No que se refere à psicologia social sócio-histórica, a qual, balizada em larga escala pelo materialismo dialético, ganhou progressiva força na América Latina a partir dos anos 80, assinale a alternativa INCORRETA:
- A) Na perspectiva sócio-histórica em psicologia social há uma problematização do saber pela via da contextualização do seu percurso. Neste sentido, como já ensinava, por exemplo, Michel Foucault, os saberes não nascem do nada e nem permanecem imutáveis. Ao contrário, obedecem a determinados interesses, vinculam-se ao poder e à coerção social. Com isto, devem ser pensados em termos da construção do seu percurso, com ênfase nas suas fontes para nelas localizarmos as relações conflitantes que marcam o seu desenvolvimento institucionalizado.
- B) Percebe-se aqui uma reação à perspectiva de uma epistemologia positivista e marcada pela rigidez e, ao mesmo tempo, o apelo por uma concepção dinâmica de homem, por uma contextualização do conflito na história do pensamento, ao invés de preocupações do tipo metafísico com a busca de “unidades” ou “origens”. Neste sentido, ocorre uma delimitação das pretensões universalistas do saber, agora tomada como provisória e mutável.
- C) O conhecimento em psicologia social é aqui pensado a partir de um privilégio ao universal, ao invés do particular. Afinal, vivemos em uma sociedade marcada pela globalização e pelos seus inúmeros benefícios. Em tal contexto, perspectivas como a construtivista e também a psicopatologia do trabalho proposta por Christophe Dejours buscam uma melhor adequação das subjetividades às orientações e possibilidades oferecidas pela lógica do mercado flexível.
- D) Em tal perspectiva, além do Estado neoliberal e seu modo de produção passar a ser constantemente criticados, temos práticas mais ativas e voltadas à comunidade (ou seja, menos restritas a contextos fechados como o de um consultório). Ocorrem também mudanças no próprio conceito de psicopatologia, com o maior reconhecimento das estratégias de enfrentamento da classe proletária. O social não é pensado, de maneira estreita, como a interação entre pessoas, mas como campo da produção humana mais ampla, diretamente relacionado aos meios de produção, (re)constrói o próprio indivíduo.
- E) Adquiriu relevância aqui a constatação de que não há neutralidade na produção do conhecimento em psicologia social, com o pesquisador sendo, também ele, influenciado pelos fenômenos que investiga. Trata-se, com efeito, de uma análise crítica do sujeito e das condições do seu trabalho, incluindo-se aí o modus operandi da observação e da coleta de dados. Assim, interessa uma expansão do conhecimento do indivíduo, da sociedade e da sua produção material concreta, levando-se em conta que o conceito é produzido socialmente e, em retroalimentação, retorna a essa mesma sociedade, transformando-a.
Resposta:
Alternativa C: A alternativa incorreta é a letra C, pois ela contradiz os princípios da psicologia social sócio-histórica. Esta abordagem enfatiza a importância do contexto histórico e social na formação do conhecimento e do comportamento humano, privilegiando o particular e o específico em detrimento do universal. A globalização é vista críticamente, pois pode levar à homogeneização cultural e à imposição de uma lógica de mercado que não necessariamente beneficia todos os indivíduos ou sociedades.
Na psicologia social sócio-histórica, há um foco na maneira como as estruturas sociais e históricas influenciam o indivíduo, e como este, por sua vez, pode influenciar e transformar essas estruturas. A perspectiva construtivista e a psicopatologia do trabalho de Christophe Dejours são abordagens que se alinham com essa visão, pois buscam entender como as subjetividades são moldadas pelas condições de trabalho e pela sociedade mais ampla, ao invés de simplesmente adaptá-las às demandas do mercado.
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