Uma psicóloga avalia a qualificação do casal Joana, de 43 anos, e Luís, de 50 anos, para ingresso no Cadastro Nacional de Adoção (CNA). Nessas circunstâncias, segundo Chaves, Silva e Frizzo (em Hutz, 2020), a psicóloga deverá
- A) ponderar se os pais se apresentam como suficientemente bons, capazes de cuidar da criança e de oferecer a ela um lugar configurado com limites.
- B) evitar fazer perguntas íntimas, dado que a motivação para a parentalidade é um dado assegurado pela disponibilidade do casal para adotar uma criança.
- C) realizar uma entrevista para a qualificação do casal, dado que se trata apenas de cadastramento e não de adoção propriamente dita.
- D) ater-se ao protocolo estabelecido para esse tipo de avaliação, a fim de manter a homogeneidade de procedimentos por diferentes profissionais.
- E) fazer uma extensa avaliação da personalidade dos pretendentes, dado que a idade do casal configura uma adoção tardia.
Resposta:
A alternativa correta é letra A) ponderar se os pais se apresentam como suficientemente bons, capazes de cuidar da criança e de oferecer a ela um lugar configurado com limites.
Uma psicóloga avalia a qualificação do casal Joana, de 43 anos, e Luís, de 50 anos, para ingresso no Cadastro Nacional de Adoção (CNA). Nessas circunstâncias, segundo Chaves, Silva e Frizzo (em Hutz, 2020), a psicóloga deverá
Base teórica para a compreensão da questão
Sobre o tema que traz a questão, acompanhe os recortes textuais a seguir extraídos da publicação de Silva (2015, pp. 87-88), atentando-se especialmente para os grifos em azul:
[...] defende-se a ideia de que independentemente da configuração familiar ou do perfil dos candidatos o fundamental é que as crianças sejam cuidadas e desejadas, e que exista uma presença que ofereça a elas um lugar configurado com seus limites (Amazonas & Braga, 2006). E que os pais adotivos não precisam ser os melhores, mas “suficientemente bons” (Winnicott, 1975), o que seus progenitores biológicos e nenhuma instituição de acolhimento conseguiu ser.
A expressão “suficientemente bons” (mencionada no recorte textual de Silva, 2015) alude a um dos conceitos principais da teoria de Donald Winnicott. Aluno, para entender sobre o assunto, não deixe de conferir os três principais conceitos da teoria de Winnicott, explicados por Barcelos (2011):
- Mãe suficientemente boa: a mãe suficientemente boa - não necessariamente a própria mãe do bebê - é aquela que efetua uma “adaptação ativa às necessidades do bebê” que se encontra na fase de dependência absoluta criando, inicialmente, condições para que o bebê que tem um ego incipiente e não integrado vivencie o sentimento de unidade entre duas pessoas e de continuidade de ser, propiciando o início da constituição do si mesmo, que se dará a partir da finalização do processo de integração no qual o bebê distingue um Eu se contrapondo ao não-Eu. (Barcelos, 2011, p.17)
- Preocupação materno-primária: Winnicott preconiza que no final da gestação e nas semanas posteriores ao parto, a mãe fica num estado denominado de preocupação materna primária, que seria um estado psicológico especial, um modo típico que acomete as mulheres gestantes. Trata-se de uma condição psicológica de sensibilidade aumentada na qual a mãe fica temporariamente alienada de outras funções sociais e profissionais. (Barcelos, 2011, p.17)
- Objeto transicional: este termo foi criado em 1951 e significa qualquer objeto material que é eleito pela criança pequena e propicia o caminhar da relação oral com a mãe rumo às relações objetais. Ele constitui a primeira possessão não-eu da criança e pode ser observado entre os quatro e doze meses de idade. A criança, para poder suportar a crescente separação da mãe, se conecta ao objeto transicional. Por este motivo ele é a marca do percurso da criança da subjetividade rumo à objetividade, a criança está indo rumo à experimentação, está em transição daí o nome. (Barcelos, 2011, p.25)
Exemplo: bichinho de pelúcia, simboliza um artefato de apego.
Análise das alternativas
a) ponderar se os pais se apresentam como suficientemente bons, capazes de cuidar da criança e de oferecer a ela um lugar configurado com limites.
Correta. Ao avaliar a qualificação do casal para ingresso no Cadastro Nacional de Adoção a psicóloga deverá analisar se os pretendentes demonstram ser “suficientemente bons” (conforme perspectiva de Winnicott) e, se, se mostram capazes de apresentar um espaço onde limites encontram-se configurados, portanto, opção verdadeira.
b) evitar fazer perguntas íntimas, dado que a motivação para a parentalidade é um dado assegurado pela disponibilidade do casal para adotar uma criança.
Incorreta. Corrigindo: a esquiva em tratar de perguntas íntimas pode refletir um problema no potencial de parentalidade. Sobre o assunto, confira o que menciona Bowlby (1995) citado por Silva (2015, p.86):
“As famílias que se mostravam ressentidas com o interesse do entrevistador por suas vidas íntimas, ou que achavam que suas referências, sua posição ou sua necessidade intensa de parentalidade lhes davam o direito de receber uma criança sem mais perguntas, em geral refletiam problemas subjacentes muito relacionado com a capacidade destas pessoas enquanto pais. Da mesma maneira, em geral, família que estabeleciam facilmente bom relacionamento com o profissional, que reconheciam ser necessário que a agência escolhesse bons pais para as crianças e admitiam ter receios, problemas e imperfeições humanas, estavam revelando possuir profundas qualificações para a parentalidade”
c) realizar uma entrevista para a qualificação do casal, dado que se trata apenas de cadastramento e não de adoção propriamente dita.
Incorreta. Corrigindo: o processo pertinente a adoção envolve um extenso trabalho desenvolvido em várias etapas. Sobre o assunto, leiamos o que menciona Paiva (2005, p.74):
“Ao enfocarmos a atuação da equipe multiprofissional nos casos de adoção, fazemos referência a um extenso trabalho que inclui: entrevistas com os candidatos a pais adotivos, entrevistas de acompanhamento com as crianças e/ou adolescentes com perspectivas de serem colocados em lares substitutos, acompanhamento dos genitores que vislumbram a alternativa de entregar o(s) filho(s) para adoção ou que estão em vias de serem destituídos do pátrio poder, aproximação gradual dos pretendentes habilitados à adoção com crianças e/ou adolescentes, assessoria à recém-formada família durante o estágio de convivência e acompanhamento das famílias adotivas com dificuldades.”
d) ater-se ao protocolo estabelecido para esse tipo de avaliação, a fim de manter a homogeneidade de procedimentos por diferentes profissionais.
Incorreta. Corrigindo: o seguimento do protocolo ou das etapas referente ao processo sob caráter rígido não encontrou respaldo nas literaturas consultadas referentes ao assunto.
e) fazer uma extensa avaliação da personalidade dos pretendentes, dado que a idade do casal configura uma adoção tardia.
Incorreta. Corrigindo: embora não esteja impossibilitada a hipótese de se considerar aspectos pertinentes a personalidade do casal pretendente, isto estaria interligado a múltiplos fatores, e não apenas ao fator etário referente ao caso. Particularmente sobre a utilização de testes nesse sentido, Paiva (2005, p.77) destaca:
“Os testes psicológicos podem ser utilizados em alguns casos, pois eventualmente facilitam a expressão dos pretendentes. Tal como salienta Dolto (1985), o importante não é o desenho, mas, sim, o que é dito dele. O teste é, então, utilizado como um instrumento facilitador, como um meio e não como um fim.”
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Fonte consultada:
Silva, P. S. D. (2015). Os processos de habilitação para adoção segundo técnicos judiciários do Rio Grande do Sul. Disponível em https://x.gd/o1C18
BARCELOS, P. C. C. (2011). Psicopedagogia: reflexões winnicottianas Disponível em https://bit.ly/3x5Rjb5
PAIVA, Leila Dutra. O psicólogo judiciário e as “avaliações” nos casos de adoção. In: SHINE, Sydney. Avaliação psicológica e lei. São Paulo: Casa do Psicólogo, 2005. p. 73- 112.
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