Afecção mental caracterizada por um relaxamento das formas habituais de associação de ideias, uma diminuição da afetividade, fechamento sobre si mesmo com perda de contato vital com a realidade, englobando a demência precoce, parafrenia, grande parte dos delírios crônicos e mesmo certos delírios senis, sem comprometimento inicial da inteligência. (Piéron, Henri – Dicionário de Psicologia, 9ª edição. São Paulo, Globo, 1995, p. 194).
Esta é a definição de:
- A) esquizofrenia.
- B) catatonia.
- C) oligofrenia.
- D) catalepsia.
Resposta:
A alternativa correta é letra A) esquizofrenia.
Gabarito: Letra A
Afecção mental caracterizada por um relaxamento das formas habituais de associação de ideias, uma diminuição da afetividade, fechamento sobre si mesmo com perda de contato vital com a realidade, englobando a demência precoce, parafrenia, grande parte dos delírios crônicos e mesmo certos delírios senis, sem comprometimento inicial da inteligência. (Piéron, Henri – Dicionário de Psicologia, 9ª edição. São Paulo, Globo, 1995, p. 194).
Esta é a definição de:
a) esquizofrenia.
Certo! O termo esquizofrenia aqui é usado em sentido amplo, não no sentido estrito de um diagnóstico do DSM, e sim uma designação de transtornos que envolvem a perda de contato com a realidade, o relaxamento das formas tradicionais de associação de ideias e a diminuição da afetividade.
“Por uma simples questão de comodidade, diz-se esquizofrenia, no singular, porque, enquanto não conseguida uma classificação natural, esta designação não se refere a uma entidade mórbida, no sentido restrito do termo, mas a um agrupamento patológico, que lembra o das psicoses orgânicas: "wahrscheinlich auch einige seltenere Krankheitsbilder Symptome hervorbringen - gewisse leichte organische Störungen, irgendwelche intoxicationen wie die alcoolische, verschiedene Arten von Autointoxicationen oder von Infektionen -, die für unser jetziges Wissen der Schizophrenie nicht abzugrenzen seien". Por isso, diz Bleuler, mais justo é falar de esquizofrenias, no plural.
A esquizofrenia, de modo geral, abrange um grupo de estados psicopáticos, que evoluem cronicamente ou por meio de surtos, neste último caso, depois dos mesmos, podendo ocorrer ora estacionamento, ora regressão dos sintomas, porém nunca um completo restitutio ad integrum.
Duas ordens de sintomas caracterizam a esquizofrenia: os fundamentais e os acessórios, aparentes ou clínicos.
Os sintomas fundamentais - unmittelbare seelische Aüsserungen eines organischen Prozesses - consistem num distúrbio particular do pensamento, em certas alterações da afetividade em relação ao mundo exterior, e numa tendência à fantasia que termina pela exclusão do real (autismo).
O distúrbio do pensamento, encontrado até nos casos leves, é caracterizado pelo relaxamento das associações habituais: - o pensamento não se encaminha para um determinado fim, não obedece a uma ideia diretriz e, nessa condição, foge ao seu papel em face da realidade.
Para dar uma noção aproximada do relaxamento das associações, Bleuler recorre a numerosos exemplos, tais como o seguinte: "Onde está o Egito?" - o esquizofrênico responderá - "entre a Assíria e o Congo", associando uma das mais antigas civilizações a uma das nações mais moder-nas, e fazendo com isto abstração da noção de tempo; em vez de simplesmente responder - "nordeste da África", ele se desloca para o continente asiático e suprime o Sudão que está de permeio.
Tanto mais pronunciado o distúrbio associativo, tanto menos adaptado ao ambiente é o pensamento, até que, nos casos extremos, privado da ação reguladora que resulta da sua ligação ao real, acaba se fragmentando. A consequência imediata deste fato é a alteração da lógica e dos conceitos, que origina a insuficiência de julgamento ou a imprecisão, o deslocamento ou a condensação de muitos conceitos num único. As associações tornam-se esquisitas, incom-preensíveis, e o doente, em tais condições, diz-se dissociado. A personalidade perde a unidade, influenciada ora por este, ora por aquele complexo, pois os diversos complexos psíquicos já não se reúnem, como normalmente, para os mesmos conjuntos de aplicações.
O relaxamento das associações reveste, às vezes, aspectos curiosos, como: a interceptação ou privação de pensamentos, que pode ser mais ou menos duradoura; a irrupção de pensamentos, em que o doente se sente obrigado a pensar em alguma coisa ou sente que pensam dentro de seu cérebro e contra a sua vontade; a perseveração de pensamentos, em que o paciente não pode destacar-se de um assunto, ou, mesmo, de algumas ou de uma palavra.
O estado distímico dominante pode dar ao distúrbio associativo uma forma de fuga ou de inibição ideativa.
As perturbações afetivas lembram as do pensamento: - não há abolição das reações afetivas, apenas desvio do seu alcance pragmático.
Nos doentes graves, ocorre o que se poderia chamar de demência afetiva, em que podem passar anos inteiros sem uma demonstração afetiva, parecendo possuir apenas vida vegetativa, pois, não raro, até o instinto de conservação deixa de manifestar-se em situações de grande e iminente perigo. Não se queixam de fome, de sede, nem tampouco dos maus-tratos a que, porventura, estejam submetidos. Não se incomodam com o que lhes possa acontecer, nem aos seus próximos.
Nos doentes leves, os distúrbios afetivos são da mesma natureza, embora menos intensos. Há, sobretudo, acentuada irregularidade das reações afetivas: - normais, em relação a certos fatos; diminuídas ou ausentes em relação a outros, muitas vezes dos mais importantes.
A afetividade, nestas circunstâncias, parece rígida, acompanha mal as modificações que se passam no meio ou na própria pessoa, não tem a mobilidade necessária, havendo, segundo a expressão de Bleuler, como que uma adiadococinesia afetiva, que a distingue das distimias maníaco-depressivas. Outras vezes, notam-se reações paradoxais (paratimia, paramimia).
Em nenhum caso de esquizofrenia, porém, ocorrerá perda da afetividade: - até nos velhos esquizofrênicos, sujeitos a um longo internamento, na aparência completamente indiferentes, descobrem-se pontos sensíveis, formados por antigos complexos, que atingidos, desencadeiam reações imprevistas, violentas e adequadas. A afetividade pode reaparecer integralmente, além disso, quando, por exemplo, uma afecção orgânica vem complicar a esquizofrenia, o que faz supor que, nesta doença, os sentimentos não se alteram, porém ficam funcionalmente impossibilitados de uma exteriorização.”
b) catatonia.
Errado. A característica central da catatonia é a incapacidade de se mover normalmente.
c) oligofrenia.
Errado. Na oligofrenia há comprometimento da inteligência.
d) catalepsia.
Errado. A catalepsia é um distúrbio em que a pessoa não consegue se movimentar, podendo até afetar a respiração.
Nosso gabarito é Letra A
Fonte: Campos, Murillo deO grupo das esquizofrenias ou demência precoce: relatório apresentado ao III Congresso Brasileiro de Neurologia, Psiquiátrica e Medicina Legal. Rio de Janeiro. Julho de 1929. História, Ciências, Saúde-Manguinhos [online]. 2010, v. 17, suppl 2 [Acessado 12 Setembro 2021] , pp. 709-732.
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