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Em um trabalho publicado em 1990, Maria Helena de Souza Patto apresentou os resultados de uma pesquisa sobre a produção do fracasso escolar que se tornou um divisor de águas no campo da psicologia escolar e educacional brasileira. Em relação às conclusões da autora com esse trabalho, analise as assertivas e assinale a alternativa que aponta as corretas.

I. As teorias sobre o fracasso escolar que enfatizam o déficit e as diferenças culturais carecem de fundamento, pois é preciso levar em conta os mecanismos escolares que produzem as dificuldades de aprendizagem.

II. O fracasso escolar se dá pelo fato de o professor não utilizar metodologias adequadas à aprendizagem dos alunos.

III. O fracasso escolar da escola pública de primeiro grau resulta de um sistema educativo que produz obstáculos à concretização de seus objetivos.

IV. O fracasso escolar é decorrente de prejuízos da capacidade intelectual dos alunos, causados por problemas emocionais.

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Resposta:

A alternativa correta é letra C) Apenas I e III.

Gabarito: Letra C.

     

   

A questão está baseada no seguinte texto:

 

"1. As explicações do fracasso escolar baseadas nas teorias do déficit da diferença cultural precisam ser revistas a partir do conhecimento dos mecanismos escolares produtores de dificuldades de aprendizagem. Tudo indica que a tese segundo a qual o professor da escola pública de primeiro grau, principalmente em suas duas primeiras séries, ensina segundo modelos adequados à aprendizagem de um aluno ideal, não encontra correspondência na realidade; da mesma a forma, a afirmação de que o ensino que se oferece a estas crianças é inadequado porque parte da suposição de que elas possuem habilidades que na verdade não têm, também pede uma revisão.

 

A inadequação da escola decorre muito mais de sua má qualidade, da suposição de que os alunos pobres não têm habilidades que na realidade muitas vezes possuem, da expectativa de que a clientela não aprenda ou que o faça em condições em vários sentidos adversas à aprendizagem, tudo isso a partir de uma desvalorização social dos usuários mais empobrecidos da escola pública elementar. É no mínimo incoerente concluir, a partir de seu rendimento numa escola cujo funcionamento pode estar dificultando, de várias maneiras, sua aprendizagem escolar, que a chamada "criança carente" traz inevitavelmente para a escola dificuldades de aprendizagem.

(...)

Desvendar as maneiras através das quais este preconceito se faz presente na vida da escola mostrou-se um caminho produtivo no esclarecimento do processo de produção do fracasso escolar. Como vimos, esse preconceito é estruturante de práticas e processos que constituem desde as decisões referentes à política educacional até a relação diária da professora com seus alunos.

(...)

 

2. O fracasso da escola pública elementar é o resultado inevitável de um sistema educacional congenitamente gerador de obstáculos de realização de seus objetivos. Reprodução ampliada das condições de produção dominantes na sociedade que as incluem, as relações hierárquicas de poder, a segmentação e a burocratização do trabalho pedagógico, marcas registradas do sistema público de ensino elementar, criam condições institucionais para a adesão dos educadores à singularidade, a uma prática motivada acima de tudo por interesses particulares, a um comportamento caracterizado pelo descomprorisso social. Cientes da impossibilidade de falar em vida cotidiana nas sociedades capitalistas contemporâneas sem falar em burocracia, estudiosos da conduta burocrática afirmam que ela "implica exagerada dependência de regulamentos e padrões quantitativos, impessoalidade exagerada nas relações intra e extra-grupo e resistências à mudança", o que resulta numa situação na qual "o administrativo tem precedência sobre o pedagógico" (Tragtenberg, 1982, p. 40). A pesquisa demonstrou-o claramente: basta lembrar que o compromisso das educadoras da escola do Jardim era com os números e não com cada uma das crianças, quer enquanto cidadãos com direito à educação, quer como representantes de uma classe social expropriada que precisa escolarizar-se.

(...)

Desta perspectiva, é um equívoco de graves repercussões tentar fazer crer que a causa da ineficiência da escola encontra-se num perfil do educador traçado a partir de considerações moralistas, comuns entre os tecnocratas: "são incompetentes" "não querem saber de nada".

(...)

Cabe perguntar, neste momento, se não é esta a principal consequência de um discurso educacional que põe em relevo a incompetência do professor ou a incompetência do aluno; as observações reunidas na escola do Jardim apontam nesta direção. (...)"

 

Fonte: "A Produção do Fracasso Escolar" (Patto)

 

Com isso, podemos identificar as afirmativas verdadeiras e falsas abaixo.

 

  

II. O fracasso escolar se dá pelo fato de o professor não utilizar metodologias adequadas à aprendizagem dos alunos. (discurso criticado pela autora que põe em relevo a "incompetência do professor")

  

  

IV. O fracasso escolar é decorrente de prejuízos da capacidade intelectual dos alunos, causados por problemas emocionais. (discurso criticado pela autora que põe em relevo a "incompetência do aluno")

 

Portanto, estão corretas as afirmativas I e III. Encontramos a resposta na Letra C.

 

a)  Apenas I, II e III. b)  Apenas II e III. c)  Apenas I e III. d)  Apenas I, III e IV. e)  Apenas I, II e IV.

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