Questões Sobre Psicologia Social - Psicologia - concurso
141) René Kaës definiu vários princípios de análise para pensar as relações entre os diferentes espaços psíquicos incluídos no grupo. O princípio que explica a constância relativa da matéria psíquica nos três espaços psíquicos − o do grupo como entidade, o dos vínculos de grupo e o do sujeito singular no grupo −, corresponde ao princípio de constância e de
- A) complexidade do substrato psíquico.
- B) complementaridade de conteúdo psíquico.
- C) plurifocalidade da representação psíquica.
- D) incerteza dos significados psíquicos.
- E) transversalidade da matéria psíquica.
A alternativa correta é letra E) transversalidade da matéria psíquica.
Questão complexa, que exige um conhecimento profundo da obra do autor mencionado.
Primeiramente, vamos analisar um trecho de seu livro. Selecionei as partes que são mais esclarecedoras sobre o tema. Vejamos:
O grupo é como um sonho porque ele é o lugar da realização de desejos inconscientes e, através deles, da manifestação dos efeitos do inconsciente. O ponto de vista que sustento é que essa realização e essa manifestação produzem-se em dois espaços psíquicos articulados: no sujeito singular e no grupo, constituído como espaço de uma realidade psíquica própria, irredutível à dos sujeitos considerados isoladamente. Minha tese é a de que os membros de um grupo comuniquem-se através de seu Eu onírico e que é, deste modo, que se constitui a matéria psíquica do grupo. Posso dizer isso de outra forma: fazer vínculo de grupo exige que seja constituído um espaço comum e partilhado, cuja matéria e a fórmula são tributárias das contribuições de cada um; essa matéria é propriamente onírica.
[...] A análise do processo associativo dos grupos conduziu-me a essa ideia de que, no discurso do grupo, o inconsciente se inscreve, várias vezes, em vários registros e em várias linguagens. Cada aparelho psíquico individual é o lugar de um trabalho psíquico singular, mas este trabalho é atravessado pelos processos e pelas formações psíquicas que se desenvolvem, de modo relativamente autônomo, no espaço grupal.
Como vemos, é uma teoria complicada. Apesar disso, vamos tentar entendê-la.
No último grifo, está a síntese do posicionamento do autor.
"Cada aparelho psíquico individual é o lugar de um trabalho psíquico singular, mas este trabalho é atravessado pelos processos e pelas formações psíquicas que se desenvolvem no espaço grupal."
A palavra "atravessado" nos faz entender o conceito de "transversalidade" da matéria psíquica, proposto pela questão. Significa que a matéria psíquica de cada indivíduo do grupo forma a matéria psíquica grupal, que por sua vez, constitui um espaço comum e partilhado. Dessa forma, as matérias psíquicas se cruzam e expressam o princípio da constância e da transversalidade.
Portanto, o princípio que explica a constância relativa da matéria psíquica nos três espaços psíquicos − o do grupo como entidade, o dos vínculos de grupo e o do sujeito singular no grupo −, corresponde ao princípio de constância e de transversalidade da matéria psíquica.
Fonte: KAES, René. Os espaços psíquicos comuns e partilhados: transmissão e negatividade. São Paulo: Casa do Psicólogo, 2005.
142) A respeito de Kurt Lewin e suas ideias, assinale a afirmativa INCORRETA.
- A) Para ele, o comportamento humano é o resultado da interação entre a pessoa e o meio.
- B) Os fatos coexistentes se comportam de forma estática em relação ao indivíduo.
- C) Na Teoria do Campo, o homem é produto.
- D) O ambiente psicológico se relaciona com as necessidades do indivíduo.
A alternativa correta é letra B) Os fatos coexistentes se comportam de forma estática em relação ao indivíduo.
Questão bem tranquila. Se tivermos uma noção da teoria de campo postulada por Lewin, conseguiremos achar rapidamente a alternativa incorreta. Vejamos:
a) Para ele, o comportamento humano é o resultado da interação entre a pessoa e o meio. CORRETA.
b) Os fatos coexistentes se comportam de forma estática em relação ao indivíduo. INCORRETA. Os fatos comportam-se de forma dinâmica em relação ao indivíduo. Esse campo dinâmico é o espaço de vida que contém a pessoa e seu ambiente psicológico.
c) Na Teoria do Campo, o homem é produto. CORRETA. O homem é produto do meio, ou seja, o comportamento humano não depende somente do passado ou do futuro, mas do campo dinâmico atual e presente.
d) O ambiente psicológico se relaciona com as necessidades do indivíduo. CORRETA.
143) A contribuição de Erving Gofmann para o trabalho com pacientes mentais, ou indivíduos portadores de necessidades especiais, foi inovadora e continua atual. Entre os conceitos propostos por Goffman estão:
- A) indivíduos estigmatizados;
- B) procedimentos de mortificação do ego;
- C) estratégias de defesa do ego;
- D) iatrogêneses estruturais;
- E) indivíduos estigmatizáveis.
A alternativa correta é letra D) iatrogêneses estruturais;
Esta questão poderia ser contestada. Na literatura, foram encontrados dois artigos que citaram Illich, e não Erving Gofmann, como autor da teoria da iatrogênese. Veja um trecho do artigo de Souza (2004):
Para Illich a iatrogênese clínica está referida ao ato médico e a sua técnica; a iatrogênese social é o efeito social não desejado e prejudicial do impacto social da medicina; e a iatrogênese estrutural, que se refere ao processo de delegação de elementos característicos da vida humana ao uso ilimitado da medicina. Esses três níveis da iatrogênese, em seu conjunto, contribuem para o comprometimento da capacidade autônoma dos homens.
Logo, a resposta considerada correta pela banca não foi confirmada pelos artigos científicos. Isso seria motivo de anulação da questão.
Ao pesquisar mais a fundo na literatura, tive acesso a artigos que discorrem sobre a obra de Gofmann, chamada Stigma (1963), na qual ele faz uma análise sobre o estigma, classificando-o como abominações do corpo (deformidades físicas); as culpas de caráter individual (vontade fraca, desonestidade, crenças falsas, etc); estigmas tribais de raça, nação e religião.
Portanto, a melhor resposta para essa questão seria a ALTERNATIVA E (indivíduos estigmatizáveis), não a ALTERNATIVA D (iatrogêneses estruturais).
Fonte:
NUNES, Everardo Duarte. Goffman: contribuições para a Sociologia da Saúde. Physis, Rio de Janeiro , v. 19, n. 1, p. 173-187, 2009.
SOUZA, Waldir da Silva. A saúde pelo avesso. Ciênc. saúde coletiva, Rio de Janeiro , v. 9, n. 4, p. 1082-1083, Dec.2004.
144) Em termos psicológicos, as pessoas, em uma circunstância de contato intercultural, demonstram atitudes tanto de contato com o novo meio cultural quanto de manutenção de sua cultura. Essas atitudes são conhecidas como atitudes de aculturação.
- A) desintegração.
- B) separação.
- C) marginalização.
- D) preparação.
- E) compensação.
A alternativa correta é letra C) marginalização.
Gabarito Letra C
Em termos psicológicos, as pessoas, em uma circunstância de contato intercultural, demonstram atitudes tanto de contato com o novo meio cultural quanto de manutenção de sua cultura. Essas atitudes são conhecidas como atitudes de aculturação.
A atitude de um indivíduo que não tem interesse em manter contato com a sociedade local e rejeita a sua cultura de origem é a de
a) desintegração.
b) separação.
c) marginalização.
d) preparação.
e) compensação.
Vamos ver o que Osorio e Valle (2009) falam sobre a aculturação:
“A aculturação psicológica é definida por Berry e colaboradores (1992) como o processo que os indivíduos sofrem em resposta às mudanças de contexto cultural. O fenômeno provoca mudanças na cultura de origem de ambos os grupos, ou seja, na sociedade receptora e no grupo em aculturação. Segundo Berry, em termos psicológicos, as pessoas, em uma circunstância de contato intercultural, demonstram atitudes tanto de contato intercultural quanto de manutenção de sua cultura. Esses aspectos são conhecidos como atitudes de aculturação, isto é, até que ponto as pessoas estão dispostas a entrar em contato (ou evitar) a cultura do país hospedeiro; até que ponto as pessoas desejam manter (ou desistir) de suas identidades culturais. Essas atitudes de aculturação vão delinear as estratégias de aculturação, entre elas, integração, assimilação, separação e marginalização.
A integração é a estratégia de aculturação mais desejada, na medida em que a pessoa consegue “unir o melhor dos dois mundos”, pois mantém características da sociedade receptora e conserva parte de sua identidade cultural. A estratégia menos desejada é a marginalização, pois o indivíduo não tem interesse em manter contato com a sociedade local, bem como rejeita sua cultura de origem.”
De cara já percebemos que só a Letra B, separação, e a Letra C, marginalização, são mencionadas pelo autor como estratégias de aculturação.
Mas logo percebemos que a estratégia pedida pela questão é a Marginalização, cuja definição apresentada pelos autores é muito semelhantemente ao que traz o enunciado.
Nosso gabarito é, então, Letra C.
Referência
OSORIO, Luiz Carlos; VALLE, Maria Elizabeth Pascual do. Manual de terapia familiar. Porto Alegre: Artmed, 2009.
145) O conceito de família vem sofrendo transformação pelas mudanças culturais, sociais e econômicas, exigindo a permanente atualização dos profissionais em razão do elevado número de menores que se encontram no centro de disputas judiciais.
- A) III e IV.
- B) II, III e IV.
- C) I, II e III.
- D) I e IV.
- E) II e III.
A alternativa correta é letra C) I, II e III.
GABARITO: LETRA C
A questão traz conceitos advindos das reconfigurações no conceito de família.
As definições apresentadas servem também para compreender como ocorre, muitas vezes, o entendimento sobre autoridade parental frente a requisição pela guarda de menores que se encontra no centro de disputas judiciais.
Das 4 opções julgadas, apenas as 3 primeiras estão corretas.
Analisando cada uma das alternativas, temos:
I. Famílias pós-separação – o que gera duas estruturas monoparentais, podendo ocorrer guarda unilateral ou compartilhada.
CORRETA. As famílias oriundas desse processo podem gerar configurações chamadas monoparentais, ou seja, uma única figura parental com filhos. Nesse caso, quando a guarda da prole é concedida a apenas um dos responsáveis, chama-se guarda unilateral. Se a guarda é atribuída a ambos os pais será denominada guarda compartilhada.
II. Famílias recasadas ou recompostas - também chamada família mosaico, diversos arranjos possíveis, desde a união de pessoas de estado civil distinto, em presença ou não de filhos.
CORRETA. Note que essa definição “Famílias recasadas ou recompostas” é MUITO ABSORVENTE, permitindo várias combinações. Observe que elas não se restringem a estado civil (um viúvo e uma divorciada poderiam compor uma família recasada) e nem depende da presença de filhos para serem reconhecidas como família (por esse ângulo casais homossexuais estariam incluídos).
III. Famílias homoafetivas – passíveis a partir da adoção por um dos membros do casal ou por ambos (de acordo com algumas decisões da jurisprudência. Também podem surgir pelas técnicas de inseminação artificial.
CORRETA. Importante notar nessa definição que a adoção não precisa ser de ambos; se for de apenas um dos membros já caracteriza o conceito. Outro detalhe são as inseminações artificiais, como um recurso juridicamente reconhecido para geração de famílias homoafetivas.
No Brasil um dos recursos mais acessados por casais homoafetivos masculinos é a “Barriga Solidária” (quando a doadora temporária do útero pertence à família de um dos parceiros num parentesco consanguíneo até o quarto grau).
IV. Famílias com crianças geradas por engenharia genética - com o uso de tecnologias que permitem aos pais idealizar, projetar e criar uma prole com características orgânicas definidas. Essas famílias, na atualidade estão isentas de dilemas bioéticos.
ERRADO. As discussões éticas nesse caso são tão complexas que essas famílias não se encontram imunes de debates bioéticos. Em 2015, no Brasil, o Conselho Federal de Medicina através da Resolução nº 2.121/2015, autorizou procedimentos de seleção de embriões com o objetivo de evitar doenças do filho que irá a nascer, mas vedou a seleção de sexo ou qualquer outra característica biológica do futuro filho.
Portanto, pela análise realizada, conclui-se que a sequência correta será I, II e III (Letra C).
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Fonte consultada: Conselho Federal de Medicina. Resolução 2.121 de 2015.
Disponível em: http://www.portalmedico.org.br/resolucoes/CFM/2015/2121_2015.pdf
146) A interação social humana constitui-se em um dos principais meios de aprendizagem de comportamentos. Por meio delas o ser humano tem acesso às normas que regem a sociedade, internalizando-as no decorrer de seu desenvolvimento. É através dessas interações que os comportamentos morais ou virtudes são aprendidos ou desenvolvidos. Qual é, segundo Gomide (2010), a porta de entrada das virtudes?
- A) Polidez.
- B) Empatia.
- C) Honestidade.
- D) Obediência.
- E) Generosidade.
A alternativa correta é letra A) Polidez.
Gabarito: Letra A
A interação social humana constitui-se em um dos principais meios de aprendizagem de comportamentos. Por meio delas o ser humano tem acesso às normas que regem a sociedade, internalizando-as no decorrer de seu desenvolvimento. É através dessas interações que os comportamentos morais ou virtudes são aprendidos ou desenvolvidos. Qual é, segundo Gomide (2010), a porta de entrada das virtudes?
A virtude que é considerada porta de entrada é a polidez:
“Verificamos que as crianças menores interpretam a boa-educação (polidez) como recobrindo praticamente todo o campo da moralidade, embora reconheçam que o castigo não se coloca para a ausência de polidez. Ou seja, para elas, ser bem-educado não é apenas empregar certas formas de polidez, mas também obedecer, ser justo, ser generoso, não ferir etc. Tal generalização, longe de ser apenas fruto de uma limitação cognitiva (não ter compreendido corretamente o referido conceito), também aponta, cremos, para uma característica do início da gênese da moralidade na infância. De fato, a polidez pode ser pensada em dois domínios (como definidos por Turiel). O primeiro é o convencional: trata-se de pequenos atos verbais que costumam ser empregados para suavizar as relações entre as pessoas, e seu efeito não pressupõe a sinceridade de quem as usa (quem fala desculpa não precisa estar ressentido para que o efeito de polidez seja sentido5). Note-se também que as formas de polidez podem mudar de cultura para cultura, uma mais formais que outras. O segundo domínio é o moral: o emprego da polidez traduz uma deferência em relação a outrem, um respeito. De fato, não ser polido pode, às vezes, ferir outrem, ser prova de desrespeito, de intenção de humilhação. Isto posto, nossos dados mostram que, num primeiro momento, as crianças parecem fundir os dois domínios. Por um lado, reconhecem que o mal-educado deve ser antes ensinado do que punido: a não-polidez não é, portanto, estritamente moral. Por outro, seus exemplos cobrem praticamente todos os atos imorais: a polidez é, portanto, também considerada como moral, fato que é confirmado com um outro dado. Quando perguntadas se podem prever quem cometeu um delito (dano material intencional), sabendo apenas que um dos dois suspeitos costuma ser mal-educado (apresentado como não empregando as pequenas frases de praxe), respondem que sim: o autor do delito deve ser, com grande certeza, a criança não-polida. Em resumo, somos levados a crer que a polidez ocupa uma lugar relevante no despertar da gênese da moralidade infantil. Como queria Comte-Sponville (1995), ela é a porta de entrada para as demais virtudes, a menos importante de todas, mas a primeira a ser descoberta.”
“A interação social humana constitui-se em um dos principais meios de aprendizagem dos comportamentos. A partir dela, o ser humano tem acesso às normas que regem a sociedade, internalizando- -as no decorrer de seu desenvolvimento. É por meio dessas interações que os comportamentos morais ou virtudes são aprendidos e desenvolvidos. A polidez seria a porta de entrada para as virtudes e, talvez, a origem de todas. A polidez não é propriamente uma virtude, mas tem a aparência de uma. Ela é anterior à moral, pois representa o respeito e a consideração que fazem das relações sociais mais agradáveis. Comte-Sponville (1999) retrata de forma primorosa as virtudes e inicia seu Pequeno Tratado das Grandes Virtudes expondo a importância da polidez para a aprendizagem e desenvolvimento das demais virtudes. O autor enfatiza que a polidez é o primeiro comportamento de boas maneiras que as crianças aprendem. Não há moral nesse ato, a criança aprende a obedecer a regras, e logo saberá diferenciar entre o que é mau (o erro) e o que faz mal (o perigo). Nessa fase é suficiente que as regras sejam estabelecidas, regras de polidez (não falar palavrão, agradecer, entre outras). A distinção entre o que é ético e estético virá progressivamente e somente mais tarde.”
a) Polidez.
b) Empatia.
c) Honestidade.
d) Obediência.
e) Generosidade.
Nosso gabarito é Letra A
Fonte: La Taille, Y. de .. (2000). Para um estudo psicológico das virtudes morais. Educação E Pesquisa, 26(2), 109–121.
147) Leia o fragmento textual para responder à questão.
- A) A construção das identidades individuais de homens e mulheres hoje pode prescindir de critérios intimistas para ser legitimada socialmente.
- B) O corpo tem se tornado o lócus por excelência, sob o influxo da mídia, da construção do eu.
- C) O sucesso social passa a vincular-se a uma ascese na qual o corpo deve adequar-se às narrativas de mercado.
- D) As identidades individuais prosseguem sendo erigidas sobre as mesmas escalas valorativas de décadas anteriores, salvo o acréscimo do corpo como fonte de valoração social.
A alternativa correta é letra D) As identidades individuais prosseguem sendo erigidas sobre as mesmas escalas valorativas de décadas anteriores, salvo o acréscimo do corpo como fonte de valoração social.
Gabarito: Letra D
Conforme os argumentos de Jurandir Freire Costa, no trecho citado, o mundo contemporâneo, há algumas décadas, assiste a alterações sociais que incidem de modo contundente na construção da subjetividade de homens e mulheres. Sobre esse processo, é FALSO afirmar que:
a) A construção das identidades individuais de homens e mulheres hoje pode prescindir de critérios intimistas para ser legitimada socialmente.
Certo! É isso que Jurandir quer dizer quando afirma que “O crescimento do papel da mídia na formação de mentalidades mudou essas regras. A mídia reforçou a participação do corpo físico na constituição da subjetividade de dois modos. Primeiro, pela propaganda comercial de cosméticos, fármacos e instrumentos de aperfeiçoamento da forma corporal; segundo, pela identificação de certos predicados corporais ao sucesso social. O último aspecto é o fundamental.”
b) O corpo tem se tornado o lócus por excelência, sob o influxo da mídia, da construção do eu.
Certo! A mídia tem esse papel fundamental de colocar o corpo como parte da construção da subjetividade, atrelando características corporais com sinais de sucesso.
c) O sucesso social passa a vincular-se a uma ascese na qual o corpo deve adequar-se às narrativas de mercado.
Certo! Jurandir também deixa essa informação em seu último parágrafo, ao falar da mídia e dos sinais de sucesso impressos nas características corporais.
d) As identidades individuais prosseguem sendo erigidas sobre as mesmas escalas valorativas de décadas anteriores, salvo o acréscimo do corpo como fonte de valoração social.
Errado. O autor traz três momentos diferentes de escalas valorativas das identidades individuais.
Nosso gabarito é Letra D
148) Leia o fragmento textual para responder à questão.
- A) A I e a II.
- B) A I.
- C) A II e a III.
- D) A I, II e a III.
A alternativa correta é letra D) A I, II e a III.
Gabarito: Letra D
Tomando-se como referência os argumentos de Jurandir Freire Costa, leia as seguintes afirmações:
I. Pode-se afirmar que os contextos institucionais privados e públicos também estejam a sofrer a incidência de discursos que instituem o corpo como suporte de valoração nas interações de trabalho;
Certo! Essa influência da mídia vai muito além dos indivíduos, até porque os contextos institucionais são formados pelos indivíduos que estão sob essa influência.
II. Pode-se afirmar que a cultura dos sentimentos se encontre notadamente destituída no cenário social brasileiro;
Afirmativa polêmica. Entendo que a banca a considerou como correta pensando em um contexto de que no Brasil há essa forte cultura de centralização do corpo na formação da identidade, ignorando os sentimentos individuais e sua importância.
III. Existe para o autor um elo indissociável entre alterações histórico-sociais e produção de subjetividade;
Certo! O autor dá vários exemplos desse elo.
Assim, o gabarito da banca é Letra D
149) Uma das novas condições do trabalho no cenário contemporâneo, na visão de Richard Sennet em “A corrosão do caráter: as consequências pessoais do trabalho no novo capitalismo” (2002, 6ª Ed.), é a flexibilização do tempo nos locais institucionais. Sobre essa temática, é VERDADEIRO afirmar:
- A) A possibilidade do trabalhador, em algumas empresas, executar parte de sua carga horária remunerada em sua própria casa, tem colaborado para uma redução do controle gerencial sobre os empregados.
- B) A intensificação da realização de tarefas com redução dos dias de trabalho semanais não pode ser categorizada como flexibilização do tempo nos locais institucionais, na visão do autor em pauta.
- C) A difusão dos recursos computacionais e da internet possibilita uma descentralização física do local de trabalho, porém com um incremento de controle gerencial mais efetivo sobre o trabalhador.
- D) A entrada da mulher no mercado de trabalho, em números significativos, não colabora para explicar o surgimento do tempo flexível de trabalho ou flexitempo.
A alternativa correta é letra C) A difusão dos recursos computacionais e da internet possibilita uma descentralização física do local de trabalho, porém com um incremento de controle gerencial mais efetivo sobre o trabalhador.
Uma das novas condições do trabalho no cenário contemporâneo, na visão de Richard Sennet em “A corrosão do caráter: as consequências pessoais do trabalho no novo capitalismo” (2002, 6ª Ed.), é a flexibilização do tempo nos locais institucionais. Sobre essa temática, é VERDADEIRO afirmar:
A questão está baseada no seguinte texto:
"O flexitempo surgiu do novo influxo de mulheres no mundo do trabalho. Mulheres pobres como Flavia sempre trabalharam em maior número que as da burguesia.
(...)
Se o flexitempo é a recompensa do empregado, também o põe no domínio íntimo da instituição. Vejam o mais flexível dos flexitempos, o trabalho em casa. Esse prêmio causa grande ansiedade entre os empregadores; eles temem perder o controle sobre os trabalhadores ausentes, e desconfiam de que os que ficam em casa abusam dessa liberdade. Em conseqüência, criou-se um monte de controles para regular os processos de trabalho concreto dos ausentes do escritório. Exige-se que as pessoas telefonem regularmente para o escritório, ou usam-se controles de intra-rede para monitorar o trabalhador ausente; os e-mails são freqüentemente abertos pelos supervisores. Poucas organizações que montam esquemas de flexitempo dizem a seus trabalhadores: "Aqui está a tarefa; faça-a como quiser, contanto que seja feita", no modelo do Tagwerk. Um trabalhador em flexitempo controla o local do trabalho, mas não adquire maior controle sobre o processo de trabalho em si. A essa altura, vários estudos sugerem que a supervisão do trabalho muitas vezes é na verdade maior para os ausentes do escritório que para os presentes.
Os trabalhadores, assim, trocam uma forma de submissão ao poder cara a cara por outra, eletrônica; foi o que descobriu Jeannette, por exemplo, quando se mudou para um local de trabalho mais flexível no Leste. A microadministração do tempo avança rapidamente, mesmo quando o tempo parece desregulado em comparação com os males da fábrica de alfinetes de Smith ou 0 fordismo. A "lógica métrica" do tempo de Daniel Bell passou do relógio de ponto para a tela do é computador. O trabalho é fisicamente descentralizado, o poder sobre o trabalhador mais direto. Trabalhar em casa é a ilha última do novo regime."
Fonte: “A corrosão do caráter: as consequências pessoais do trabalho no novo capitalismo” (Sennet, 2002, 6ª Ed.)
Com isso, encontramos a resposta na Letra C.
a) A possibilidade do trabalhador, em algumas empresas, executar parte de sua carga horária remunerada em sua própria casa, tem colaborado para uma redução do controle gerencial sobre os empregados.
b) A intensificação da realização de tarefas com redução dos dias de trabalho semanais não pode ser categorizada como flexibilização do tempo nos locais institucionais, na visão do autor em pauta.
c) A difusão dos recursos computacionais e da internet possibilita uma descentralização física do local de trabalho, porém com um incremento de controle gerencial mais efetivo sobre o trabalhador.
d) A entrada da mulher no mercado de trabalho, em números significativos, não colabora para explicar o surgimento do tempo flexível de trabalho ou flexitempo.
150) Ainda de acordo com o livro referenciado, leia com atenção as afirmações:
- A) A I e a III.
- B) A II e a III.
- C) Somente a I.
- D) Somente a II.
A alternativa correta é letra B) A II e a III.
Gabarito: Letra B
Ainda de acordo com o livro referenciado, leia com atenção as afirmações:
I. O desemprego estrutural e a flexibilização dos laços trabalhistas têm instituído uma sociedade do curto prazo, cujos valores hegemônicos entram em conflito com a esfera privada da família;
Certo. Sobre o curto prazo no ambiente de trabalho, relembre:
“O novo perfil exigido para do trabalhador e as mudanças impostas nas relações trabalhistas têm um mesmo caminho: o curto prazo se impõe não somente pelo contrato, mas pela própria forma de produção e acumulação. Assim, percebe-se que quanto menos referência no passado, melhor para o engajamento e adaptabilidade no novo mundo do trabalho flexível. Tempo de serviço do trabalhador deixa de ter uma conotação positiva, em razão do acúmulo de conhecimento e experiências, para transformar-se em problema no contexto da flexibilização que se impõe. O tempo de serviço passa a ter o carimbo da rigidez e, em função disso, o empregado é considerado desqualificado para assimilar a flexibilização como elemento essencial da produção capitalista. Nas palavras de SENNETT: Para os trabalhadores mais velhos, os preconceitos contra a idade mandam um poderoso recado: à medida que se acumula, a experiência da pessoa vai perdendo valor. O que um trabalhador mais velho aprendeu no correr dos anos sobre uma determinada empresa ou profissão pode atrapalhar novas mudanças ditadas pelos superiores. Do ponto de vista da instituição, a flexibilidade dos jovens os torna mais maleáveis tanto em termos de assumir riscos quanto de submissão imediata. Contudo, esse poderoso recado tem um significado mais pessoal para os trabalhadores, além dos preconceitos de poder.222 Nesse contexto, o trabalhador, de modo geral, deverá ser versátil e adaptável a situações diversas, para que o sistema capitalista possa utilizá-lo estritamente dentro das necessidades imediatas, descartando-o no momento seguinte, sem dificuldades, sem custos e sem qualquer comprometimento. O curto prazo imposto por este novo modo de produção e acumulação capitalista, nas condições em que vem sendo implementado, faz com que, dia-adia, estabeleça-se uma política de desvalorização do trabalhador, apesar de o trabalho estar colocado como elemento principal da produção. Nessa ótica, o que ocorre na relação do capital e do trabalho obedece à lógica e ao ritmo do consumo.”
II. Sob a ética do trabalho no novo capitalismo, as identidades pessoais devem ser inflexíveis para atenderem às rígidas metas empresariais;
Errado. Pelo contrário, as identidades pessoais devem ser flexíveis.
III. Para o autor em pauta, a conjuntura da sociedade capitalista opera efeitos subjetivos principalmente circunscritos à esfera do trabalho;
Errado. Os efeitos vão muito além da esfera do trabalho, não estando circunscritos a ela.
Nosso gabarito é Letra B