A Teoria das Representações Sociais de Serge Moscovici tem forte impacto sobre as pesquisas em psicologia.
Em relação a essa teoria é correto afirmar que:
- A) tem origem nos estudos piagetianos;
- B) privilegia o discurso científico;
- C) não valoriza o senso comum como instrumento de observação da realidade;
- D) afirma a competência do conhecimento de diferentes sujeitos.
Resposta:
A alternativa correta é letra D) afirma a competência do conhecimento de diferentes sujeitos.
Gabarito: Letra D
A Teoria das Representações Sociais de Serge Moscovici tem forte impacto sobre as pesquisas em psicologia.
Em relação a essa teoria é correto afirmar que:
a) tem origem nos estudos piagetianos;
Errado. Na verdade, poderíamos dizer que essa afirmação está “meio certa”. A teoria de Piaget influenciou os estudos de Serge Moscovici, mas outras teorias também.
“Pode -se dizer que a teoria das representações sociais, centrada nos modos de funcionamento do pensamento cotidiano, tem suas raízes tanto na sociologia e na antropologia (Durkheim e Lévy -Bruhl) quanto na psicologia construtivista, sócio -histórica e cultural (Piaget e Vygotsky). Podemos mesmo ir além e afirmar com Arruda (2009, p. 740) que “ela implica – por entender o social e o individual como fios entrelaçados num mesmo tecido – considerar esse tecido de forma aberta e múltipla, sem barreiras disciplinares”. (...) Quanto a Piaget, Moscovici (1989) afirma que este, ao defender que as diferenças entre as crianças e os adultos não eram uma questão de competência, mas sim de lógicas diferenciadas, transfere para o nível individual o princípio adotado por Lévy Bruhl para explicar os diferentes tipos de sociedade, baseando -se nas diferenciações lógicas características das formas de pensá-las. A apropriação que Moscovici faz do conceito de representação não segue, porém, exatamente esse caminho. Quando ele se concentra na questão da essência da psicologia social e “descobre” que tal essência constitui -se no próprio senso comum, passa a buscar um conceito ou uma ideia que fosse mais do que uma mera etiqueta e que pudesse dar conta da transformação do conhecimento científico em conhecimento do senso comum.”
b) privilegia o discurso científico;
Errado. O foco da teoria é o conhecimento de senso comum.
“Moscovici acreditava que estaria introduzindo um terceiro elemento, o senso comum, que ao lado da ideologia e da ciência representaria as raízes da consciência social, e que também estaria estabelecendo uma relação entre consciência e cultura, levando -se em conta as práticas e os costumes presentes na vida cotidiana. É nessa perspectiva que o senso comum vai adquirir valor como objeto de estudo, na medida em que deixa de ser considerado meramente como folclore ou como um pensamento tradicional ou primitivo para ser tomado como algo moderno, originado, em parte, da própria ciência e que assume formas particulares quando é tomado como parte da cultura. Ao se recusar a reduzir o senso comum à ideologia, como muitos tendem a fazê-lo, Moscovici acredita que está necessariamente tomando -o como um elemento que liga a sociedade ou o indivíduo à sua cultura, à sua linguagem, enfim, a um mundo que lhe é familiar.”
c) não valoriza o senso comum como instrumento de observação da realidade;
Errado. Pelo contrário, essa valorização do senso comum está no centro da teoria.
“Pensar as representações sociais do conhecimento científico pressupõe, antes de tudo, considerar as próprias representações sociais como uma forma de conhecimento, as quais podem ser entendidas, de acordo com Denise Jodelet (1991, p. 668), como uma forma de conhecimento corrente, dito “senso comum”, caracterizado pelas seguintes propriedades: 1. socialmente elaborado e partilhado; 2. tem uma orientação prática de organização, de domínio do meio (material, social, ideal) e de orientação das condutas e da comunicação; 3. participa do estabelecimento de uma visão de realidade comum a um dado conjunto social (grupo, classe, etc.) ou cultural.”
d) afirma a competência do conhecimento de diferentes sujeitos.
Certo!
“Na teoria das representações sociais, essa forma de conceber o conhecimento, como um saber do senso comum que tem funções primordiais para a existência humana e para o funcionamento da sociedade, pressupõe a afiliação a uma perspectiva psicossociológica, a qual permite explicar o processo de construção e gênese das representações sociais e, sobretudo, implica um comprometimento com pressupostos teóricos e epistemológicos claramente definidos no bojo da teoria. Esses pressupostos rompem com os critérios de verdade difundidos pelos cânones científicos que desconsideram as relações entre o sujeito e um objeto que faz parte de seu universo pessoal e social, passando a situá -los na funcionalidade que os conhecimentos inerentes a essa realidade assumem na vida cotidiana. Podemos deduzir que o estudo de uma representação social pressupõe investigar o que pensam os indivíduos acerca de determinado objeto (a natureza ou o próprio conteúdo da representação), por que pensam (a que serve o conteúdo de uma representação no universo cognitivo dos indivíduos) e, ainda, a maneira como pensam os indivíduos (quais são os processos ou mecanismos psicológicos e sociais que possibilitam a construção ou a gênese desse conteúdo). Vemos, então, que é característico das representações sociais o fato de elas serem ao mesmo tempo produto e processo da atividade humana. Seus conteúdos são capturados dos discursos coletivos e individuais, das opiniões e atitudes, das práticas, e circulam na sociedade por meio de diversos canais, como nas conversações e nas mídias. Trata -se da face diretamente observável das representações sociais. Quando se diz que uma representação social é também um processo, supõe -se a existência de um mecanismo psicossociológico de pensamento que, por um lado, rege a gênese, a organização e a transformação de um conteúdo e, por outro, torna possível sua funcionalidade social.”
Nosso gabarito é Letra D
Referência
TORRES, Cláudio Vaz; NEIVA, Rabelo Elaine (org.) (Orgs.). Psicologia Social: Principais Temas e Vertentes. Porto Alegre: Artmed Editora LTDA, 2011. .
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