadas ocultas da mente humana.
Questão 2
Do velho e metafísico Mistério,
Eu e Outras Poesias)
várias posturas artísticas. Assinale a opção
que traz um aspecto de estilo não incorporado no poema acima.
- A)Do Modernismo, em sua fase inicial, a busca pela hegemonia da cultura popular, com linguagem acessível.
- B)Do Parnasianismo, o rigor formal, a escolha do soneto com uso de rimas ricas, ou seja, com palavras de classes gramaticais diferentes.
- C)Do Simbolismo, a evocação do aspecto espiritual, mais as referências ao metafísico, etéreo, vago e misterioso.
- D)Do Naturalismo, a utilização de vocabulário científico (“hidrogênio”) e imagens agressivas, antirromânticas.
- E)Do Expressionismo, o gosto pelo grotesco, com imagens deformadas, pelo tom de exagero.
A alternativa correta é A)
O poema "Solilóquio de um Visionário", de Augusto dos Anjos, apresenta uma mescla de características estilísticas de diferentes movimentos literários, típica do Pré-Modernismo. A análise das opções revela que a alternativa A) é a que não se aplica ao texto, pois o Modernismo em sua fase inicial buscava uma linguagem acessível e a valorização da cultura popular, elementos ausentes no poema em questão.
O poema, em contraste, incorpora aspectos como o rigor formal e a estrutura de soneto do Parnasianismo (opção B), a espiritualidade e o mistério do Simbolismo (opção C), o vocabulário científico e imagens antirromânticas do Naturalismo (opção D), e o grotesco expressionista (opção E). A ausência de uma linguagem coloquial e de temas populares afasta o texto da estética modernista inicial, confirmando a resposta correta.
Assim, Augusto dos Anjos constrói uma obra singular, onde a fusão de traços diversos resulta em uma poesia densa e original, distante da proposta simplificadora do Modernismo de primeira fase.
Questão 3
Eu e Outras Poesias)
várias posturas artísticas. Assinale a opção
que traz um aspecto de estilo não incorporado no poema acima.
- A)Do Modernismo, em sua fase inicial, a busca pela hegemonia da cultura popular, com linguagem acessível.
- B)Do Parnasianismo, o rigor formal, a escolha do soneto com uso de rimas ricas, ou seja, com palavras de classes gramaticais diferentes.
- C)Do Simbolismo, a evocação do aspecto espiritual, mais as referências ao metafísico, etéreo, vago e misterioso.
- D)Do Naturalismo, a utilização de vocabulário científico (“hidrogênio”) e imagens agressivas, antirromânticas.
- E)Do Expressionismo, o gosto pelo grotesco, com imagens deformadas, pelo tom de exagero.
A alternativa correta é A)
O poema "Solilóquio de um Visionário", de Augusto dos Anjos, apresenta uma mescla de características estilísticas de diferentes movimentos literários, típico do período Pré-Modernista. A análise das opções revela que a alternativa A) é a que não se aplica ao texto em questão.
O poema não busca a hegemonia da cultura popular nem adota uma linguagem acessível, traços marcantes do Modernismo em sua fase inicial. Pelo contrário, o vocabulário é denso, repleto de termos científicos ("hidrogênio"), metafísicos ("etéreo", "Mistério") e imagens violentas ("Comi meus olhos crus no cemitério"), distanciando-se da proposta modernista de valorização do cotidiano e da linguagem coloquial.
As demais alternativas estão corretamente associadas ao poema: o rigor formal parnasiano (soneto com rimas ricas), o espiritualismo simbolista, o vocabulário científico naturalista e o grotesco expressionista são elementos presentes na obra. Augusto dos Anjos funde essas influências em um estilo único, marcado pelo pessimismo e pela angústia existencial, típicos de sua poesia.
Portanto, a resposta correta é A), pois o poema não incorpora a estética modernista inicial, destacando-se justamente por sua complexidade linguística e temática, oposta à simplicidade proposta pelo movimento modernista em sua primeira fase.
Questão 4
ignorância do homem rural paulista, responsável pela devastação das matas da Mantiqueira, pela prática
agrícola da queimada (coivara) e pela decadência da agricultura da região. O Jeca foi tomado como
símbolo nacionalista em discurso famoso de Rui Barbosa, no Senado, transformou-se depois, em garotopropaganda de um conhecido fortificante, o Biotônico Fontoura.
ainda era a melhor coisa que o Brasil possuía. Em 1947, em outro livrinho. O Zé Brasil, o autor retoma a
figura do Jeca, mas em outra perspectiva: o sistema econômico brasileiro é o culpado de tudo, tudo
pertence a uns poucos homens, e os milhões de jecas-tatus e zés-brasis é que pagam… Jeca Tatu
simboliza a situação do caipira brasileiro, abandonado pelos poderes públicos às doenças, ao atraso
econômico, educacional e à indigência política. Jeca Tatu, um caipira de barba rala e calcanhares
rachados, porque não gostava de usar sapatos, era pobre, ignorante e avesso aos hábitos de higiene
urbanos. Morava na região do Vale do Paraíba (SP), distinta por seu atraso, naquela época.
O criador da personagem Jeca Tatu é:
- A)Rui Barbosa.
- B)Monteiro Lobato.
- C)Euclides da Cunha.
- D)Lima Barreto.
A alternativa correta é B)
O ensaio a seguir analisa a figura do Jeca Tatu, personagem emblemática da literatura brasileira, criada por Monteiro Lobato, e sua evolução como símbolo das contradições e desafios do Brasil rural.
Inicialmente apresentado no conto "Velha Praga", parte da obra Urupês, o Jeca Tatu surge como a representação crua do atraso e da ignorância do homem do campo paulista. Lobato o descreve como responsável pela degradação ambiental, pelas práticas agrícolas predatórias e pela estagnação econômica da região do Vale do Paraíba. Essa primeira versão do personagem foi tão impactante que acabou sendo apropriada por Rui Barbosa em um discurso no Senado, tornando-se um símbolo nacional, e posteriormente utilizada em campanhas publicitárias.
Contudo, o próprio Lobato revisitaria sua criação anos depois, em O Zé Brasil (1947), oferecendo uma nova interpretação. Nessa segunda fase, o autor transfere a culpa do atraso do indivíduo para as estruturas econômicas e sociais do país. O Jeca deixa de ser o causador dos problemas para se tornar sua principal vítima - um retrato do abandono sofrido pela população rural frente às doenças, à falta de educação e à exclusão política.
Essa dualidade na representação do Jeca Tatu revela não apenas a evolução do pensamento de Monteiro Lobato, mas também as complexidades do debate sobre o desenvolvimento nacional. De símbolo do atraso a mártir das injustiças sociais, o personagem continua atual, refletindo dilemas ainda não superados pela sociedade brasileira.
Portanto, a criação desse ícone literário, que sintetiza tantos aspectos da identidade nacional, deve-se ao talento e à percepção social de Monteiro Lobato, confirmando a alternativa B como correta.
Questão 5
de estilos cênicos, entre os quais se destacam o estilo
realista (põe em evidência detalhes ambientais para sugerir
sensações e emoções vividas pelas personagens), o estilo
expressionista (os objetos são distorcidos ou estilizados,
com o fim de sugerir, mais que mostrar, o ambiente de
atuação das personagens), o estilo simbolista (os objetos
concretos sugerem ideias abstratas, segundo associações
sinestéticas tradicionais: o verde, vestido pelos mágicos,
indica a esperança; o vermelho, a cor do demônio, sugere
uma paixão violenta; a veste branca simboliza a candura, a
castidade).
drama. São Paulo: Ática, 1995, p. 138.)
a pós-modernidade é isto e aquilo, num presente aberto
pelo e.
p. 110.)
abrem e fecham a peça O marinheiro, de Fernando
Pessoa, é correto afirmar que o seu estilo é
- A)expressionista, dadas a ausência de ações dramáticas e a presença de sugestões alegóricas como, por exemplo, o canto do galo.
- B)simbolista, uma vez que os elementos que compõem a cena dramática sugerem alguns significados de natureza filosófica.
- C)realista, porque as imagens da noite, do luar e do alvorecer indicam precisamente a passagem do tempo.
- D)pós-modernista, tendo em vista que os objetos descritos criam uma atmosfera mágica, na qual a ilusão não se distingue da realidade.
A alternativa correta é B)
O texto apresentado aborda os diferentes estilos cênicos, destacando o realista, o expressionista e o simbolista, conforme descrito por Salvatore D'Onofrio. Além disso, introduz a noção de pós-modernidade, caracterizada pela mistura de estilos e ausência de hierarquias definidas, conforme apontado por Jair Ferreira dos Santos.
No contexto da peça O marinheiro, de Fernando Pessoa, o estilo cênico predominante é identificado como simbolista. Isso se deve ao fato de que os elementos presentes na cena dramática não apenas representam a realidade de forma concreta, mas também sugerem significados mais profundos, de natureza filosófica. O simbolismo, como mencionado no texto, utiliza objetos concretos para evocar ideias abstratas, estabelecendo associações sinestéticas que transcendem a mera aparência.
Embora a peça apresente elementos como a noite, o luar e o alvorecer, que poderiam remeter a uma passagem precisa do tempo (característica do realismo), a abordagem de Pessoa vai além da representação fiel da realidade. Da mesma forma, a ausência de ações dramáticas e a presença de sugestões alegóricas, como o canto do galo, poderiam aproximar a obra do expressionismo. No entanto, a ênfase na sugestão de significados filosóficos por meio dos elementos cênicos reforça a natureza simbolista da peça.
Por fim, a opção que relaciona o estilo da peça ao pós-modernismo não se sustenta, uma vez que a atmosfera mágica e a indistinção entre ilusão e realidade não são suficientes para caracterizar a obra como pós-moderna. O simbolismo, portanto, é a chave para compreender a estética de O marinheiro, confirmando a alternativa B como a correta.
Questão 6
primeira metade do século XX foram manifestações
artístico-literárias que criticavam uma concepção tradicional de museu, introduzindo uma estética marcada
pela experimentação e pela subjetividade, que influenciaria fortemente diversas manifestações culturais em
todo o mundo.
- A)O Surrealismo apresentava a exaltação da tecnologia, das máquinas, da velocidade e do progresso.
- B)O Expressionismo evidenciava a decomposição e a fragmentação das formas geométricas, afirmando que um mesmo objeto poderia ser visto de vários ângulos.
- C)O Cubismo valorizava a subjetividade e buscava transmitir ao mundo a situação do homem, com seus vícios e horrores.
- D)O Futurismo defendia a criação por meio das experiências nascidas no imaginário e na atmosfera onírica, sem interferências da razão.
- E)O Dadaísmo surgiu como oposição à guerra e ressaltava a espontaneidade da arte pautada na liberdade de expressão, no absurdo e na irracionalidade.
A alternativa correta é E)
As vanguardas artísticas europeias da primeira metade do século XX representaram uma ruptura radical com as tradições estéticas anteriores, propondo novas formas de expressão que refletiam as transformações sociais, políticas e culturais da época. Movimentos como o Surrealismo, o Expressionismo, o Cubismo, o Futurismo e o Dadaísmo desafiaram as convenções artísticas, introduzindo linguagens inovadoras e questionando os limites da arte.
Entre as alternativas apresentadas, a correta é a letra E, que descreve o Dadaísmo como um movimento de oposição à guerra, destacando a espontaneidade, a liberdade de expressão, o absurdo e a irracionalidade. Essa corrente surgiu em meio ao caos da Primeira Guerra Mundial, rejeitando a lógica e a razão, que eram associadas aos valores da sociedade que havia levado ao conflito. Artistas como Tristan Tzara e Marcel Duchamp utilizaram técnicas como o ready-made e a colagem para criar obras que desestabilizavam os padrões artísticos tradicionais.
As demais alternativas apresentam características equivocadas ou trocam as propostas dos movimentos:
- A) A exaltação da tecnologia e da velocidade é uma característica do Futurismo, não do Surrealismo.
- B) A decomposição das formas geométricas e a multiplicidade de perspectivas são marcas do Cubismo, não do Expressionismo.
- C) A subjetividade e a representação dos horrores humanos são próprias do Expressionismo, não do Cubismo.
- D) A valorização do imaginário e do sonho é central no Surrealismo, não no Futurismo.
Portanto, o Dadaísmo se destaca como um movimento que, ao rejeitar a racionalidade e abraçar o nonsense, questionou profundamente o papel da arte e da cultura em um mundo em crise.
Questão 7
Livro sobre nada (Manoel de Barros)
É mais fácil fazer da tolice um regalo do que da sensatez.
Tudo que não invento é falso.
Há muitas maneiras sérias de não dizer nada, mas só a poesia é verdadeira.
Tem mais presença em mim o que me falta.
Melhor jeito que achei para me conhecer foi fazendo o contrário.
Sou muito preparado de conflitos.
Não pode haver ausência de boca nas palavras: nenhuma fique desamparada do ser que a revelou.
O meu amanhecer vai ser de noite.
Melhor que nomear é aludir.
Verso não precisa dar noção.
O que sustenta a encantação de um verso (além do ritmo) é o ilogismo.
Meu avesso é mais visível do que um poste.
Sábio é o que adivinha.
Para ter mais certezas tenho que me saber de imperfeições.
A inércia é meu ato principal.
Não saio de dentro de mim nem para pescar.
Sabedoria pode ser que seja estar uma árvore.
Estilo é um modelo anormal de expressão: é estigma.
Peixe não tem honras nem horizontes.
Sempre que desejo contar alguma coisa, não faço nada; mas quando não desejo contar nada, faço poesia.
Eu queria ser lido pelas pedras.
As palavras me escondem sem cuidado.
Aonde eu não estou as palavras me acham.
Há histórias tão verdadeiras que às vezes parece que são inventadas.
Uma palavra abriu o roupão para mim.
Ela deseja que eu a seja.
A terapia literária consiste em desarrumar a linguagem a ponto que ela expresse nossos mais fundos
desejos.
Quero a palavra que sirva na boca dos passarinhos.
Esta tarefa de cessar é que puxa minhas frases para antes de mim.
Ateu é uma pessoa capaz de provar cientificamente que não é nada.
Só se compara aos santos.
Os santos
querem ser os vermes de Deus.
Melhor para chegar a nada é descobrir a verdade.
O artista é erro da natureza. Beethoven foi um erro perfeito.
Por pudor sou impuro.
O branco me corrompe.
Não gosto de palavra acostumada.
A minha diferença é sempre menos.
Palavra poética tem que chegar ao grau de brinquedo para ser séria.
Não preciso do fim para chegar.
Do lugar onde estou já fui embora.
cronologicamente, à geração de 45, mais formalmente ao Pós-Modernismo Brasileiro, situando-se mais
próximo das vanguardas europeias do início do Século XX, da Poesia Pau-Brasil e da Antropofagia de
Oswald de Andrade.
correta:
do paisagismo inócuo.
transformar em tátil, olfativo, visual, gustativo e auditivo aquilo que é paradoxalmente abstrato.
a estreita dimensão dos seres humanos diante da natureza, diante da linguagem, diante do cosmos.
ampliando as possibilidades expressivas e comunicativas do léxico por meio da formação de palavras
novas (neologismos).
- A)V - V - V - V.
- B)V - F - V - V.
- C)V - V - F - V.
- D)V - V - V - F.
A alternativa correta é A)
Livro sobre nada (Manoel de Barros)
Manoel de Barros, poeta mato-grossense, constrói em sua obra um universo singular, onde o "nada" se revela como matéria-prima da criação poética. Sua linguagem, aparentemente simples, desvela camadas profundas de significado, transformando o insignificante em essência literária. O poeta opera uma alquimia verbal que subverte a lógica convencional, elevando o cotidiano e o trivial à condição de arte.
Barros desenvolve uma poética que celebra o inútil, o mínimo e o aparentemente sem importância. Frases como "Tudo que não invento é falso" e "Há muitas maneiras sérias de não dizer nada, mas só a poesia é verdadeira" revelam sua concepção de que a verdadeira criação nasce da capacidade de ver o mundo com olhos desautomatizados. Sua escrita constitui um exercício contínuo de desaprender, como sugere em "Melhor jeito que achei para me conhecer foi fazendo o contrário".
A natureza pantaneira permeia sua obra, não como pano de fundo decorativo, mas como elemento constitutivo de sua linguagem. O poeta transforma o ambiente rural em matéria poética, criando uma sintaxe que homenageia a oralidade e inventa novas palavras para expressar o inexprimível. Seus versos, como "Quero a palavra que sirva na boca dos passarinhos", demonstram essa busca por uma linguagem primordial, anterior à racionalidade.
O ilogismo aparece como força motriz da poesia barrosiana. Afirmações como "O que sustenta a encantação de um verso (além do ritmo) é o ilogismo" revelam sua crença no poder criativo do nonsense. Essa postura aproxima sua obra das vanguardas modernistas, especialmente da Antropofagia oswaldiana, embora com uma voz absolutamente pessoal e reconhecível.
Manoel de Barros constrói uma poesia que é, paradoxalmente, profundamente enraizada no local (o Pantanal) e universal em seu alcance. Sua capacidade de transfigurar poeticamente as minúcias do mundo, como indicado na questão, revela a pequenez humana diante da vastidão do cosmos. A alternativa correta é, portanto, a A) V - V - V - V, pois todas as afirmações sobre sua obra são verdadeiras e complementares.
Por fim, o poeta nos deixa como legado a lição de que "Palavra poética tem que chegar ao grau de brinquedo para ser séria", sintetizando sua visão de que a verdadeira profundidade só se alcança através do jogo e da liberdade criativa.
Questão 8
era bom tema de conversa. Voltou à literatura, aconselhando
os outros a lerem Drummond de Andrade, na sua opinião o
melhor poeta de língua portuguesa de sempre. Qual Camões,
qual Pessoa, Drummond é que era, tudo estava nele, até a
situação de Angola se podia inferir na sua poesia. Por isso vos
digo, os portugueses passam a vida a querer-nos impingir a
sua poesia, temos de a estudar na escola, e escondem-nos os
brasileiros, nossos irmãos, poetas e prosadores sublimes,
relatando os nossos problemas e numa linguagem bem mais
próxima da que falamos nas cidades. Quem não leu
Drummond é um analfabeto. Os outros iam comendo, trocando
de vez em quando olhares cúmplices. Até que Malongo e Vítor
terminaram a refeição. Malongo despediu-se, levantando-se,
um analfabeto vos saúda. Vítor e Furtado riram, Horácio fingiu
que não ouviu. Agarrou no braço de Furtado e continuou a
cultivá-lo com versos de Drummond e os seus próprios,
dedicados ao grande brasileiro.
p. 30-31 (fragmento).
Horácio aconselha seus amigos Malongo, Vítor e Furtado a
lerem o poeta Drummond de Andrade.
Pessoa.
realidade angolana.
Drummond.
nas escolas angolanas.
próxima a dos angolanos nas cidades.
- A)Apenas as afirmativas II, IV e V estão corretas.
- B)Apenas as afirmativas II, III e IV estão corretas.
- C)Apenas as afirmativas I, II e V estão corretas.
- D)Apenas as afirmativas I, III e V estão corretas.
A alternativa correta é C)
No fragmento do romance A Geração da Utopia, de Pepetela, o personagem Horácio defende veementemente a superioridade da poesia de Carlos Drummond de Andrade em relação a grandes nomes da língua portuguesa, como Camões e Fernando Pessoa. Essa posição, expressa na afirmativa I, reflete uma opinião subjetiva do personagem, que considera Drummond o "melhor poeta de língua portuguesa de sempre". Embora seja uma visão pessoal, o texto deixa claro que Horácio acredita nessa afirmação, tornando a alternativa I correta no contexto da narrativa.
A afirmativa II também está correta, pois o trecho menciona que, segundo Horácio, a situação de Angola podia ser inferida na poesia de Drummond. Isso indica uma aproximação entre a obra do poeta brasileiro e a realidade angolana, sugerindo que sua literatura dialoga com questões relevantes para o país africano, ainda que de forma indireta.
Já a afirmativa III é incorreta, pois o texto critica justamente o fato de as escolas portuguesas priorizarem o estudo de poetas portugueses, "escondendo" os brasileiros. Não há qualquer menção ao ensino de Drummond em Portugal, mas sim uma reclamação sobre sua ausência nos currículos.
A afirmativa IV também não encontra respaldo no texto. Embora Horácio afirme que "quem não leu Drummond é um analfabeto", trata-se de uma hipérbole para enfatizar a importância que ele atribui ao poeta, não uma referência a programas de alfabetização que utilizem sua obra.
Por fim, a afirmativa V está correta, pois o texto menciona explicitamente que os escritores brasileiros, como Drummond, utilizam "uma linguagem bem mais próxima da que falamos nas cidades" (referindo-se aos angolanos). Essa proximidade linguística é apresentada como uma vantagem da literatura brasileira em relação à portuguesa no contexto angolano.
Portanto, as únicas afirmativas corretas são I, II e V, tornando a alternativa C a resposta adequada. O excerto revela não apenas as preferências literárias de Horácio, mas também uma crítica à hegemonia cultural portuguesa e uma valorização dos laços literários entre Brasil e Angola, marcados por similaridades linguísticas e temáticas.
Questão 9
do mundo, de Carlos Drummond de Andrade, é correto afirmar que o poema:
- A)opõe a um mundo injusto e brutal – que se cobria de sangue, quando o poeta o concebeu – a tranquilidade, os atos simples da vida que parecem mitológicos, fábulas de um passado extinto.
- B)integra a fase surrealista do poeta, na qual ele elabora uma síntese de elementos quotidianos tratados como fantásticos e descreve cenas de absoluta suprarrealidade.
- C)é um retrato fraternal e solidário de um tipo de experiência social vivida largamente na década de 1940, quando o poeta o concebeu. Experiência essa que desconhece a tristeza e abraça o mais veemente lirismo, calcado na experimentação linguística.
- D)retrata o mundo caduco que se anunciou com a deflagração da Segunda Guerra Mundial, mas o poeta entusiasma-se com uma nova ordem social que deixa de ser imaginária e se transforma em realidade palpável.
- E)registra fotograficamente o cotidiano da década de 1930 – época em Sentimento do mundo foi publicado –, o terra-a-terra mais elementar, levando a fotografia a assumir elevações de símbolo.
A alternativa correta é A)
O poema Lembrança do mundo antigo, de Carlos Drummond de Andrade, presente na obra Sentimento do mundo, constrói uma imagem nostálgica e quase mítica de um passado aparentemente simples e sereno. A descrição de Clara passeando no jardim com as crianças, cercada por cores vivas e uma atmosfera pacífica, contrasta fortemente com o contexto histórico em que o poema foi escrito – um período marcado pela brutalidade da Segunda Guerra Mundial e por profundas desigualdades sociais.
A alternativa correta, A, aponta justamente para essa oposição entre a violência do mundo real e a idealização de um tempo perdido, onde gestos cotidianos – como olhar para o céu ou pisar a relva – eram livres e despreocupados. Drummond evoca um cenário que, diante da crueza da guerra e da injustiça, parece pertencer a uma fábula distante, um "mundo antigo" que já não existe. A tranquilidade descrita no poema adquire um tom quase irreal, como se fosse uma lembrança de algo que nunca foi plenamente vivido, mas que se tornou mito diante da desolação do presente.
As outras alternativas não capturam a essência do poema. A fase surrealista de Drummond (opção B) não se aplica aqui, pois o texto não explora o fantástico, mas sim a idealização de um passado perdido. A opção C ignora o tom melancólico e crítico subjacente ao poema, que não celebra simplesmente uma experiência social, mas a contrasta com a realidade opressiva. Já a opção D inverte a mensagem do texto: Drummond não se entusiasma com uma nova ordem, mas lamenta a perda de uma inocência que talvez nunca tenha existido. Por fim, a opção E reduz o poema a um registro fotográfico, desconsiderando sua carga simbólica e crítica.
Assim, o poema funciona como um contraponto lírico à brutalidade do mundo, transformando memórias simples em símbolos de um tempo que, mais do que passado, parece mítico.
Questão 10
A fotografia, como produção artística, serviu de inspiração aos artistas da seguinte estética:
- A)cubista
- B)surrealista
- C)impressionista
- D)expressionista
- E)futurista
A alternativa correta é C)
A fotografia, como produção artística, serviu de inspiração aos artistas da seguinte estética:
- A) cubista
- B) surrealista
- C) impressionista
- D) expressionista
- E) futurista
O gabarito correto é C).