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Quanto à entrevista investigativa realizada no contexto forense, considere as afirmações abaixo.


I – Possui foco dirigido à elucidação de fatos ocorridos no passado.


II – Fundamenta-se na teoria cognitiva, com ênfase nos processos de memorização e recuperação de informações.


III – Sua realização é indicada tanto para crianças como pessoas adultas em situação de violência.


IV – Exige treinamento prévio e é realizada exclusivamente por psicólogo.


Quais estão corretas?

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Resposta:

A alternativa correta é letra D) Apenas I, II e III.

Gabarito Letra D

Quanto à entrevista investigativa realizada no contexto forense, considere as afirmações abaixo.


- Possui foco dirigido à elucidação de fatos ocorridos no passado.

Certo! Esse é o objetivo de uma entrevista investigativa.


II - Fundamenta-se na teoria cognitiva, com ênfase nos processos de memorização e recuperação de informações.

Certo! A entrevista cognitiva é uma técnica de entrevista investigativa muito respeitada.

“Ao constatar que os policiais, advogados, entre outros, cometem muitos erros que potencialmente contaminam o testemunho e que poderiam ser evitados, Fischer e Geiseman (1992) propuseram formas de aprimorar as técnicas para conduzir a coleta de depoimentos de vítimas e testemunhas através da Entrevista Cognitiva. A Entrevista Cognitiva é uma das mais respeitadas técnicas de entrevista investigativa, sendo amplamente utilizada no mundo inteiro, principalmente com testemunhas/vítimas adultas, tendo sido adotado como o padrão a ser seguido por lei em vários países como Inglaterra, Nova Zelândia, Austrália, entre outros. Existe um número expressivo de estudos (por exemplo, KÖHNKEN et al., 1999; MILNE, BULL, 1999; FISHER, ROSS, CAHILL, 2010; FISHER, SCHREIBER, 2007, RIVARD et al., 2014), incluindo no Brasil (STEIN, MEMON, 2006), que testaram os efeitos e comprovaram a eficácia desse tipo de entrevista. A Entrevista Cognitiva, assim como outras técnicas cientificamente desenvolvidas de entrevista investigava, por exemplo, Protocolo de Entrevista Investigava com Crianças NICHD ( LAMB et al., 2011). Estão elas assentadas em quatro eixos, incluídos nas diretrizes para as melhores práticas de entrevista no âmbito forense (Great Office for Criminal Justice Reform, 2007):

1. Acolhimento e construção do rapport: As testemunhas são entrevistadas, normalmente, por policiais ou pessoas que elas não conhecem. Por isso deve-se dedicar um tempo no início da entrevista para buscar acolher e deixar o/a entrevistado(a) mais a vontade para conversar. Todavia, a manutenção de um bom clima de entrevista só é assegurado se o rapport, ou seja, esta ligação de sintonia e empatia com outra pessoa, for mantido durante toda a entrevista. A ênfase desde o início é na testemunha/vítima, e não no(a) entrevistador(a). Um exemplo disso a técnica de transferência de controle (FISHER; GEISELMAN, 1992) dentro da Entrevista Cognitiva, onde o entrevistador(a) explicita à testemunha/vítima que “quem estava lá” era ela e, portanto, é ela quem vai conduzir de fato a entrevista e que o papel do(a) entrevistador(a) é fundamentalmente ouvir;

2. A técnica central para coleta de informações é buscar um relato livre, sem nenhuma interferência, a não ser estimular que a testemunha fale mais com base no que conseguir recordar. Assim, a instrução dada aos entrevistados é reportar absolutamente tudo que lembram, mesmo o que considerem irrelevante ou o que só lembrem parcialmente;

3. Somente após esgotar todas as possibilidades de um relato livre por parte da testemunha/vítima, é que perguntas serão feiras tendo por base informações trazidas neste relato livre. O procedimento de questionamento compatível com a testemunha refere-se a que o entrevistador(a) deve buscar seguir a linha da narrativa e as informações trazidas, e não deve seguir um roteiro pré-estabelecido de perguntas. A necessidade de elucidar algum ponto deve ser feito a partir da adaptação das perguntas a cada situação, com base nas informações fornecidas pela pessoa. Em outras palavras, deixar a testemunha seguir a sua linha de raciocínio e seguir a entrevista através dessa linha, no lugar de o entrevistador guiar a entrevista;

4. Tipos de Perguntas: um um dos pontos críticos da entrevista é o formato no qual a pergunta é formulada. Existe abundante literatura científica mostrando que perguntas abertas (por exemplo, você me falou que viu um carro branco, fale mais o que lembra disso?) tem maiores chances de produzir informações confiáveis do que perguntas fechadas (p.ex., tinha mais alguém dentro do carro branco? , quando a testemunha nada falou a respeito de ter visto alguém no carro). Além disso, toda e qualquer intervenção por parte do entrevistador(a) que inclua novas informações, ainda não trazidas pela testemunha, devem ser evitadas (por exemplo, outra pessoa que estava na loja disse ter visto uma mulher no carro branco, você conseguiu vê-la?). Este último tipo de pergunta, ademais de ser no formato de pergunta fechada também é potencialmente sugestiva, j inclui informações novas, ainda não trazidas pela testemunha o que pode ser ainda mais deletérias para a fidedignidade do testemunho (FRENDA et. al., 2011).

Além de incluir estes quatro eixos, o grande diferencial da Entrevista Cognitiva, em relação às outras técnicas de entrevista investigativa, é a inclusão das chamadas “Técnicas Cognitivas” (MENON; BULL, 1999), sendo a principal delas a Recriação do Contexto. Após o estabelecimento do rapport, com a transferência de controle, o entrevistador solicita à pessoa que busque lembrar o momento do crime, tentando recriar mentalmente o ambiente físico (o que via, se escutava algum som, se sentia algum cheiro/sabor) e pessoal (como se sentia, pensamentos, etc.) na hora em que o assalto estava ocorrendo (no nosso exemplo da loja). A recriação mental do contexto serve de pista para auxiliar a pessoa a se lembrar do que de fato aconteceu (por exemplo, ao lembrar-se de algum cheiro, recorda-se que havia uma outra pessoa perto dela que exalava um forte perfume). O princípio que rege esta técnica é, há muito tempo, conhecido da Psicologia da Memória (TULVING & THOMSON, 1973), sendo altamente positivos os resultados alcançados com sua aplicação em entrevistas investigativas (FISHER et al., 2011). Outra técnica bastante utilizada dentro do contexto da Entrevista Cognitiva é Recuperação Focada: o entrevistador ajuda a testemunha a focar em algum elemento (por exemplo, se concentrar na imagem mental que ele tem do rosto do criminoso) e a partir daí relata tudo que lembra sobre esse elemento.”


III - Sua realização é indicada tanto para crianças como pessoas adultas em situação de violência.

Certo! Como vimos, há inclusive um tipo específico de entrevista investigativa para ser utilizada com crianças.


IV - Exige treinamento prévio e é realizada exclusivamente por psicólogo.

Errado. Advogados, policiais e outros profissionais também podem realizar a entrevista investigativa.

 

Assim, apenas I, II e III estão corretas.

Gabarito Letra D

 

Fonte: Avanços científicos em Psicologia do Testemunho aplicados ao Reconhecimento Pessoal e aos Depoimentos Forenses / Ministério da Justiça, Secretaria de Assuntos Legislativos. -- Brasília : Ministério da Justiça, Secretaria de Assuntos Legislativos (SAL) ; Ipea, 2015.

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