O Marechal Junot, da infantaria francesa, entrou em Lisboa junto com a chuva. Uma chuva fina, matinal, que agulhava os ossos. A corte tinha de fugir, conforme o combinado com a Inglaterra. Os fujões quiseram raspar até a prata dos altares. Em suas arcas, atacharam pra mais de 80 milhões de cruzados, em ouro e diamantes. (Curiosa ironia: migalhas da riqueza iam de volta, agora, para o Brasil.) O cais de Belém lembrava uma feira, mas feira do inferno. Lacaios se entrechocavam e mordiam. Marujos ingleses berravam palavrões cabeludos por sobre as cabeças das senhoras. A um simples estouro de cavalos, centenas de peralvilhas jogavam-se ao mar. A quem assistisse – 15 mil nobres embarcando em 36 navios – o espetáculo podia ser divertido, jamais bonito. E D. João? Corria que já embarcara. Mas quando? Perguntava a turba com raiva, contida pela fileira de soldados. ‘Foi aquela criada grandona, andar de pata choca, não vira?’ O covarde disfarçara-se. Agora é a vez da rainha-mãe. Arrancada aos murros, a demente sorve aflitivamente o ar das ruas: há 16 anos não a tiram da cela. (…) Achavam que a coitada não percebia nada. A chuva, contudo, acordou-lhe a razão. Começou a berrar. – Não corram tanto! Acreditaram que estamos fugindo. Por que fugir sem ter combatido? (In: SANTOS, Joel Rufino dos. História do Brasil. São Paulo: Marco editorial, 1979, p. 77) A estratégia utilizada pelo professor de História de solicitar a exploração de todas as informações contidas num documento, como o de Joel Rufino dos Santos, além de reforçar o conhecimento já aprendido,
O Marechal Junot, da infantaria francesa, entrou em Lisboa junto com a chuva. Uma chuva fina, matinal, que agulhava os
ossos. A corte tinha de fugir, conforme o combinado com a Inglaterra.
Os fujões quiseram raspar até a prata dos altares. Em suas arcas, atacharam pra mais de 80 milhões de cruzados, em ouro e
diamantes. (Curiosa ironia: migalhas da riqueza iam de volta, agora, para o Brasil.)
O cais de Belém lembrava uma feira, mas feira do inferno. Lacaios se entrechocavam e mordiam. Marujos ingleses berravam
palavrões cabeludos por sobre as cabeças das senhoras. A um simples estouro de cavalos, centenas de peralvilhas jogavam-se ao
mar. A quem assistisse – 15 mil nobres embarcando em 36 navios – o espetáculo podia ser divertido, jamais bonito.
E D. João? Corria que já embarcara. Mas quando? Perguntava a turba com raiva, contida pela fileira de soldados. ‘Foi aquela
criada grandona, andar de pata choca, não vira?’ O covarde disfarçara-se. Agora é a vez da rainha-mãe. Arrancada aos murros, a
demente sorve aflitivamente o ar das ruas: há 16 anos não a tiram da cela. (…)
Achavam que a coitada não percebia nada. A chuva, contudo, acordou-lhe a razão. Começou a berrar.
– Não corram tanto! Acreditaram que estamos fugindo. Por que fugir sem ter combatido?
(In: SANTOS, Joel Rufino dos. História do Brasil. São Paulo: Marco editorial, 1979, p. 77)
como o de Joel Rufino dos Santos, além de reforçar o conhecimento já aprendido,
- A)possibilita o desenvolvimento da capacidade de explicação, caracterização, conceituação e síntese histórica do aluno.
- B)significa trabalhar e estudar conteúdos reais que dizem respeito a vida pública e privada, individual ou coletiva do aluno.
- C)ensina o aluno a tomar os conteúdos da disciplina como referência e aproximá-los, de forma mais ou menos motivadora.
- D)contribui para a criação, no aluno, de capacidades de memorizar, comparar e localizar os conhecimentos históricos.
- E)ajuda o aluno a observar as mudanças e as permanências, a construir enunciados, os conceitos e as hipóteses históricas.
Resposta:
A alternativa correta é A)
O trecho extraído da obra História do Brasil, de Joel Rufino dos Santos, descreve de forma vívida e crítica a fuga da família real portuguesa para o Brasil em 1808, diante da invasão napoleônica. A narrativa, carregada de ironia e dramaticidade, não apenas relata os eventos históricos, mas também expõe as contradições e tensões daquele momento. Ao analisar esse documento, o professor de História busca desenvolver no aluno habilidades que vão além da simples memorização de fatos.
A alternativa correta, A), destaca que a exploração desse tipo de documento permite ao aluno aprimorar sua capacidade de explicação, caracterização, conceituação e síntese histórica. Isso ocorre porque o texto de Rufino dos Santos não é apenas informativo; ele convida o leitor a interpretar os eventos, a compreender as motivações dos personagens e a refletir sobre as consequências históricas daquela fuga. O aluno é incentivado a ir além da superfície, questionando não apenas o "o quê", mas também o "como" e o "porquê" dos acontecimentos.
As outras alternativas, embora apresentem aspectos válidos do ensino de História, não capturam plenamente o objetivo principal da atividade proposta. A análise de documentos históricos como esse não se limita a memorização (D), nem a simples aproximação motivadora dos conteúdos (C). Também não se restringe a observar mudanças e permanências (E) ou a trabalhar temas da vida pública e privada (B), embora esses elementos possam estar presentes.
Portanto, a riqueza do documento histórico reside em sua capacidade de estimular o pensamento crítico e a construção de uma visão mais profunda da História. Ao explorar todas as camadas de significado presentes no texto, o aluno desenvolve habilidades essenciais para a compreensão não apenas do passado, mas também das complexidades do presente.
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