Questões Sobre Psicologia Social - Psicologia - concurso
381) Na crítica à violência das cidades, muito se fala da população periférica, tida como responsável por praticar uma série de infrações, contudo, quando refletimos sobre um contexto aprofundado da política, economia e desigualdade, podemos concluir que
- A) a população da periferia não teria interesse em ocupar cargos formais de trabalho, se beneficiando do crime para conseguir maior renda do que os trabalhadores formais.
- B) as políticas públicas sociais para aquisição de renda seriam as responsáveis pelo desinteresse da população da periferia no trabalho formal.
- C) estaria ocorrendo um processo de violência de Estado com a população das periferias, principalmente a população negra e jovem, voltado para a exclusão e extermínio.
- D) não podemos incluir a população negra como alvo da violência de Estado, pois a pobreza abrange várias etnias.
- E) a ausência de políticas públicas para a população pobre não teria relevância na violência constituída no país, já que vivemos em um Estado de livre mercado, baseado na competência e esforço individuais, para a conquista de melhores condições de vida.
A alternativa correta é letra C) estaria ocorrendo um processo de violência de Estado com a população das periferias, principalmente a população negra e jovem, voltado para a exclusão e extermínio.
Na crítica à violência das cidades, muito se fala da população periférica, tida como responsável por praticar uma série de infrações, contudo, quando refletimos sobre um contexto aprofundado da política, economia e desigualdade, podemos concluir que
a) a população da periferia não teria interesse em ocupar cargos formais de trabalho, se beneficiando do crime para conseguir maior renda do que os trabalhadores formais.
Não é correto afirmar que a população da periferia não teria interesse em ocupar cargos formais de trabalho. Não é uma questão de interesse. Há um contexto que dificulta o acesso ao emprego formal (falta de políticas públicas e graves violações dos direitos humanos).
Também está errado fazer a generalização de que essa população se beneficia do crime.
Assertiva Falsa.
b) as políticas públicas sociais para aquisição de renda seriam as responsáveis pelo desinteresse da população da periferia no trabalho formal.
Como discutimos acima, não é uma questão de desinteresse da população da periferia no trabalho formal.
Assertiva Falsa.
c) estaria ocorrendo um processo de violência de Estado com a população das periferias, principalmente a população negra e jovem, voltado para a exclusão e extermínio.
Essa afirmativa está de acordo com o texto de Arfeli e Crepaldi:
"Esse mesmo Estado neoliberal, embasado e legitimado pelas leis penais liberais, apresenta uma prática autoritária, totalitária e repressiva que por muitas vezes é responsável pela violação de direitos humanos (SUDBRACK, 2004).
Assim, ainda que ideologicamente democrático, tais Estados deliberam políticas que preservam e reforçam práticas violentas direcionadas às camadas populares da sociedade (PINHEIRO, 1994 apud SUDBRACK, 2004), os quais utilizam da argumentação de combate à criminalidade para justificar a intensificação da repressão violenta a indivíduos e/ou populações específicas (QUANDO... 2010).
Desta maneira, a ação violenta do Estado, enquanto Aparelho Repressivo, pode ser validada e até mesmo aplaudida pela população por conta da apropriação da ideologia neoliberal. Assim, segundo De Lima Lopes (2000, p.79):
'Para uma parte da população, os violadores de direitos humanos não são, propriamente, criminosos. Espancar, torturar, violentar, desde que se faça com alguém que 'mereça' isto, não constitui propriamente crime ou violência.'
Entretanto, há um silêncio e desinformação social, assim como a omissão e descompromisso por parte dos órgãos responsáveis pela fiscalização dessa violência institucionalizada (COIMBRA, 2002). Com isso em mente, pode-se afirmar que há 'uma deliberada política de extermínio voltada a segmentos muito determinados da população: jovens do sexo masculino, afrodescendentes e habitantes das periferias e favelas dos centros urbanos' (QUANDO... 2010, p. 1)."
Assertiva Correta.
d) não podemos incluir a população negra como alvo da violência de Estado, pois a pobreza abrange várias etnias.
De acordo com o texto supracitado, a população negra é alvo da violência de Estado.
Assertiva Falsa.
e) a ausência de políticas públicas para a população pobre não teria relevância na violência constituída no país, já que vivemos em um Estado de livre mercado, baseado na competência e esforço individuais, para a conquista de melhores condições de vida.
A ausência de políticas públicas tem, sim, impactos na violência.
Assertiva Falsa.
A alternativa correta é, portanto, a Letra C.
382) O fenômeno denominado pela mídia de “rolezinhos” é descrito como a invasão da população jovem e periférica nos espaços de circulação da classe média, como os shoppings, com a intenção de causar constrangimento e atos infracionais. Por isso, ações policiais estariam sendo organizadas na tentativa de proteger os donos das lojas, os trabalhadores e os consumidores, evitando a entrada e circulação dessa população nos shoppings de forma preventiva. Uma análise mais profunda dessa situação demonstra que está ocorrendo
- A) a criminalização da juventude e o desrespeito aos pressupostos do Estatuto da Criança e do Adolescente, atingindo o desenvolvimento dos jovens e influenciando suas possibilidades de interação social e seu trânsito por diversos espaços.
- B) a organização da juventude através da internet, com o intuito de praticar em larga escala os chamados “arrastões”.
- C) a falta de preparo da segurança pública em reprimir esses eventos, pois as punições são muito brandas.
- D) o desrespeito ao Estatuto da Criança e Adolescente, visto que crianças e adolescentes não podem ser responsabilizadas por seus atos, pois são seres em desenvolvimento.
- E) o crime organizado cooptando adolescentes para atuarem em seu favor, disseminando o medo na sociedade.
A alternativa correta é letra A) a criminalização da juventude e o desrespeito aos pressupostos do Estatuto da Criança e do Adolescente, atingindo o desenvolvimento dos jovens e influenciando suas possibilidades de interação social e seu trânsito por diversos espaços.
O fenômeno denominado pela mídia de “rolezinhos” é descrito como a invasão da população jovem e periférica nos espaços de circulação da classe média, como os shoppings, com a intenção de causar constrangimento e atos infracionais. Por isso, ações policiais estariam sendo organizadas na tentativa de proteger os donos das lojas, os trabalhadores e os consumidores, evitando a entrada e circulação dessa população nos shoppings de forma preventiva. Uma análise mais profunda dessa situação demonstra que está ocorrendo
Essa questão está baseada no seguinte texto do CRP-SP:
"No dia 5 de fevereiro, a subsede Bauru do CRP SP organizou uma roda de conversa para refletir sobre a repressão que vem sofrendo a juventude brasileira e estimular a promoção de políticas públicas que garantam os direitos da criança e do adolescente. O evento foi motivado pela coerção da população periférica nos passeios realizados em shopping centers, popularmente conhecidos como 'rolezinhos', que se tornaram alvo da mídia e são reprimidos pelo aparato policial.
O debate contou com a presença de psicólogas/os, representantes do poder público de Bauru e jovens vinculados ao movimento hip hop e estudantil. Segundo Sandra Sposito, conselheira do CRP SP, o objetivo foi estimular a compreensão de que a criminalização da juventude e o desrespeito aos pressupostos do Estatuto da Criança e do Adolescente (Eca) atingem o desenvolvimento dos jovens e influenciam suas possibilidades de interação social e seu trânsito por diversos espaços.'A Psicologia, enquanto profissão que busca a garantia dos direitos humanos e de todas as leis que dela derivam, tem como responsabilidade chamar debates e propor políticas públicas que assegurem condições dignas para o desenvolvimento das crianças e dos adolescentes', afirma a conselheira.
A partir do evento foi formado um grupo, denominado Movimento Juventude Livre de Bauru, que reúne várias entidades, grupos e pessoas. A proposta é planejar, em encontros semanais, ações que promovam a garantia dos direitos dos jovens e sua participação como protagonistas nos espaços sociais, culturais e políticos."
Com isso, nota-se que a alternativa que está de acordo com o texto acima é a Letra A.
a) a criminalização da juventude e o desrespeito aos pressupostos do Estatuto da Criança e do Adolescente, atingindo o desenvolvimento dos jovens e influenciando suas possibilidades de interação social e seu trânsito por diversos espaços.
b) a organização da juventude através da internet, com o intuito de praticar em larga escala os chamados “arrastões”.
c) a falta de preparo da segurança pública em reprimir esses eventos, pois as punições são muito brandas.
d) o desrespeito ao Estatuto da Criança e Adolescente, visto que crianças e adolescentes não podem ser responsabilizadas por seus atos, pois são seres em desenvolvimento.
e) o crime organizado cooptando adolescentes para atuarem em seu favor, disseminando o medo na sociedade.
383) O comportamento violento físico ou psicológico pode ser aprendido ao longo das gerações de uma família como uma maneira de solucionar problemas ou educar crianças. Como forma de prevenção no atendimento de famílias em que a agressividade é um tema recorrente, o terapeuta deve ter como objetivo principal
- A) desenvolver a comunicação não violenta como um novo padrão de relacionamento.
- B) mobilizar a comunidade para auxiliar o controle e vigilância das famílias violentas.
- C) facilitar a expressão dos sentimentos agressivos nos grupos familiares violentos.
- D) realizar grupos de discussão nos quais as famílias reflitam sobre o tema violência.
- E) identificar os protagonistas da violência nas famílias e atendê-los em grupos.
A alternativa correta é letra A) desenvolver a comunicação não violenta como um novo padrão de relacionamento.
O comportamento violento físico ou psicológico pode ser aprendido ao longo das gerações de uma família como uma maneira de solucionar problemas ou educar crianças. Como forma de prevenção no atendimento de famílias em que a agressividade é um tema recorrente, o terapeuta deve ter como objetivo principal
Segundo Osorio e Pascual:
"Como forma de prevenção nas famílias em que a agressividade é um tema recorrente, o terapeuta deve desenvolver a comunicação não violenta como um novo padrão de relacionamento. E, frente a casos de suspeita ou confirmação da violência na família contra a criança ou adolescente, o terapeuta deve acompanhar e notificar imediatamente o conselho tutelar, a Vara de Infância ou a uma autoridade policial, para garantir a proteção da criança (Brasil, 1990, art. 245)."
A questão busca o texto exato dos autores e encontramos ele na Letra A.
As alternativas restantes podem estar de acordo com algum outro teórico. Realizar intervenções em grupo, por exemplo, pode ser visto como uma forma de prevenção.
Contudo, apesar de não explicitar no enunciado, a banca deseja o entendimento exato do autor usado como referência.
a) desenvolver a comunicação não violenta como um novo padrão de relacionamento.
b) mobilizar a comunidade para auxiliar o controle e vigilância das famílias violentas.
c) facilitar a expressão dos sentimentos agressivos nos grupos familiares violentos.
d) realizar grupos de discussão nos quais as famílias reflitam sobre o tema violência.
e) identificar os protagonistas da violência nas famílias e atendê-los em grupos.
384) A Psicologia Sócio-Histórica inaugurada por VYGOTSKY toma como ponto de partida as funções psicológicas dos indivíduos, as quais ele classificou de elementares e superiores, que servem para explicar o objeto de estudo de sua psicologia. Assinale a alternativa que corresponde a este objeto.
- A) Consciência.
- B) Funções Superiores
- C) Inconsciente
- D) Fala
- E) Funções Inferiores
A alternativa correta é letra A) Consciência.
Vygotsky, um dos principais nomes da Psicologia Sócio-Histórica, enfatizava que as funções psicológicas superiores têm origem na sociedade e na cultura. Ele argumentava que a consciência é o objeto de estudo da Psicologia Sócio-Histórica porque é através dela que os indivíduos se apropriam das ferramentas culturais e simbólicas disponíveis em seu meio, transformando-as e sendo transformados por elas. Assim, a consciência é vista como um produto da atividade social e histórica, e não apenas como um conjunto de processos mentais internos.
385) A formação em Psicologia no Brasil vem sendo discutida desde a regulamentação da profissão em 1962 até os dias atuais. Há diversos debates nesse contexto sobre como deveria ser a formação do psicólogo, porém, há consenso sobre a predominância de uma formação centrada na clínica. Alguns autores refletem a necessidade de uma formação voltada para uma atuação no contexto das práticas emergentes.
Dessa forma, assinale a alternativa que se configura como uma prática emergente do psicólogo na atualidade.
- A) Atuação em Clínica Particular com atendimento pelo SUS.
- B) Atuação em Clínica Psicológica na periferia da cidade.
- C) Atuação em equipe multiprofissional em Hospital Geral.
- D) Atuação em programas sociais do Governo Federal com execução nos municípios.
- E) Atuação em Clínica Escola como parte da formação dos alunos.
A alternativa correta é letra D) Atuação em programas sociais do Governo Federal com execução nos municípios.
Esta alternativa é considerada uma prática emergente pois reflete uma expansão do papel do psicólogo para além do ambiente clínico tradicional. A atuação em programas sociais envolve a aplicação da Psicologia Social em contextos comunitários e institucionais, onde o psicólogo pode contribuir para o desenvolvimento de políticas públicas, programas de intervenção social e projetos que visam o bem-estar coletivo. Isso está alinhado com as discussões atuais sobre a necessidade de uma formação mais ampla que prepare os profissionais para atender às demandas sociais contemporâneas, que incluem questões de saúde pública, educação, direitos humanos, entre outros.
386) A análise institucional pode ser definida como um processo que tem como objetivo compreender uma determinada realidade social e organizacional a partir dos discursos e práticas dos sujeitos, utilizando-se de um método constituído de um conjunto articulado de conceitos, nos quais se destacam a _______ que é o pedido oficial da intervenção feito pela direção de um grupo, setor ou organização, e é o que deflagra o processo de intervenção, e a ________ que corresponde às solicitações, carecimentos e desejos dos participantes do grupo com o qual se vai trabalhar.
A alternativa que preenche corretamente as lacunas da afirmação acima, na ordem em que aparecem no texto é a:
- A) encomenda; demanda.
- B) demanda; encomenda.
- C) encomenda; transversalidade.
- D) transversalidade; demanda.
A alternativa correta é letra A) encomenda; demanda.
Gabarito Letra A
A análise institucional pode ser definida como um processo que tem como objetivo compreender uma determinada realidade social e organizacional a partir dos discursos e práticas dos sujeitos, utilizando-se de um método constituído de um conjunto articulado de conceitos, nos quais se destacam a _______ que é o pedido oficial da intervenção feito pela direção de um grupo, setor ou organização, e é o que deflagra o processo de intervenção, e a ________ que corresponde às solicitações, carecimentos e desejos dos participantes do grupo com o qual se vai trabalhar.
A alternativa que preenche corretamente as lacunas da afirmação acima, na ordem em que aparecem no texto é a:
Solange L’Abbate (2012) faz uma revisão bibliográfica sobre a análise institucional, e nos apresenta seus conceitos importantes:
“A encomenda é o pedido oficial da intervenção feito pela direção de um grupo, setor ou organização, e é o que deflagra o processo de intervenção. As demandas correspondem às solicitações, carecimentos e desejos dos participantes do grupo com o qual se vai trabalhar. Inicialmente afinadas com a encomenda, podem sofrer mudanças no decorrer do processo de intervenção. A auto-gestão é o contrato entre o grupo e o socioanalista, no sentido de definir e negociar questões relativas à agenda, horário e número de encontros e, se for o caso, aos honorários do socioanalista. O dizer tudo é a livre expressão, através da qual há a intenção de restituir os não-ditos presentes em todo grupo e instituição, como os ruídos, os segredos, a história passada etc. Elucidar a transversalidade significa analisar os vários tipos de vínculos institucionais dos participantes, a fim de diminuir a cegueira institucional. A análise da implicação, em suas dimensões de ordem afetiva, existencial e profissional, que consciente ou inconscientemente todos temos, deve ser analisada se possível coletivamente.”
Os termos que corretamente preenchem as lacunas da afirmação são, respectivamente, encomenda e demanda.
Gabarito Letra A.
Referência
L’ABBATE, Solange. Análise Institucional e Intervenção: breve referência à gênese social e histórica de uma articulação e sua aplicação na Saúde Coletiva. Rio de Janeiro: Mnemosine Vol.8, nº1, 2012.
387) Segundo LANE (1984, pag. 78), “O homem fala, pensa, aprende e ensina, transforma a natureza: o homem é cultura, é história. Esta desconsideração da psicologia em geral, do ser humano como produto histórico-social, é que a torna, se não inócua, uma ciência que reproduziu a ideologia dominante de uma sociedade…”.
A partir da leitura desse trecho, assinale alternativa que NÃO se corresponde a ideia afirmada pela autora.
- A) O texto sinaliza uma crítica contra a psicologia em geral, que tende a desconsiderar o homem como produto histórico-social.
- B) O papel da psicologia seria a adequação do homem ao seu tempo, e à cultura vigente, reproduzindo a ideologia dominante de uma sociedade.
- C) A autora critica a psicologia em geral, alicerçada pela ideologia dominante de uma sociedade.
- D) A autora provoca uma reflexão sobre a importância, para a psicologia em geral, em compreender o homem como produto histórico-social.
A alternativa correta é letra B) O papel da psicologia seria a adequação do homem ao seu tempo, e à cultura vigente, reproduzindo a ideologia dominante de uma sociedade.
Segundo LANE (1984, pag. 78), “O homem fala, pensa, aprende e ensina, transforma a natureza: o homem é cultura, é história. Esta desconsideração da psicologia em geral, do ser humano como produto histórico-social, é que a torna, se não inócua, uma ciência que reproduziu a ideologia dominante de uma sociedade...”.
A partir da leitura desse trecho, assinale alternativa que NÃO se corresponde a ideia afirmada pela autora.
A questão está baseada no seguinte texto:
"Nessa ocasião, psicólogos brasileiros também faziam suas críticas, procurando novos rumos para uma Psicologia Social que atendesse à nossa realidade. Esses movimentos culminam em 1979 (SIP Lima, Peru) com propostas concretas de uma Psicologia Social em bases materialista-históricas e voltadas para trabalhos comunitários, agora com a participação de psicólogos peruanos, mexicanos e outros.
O primeiro passo para a superação da crise foi constatar a tradição biológica da Psicologia, em que o individuo era considerado um organismo que interage no meio físico, sendo que os processos psicológicos (o que ocorre "dentro" dele) são assumidos como causa, ou uma das causas que explicam o seu comportamento. Ou seja, para compreender o individuo bastaria conhecer o que ocorre "dentro dele", quando ele se defronta com estímulos do meio.
Porém o homem fala, pensa, aprende e ensina, transforma a natureza; o homem é cultura, é história. Este homem biológico não sobrevive por si e nem é uma espécie que se reproduz tal e qual, com variações decorrentes de clima, alimentação, etc. O seu organismo é uma infra-estrutura que permite desenvolvimento de uma superestrutura que é social e, portanto, histórica. Esta desconsideração da Psicologia em geral, do ser humano como produto histórico social, é que a torna, se não inócua, uma ciência que reproduziu a ideologia dominante de uma sociedade, quando descreve comportamento e baseada em freqüências tira conclusões sobre relações causais pela descrição pura e simples de comportamentos ocorrendo em situações dadas. Não discutimos a validade das leis de aprendizagem; é indiscutível que o reforço aumenta a probabilidade da ocorrência do comportamento, assim como a punição extingue comportamentos, porém a questão que se coloca é por que se apreende certas coisas e outras são extintas, por que objetos são considerados reforçadores e outros punidores? Em outras palavras, em que condições sociais ocorre a aprendizagem e o que ela significa no conjunto das relações sociais que definem concretamente o indivíduo na sociedade em que ele vive.
O ser humano traz consigo uma dimensão que não pode ser descartada, que é a sua condição social e histórica, sob o risco de termos uma visão distorcida (ideológica) de seu comportamento.
Um outro ponto de desafio para a Psicologia Social se colocava diante dos conhecimentos desenvolvidos sabíamos das determinações sociais e culturais de seu comportamento, porém onde a criatividade, o poder de transformação da sociedade por ele construída. Os determinantes só nos ensinavam a reproduzir, com pequenas variações, as condições sociais nas quais o indivíduo vive."
Fonte: "Psicologia Social: o homem em movimento" (Lane et al.)
Essa é uma questão interpretativa. A alternativa incorreta é a Letra B, pois a reprodução da ideologia dominante é criticada no texto.
a) O texto sinaliza uma crítica contra a psicologia em geral, que tende a desconsiderar o homem como produto histórico-social.
b) O papel da psicologia seria a adequação do homem ao seu tempo, e à cultura vigente, reproduzindo a ideologia dominante de uma sociedade.
c) A autora critica a psicologia em geral, alicerçada pela ideologia dominante de uma sociedade.
d) A autora provoca uma reflexão sobre a importância, para a psicologia em geral, em compreender o homem como produto histórico-social.
388) Segundo LANE (2007, pag. 78-98), “Entender o movimento de consciência dos indivíduos, que se dá em relação às atividades que eles desenvolvem em interação com outros indivíduos, conhecer os processos grupais que produzem as identidades pessoais e ao mesmo tempo produzem um sentido de “nós”, através da cooperação e da compreensão de determinantes histórico-sociais – é a tarefa que compete à psicologia, tornando as suas práxis em um movimento de conscientização social e de atividades transformadoras da sociedade”.
A expressão práxis, no trecho, pode ser substituída, sem que haja alteração do sentido empregado pela autora, pela palavra:
- A) Identidade.
- B) Prática.
- C) Descoberta.
- D) Coerência.
A alternativa correta é letra B) Prática.
Segundo LANE (2007, pag. 78-98), “Entender o movimento de consciência dos indivíduos, que se dá em relação às atividades que eles desenvolvem em interação com outros indivíduos, conhecer os processos grupais que produzem as identidades pessoais e ao mesmo tempo produzem um sentido de “nós”, através da cooperação e da compreensão de determinantes histórico-sociais – é a tarefa que compete à psicologia, tornando as suas práxis em um movimento de conscientização social e de atividades transformadoras da sociedade”.
A expressão práxis, no trecho, pode ser substituída, sem que haja alteração do sentido empregado pela autora, pela palavra:
Veja um pouco mais sobre a práxis no texto de Pichon-Rivière:
"A práxis - de onde surge o caráter instrumental e operacional em seu sentido mais real - se resolve não num círculo fechado, mas numa contínua realimentação da teoria, através de sua confrontação com a prática e vice-versa (tese-antítese-síntese). A experiência da prática, conceptualizada por uma crítica e uma autocrítica, realimenta e corrige a teoria mediante mecanismos de retificação e ratificação, obtendo uma crescente objetividade. Configura-se assim uma marcha em espiral, que progressivamente capacitará o terreno da mente a construir uma estratégia e uma logística, que através da tática e da técnica instrumental dê em caráter a operativo a planejamentos de tipo diferente para que a obtenção da mudança aspirada que consiste no desenvolvimento pleno da existência humana através da modificação do homem e da natureza - possa realizar-se."
Fonte: "O Processo Grupal" (Pichon-Rivière)
Com isso, encontramos a resposta na Letra B.
a) Identidade.
b) Prática.
c) Descoberta.
d) Coerência.
389) Sobre a vulnerabilidade social pode-se afirmar que:
- A) é definida como situação em que os recursos e habilidades de um dado grupo social são insuficientes e inadequados para lidar com as oportunidades oferecidas pela sociedade.
- B) é o resultado positivo da relação entre a disponibilidade dos recursos materiais ou simbólicos dos indivíduos ou grupos e o acesso à estrutura de oportunidades sociais que provêm do Estado, do mercado e da sociedade.
- C) não se apresenta no contexto educacional, pois aplica-se exclusivamente ao campo da saúde como instrumento de análise do HIV/AIDS.
- D) está diretamente associado ao conceito de “grupo de risco” e tem como intuito localizar a especificidade dos grupos de homossexuais e usuários de drogas.
- E) a vulnerabilidade se restringe à categoria econômica, não abarcando organizações políticas de raça, orientação sexual, gênero, etnia.
A alternativa correta é letra A) é definida como situação em que os recursos e habilidades de um dado grupo social são insuficientes e inadequados para lidar com as oportunidades oferecidas pela sociedade.
Sobre a vulnerabilidade social pode-se afirmar que:
A questão está baseada no seguinte texto:
"Vulnerabilidade Social
O conceito de vulnerabilidade começou a ser trabalhado na área dos direitos humanos e mais tarde foi incorporado ao campo da saúde com os trabalhos realizados sobre AIDS na Escola de Saúde Pública de Harvard por Mann et al (1993). As primeiras discussões articulavam dois estratos de visibilidade: pessoas que eram discriminadas socialmente, tais como homossexuais e usuários de drogas; e a doença – AIDS –, associada ao medo e à moral. Essa composição inicial – grupos específicos que remetiam a questões de medo e moral – levou à ampla disseminação do conceito de “grupo de risco”.
O modo como pretendemos abordar aqui o conceito de vulnerabilidade social vai no sentido de contrapor a noção de grupo de/em risco4. Entendemos que, ao trabalhar com o conceito de vulnerabilidade social, não estamos remetendo ao indivíduo a condição de vulnerável. A vulnerabilidade, conforme é vista por Ayres (1999), está na falta ou na não-condição de acesso a bens materiais e bens de serviço que possam suprir aquilo que pode tornar o indivíduo vulnerável.
Assim, a conformação do conceito de vulnerabilidade sustenta-se nas implicações da objetivação do conceito de risco. O conceito de risco articula-se a marcadores, tais como comportamento e populações específicas. Essa estratégia individualiza certa condição de saúde/doença e a coloca na esteira de ações em termos de segurança e moralidade, ou seja, envolve formas de governabilidade das populações por meio de biopolíticas centradas em marcadores identitários. A objetivação da vulnerabilidade social desloca-se do campo da AIDS e da saúde exclusivamente e amplia-se para a esfera da vida social, juntando-se aos campos da educação, do trabalho, das políticas públicas em geral, na medida em que se refere às condições de vida e suportes sociais, e não à conduta, como marcava o conceito de risco.
Para Abramovay (2002), a vulnerabilidade social é definida como situação em que os recursos e habilidades de um dado grupo social são insuficientes e inadequados para lidar com as oportunidades oferecidas pela sociedade. Essas oportunidades constituem uma forma de ascender a maiores níveis de bem-estar ou diminuir probabilidades de deterioração das condições de vida de determinados atores sociais. Assim, o conceito de vulnerabilidade social está indiretamente vinculado com o de mobilidade social, posto que as possibilidades que indivíduos em vulnerabilidade social possuem de se movimentarem nas estruturas sociais e econômicas são restritas em termos de modificação de inscrição social.
Todavia, essa dificuldade de mover-se socialmente não pode ser reduzida às questões de pobreza ou de populações carenciadas. Vulnerabilidade não se restringe à categoria econômica, passando por organizações políticas de raça, orientação sexual, gênero, etnia. Do ponto de vista, por exemplo, da raça negra, os indivíduos tendem a ter restrita sua mobilidade social em função de sua cor, sem necessariamente apresentarem uma situação econômica de desvantagem. Dessa forma, as organizações simbólicas também estão intimamente ligadas ao conceito de vulnerabilidade social.
Ayres (1999) considera que a conformação da vulnerabilidade social acaba sendo constituída em torno de conjunturas básicas: a primeira diz respeito à posse ou controle de recursos materiais ou simbólicos que permitem aos indivíduos se desenvolverem, se aperfeiçoarem ou se locomoverem na tessitura social; a segunda remete à organização das Políticas de Estado e bem-estar social, que configuram os componentes de oportunidades que provêm do Estado, do mercado e da sociedade como um todo – ligeiramente associado à capacidade de inserção no mercado de trabalho e acesso às políticas; e, por fim, a forma como os indivíduos, grupos, segmentos ou famílias organizam seus repertórios simbólicos ou materiais para responder aos desafios e adversidades provenientes das modificações dinâmicas, políticas e estruturais que ocorrem na sociedade, de forma a realizarem adequações e ocupações de determinadas posições de enunciação nos jogos de poder da organização simbólica e política."
Fonte: "Intervenção na condição de vulnerabilidade social: um estudo sobre a produção de sentidos com adolescentes do programa do trabalho educativo" (Guareschi et al.)
Com isso, encontramos a resposta na Letra A.
a) é definida como situação em que os recursos e habilidades de um dado grupo social são insuficientes e inadequados para lidar com as oportunidades oferecidas pela sociedade.
b) é o resultado positivo da relação entre a disponibilidade dos recursos materiais ou simbólicos dos indivíduos ou grupos e o acesso à estrutura de oportunidades sociais que provêm do Estado, do mercado e da sociedade.
c) não se apresenta no contexto educacional, pois aplica-se exclusivamente ao campo da saúde como instrumento de análise do HIV/AIDS.
d) está diretamente associado ao conceito de “grupo de risco” e tem como intuito localizar a especificidade dos grupos de homossexuais e usuários de drogas.
e) a vulnerabilidade se restringe à categoria econômica, não abarcando organizações políticas de raça, orientação sexual, gênero, etnia.
390) No desenvolvimento pessoal e das relações sociais, algumas crianças e alguns adolescentes possuem trajetórias de vida de risco, baseada em situações em que os fatores de risco são predominantes em relação aos fatores de proteção em sua vida.
São considerados fatores de risco na família
- A) ausência de rede de apoio social e estilo educativo punitivo.
- B) apego inseguro e conduta agressiva da criança.
- C) pais com problemas de saúde mental e rejeição pelos companheiros.
- D) crise econômica e dificuldades de ajustamento no contexto escolar.
- E) estresse na família e aproveitamento acadêmico baixo.
A alternativa correta é letra A) ausência de rede de apoio social e estilo educativo punitivo.
Gabarito Letra A
No desenvolvimento pessoal e das relações sociais, algumas crianças e alguns adolescentes possuem trajetórias de vida de risco, baseada em situações em que os fatores de risco são predominantes em relação aos fatores de proteção em sua vida.
Col, Marchesi, Palacios e cols, no vol. 1 de seu livro Desenvolvimento Psicológico e educação, apresentam uma tabela que resume os fatores de risco e proteção no desenvolvimento social e pessoal de crianças e adolescentes, veja:
São considerados fatores de risco na família
a) ausência de rede de apoio social e estilo educativo punitivo.
Certo!
b) apego inseguro e conduta agressiva da criança.
Errado. Apego inseguro é um fator de risco da família, mas a conduta agressiva da criança é um fator de risco na própria criança.
c) pais com problemas de saúde mental e rejeição pelos companheiros.
Errado. Pais com problemas de saúde mental é um fator de risco na família, mas rejeição pelos companheiros é um fator de risco no microssistema dos iguais.
d) crise econômica e dificuldades de ajustamento no contexto escolar.
Errado. Crise econômica é um fator do macrossistema, e dificuldades de ajustamento no contexto escolar, do microssistema da escola.
e) estresse na família e aproveitamento acadêmico baixo.
Errado.
Nosso gabarito é Letra A.
Referência
COLL, César; MARCHESI, Álvaro; PALÁCIOS, Jesús. Desenvolvimento psicológico e educação, vol 1, 2° edição. Porto Alegre: Artmed, 2007.