Philippe Ariès (1986) assinala que até por volta do século XII não se discriminava a infância como um lugar distinto do mundo do adulto, sendo as crianças caracterizadas nas artes como “homens de tamanho reduzido”. No fim do século XVI e ao longo do século XVII, passa a acontecer uma grande reforma nos costumes, que disciplinou a sociedade burguesa, trazendo um interesse inédito pela infância e introduzindo o que Ariès nomeia de “o sentimento moderno de infância”. Foi nessa época que emergiu uma concepção moral da infância, uma “verdadeira doutrina” que dominou a literatura pedagógica da época e culminou na multiplicação das instituições educacionais em direção a uma disciplina.
ARIÈS, P. História social da criança e da família. 2. ed. Rio de Janeiro: Guanabara, 1986.
Neste livro, Ariès descreve quatro princípios gerais, decorrentes dessa nova concepção moral da infância, que são:
- A)
o recato, a grande modéstia do comportamento não se deve deixar nunca as crianças sozinhas deve-se evitar mimar as crianças extinguir a antiga familiaridade e substituí-la por uma grande reserva nas maneiras e na linguagem, mesmo na vida cotidiana - B)
o recato, a grande modéstia do comportamento repugnância dos caracteres sexuais das crianças nuas não se deve deixar nunca as crianças sozinhas sentimento de pudor dos adultos em relação às crianças - C)
surgimento de uma inocência infantil sentimento de independência da criança em relação ao adulto sentimento de pudor dos adultos em relação às crianças o recato, a grande modéstia do comportamento - D)
deve-se priorizar mimar as crianças surgimento de uma inocência infantil surgimento de uma fragilidade e debilidade infantil extinguir a antiga familiaridade e substituí-la por uma grande reserva nas maneiras e na linguagem, mesmo na vida cotidiana
Resposta:
A alternativa correta é letra A)
o recato, a grande modéstia do comportamento | não se deve deixar nunca as crianças sozinhas | deve-se evitar mimar as crianças | extinguir a antiga familiaridade e substituí-la por uma grande reserva nas maneiras e na linguagem, mesmo na vida cotidiana |
Gabarito Letra A
Neste livro, Ariès descreve quatro princípios gerais, decorrentes dessa nova concepção moral da infância, que são:
Vejamos esses princípios, como aparecem na bibliografia indicada:
“Alguns princípios gerais decorrentes dessa doutrina figuravam como lugares-comuns na literatura da época. Por exemplo, não se deve nunca deixar as crianças sozinhas: este principio remontava ao século XV, e se originava na experiência monástica, mas só começou realmente a ser aplicada no século XVII, porque sua necessidade se revelou então ao grande público, e não mais apenas a um punhado de religiosos ou de "pedantes". "Tanto quanto possível, devem-se fechar todas as aberturas da gaiola... mas algumas barras devem ser deixadas abertas para que as crianças vivam e gozem de boa saúde; é assim que se faz com os rouxinóis para que eles cantem, e com os papagaios para que aprendam a falar. (...)
O segundo principio rezava que se deveria evitar mimar as crianças, habituando-as desde cedo à seriedade: "Não me digas que são apenas crianças e que é preciso ter paciência. Pois os efeitos da concupiscência já aparecem bastante nessa idade". Tratava-se de uma reação contra a "paparicação" das crianças de menos de oito anos, e contra a opinião de que elas ainda eram muito pequenas para serem repreendidas. (...)
Terceiro principio: o recato, a "grande modéstia" do comportamento. Em Port-Royal, "logo que se deitam, as crianças são fielmente visitadas em cada cama em particular, para se verificar se estão deitadas com a modéstia requerida e também para ver se estão bem cobertas no inverno. Uma verdadeira campanha de propaganda tentava extirpar o hábito enraizado de deitar várias crianças na mesma cama. (...)
O quarto principio era apenas uma outra aplicação da preocupação com a decência e com a "modéstia": extinguir a antiga familiaridade e substituí-la por uma grande reserva nas maneiras e na linguagem, mesmo na vida quotidiana. Essa politica se traduziu pela luta contra o emprego do pronome tu. No pequeno colégio jansenista de Chesnay, "Havia-se de tal forma habituado as crianças a se tratarem com respeito umas às outras, que elas nunca se tratavam por tu, e nunca diziam qualquer palavra que pudessem considerar desagradável a alguns de seus companheiros' “
A alternativa que traz esses princípios de forma correta é a Letra A.
Referência
ARIÈS, P. História social da infância e da família. Tradução: D. Flaksman. Rio de Janeiro: LCT, 1978.
Deixe um comentário