Questões Sobre Psicologia Social - Psicologia - concurso
221) Segundo o livro “Psicologias: uma introdução à psicologia”, a motivação continua sendo um complexo tema para a psicologia e, particularmente, para as teorias de aprendizagem e ensino. Apesar de dificilmente ser detectado o motivo que subjaz algum tipo de comportamento, sabe‐se que sempre há algum. Os estudos de motivação consideram três tipos variáveis. Assinale‐os.
- A) A classe social, o objeto e a instituição.
- B) O objetivo, a facilidade de acesso e a instituição.
- C) A força interna do indivíduo, o objeto e o ambiente.
- D) O ambiente, a força interna do indivíduo e o objetivo.
- E) O ambiente, a facilidade de acesso e a vontade do indivíduo.
A alternativa correta é letra C) A força interna do indivíduo, o objeto e o ambiente.
De acordo com Bock e colaboradores (2001)
O estudo da motivação considera três tipos de variáveis:
1. o ambiente;
2. as forças internas ao indivíduo, como necessidade, desejo, vontade, interesse, impulso, instinto;
3. o objeto que atrai o indivíduo por ser fonte de satisfação da força interna que o mobiliza.
A motivação é, portanto, o processo que mobiliza o organismo para a ação, a partir de uma relação estabelecida entre o ambiente, a necessidade e o objeto de satisfação. Isso significa que, na base da motivação, está sempre um organismo que apresenta uma necessidade, um desejo, uma intenção, um interesse, uma vontade ou uma predisposição para agir. Na motivação está também incluído o ambiente que estimula o organismo e que oferece o objeto de satisfação. E, por fim, na motivação está incluído o objeto que aparece como a possibilidade de satisfação da necessidade.
Portanto, os estudos de motivação consideram três tipos de variáveis: a força interna do indivíduo, o objeto e o ambiente.
As outras alternativas apresentam algumas variáveis corretas, mas somente a alternativa C possui o conjunto das variáveis consideradas nos estudos de motivação.
Fonte: BOCK, A. M. M.; FURTADO, O.; TEIXEIRA, M. L. T. Psicologias: Uma Introdução ao Estudo de Psicologia. 3. ed. São Paulo: Saraiva, 2001.
222) São características essenciais de um fato social, segundo Émile Durkheim:
- A) oportunidade, motivação, coletividade.
- B) mutabilidade, progressão, finalidade.
- C) temporalidade, historicidade, contextualidade.
- D) identidade, proximidade, interação.
- E) generalidade, exterioridade, coercibilidade.
A alternativa correta é letra E) generalidade, exterioridade, coercibilidade.
As características dos fatos sociais, segundo Durkheim, são:
Generalidade – os fatos sociais são coletivos, ou seja, eles não existem para um único indivíduo, mas para todo um grupo, ou sociedade.
Exterioridade – relaciona-se ao fato de esses padrões culturais serem exteriores ao indivíduo e independentes de sua consciência.
Coercibilidade – característica relacionada com o poder, ou a força, com a qual os padrões culturais de uma sociedade se impõem aos indivíduos que a integram, obrigando esses indivíduos a cumpri-los.
Portanto,
223) A psicologia social comunitária pode ser definida como “uma área da psicologia social que estuda a atividade do psiquismo decorrente do modo de vida do lugar/comunidade; estuda o sistema de relações e representações, identidade, consciência, identificação e pertinência dos indivíduos ao lugar/comunidade e aos grupos comunitários.”
(CAMPOS, Regina H. de F. (org). Psicologia Social Comunitária. Petrópolis: Vozes, 2012).
A história da psicologia comunitária no Brasil apresenta como primeiras práticas de intervenção da psicologia social comunitária:
- A) a prevenção da saúde mental e a educação popular;
- B) a intervenção sindical e a violência entre gêneros;
- C) a violência urbana e a perda de identidade pelas migrações;
- D) a melhoria das condições de trabalho e a análise da ação ideológica dos meios de comunicação;
- E) a ausência de organização popular e a superação do individualismo.
A alternativa correta é letra A) a prevenção da saúde mental e a educação popular;
Duas referências encontradas para responder esta questão, ambas do Scielo:
Artigo 1:
Surgindo como uma sub-área ou como um campo de práticas em Psicologia social, a Psicologia comunitária no Brasil e na América Latina traz a marca da busca pela transformação social, pela liberdade de expressão, pela emancipação da subjetividade, pela perspectiva interdisciplinar nas suas reflexões e práticas, pela luta em prol da participação política individual e coletiva, pelo acesso da população a serviços públicos de qualidade em termos de educação, saúde, saneamento básico, meio ambiente e condições dignas de moradia e trabalho. Se considerarmos a importância de tais temas para a produção da autoestima, da saúde mental, estaremos compreendendo a pertinência da Psicologia comunitária para a Psicologia como um todo
Artigo 2:
O uso do conhecimento psicológico como instrumento de práticas em comunidades teve seus primeiros registros formais na década de setenta (Freitas, 1996; Scarparo, 2005). Tais registros referiram-se à participação de psicólogos em trabalhos associados à esfera da educação e da saúde mental, especialmente no âmbito da prevenção. As ações eram inspiradas na psiquiatria comunitária, um ramo da psiquiatria social voltado para o atendimento à saúde mental de integrantes de comunidades.
Portanto, a história da psicologia comunitária no Brasil apresenta como primeiras práticas de intervenção da psicologia social comunitária: a prevenção da saúde mental e a educação popular;
As outras alternativas não se referem às primeiras práticas da psicologia social comunitária. Assim, conseguimos eliminá-las.
Artigo 1: http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S1414-98932012000500010&script=sci_arttext
Artigo 2: http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0102-71822007000500025&script=sci_arttext
224) Em interessante análise sobre o consumo no momento atual, Jurandir Freire Costa considera: “a questão do comprismo não é saber se os objetos distorcem ou não a vida emocional, mas como participam na gestão, manutenção e reprodução de nossos ideais de eu.”
(COSTA, Jurandir Freire. Declínio do comprador, ascensão do consumidor. In COSTA, Jurandir Freire. O vestígio e a aura. Rio de Janeiro: Garamond, 2004).
Nesse contexto, para o autor, a apropriação emocional dos objetos vem sendo condicionada por três eventos socioculturais:
- A) a mudança na natureza do trabalho, as novas percepções das imagens do corpo e o enfraquecimento moral da autoridade;
- B) a transnacionalização do capital, a radical reconfiguração dos ideais do eu e o declínio abissal da figura paterna;
- C) a multiplicação dos comportamentos compulsivos, a derrocada da autoridade paterna e o aumento da delinquência;
- D) o aumento do uso de drogas lícitas e ilícitas, o retraimento da consciência moral e o enfraquecimento da representação paterna;
- E) a fragilização dos Estados Nacionais, a globalização econômica e a exacerbação do individualismo e do narcisismo hedonista.
A alternativa correta é letra A) a mudança na natureza do trabalho, as novas percepções das imagens do corpo e o enfraquecimento moral da autoridade;
Para o psicanalista Jurandir Freire Costa (2004), alguns eventos socioculturais condicionaram nossa apropriação emocional dos objetos:
1) Mudança na natureza do trabalho: no mundo dos negócios, a competição econômica alterou profundamente a identidade do trabalhador, fragilizando os laços ainda existentes com os colegas trabalhadores;
2) Novas percepções das imagens do corpo: apresentação cultural do corpo passa a ser central nas definições de si. A definição do sujeito, na modernidade tardia, suplanta as duas formas básicas que excluíam as definições identitárias corporais: uma baseada no que o indivíduo fazia; outra, na sua interioridade emocional e moral protegida do mundo;
3) Enfraquecimento moral da autoridade: transição entre a moral dos sentimentos para a moral das sensações. Aquela com muitas figuras de autoridade que tinham em comum a lealdade ao valor da família, do trabalho e do civismo. Esta, baseada em figuras célebres.
Considerando as informações acima, podemos afirmar que, para Costa, a apropriação emocional dos objetos vem sendo condicionada por três eventos socioculturais: a mudança na natureza do trabalho, as novas percepções das imagens do corpo e o enfraquecimento moral da autoridade;
As outras alternativas não dizem respeito à eventos socioculturais que condicionaram a apropriação emocional.
Fonte: GOMES, Itania; JUNIOR, Jeder. Comunicação e estudos culturais. Salvador: EDUFBA, 2011.
225) “[Na sociedade atual] não somente as celas, muros e grades se fazem cada vez mais presentes, aliando-se a vigilâncias eletrônicas e tecnologias avançadas de informática de última geração, mas principalmente, fortalecem o que chamamos de processos de subjetivação, ou seja, modos de viver e de existir. (…) O apelo à lei, à ordem e à repressão tem sido saudado entusiasticamente pelas elites e demais segmentos de nossa sociedade. A produção incessante do medo, da insegurança, do terror, unidos ao mito de que vivemos em uma guerra civil, fortalece a ilusão de que, para nossa segurança, tornam-se necessárias tais medidas.”
(COIMBRA, Cecília M. B. Modalidades de aprisionamento: processos de subjetivação contemporâneos e poder punitivo. In BATISTA, Vera M. & ABRAMOVAY, Pedro. Depois do grande encarceramento. Rio de Janeiro: Revan, 2010).
Segundo Giorgio Agamben, vivemos atualmente sob a égide do Estado:
- A) penal;
- B) de exceção;
- C) policial;
- D) do bem estar social;
- E) disciplinar.
A alternativa correta é letra B) de exceção;
Pontel (2012) discorre sobre o tema abordado pela questão:
Na compreensão de que vivemos imersos em um paradigma dominante de política sob a égide do estado de exceção, Agamben denuncia as práticas usadas inicialmente como medidas de segurança, ligadas a fatos e acontecimentos excepcionais que deveriam ser reservadas a um espaço e tempo restritos que, no entanto, se tornam regras de uso permanente. Ou seja, uma medida com caráter de excepcionalidade se torna uma técnica de governo. Isso configura, “o significado imediatamente biopolítico do estado de exceção como estrutura original em que o direito inclui em si o vivente por meio de sua própria suspensão”
Com base no trecho acima, constatamos que, segundo Giorgio Agamben, vivemos atualmente sob a égide do Estado de exceção;
Fonte: PONTEL, Evandro. Estado de exceção em Giorgio Agamben. Revista Opinião Filosófica. Porto Alegre, 2012
226) Kurt Lewin considerava sua proposta como uma teoria de campo, desenvolvendo uma perspectiva teórico-empirista. Esse autor compreendia o espaço vital como:
- A) um campo psicológico que inclui a totalidade de fatos que determinam o comportamento (C) de um indivíduo em dado momento, incluindo a pessoa (P) e o ambiente (A);
- B) um campo psicológico dirigido ao aprendizado comportamental associado ao condicionamento operante;
- C) um campo psicológico articulado a estruturas filogenéticas que visa ao desenvolvimento sexual de um indivíduo(I), incluindo as variáveis ambientais(A) que incidem nesse processo;
- D) um campo psicológico e linguístico fundamental para a aquisição e desenvolvimento de habilidades cognitivas;
- E) um campo psicológico previsível e controlado envolvendo estímulos e reações em processos comportamentais e mentais.
A alternativa correta é letra A) um campo psicológico que inclui a totalidade de fatos que determinam o comportamento (C) de um indivíduo em dado momento, incluindo a pessoa (P) e o ambiente (A);
A questão fala sobre a Teoria de Campo, de Kurt Lewin
Foi assim denominada pelo autor porque achava que, para compreender o comportamento de uma pessoa, era preciso conhecer todas as forças que atuavam sobre ela num dado instante.
Espaço vital é o campo específico em que a pessoa atua. Foi por ele definido como:
"um campo psicológico que inclui a totalidade de fatos que determinam o comportamento (C) de um indivíduo em dado momento, incluindo a pessoa (P) e o ambiente (A)."
Fatores relativos à pessoa: crenças, objetivos, necessidades e variáveis da personalidade.
Fatores ambientais: coisas alheias à pessoa, que, no entanto, afetam-na.
OBS: Não apenas o ambiente físico, mas o ambiente conforme é percebido pela pessoa também influencia o comportamento dela.
Fonte: GOODWIN, C. James. História da psicologia moderna. Editora Cultrix, 2005.
227) As pesquisas desenvolvidas por psicólogos sociais em meados do século XX iluminaram aspectos até então pouco explorados sobre o comportamento humano quando em interação com outros indivíduos ou em grupo. Os estudos desenvolvidos pelo psicólogo Stanley Milgram em Yale são ainda muito atuais frente às questões éticas vivenciadas na contemporaneidade. Sua pesquisa mais conhecida é sobre:
- A) ética organizacional;
- B) conflitos inter-geracionais;
- C) relações conjugais;
- D) aprendizado escolar;
- E) obediência à autoridade.
A alternativa correta é letra E) obediência à autoridade.
Stanley Milgram (1933 - 1984) conduziu a experiência sobre a obediência à autoridade (1961-62), para explicar por que os oficiais nazistas obedeciam às ordens brutais dos superiores. O autor reuniu voluntários para seguir suas instruções e aplicar uma série de choques elétricos cada vez mais dolorosos em parceiros de laboratórios que não eram vistos. Tudo era montagem.
Nesse experimento, notou-se que, mesmo vendo o sofrimento, a maior parte dos voluntários continuava obedecendo às ordens e infligindo choques cada vez maiores. A intensidade máxima significaria hipoteticamente matar a outra pessoa. Entretanto, 65% das pessoas obedeceram às ordens até o fim e deram o choque pretensamente fatal.
Conforme dito acima, podemos afirmar que a pesquisa mais conhecida de Milgram é sobre obediência à autoridade.
Fonte: LEVITT, Steven D.; DUBNER, Stephen J. Superfreakonomics: o lado oculto do dia a dia. Elsevier, 2010.
228) Em todo grupo existem duas tendências, marque a alternativa correta com relação as mesmas:
- A) Buscar confronto e assimilação;
- B) Buscar acomodação e ajustamento;
- C) Buscar coesão e desintegração;
- D) Buscar ajustamento e assimilação;
- E) Buscar harmonia e empatia.
A alternativa correta é letra C) Buscar coesão e desintegração;
Conforme explica Zimerman (2007):
Em todo grupo coexistem duas forças contraditórias permanentemente em jogo: uma tendente à sua coesão, e a outra à sua desintegração. A dinâmica grupal de qualquer grupo se processa em dois planos, tal como nos ensinou Bion: um é o da intencionalidade consciente (“grupo de trabalho”), e o outro é o que alude à interferência dos fatores inconscientes de cada um e de todos (“grupo de supostos básicos”).
Portanto, está correto o que se afirma na ALTERNATIVA C.
Fonte: ZIMERMAN, David. A importância dos grupos na saúde, cultura e diversidade. Vínculo, São Paulo, v. 4, n. 4, p. 1-16, dez. 2007.
229) Assinale a alternativa que corresponde ao processo de desindividuação na perspectiva da psicologia social:
- A) Fortalecimento da opinião dominante no grupo a respeito de um assunto depois que o grupo discutiu aquele tema;
- B) Um modo de pensamento de grupo que prejudica a tomada de decisão;
- C) A probabilidade de uma pessoa a em uma ajudar em uma emergência é maior quando não existem outros espectadores do que quando existem muitos;
- D) Facilitação de uma resposta dominante em uma tarefa dominante devido a excitação social;
- E) Perda de autoconsciência e do autocontrole em uma situação de grupo que estimula excitação e anonimidade.
A alternativa correta é letra E) Perda de autoconsciência e do autocontrole em uma situação de grupo que estimula excitação e anonimidade.
Análise das alternativas:
a) Fortalecimento da opinião dominante no grupo a respeito de um assunto depois que o grupo discutiu aquele tema;
INCORRETA. Trata-se do fenômeno da polarização de grupo.
b) Um modo de pensamento de grupo que prejudica a tomada de decisão;
INCORRETA. Trata-se do pensamento grupal.
c) A probabilidade de uma pessoa a em uma ajudar em uma emergência é maior quando não existem outros espectadores do que quando existem muitos;
INCORRETA. Trata-se do fenômeno chamado difusão da responsabilidade.
d) Facilitação de uma resposta dominante em uma tarefa dominante devido a excitação social;
INCORRETA. Trata-se da facilitação social.
e) Perda de autoconsciência e do autocontrole em uma situação de grupo que estimula excitação e anonimidade.
CORRETA. Segundo Myers (2014), além da perda da autoconsciência, a desindividuação também provoca a perda do receio de avaliação.
Fonte: MYERS, David G. Psicologia Social-10. AMGH Editora, 2014.
230) Foucault, no conhecido livro Vigiar e Punir, pensa o nascimento da psicologia como uma ciência do indivíduo, como disciplina da norma que regula, vigia, realiza uma ortodoxia da subjetividade. Félix Guattari e Sueli Rolnik pensam a subjetividade como:
- A) conflito entre consciente e inconsciente que deve ser elaborado no processo analítico;
- B) produção, dependendo de um agenciamento de enunciação produzi-la ou não;
- C) individualidade privada, cujo desvelamento essencial ocorrerá nas relações interpessoais mais próximas;
- D) unidade psicológica formada pela recepção dos comandos sociais;
- E) instrumento de poder normatizado pelas instituições jurídicas.
A alternativa correta é letra B) produção, dependendo de um agenciamento de enunciação produzi-la ou não;
Guattari e Rolnik (1986) explicam como pensam esse constructo:
Produção de subjetividade: a subjetividade não está sendo encarada aqui, como coisa em si, essência imutável. Existe esta ou aquela subjetividade, dependendo de um agenciamento de enunciação produzi-Ia ou não. (Exemplo: o capitalismo moderno, através da mídia e dos equipamentos coletivos, produz, em grande escala, um novo tipo de subjetividade). Atrás da aparência da subjetividade individuada, convém procurar situar o que são os reais processos de subjetivação.
A subjetividade é produzida por agenciamentos de enunciação. Os processos de subjetivação, de semiotização - ou seja, toda a produção de sentido, de eficiência semiótica - não são centrados em agentes individuais
Com base no trecho acima, constatamos que os autores pensam a subjetividade como produção, dependendo de um agenciamento de enunciação produzi-la ou não;
As demais alternativas citam definições incompatíveis com a opinião dos autores mencionados.
Fonte: ROLNIK, Suely; GUATTARI, Félix. Micropolítica: cartografias do desejo. Petrópolis, Rio de Janeiro: Vozes, 1986.