Um dos problemas que há muito demanda a atenção do profissional da psicologia é o das inter-relações entre indivíduos e instituições. Neste sentido, uma referência teórica importante aparece na hoje clássica obra de Peter Berger e Thomas Luckmann denominada A Construção Social da Realidade. Quanto a ela é INCORRETO afirmar que:
- A) Na sua sociologia do conhecimento, Berger e Luckmann tomam a sociedade como uma realidade de cunho fundamentalmente objetivo, um processo composto por cinco movimentos: interiorização, adequação, objetivação, exteriorização e aperfeiçoamento. Cada parte da vida em sociedade seria composta por tais elementos, de modo que qualquer análise que só considerasse um deles seria insuficiente.
- B) Nesses termos, para Berger e Luckmann haveria uma sequência temporal a ser induzida para que alguém se tornasse um membro da sociedade. O ponto inicial deste processo seria a interiorização de acontecimentos objetivos como dotados de sentido – isto é, vinculados a subjetividades alheias e que, assim, passariam a fazer sentido (o que não quer dizer que fossem necessariamente compreendidos, mas apenas interiorizados).
- C) Daí adviria a socialização primária, a socialização inicial que o indivíduo experimenta ainda na infância. Para Berger e Luckmann, aquela (a socialização primária) não se encerraria no mero aprendizado cognitivo, sendo ainda bastante mediada pelo afeto. Ainda segundo os autores, haveria boas razões para crer que sem esta mediação afetiva o processo de aprendizado seria difícil, quando não impossível.
- D) Já a socialização secundária se define como a interiorização de “submundos” institucionais ou baseados em instituições, cuja extensão e caráter são determinados pela complexidade da divisão do trabalho e da divisão do conhecimento. Em uma palavra, trata-se da aquisição de funções específicas concernentes à divisão social do trabalho de determinado grupo. Isto exigiria a aquisição de vocábulos específicos para as funções a serem assumidas, vocábulos estes associados a grupos semânticos também particulares e que estruturariam interpretações e condutas de rotina.
- E) Dada a sua menor carga afetiva, as informações passadas na socialização secundária precisariam de um maquinário educacional em termos de técnicas pedagógicas mais fortes e incisivas, as quais precisariam ser constantemente “provadas” ao indivíduo. A natureza destas técnicas poderia variar de acordo com o grau de motivação que o indivíduo tem para exercer os novos papéis/funções e adquiririam contornos de realidade quanto mais conseguissem tornar plausível uma continuidade entre as duas socializações.
Resposta:
A alternativa incorreta é a letra A). Berger e Luckmann, em sua sociologia do conhecimento, não consideram a sociedade como uma realidade de cunho fundamentalmente objetivo. Pelo contrário, eles argumentam que a realidade social é construída por meio da interação humana. Isso significa que a sociedade é vista como uma realidade subjetiva e intersubjetiva, moldada pelas percepções e ações dos indivíduos. O processo de construção da realidade social envolve a internalização de papéis e normas, mas também a capacidade dos indivíduos de influenciar e modificar essas estruturas sociais.
Os cinco movimentos mencionados na alternativa A - interiorização, adequação, objetivação, exteriorização e aperfeiçoamento - não são todos parte da teoria de Berger e Luckmann. Eles discutem principalmente a interiorização, a objetivação e a exteriorização como processos fundamentais na construção da realidade social. A interiorização refere-se ao processo pelo qual os indivíduos assimilam as experiências da vida em sociedade. A objetivação é o processo pelo qual as experiências subjetivas são expressas em formas sociais, como instituições. A exteriorização é o processo pelo qual os indivíduos projetam suas próprias significações no mundo, criando a realidade social.
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