A partir dos pressupostos epistemológicos do Construcionismo Social, para o estudo, análise e intervenção em situações de violência, compreende-se que
- A) a violência é um fenômeno construído histórico e socialmente que precisa ser desnaturalizado, desessencializado e entendido no seu contexto de produção.
- B) deve-se fazer intervenção clínica individual para que as vítimas compreendam sua participação na situação de violência.
- C) deve-se considerar o fenômeno a partir da relação dialética do homem com o mundo em que vive e das condições criadas pelo materialismo histórico.
- D) é necessário conhecer como a violência é representada socialmente pelas pessoas, grupos e comunidades envolvidas.
- E) a violência é um fenômeno social natural que corresponde à realidade de cada sociedade e cultura.
Resposta:
A alternativa correta é letra A) a violência é um fenômeno construído histórico e socialmente que precisa ser desnaturalizado, desessencializado e entendido no seu contexto de produção.
A partir dos pressupostos epistemológicos do Construcionismo Social, para o estudo, análise e intervenção em situações de violência, compreende-se que
Antes de analisarmos as alternativas elencadas para o exercício desta questão, é necessário termos uma noção sintetizada sobre a atuação com base no Construcionismo. Segundo Lopes & Cordeiro (2018, p. 230):
“Na Psicologia Social, o construcionismo tem, entre seus principais porta-vozes, Kenneth Gergen e Mary Gergen (2011). No livro Reflexiones sobre la construcción social, esses autores destacam que o propósito de tal perspectiva é compreender a compreensão das coisas. Compreender como as pessoas descrevem, explicam e dão conta do mundo. [...] essa forma de se posicionar sobre o conhecimento implica “abdicar de uma visão representacionista do conhecimento, a qual tem como pressuposto a concepção de mente como espelho da natureza”. O conhecimento, do ponto de vista construcionista, não é entendido como uma coisa localizada no interior da mente, mas, sim, como uma produção coletiva.”
Considerando a questão do Construcionismo Social para o manejo de situações de violência, Lopes & Cordeiro (2018, p. 229) destacam:
“Do ponto de vista construcionista, cabe, então, desnaturalizarmos a violência desse gesto e reestabelecermos suas dimensões histórica, social e cultural, analisando as condições que facultaram sua transformação num ato violento e moralmente condenável, as implicações dessa transformação e seus efeitos sobre a realidade. Inspirados nas reflexões de Ibáñez (2005), orientadas pelo projeto intelectual foucaultiano, consideramos que a violência parental, assim como a loucura, foi instituída, num momento específico, por um conjunto de instituições, práticas e relações de poder. Não se trata de um fenômeno a-histórico. Não existe algo como a essência (invariável) dessa violência.”
Com base no exposto vamos a análise das alternativas:
a) a violência é um fenômeno construído histórico e socialmente que precisa ser desnaturalizado, desessencializado e entendido no seu contexto de produção. (Alternativa CORRETA. De acordo com o recorte textual supracitado, a violência com base na perspectiva construcionista não pode ser entendida alienada do seu contexto de produção já que constitui um fenômeno que envolve uma série de dimensões.)
b) deve-se fazer intervenção clínica individual para que as vítimas compreendam sua participação na situação de violência. (Alternativa Incorreta. Considerando que na abordagem em questão a problemática da violência deve ser compreendida a partir de uma perspectiva coletiva, uma intervenção de cunho individual contraria o manejo sugerido)
c) deve-se considerar o fenômeno a partir da relação dialética do homem com o mundo em que vive e das condições criadas pelo materialismo histórico. (Alternativa Incorreta. Em relação ao fenômeno da violência Lopes & Cordeiro, 2018, p. 225-229, destacam:
“a relação entre cultura e violência é, pois, dialética: ao mesmo tempo em que práticas e relações consideradas violentas administram e limitam expressões significativas de vários tipos”
“Por conseguinte, não se trata de investigar as mudanças ao longo da história na forma como a interpretamos e lidamos com ela. Afinal, tal proposta de investigação parte de um pressuposto essencialista (e anticonstrucionista por definição): os olhares mudam, mas o objeto do olhar permanece intocável, imutável. Como se fosse independente da própria forma como é visto, conhecido. Trata-se, sim, de entender como a violência parental foi efetivamente criada. De entender quais práticas concorreram, em diversos âmbitos da existência, para produzir o que hoje ela se tornou"
d) é necessário conhecer como a violência é representada socialmente pelas pessoas, grupos e comunidades envolvidas. (Alternativa Incorreta. Note que no Construcionismo a noção representacionista é substituída pelo exercício de uma compreensão baseada em uma construção coletiva)
e) a violência é um fenômeno social natural que corresponde à realidade de cada sociedade e cultura. (Alternativa Incorreta. Na perspectiva do Cosntrucionismo a violência é um fenômeno de construção coletiva que abrange diversas dimensões, tais como histórica, social e cultural.)
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Fonte consultada:
LOPES, Felipe Tavares Paes; CORDEIRO, Mariana Prioli . Comunicação, violência e problemas sociais: uma leitura construcionista. ORGANICOM (USP), v. 25, p. 223-235, 2018. Disponível em DOI: https://doi.org/10.11606/issn.2238-2593.organicom.2018.150583
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