Questões Sobre Principais Autores(Charlot,Cury, Durkheim, etc) - Pedagogia - concurso

Quando uma criança de quatro anos diz "eu odio comer verdura", ela está demonstrando um fenômeno linguístico interessante ao conjugar o verbo irregular "odiar" como se fosse regular. De acordo com a teoria do desenvolvimento cognitivo de Jean Piaget, esse tipo de erro não é aleatório, mas sim um indicativo do processo de aprendizagem e construção do conhecimento.

Piaget defendia que as crianças passam por estágios de desenvolvimento cognitivo, nos quais constroem ativamente seu entendimento do mundo. Nesse contexto, o erro cometido pela criança ao dizer "odio" em vez de "odeio" é considerado um erro construtivo. Isso significa que a criança está aplicando uma regra gramatical que ela internalizou (a conjugação regular dos verbos) de forma generalizada, mesmo em situações onde não se aplica.

Esses erros são chamados de construtivos porque revelam o raciocínio lógico da criança e sua tentativa de sistematizar a linguagem. A alternativa A) cometeu um erro construtivo é, portanto, a correta, pois reflete o processo ativo de construção do conhecimento linguístico.

As outras alternativas não se aplicam ao caso:

• B) A fase anal é um conceito freudiano, não piagetiano, e não se relaciona com desenvolvimento linguístico.
• C) A noção de qualidade não está sendo desenvolvida neste exemplo específico.
• D) O período operatório formal ocorre muito mais tarde, na adolescência.
• E) A noção simbólica já está estabelecida em crianças de quatro anos.

Este exemplo ilustra como os erros das crianças podem ser janelas valiosas para entender seu processo de aprendizagem e desenvolvimento cognitivo, conforme proposto por Piaget.

Ao analisar os resultados de uma escola onde a maioria dos alunos não aprendeu a ler e a escrever, um Supervisor de Ensino articulou um processo de formação continuada para a equipe, tendo como referência, entre outros autores, Paulo Freire (1997). As reflexões apresentadas no processo formativo estão alinhadas com os princípios freireanos, porém nem todas correspondem integralmente ao seu pensamento.

A primeira reflexão (I) – "não há docência sem discência porque ensinar inexiste sem aprender" – é central na obra de Freire, que defende uma relação dialógica entre educador e educando, onde ambos aprendem no processo. Já a segunda (II) – "existem saberes indispensáveis à prática docente" – também está em sintonia, pois Freire valoriza o conhecimento crítico necessário à ação educativa, independentemente de posicionamentos políticos.

A terceira reflexão (III) – "a reflexão crítica sobre a prática é uma exigência da relação prática/teoria" – é essencial no pensamento freireano, que rejeita o teoricismo vazio e o ativismo sem fundamento. A quinta (V) – "é pensando criticamente a prática que se pode melhorar a próxima prática" – também reflete sua pedagogia, que enfatiza a práxis como motor da transformação.

Entretanto, a quarta reflexão (IV) – "a formação permanente implica aceitar que o formador é o sujeito dessa relação" – contraria o princípio freireano de horizontalidade, no qual formador e formandos são sujeitos do processo, não cabendo a um transferir conhecimento de modo unilateral.

Portanto, as reflexões I, II, III e V estão em consonância com o pensamento de Freire, enquanto a IV se distancia de sua concepção dialógica. O gabarito correto é a alternativa C) I, II, III e V, apenas.

Segundo Perrenoud (1998), a avaliação formativa desempenha um papel fundamental no processo de ensino e aprendizagem, atuando como um mecanismo de regulação e aprimoramento contínuo. O autor destaca que, dentro da relação entre essa avaliação e os programas educacionais, o foco deve estar nos elementos essenciais para combater o fracasso escolar.

A alternativa correta, C), reflete a visão de Perrenoud ao afirmar que é crucial concentrar-se no cerne dos programas, priorizando os saberes indispensáveis para todos os alunos. Essa abordagem evita a dispersão em conteúdos secundários e assegura que as aprendizagens fundamentais sejam consolidadas, especialmente para aqueles que enfrentam maiores dificuldades.

As demais alternativas apresentam distorções ou equívocos em relação ao pensamento do autor:

• A) Incorreta, pois a relevância não está simplesmente em cobrir o programa integralmente, mas em selecionar o que é essencial.
• B) Incorreta, porque a avaliação formativa não busca "esconder" lacunas, mas sim identificá-las e superá-las.
• D) Incorreta, já que listas de conteúdos não são necessariamente facilitadoras sem uma priorização crítica.
• E) Incorreta, pois a avaliação formativa não elimina a necessidade de revisão e articulação com aprendizagens anteriores.

Portanto, a avaliação formativa, conforme defendida por Perrenoud, deve ser orientada para o essencial, garantindo que todos os alunos tenham acesso aos conhecimentos fundamentais e evitando que desigualdades se perpetuem no ambiente escolar.

Lia é professora-coordenadora numa escola estadual que fica no centro de uma cidade de médio porte. Numa reunião de horário de trabalho coletivo, os professores do Ensino Médio noturno iniciaram uma discussão a respeito da avaliação da aprendizagem que praticavam na escola. Uns diziam que é a formativa porque realizavam inúmeros testes e provinhas, ao longo do bimestre, os quais eram, então, corrigidos e transformados na nota a ser lançada na escrituração escolar. Outros argumentavam que não, afirmando que a avaliação formativa não aplica provas, não dá notas, não reprova e que, então, na escola que temos, não dá!

Lia entrou na discussão e disse que, no entender dela, em todas as falas deles havia argumentos válidos. Propôs que lessem e debatessem "O Jogo do Contrário" para checarem este conceito no pensamento de Hoffmann (2005) que, concordando com Hadji, coloca a essência da avaliação formativa na consciência e no compromisso do professor de buscar, junto aos alunos, o progresso de suas aprendizagens, com as intervenções pedagógicas pertinentes a cada caso, numa postura mediadora.

Essa perspectiva reforça que a avaliação formativa não se limita a instrumentos ou notas, mas sim à intencionalidade pedagógica do professor em acompanhar e mediar o desenvolvimento dos alunos. A postura mediadora e o compromisso com o progresso individual são centrais nesse processo, conforme destacado na alternativa D, que representa a visão correta sobre o tema.

Martha Kohl, em sua análise das contribuições de Vygotsky para a educação e o ensino escolar, destaca a importância da intervenção do outro social no processo de desenvolvimento humano. Segundo Vygotsky, essa intervenção não se limita a uma simples transmissão de conhecimentos ou imposição de valores, mas envolve uma dinâmica complexa de interação e ressignificação.

A alternativa correta, E), reflete a visão vygotskyana ao enfatizar que cada situação de interação com o mundo social é única, pois o indivíduo não é um receptor passivo, mas um agente ativo que interpreta e ressignifica o material cultural a partir de suas próprias possibilidades. Essa perspectiva reconhece a natureza dialética do desenvolvimento, em que o social e o individual se entrelaçam de forma dinâmica.

As demais alternativas apresentam visões parciais ou distorcidas da teoria de Vygotsky. A alternativa A) reduz o processo a uma internalização passiva, enquanto B) ignora o papel ativo do outro social. A alternativa C) distorce a ideia de intervenção como autoritarismo, e D) limita o processo a ações controladas, negligenciando a espontaneidade e criatividade inerentes às interações sociais.

Portanto, a alternativa E) melhor representa o pensamento de Vygotsky, ao considerar tanto a influência do meio social quanto a atividade interpretativa do indivíduo, elementos fundamentais para compreender o desenvolvimento humano segundo a perspectiva histórico-cultural.

Zabala (2002) afirma que A resposta à função social que deve exercer o sistema educativo é o único meio para poder entender a pertinência e a relevância dos conteúdos disciplinares que devem ser objeto de aprendizagem e, como resultado dessa função, definir a melhor maneira de apresentar os conteúdos. Ainda, segundo o autor, a definição da função social do ensino se reveste de complexidade, pois:

• A) a escola é obrigada a viver em constante estado de reinterpretação das finalidades educativas, em função das novas variáveis que aparecem e novos referenciais explicativos.

O gabarito correto é A, pois reflete a necessidade de adaptação contínua da escola diante das mudanças sociais e dos novos paradigmas educacionais, conforme destacado por Zabala. As demais alternativas não capturam adequadamente a complexidade e a dinâmica inerentes à função social do ensino.

No artigo de Cury (2003), presente na coletânea Gestão Democrática da Educação, o autor examina o inciso VI do artigo 206 da Constituição Federal de 1988, que estabelece a "gestão democrática do ensino público na forma da lei". Sua análise estabelece conexões entre esse princípio constitucional e o papel desempenhado pelo Conselho Nacional de Educação (CNE) na atualidade.

Dentre as alternativas apresentadas, a correta é a A), que afirma que o CNE é um órgão de Estado, mantendo essa característica independentemente da alternância de governos. A Lei 9.131/95 ampliou a participação da sociedade civil, permitindo que 12 dos 24 membros do conselho fossem indicados por ela. No entanto, parte das atribuições que antes eram do Conselho Federal de Educação (CFE) foram transferidas para o Ministério da Educação (MEC).

Essa interpretação reforça a natureza do CNE como uma instância permanente, acima das mudanças políticas, mas também evidencia uma certa redução em suas competências em comparação com o antigo CFE. A alternativa A, portanto, sintetiza de forma precisa a análise de Cury (2003) sobre o tema, destacando tanto a continuidade do CNE como órgão de Estado quanto as mudanças introduzidas pela legislação mais recente.

Na entrevista concedida a Jaime Giolo, Charlot (2005) aborda os desafios da educação em um contexto globalizado, destacando dois problemas centrais. O primeiro deles é a necessidade de não confundir informação com conhecimento, já que este último é fundamental para a produção de sentido nas relações humanas e com o mundo. O segundo problema apontado é o enfrentamento das desigualdades educacionais, que se intensificam à medida que o saber se transforma em mercadoria dentro da lógica global.

Esses dois eixos - a distinção entre informação e conhecimento (I) e o combate às desigualdades educacionais (III) - formam o cerne da análise de Charlot sobre os desafios educacionais na era da globalização. As demais alternativas, apesar de abordarem questões relevantes, não correspondem aos dois problemas principais identificados pelo autor.

Portanto, a alternativa correta é a B) I e III, que sintetiza adequadamente os dois desafios fundamentais apontados por Charlot para a educação no cenário globalizado.

O sociólogo da educação Charlot (2005) propõe uma reflexão profunda sobre as diferentes formas de violência no contexto escolar, diferenciando violência na escola, violência à escola e violência da escola. Sua abordagem destaca a importância de analisar essas questões a partir das relações entre os sujeitos e sua relação com o saber, distanciando-se de visões simplistas que culpabilizam apenas os indivíduos.

Ao discutir as opções apresentadas, Charlot rejeita perspectivas que buscam eliminar a agressividade (alternativa A) ou canalizá-la exclusivamente para atividades como esporte e arte (alternativa B), pois ambas ignoram a complexidade do fenômeno. Também critica a ideia de delegar casos de violência à polícia (alternativa C), assim como a visão determinista que apresenta a violência dos alunos como mera reação à violência institucional (alternativa D).

A alternativa correta (E) reflete o cerne do pensamento de Charlot: a escola opera no âmbito da linguagem e da troca simbólica, sendo seu papel fundamental regular a agressividade e os conflitos através do diálogo. Quando a instituição falha em estabelecer esse espaço de mediação pela palavra, abre caminho para a emergência da violência. Essa perspectiva ressalta a responsabilidade da escola enquanto espaço de construção de relações sociais baseadas no respeito mútuo e na capacidade de transformar conflitos através da comunicação.

Julgue os itens que se seguem, acerca das bases psicológicas da aprendizagem.

No estágio operatório-concreto, ocorre a construção do pensamento conceitual, de hipóteses possíveis e de diferentes pontos de vista pelo indivíduo.

• C) CERTO
• E) ERRADO

O gabarito correto é E) ERRADO.